14.1.13

Paris tropical

Janeiro começa em paz, entre amigos tão queridos que são família também. E aí, voltamos ao Rio, para o calor abrasador, com a primeira dor do ano. Prática, ajudo a providenciar o funeral da tia de outra amiga, próxima a ponto de nossas histórias de vida se confundirem.
Aí, a temperatura, felizmente, abaixa, e tenho poucos dias para tentar me inebriar com os impressionistas no CCBB. Antes de adentrar na exposição, três horas e meia de fila. Minhas pernas estão maravilhosas, fortes, concluo, à noite. Fiquei de pé das 9 às 13h40m, senti cansaço, mas nada arrasador. Chuvinha fina ou forte, pernas pesadas porque a água se agarrou no jeans.
Ao chegar, a fila tinha algo em torno de 400 pessoas. Primeira providência: comprar água e um guarda-chuva de camelô, imenso. Levara uma sombrinha da Júlia, mas não me adapto a elas. Acabo enxarcada. Montei minha barraca e fiquei ouvindo a conversa de dois mestrandos de Francês (creio), acompanhados pela prima de Juiz de Fora de um deles que, rigorosamente, emitiu um agradecimento quando a chuva apertou e eu lhe ofereci a sombrinha de Júlia, além de extasiar-se ao entrar no hall do CCBB. Um dos mestrandos comprou apartamento de três quartos na Tijuca. Ele mora num cubículo, a noiva, Letícia, em outro. Acho que compraram na construção. Além de dar aulas, ele faz traduções de textos para catálogos de vendas de relógios suíços. O outro menino, não sei o que faz, mas reclamou que até hoje não conheceu a Letícia. No fim do ano, o noivo de Letícia viajou para Valença, onde mora a família, e se irritou com duas situações: a mãe, que o trata como um menino de oito anos, reclamando de qualquer coisa que ele faça, e o tio mais velho, de 77 anos, alçado ao cargo de patriarca da família, embora não se enquadre no papel. A mãe só resmunga com o filho, brigando até pelo aumento de formigas na cozinha, culpa dele que, no momento em que chegou, deixou uma lata de biscoitos aberta. Mas o que o noivo da Letícia não admite mesmo é que o tio, que foi casado por muito tempo, tem filhos de meia idade, o mais velho de 48 anos, continue sendo tratado como velhinho pela família. "Ele é o maior garotão, faz ginástica, tem atividade física. Ele se casou com uma garota da idade da minha irmã e tem agora dois filhinhos, um de 5 outro de 3 anos. Não é pra ser visto como um velhinho conformado com a vida e a idade", reclamava o noivo de Letícia.
Mais à frente, um grupo de amigas de minha faixa etária se alongava, com dores lombares. Só aderi ao alongamento dentro do CCBB. As filas eram organizadas por um rapaz tranquilíssimo e outro completamente paranoico, distribuindo saquinhos plásticos para envolvermos os guarda-chuvas. Quando eu não prestava a atenção na conversa alheia, lia algumas páginas de A Cidade e as Palavras, do Alberto Manguel, que fala sobre narrativas e construções de histórias. Outro solitário com pinta de estudante intelectual escrevia em um diário. Tentei ler as garatujas, mas parecia a mesma caligrafia daqueles elfos inventados por Tolkien. Os sotaques se misturavam na fila. Deixei os jovens tomando meu lugar e fui ao banheiro dentro do CCBB. A fila tinha, no mínimo, então, 1,5 mil pessoas, um imenso caracol de gente na Candelária.
E aí, chegamos à exposição, bonita, com explicações escritas para o mais desavisado dos ignorantes compreender o que era Paris na era da industrialização. A espera alterou minha química e fraquejei em frente à estação de trem pintada por Monet. Pior ainda em frente à ponte sobre as ninfeias. Mas caminhei para lá e para cá, inebriada, eufórica em frente a tantos Renoirs, Monets, Manets, Gaugain (só quatro, mas Maravilhosos!!!!!). Tem pouco Degas. E alguns menos conhecidos, como Silsley, Villard, que eu AMO. E alguns que eu nem conhecia, mas, claro, não peguei nome. Só senti que melhor seria ver tudo em Paris ou nos arredores, tão bem retratados por tanta gente talentosa.

Dois que eu não conhecia e que me encantaram foram esses acima, mostrando a virada de Paris para a dita modernidade. Resta rever tudo in loco.

Nenhum comentário: