26.3.13

Aqueles quatro

Acho que um dia, meus pais, que somavam vários irmãos - sete de um lado, seis do outro - decidiram me arranjar mais alguns tios.  No pacote estavam seus padrinhos de casamento, os baianos, pais de cinco filhos, todos altos e magros, Edson e Myriam - que meus próprios filhos só conhecem como Tio Edinho e Tia Myloka, uma brincadeira com os apelidos deles, já que eu só chamo de "tio" os parentes.

Em momentos felizes e em momentos terríveis, os quatro estiveram juntos. Viajavam juntos, riam juntos, liam juntos. Em 1991, com a morte de Papai, literalmente assistida por Edson, o quarteto começou a se separar. Meu tio o seguiu há exatos 15 anos, na véspera de seu aniversário, que se comemoraria hoje. Mamãe se foi em 2001.  Tia Myloka permanece entre nós, rodeada por filhos e netos. 
Certamente, se existe outro plano no Além, os três estão sentados num pub, bebendo cerveja (Mamãe, caipirinha), falando de literatura e música, rindo de política e da vida. 
É o consolo que resta a nós, os que ficamos. 

23.3.13

De volta ao canteiro de obras

É recomeçou!
A duvidosa vantagem de morar em edifício velho é que problemas que aparecem em cinco anos nas novas construções demoram vinte até dar sinal de sua graça nos antigões. Minha sina - a de conviver perenemente com pedreiros, pintores e bombeiros hidráulicos - recomeçou depois que uma mina d'água se instalou em meu corredor. Duas semanas de parede aberta para secar o aguaceiro, depois da descoberta do ponto de rompimento do cano de cobre, instalado há vinte anos, e que será trocado hoje. 
Ah, felicidade!

20.3.13

Não vale o escrito

Um vestibulando escreve receita de miojo na prova do Enem e ganha nota classificatória pelo deboche - que o rapaz, já na Faculdade de Engenharia, informou ter sido apenas uma maneira de provar a ineficiência dos que corrigem as provas. Outro concorrente, que cursa Medicina, usou o hino do Palmeiras para encher linhas e linhas de uma redação fraquinha também. Outros candidatos fazem erros de grafia crassos e têm nota máxima.

Antes de me exasperar com a falência da Educação brasileira, deixo claro que os dois brincalhões são universitários que se comportam como boa parte da classe média brasileira. Agiram igual a menininhos, quando deveriam enfrentar as consequências de suas atitudes imaturas. Eles afirmam que pretendiam mostrar o descaso dos corretores das provas, embora, aparentemente, apenas preencheram o número de linhas necessário para que as redações passassem por examinadores. Por que algum estudante seria tão abnegado a ponto de perder um dia de folga para fazer uma prova? Por amor à Educação?

Deveria haver alguma exigência, alguma dignidade ao tratarmos de língua, de ensino, de conhecimento. Mas não há. Existe a superficialidade, a informalidade, o jeitinho que domina e mediocriza nossas vidas.Se a língua é dinâmica, esses rapazes não a transformam, mas apenas a ignoram. Pior que estudantes errarem pavorosamente na escrita é termos professores tementes a alunos, de tal maneira que fazem qualquer coisa para evitar a reprovação dos meninos. Não se ensina, nem se exige conhecimento. Tremo em imaginar que o pessoal das exatas também faça vista grossa para erros de cálculo que podem botar em risco as vidas de quem entrar em prédios mal projetados, por exemplo.

Brigada anti-PT/PCB/socialistas/comunistas/anarquistas/esquerdistas & Cia, nem se anime! Isso não é culpa do governo atual, não. É culpa de um desprezo absoluto com a educação e com a cultura no Brasil, que vem de administrações anteriores - e que a atual tem mantido, diga-se a verdade. Expressar-se bem é pedantismo. Qualquer tipo de requinte é anacronismo. Isso vale para qualquer campo da vida brasileira, pautada pela informalidade que, num raciocínio ilógico, estaria ligada diretamente à jovialidade, ao culto de um período efêmero da existência.

A desvalorização do professor brasileiro tornou-se uma tradição. Remunerações baixas afastam muitos da vocação de ensinar. A falta de respeito transformou salas de aulas em arenas onde alunos se apresentam mais pelo costume do que por necessidade de aprender. Vontade de aprender? Alguns têm, mas são poucos. Estudar é chato, é maçante. Criamos gerações para as quais o esforço não tem sentido algum. Isso vem de casa? Vem, sim, mas se alimenta da passividade das muitas escolas que tratam os alunos como clientes.

Os vestibulandos que se redimem das molecagens nas provas, afirmando querer chamar a atenção dos corretores, têm argumentação tão pueril quanto a péssima pontuação e acentuação. Eles atestam o vexaminoso estado da educação brasileira. O modelo do Enem é ruim, o modelo de colégio é ultrapassado, o desejo de buscar conhecimento é inexistente? A superficialidade continuará a imperar desde que a sociedade permaneça tendo no consumo e na ostentação seus valores máximos.

(Reproduzidas à exaustão em tudo quanto é jornal, as redações dos jovens comediantes apontam outra necessidade imperiosa nos colégios do País: aulas de caligrafia pra moçada! Caramba, é cada letra de meter medo...)

11.3.13

Tropas estelares


Harrison Ford, David Prowse, Carrie Fischer„ Peter Mayhew, Mark Hammil e Kenny Baker. Ou Han Solo, Darth Vader, Princesa Leia, Chewbacca, Luke Skywalker e R2D2

8.3.13

Dia da mulher


Dia da mulher serve pra lembrar às mães de meninos a ensinar que homens não devem "ajudar" nas tarefas domésticas, mas que devem, sim, fazer sua parte nos cuidados com a casa, que homens também cuidam de crianças, também choram, também precisam de carinho, também gostam de romance. 
Dia da mulher é pra lembrar às mães desses meninos a ensinar que, a despeito das conquistas feministas, homem ainda tem a obrigação de matar barata, trocar a lâmpada e pneu de carro, dar lugar para grávidas na condução, abrir a porta para as mulheres e sempre, sempre, sempre, dar flores às amadas. 
Dia da mulher também é pra lembrar às mães das meninas a ensinar que não há dignidade alguma em viver às custas de homem, que mulher tem que ir à luta, sim, e que esta data marca um movimento de mulheres por melhores condições de trabalho. Ou seja, não é uma data para desprezar os homens, mas para lembrar que ninguém quer ser vítima da exploração. 
E que disputas envolvendo sexismo são sempre ridículas.



1.3.13

Democracia é lá na rua

Em casa, mando eu.
Daqui e de qualquer rede social eu retiro comentários que não me agradam pela argumentação pueril. Quando comecei este blog, me dava ao trabalho de prestar explicações sobre o que escrevia. Hoje, não. Elimino as opiniões contrárias, pronto!
Por quê? Porque blog é parte da casa da gente. Nela, recebo quem eu quero e exijo um comportamento que me agrade.
Na rua, sou democrata, convivo com todas as tribos, incluindo as pessoas fúteis que acreditam na seriedade de criadores de moda, por exemplo.
Estava cavoucando aqui e encontrei um comentário bastante grosseiro sobre minhas opiniões brincalhonas a respeito de roupas de artista de cinema. Era um comentário antigo, publicado em 2012. Porque a pessoa em questão "entende" de moda.
Sou da época em que moda era como cirurgia plástica - assuntos que só interessavam a pessoas fúteis. Isso acabou, há interesses econômicos imensos nos dois temas.
Mas eu ainda posso considerar alguns criadores de moda gente que quer mais causar impacto do que tornar uma mulher mais bonita do que a natureza a fez. Porque vale a pena ver um documentário sobre Yves Saint Laurent envolvendo em tecido uma modelo, mostrando às costureiras como seria o caimento do traje. Aquele gostava de criar roupas que valorizariam quem as vestisse. Enquanto outros preferem que a roupa seja o centro das atenções.
Aqui, sou dona do pedaço e exponho minhas opiniões, sim, censurando o que eu bem entender.
Porque polêmica a gente discute lá fora. Aqui, a casa é minha. E fecho a porta aos chatos.
E só.

Porque, afinal, hoje é aniversário de uma cidade que tem no mate e no biscoito de polvilho a mais requintada refeição para quem pode se deleitar sob o sol, sobre as areias, em frente ao Atlântico.
E não há nada mais elegante na vida do que aproveitar a natureza com um mínimo de roupas...