29.5.10

Ledo engano


Descubro, nada estarrecida, que li pouco mais de 60 livros no ano passado. E alguns, na diagonal, sem prestar tanta atenção quanto os autores acreditavam que merecessem.
Desde o ano passado decidi registrar minhas leituras, mais por curiosidade quantitativa do que para me deleitar com a qualidade das escolhas. E aí constatei que não leio tão rapidamente quanto imaginava, pois não passo de uma média de cinco, seis livros por mês.
Engraçado é que minha impressão é de que vivo de livro na mão. Carrego livro até para supermercado. Se, por supremo castigo dos céus pela minha falta de fé, eu ficar presa em um elevador (tenho claustrofobia e sou mezzo ateia, o que, para alguém com educação católica significa uma visita do Todo Poderoso, aquele ser que nada mais tem a fazer com a humanidade do que perseguir os que não acreditam na divindade do moço palestino que passou pelo planeta séculos atrás), que haja luz suficiente para que eu leia algo guardado em minha bolsa.
Então, sou uma leitora compulsiva, certo? Leio o tempo todo, excetuando quando tomo banho ou quando pego aquele ônibus que vai para a Rocinha e me deixa na PUC, o ônibus em que todos se conhecem e eu prefiro ouvir a conversa dos vizinhos que se encontram do que ficar com dor de cabeça tentando acompanhar as linhas dos textos. E sou veloz na leitura, devoro livros em dois ou quatro dias, ou numa madrugada inteira (100 anos de solidão foi assim, A Ópera dos Mortos foi assim). Quando insisto, consigo ler uma novela de Ipanema à Praça 11 (Crônica de uma Morte Anunciada acabei ao chegar na Praça Paris).
É, mas tudo isso não significa que lerei tanto assim nesta vida.
Preciso realmente ter alguma fé no Além e deixar preparada uma listinha do que ler em outras encarnações. Pra que meu Deus, perdi tanto tempo relendo David Copperfield, Franny and Zooey, todo o Monteiro Lobato, Os Meninos da Rua Paulo, toda a Agatha Christie, a Coleção Amarela? Eu deveria ter aproveitado para me enfronhar em novos amores. Mas na juventude, fui fiel às leituras, buscava o reencantamento das paixões. Agora... agora eu só tenho tempo para ficar, não para compromissos sérios.

28.5.10


Não me reconheço na figura de pele grossa, cabelos fininhos, pálpebras inchadas, dentes escuros. No espelho em que não me olho, guardei a imagem dos olhos brilhantes, não este ser esmaecido, opaco.
As capas amareladas geralmente recobrem os livros que não queremos nem vamos esquecer. Mas eles são cheios de bolores, odores, dores.
Um século atrás, a gente se acomodava na velhice. Agora, não pode. Tem que reagir à natureza, lutar, mesmo sabendo que é batalha perdida.
Ai, meus sais...

25.5.10

Aprendizado

Em maio de 1962, minha mãe acabara de perder um filho. Mas já me ensinava a "ler".

20.5.10

O que é que há com essa polícia?


Que mata um homem por aparentar portar uma metralhadora, quando ele usava uma furadeira em sua própria casa?
Não há quem me convença de que o policial agiu no cumprimento do dever, como muitas vítimas da violência dos bandidos alardeiam, em comentários on line em sites noticiosos.
Quem é pago pelo Estado para portar uma arma de fogo tem que ter um mínimo de discernimento.
Absurdo é considerarmos a morte deste senhor como um fato banal, uma perda natural de guerra.
Estamos vivendo tempos muito ruins.

13.5.10

Dia de Preto Velho




A caminho da terceira idade, Little Stevie Wonder completa hoje 60 anos!!!!
Adoro este vídeo. A delícia de For Once in My Life com as jovens bailarinas descoordenadíssimas!!!!

12.5.10

Trabalhinho preguiçoso


É, está difícil tomar o posto de Errol Flynn como Robin Hood...
Como bem é moda em Hollywood, a nova dobradinha de Russell Crowe e Ridley Scott traz uma nova versão para a lenda, com toda a carga politicamente correta exigida pelos novos tempos. Mesclando a ação - e takes - do Gladiador com a ambientação - felizmente, só isso - do tenebroso Cruzada, passando ainda por uma claríssima referência a Spielberg, Scott conseguiu armar um filme divertido e convencer com a subversão da lenda.
Russell Crowe até emagreceu para aparecer sem camisa numa cena que deveria ter carga erótica - mas não tem. Afinal, Ridley Scott prima por romances discretos e quase castos em sua filmografia. O roteiro amarra bem o que seria a pré-lenda, juntando um elenco de coadjuvantes de luxo, encabeçado por Max Von Sidow e William Hurt. A espetacular tentativa de desembarque em Dover por tropas francesas é evidente pastiche da invasão da Normandia que Spielberg montou em O Resgate do Soldado Ryan, com câmeras subaquáticas acompanhando a trajetória de flechas. Cate Blanchett faz uma Lady Marian valquirizada (mocinha contemporânea não foge de um campo de batalha, nem quando mais madura). Já o Xerife de Nottingham de Matthew Macfayden é inexpressivo e decorativo como o ator, que apresenta quase um Sargento Garcia de vozeirão potente. Emoldurado por belas paisagens e arrastando o discurso social anos-luz distante da Idade Média, a cereja do bolo é Russell Crowe repetindo o Maximus cansado de guerra, mas que não foge à luta que encarnou em Gladiador.
Não é por nada, não, mas Ridley Scott padece de uma preguiça quase macunaímica...

8.5.10

Mediunidade

Sempre tive estranhos insights sobre mortes de gente famosa. Tão estranhos que não me surpreendia quando eles morriam. E não é apenas de gente com morte anunciada, doente há tempos, não. É com quem morre repentinamente também.
Sem quê nem porquê eu me vejo lembrando da pessoa. Horas ou dias depois, ela morre.
Foi assim com o Ulisses Guimarães, que andava sumido na época em que morreu. Pois eu, sei lá por quê, me lembrei do homem. Não deu outra: caiu o avião.
Na véspera da morte de Lady Laura, eu conversava com meu amigo Eduardo Graça, que ia cobrir o show de Roberto e entrevistar o Rei em Nova York. Mas Lady Laura já estava doente, então não valia, né?
Esta semana, à noite, em mais uma das viagens ensandecidas até a PUC (os motoristas de ônibus cariocas não fazem psicotécnico, certamente), vi Silvinha Buarque com a filhinha na calçada em frente ao Bar Jóia, no Jardim Botânico. O que aconteceu no dia seguinte? Morreu a avó, dona Amélia (aliás, depois de Lady Laura e Memélia, Dona Canô que se cuide, né?).
Preciso registrar mais essas ocorrências.
Mas o Além só me avisa das celebridades. Meu mentor espiritual quer que eu enverede pela carreira de paparazzo-papa-defunto.
(Ah, isso é de família. Vovó Olga vez por outra via fantasmas nos quais não acreditava. Acabava de enxergar o vulto e perguntar se era ladrão - ela tinha coragem e esperava sempre uma resposta coerente dos interlocutores - , tocava o telefone com notícia de morte de algum conhecido; um de meus tios estava em Montecarlo, naquela estrada sinuosa onde filmaram Ladrão de Casaca e "viu" um carro despencando de lá. Dias depois, morre a Grace Kelly no local).

E eu insisto em continuar materialista...

7.5.10

Os suspeitos de sempre

Sempre achei absurdo um estabelecimento encarar clientes como bandidos em potencial. Se eu pensasse assim de quem contrata meus serviços, jamais trabalharia por conta própria.
Nas agências bancárias brasileiras, somos tratados como suspeitos. Abrir a bolsa para um desconhecido verificar o que carregamos nela é humilhante. Já houve casos de pessoas que se despiram para provar que não estavam armadas. Em priscas eras, eu me recusei a abrir bolsa e prendi uma fila de revoltados atrás de mim até que o segurança, premido pelos protestos, liberou a passagem. Hoje, evito ao máximo entrar em bancos.
E ontem, um doido atirou no cliente que tinha marcapasso e avisou que não poderia entrar pela porta com o dispositivo eletrônico. Foi em São Paulo, o que não repercute tanto como se houvesse ocorrido no Rio - e que geraria a habitual onda de indignação quanto às pretensões da cidade de sediar Jogos Olímpicos.
Tudo bem, a imensa maioria dos seguranças não vai atirar nos clientes.
Porém, a mais que imensa maioria dos correntistas de bancos não é assaltante.
Por que, então, somos enxovalhados sempre que precisamos utilizar serviços caríssimos?
Não há solução para a humanidade.

3.5.10

Lynn e Corin Redgrave

Que carma o da Vanessa Redgrave!
Há um ano, morreu sua filha, Natasha. Agora, em menos de um mês, perde os dois irmãos mais jovens, os também magníficos atores Corin e Lynn.

Coryn e Lynn, na década de 60.

O clã dos Redgrave, com Sir Michael e Dame Rachel Kempson ladeados pela adolescente emburrada Vanessa, por Corin e Lynn, ainda em idades adoráveis.

Os três irmãos, na maturidade.