31.5.08


Eu gosto de textos preguiçosos, que fluem lentamente, uma tarde inteira escorrendo pelos dedos, sem pressa de terminar, sem pressão de fechamento.
Textos lânguidos, soberanos, mais importantes que o espaço a ser ocupado mecanicamente.
São esses os textos que, mais tarde, tornam-se nossas lullabies pós-almoço, casando-se tanto com redes e zumbidos de cigarras no verão, quanto com edredons e almofadas macios, mais combinados ao outono.
São esses os textos bons de escrever.


Eu sou carioca com toda a alma, mas jamais me identifiquei profundamente com o verão. Gosto do sol, não da canícula. Até porque não é na praia que a maioria da população está, e sim na labuta.
Então chega um dia como hoje, em que, ainda na recuperação da maldita maladie, envergo um esquecido roupão quadriculado, que está novo de tão pouco usado, sento à máquina para entregar um trabalho e sinto aquele desejo intenso por uma deliciosa sopa de batata baroa, legumes, ervilha, qualquer que seja...
E a gente se sente confortável como uma mulher de Matisse.

30.5.08

Lei Eleitoral

Por determinação do Tribunal Regional Eleitoral, a propaganda eleitoral começa em julho e só então pode haver divulgação de nomes de candidatos pela Internet. No meio de informações desencontradas, decidi tirar o banner apoiando a pré-candidatura de Fernando Gabeira à prefeitura carioca, pois, entre outros rumores, há o de que isso levaria à cassação da postulação.
Enquanto isso não se esclarece, ficamos sem banner.
E não quero nem refletir muito sobre isso, pois estou resfriada, chateada, a frente fria tá chegando e tenho muito trabalho pela frente.
SACO!!!!!

Este blog pode ser fechado por falsidade ideológica. Não pego mais sol, não vou mais à praia. Vivo resfriada, mas ainda bebo mate.
Na recaída da gripe do início do mês, apelei para remédios caseiros - que fizeram efeito. Xarope de guaco, com mel, hortelã e espinha de peixe, todos colhidos nas matas de Santa Isabel, bairro de São Gonçalo. Mais saião com sal batido no liquidificador. E, pra dar um pouco de bom humor, um Blood Mary, claro. No fim desta dieta vegan, pra que me alimentar? Estou nutrida, a moléstia se vai.
E o blog só não é processado de vez porque o mate continua fazendo parte de meu cotidiano.

26.5.08

Explorações de Gal


Vou passear!


A estante nova ...


... e a sala avermelhada, que faz os olhos brilharem!

20.5.08

O chapéu ainda é dele


O ritmo é mais lento, apropriado à idade dos personagens. A superposição da montanha da Paramount ficou menos grandiosa - e mais engraçadinha. O choque inicial com o aspecto envelhecido de Harrison Ford some aos pouquinhos, enquanto pequenas doses de glamour (e grandes de maquiagem) são administradas. Sim, Indiana Jones envelheceu. O grande problema desta quarta aventura é que houve outras três anteriormente.
Então, enquanto reparamos que Karen Allen tem o mesmo rosto, corpo um pouco mais pesado e ruguinhas em torno dos olhosm, ou que na falta de Sean Connery e de Deholm Elliot entraram os britânicos peso-pesados John Hurt, Ray Winstone e Jim Broadbent, o filme é nostálgico, azulado, melancólico como alguém que já viu quase tudo nesta vida, porém ainda se entusiasma quando o inesperado faz uma surpresa. Nesses mais de vinte anos, o mundo mudou. O que era exótico ganhou olhar do Discovery Channel. Perdeu um pouco da força em retratar uma época em que não se temia o maniqueísmo.
Persistem um pouco de mistério e uma tremenda curiosidade, além da cumplicidade sorridente com a platéia. Indiana não corre tanto quanto antes, mas demonstra bastante fôlego.
Coadjuvantes competentes, como o jovem Shia LaBeouf e Cate Blanchett, conseguem dar credibilidade às mais ridículas seqüências e aos disparates típicos da série. Mesmo assim, o filme é de Harrison Ford. As roupas ruças e o cabelo branco não fazem esmaecer o sorriso e um brilho no olhar de quem nasceu para aquele papel. O chapéu e o chicote ainda são dele.

19.5.08

Caderno de perguntinhas


No Umbigo do Sonho, da Adelaide, está a proposta de distribuir esta corrente entre os blogueiros vizinhos.

Eu, que não resisto a um caderno de perguntinhas, logo aderi.

Um nome: Alma
Uma palavra: Crisálida
Um sentimento: Felicidade
Um verbo: Dançar
Um gesto: Abraço
Um primeiro lugar: Algo que nunca foi parte de minhas ambições
Uma cor: Amarelo
Um objeto: Bolsa
Um dia: Hoje
Um mês: Junho
Um ano: O atual
Uma letra: O
Uma estação: outono
Uma flor: Hibisco
Uma fruta: Amora
Uma matéria: História
Um passatempo: Quebra-cabeça
Um esporte: Futebol
Um herói: Simone de Beauvoir
Um exemplo: Pais, filhos e espíritos santos
Um filme: L'Argent de Poche, Truffaut
Uma música: Cantaloupe, Herbie Hancock
Um programa de TV: Debate MTV
Um time: Flamengo até morrer
Uma mania: Registrar
Uma profissão: Escrevinhador
Um sonho: Distribuir felicidade
Uma coisa importante: Buscar a felicidade
Uma sorte: Ser carioca
Um medo: De barata
Um amor: Literatura
Um perfume: Eternity, Calvin Klein
Adoro: Praia
Odeio: Rituais, cerimônias
Amigos: minha família escolhida
Um lugar: Búzios
Um cheiro: Da pele bronzeada sob o sol em Ipanema
Um horário: 4h30 da manhã, só ou acompanhada, a hora mágica do conhecimento total
Um sorvete: Abacaxi
Um ciúme: Livros
Uma cidade: Rio de Janeiro
Uma dor: A miséria nas ruas de minha cidade
Uma saudade: Meus pais e amigos
Um hobby: Jardinagem
Uma peça de roupa: Blazer
É indispensável: ter mate na geladeira
Um website: Arts & Letters Daily
Um gosto: Estar cercada de filhos, amigos, livros, bichos, plantas.
Um defeito: Impulsividade
Uma qualidade: Uma memória razoável
Uma comida: Salmão
Um doce: Pastel de Santa Clara
Uma lanchonete: Viena
Um restaurante: Celeiro
Uma frase: “A vida é muito importante para ser levada a sério" Oscar Wilde

18.5.08

À espera


Cannes não vaiou. Já disseram que não é bom como o terceiro da série. Eu ainda acho o primeiro primoroso. Mas também não compararam com o segundo, fracote, porém ainda muito mais visívil do que esses Matrixes da vida ou até os absolutely sem alma Guerra nas Estrelas que completaram a trilogia inicial.
Harrison Ford, com a antipatia habitual, já jogou pra quem interessa, seus fãs, informando que não se preocupa em atuar por personagens, mas sim para quem paga ingresso e quer vê-lo trabalhando. Ele pode, né? Rico, foi um dos homens mais bonitos do cinema, e, por puro carisma, estrelou filmes com a maior parte dos diretores cult das décadas de 80 e 90, ficando só fora dos elencos de Altman e Woody Allen. Spielberg e George Lucas, esbanjam felicidade. Além de saberem que vão encher ainda mais seus polpudos cofrinhos, contam com a fidelidade da geração kidults, os "meninos" de mais de vinte anos que continuam apaixonados por HQs e outras bobagens de crianças. Spielberg e Lucas deram respaldo a toda uma geração de homens que agora enche o peito para falar de cultura pop. (Como se homens, mesmo na época em que eram obrigados a prover sozinhos famílias inteiras, não tivessem esta encantadora imaturidade perene, que os faz amar esportes e perseguir mulheres em qualquer época da vida, com o mesmo empenho de jovens púberes).
Indiana Jones é igual a entrega de Oscar. Todo mundo finge torcer o nariz, mas não perde a exibição. Terça-feira, eu estarei lá, coração cheio de ansiedade, igual quando a gente vai assistir à apresentação de filho na escola. Pronta para um trabalhinho menor de Spielberg, louca para ser surpreendida por algo tão delicioso quanto Prenda-me se for capaz, uma grata surpresa entre aquelas chatices de ficção científica com Tom Cruise.
O mais ridículo é que eu bem posso chorar ao ver a montanha da Paramount. Tô ficando uma velhusca emotiva, que se esvai em lágrimas pela simples lembrança de que Indiana Jones foi baseado em seriados vagabundos da década de 30, que meus pais viam em criança e que fizeram deles amantes do cinema. Motivo suficiente para eu cair no choro no início da sessão...

16.5.08

Num 20 de janeiro, há uns bons 18 anos, esta foto foi tirada. Sumiu de minha memória, cópia única, ofertada por um amigo fotógrafo. Agora ela vive em Brasília, com o retratado, que não sabia da história dela. Assim descubri também quem a afanou de meus guardados, uns 13 anos atrás.

Agora a imagem volta para mim, através do menino que mudou de pele, de tamanho, de roupas. O que ela envolve, só eu sei. Um dia a escaneio, mas ela está bem, uma obra genial descansando sobre uma obra de gênio.

É isso aí, companheiro!




Vamos começar a pensar nisso?

15.5.08


Cada vez que a gente reclama da desigualdade social, da falta de educação e de todos os problemas dos quais padecemos surge mais um austríaco maluco para apacientar nossos corações.
Agora tem um doido que matou pai, mãe, mulher, filha, sogros. Estava falido e não queria que a família sofresse.
Isso, semanas depois da descoberta daquela mulher que foi mantida cativa pelo próprio pai, que a engravidou sete vezes. Aos que criticam a moça por não haver se insurgido, bom é lembrar que um pai tem poder, tem autoridade. Manipular a cabeça de um filho não é tão difícil quanto se imagina e nem precisa ser pela força física. Aliás, existe um hábito de culpar a vítima pelo seu sofrimento.
Não custa recordar ainda a jovem Natasha, seqüestrada e separada do mundo durante anos por um doido varrido.
Há quem diga que a tradição austríaca é a do respeito absoluto à privacidade e que esse tipo de coisa não aconteceria num país latino.
Não é de se admirar que a psicanálise tenha surgido em Viena. Mentes doentias existem em todas as sociedades, mas esse distanciamento sistemático do outro é apavorante. Ainda não entrei na fase "porque me ufano de nosso povinho", porém é reconfortante confiar na bisbilhotice dos vizinhos.

10.5.08

Confissão de Fé - puxa a minha ficha no DOPS!


Ressurjo do encarceramento forçado por uma saúde claudicante, que começa a sinalizar a alarmante decadência orgânica, e sou surpreendida ao me descobrir em listas de blogs favoritos de alguns blogueiros-leitores. Normalmente, tal deferência me encanta, mas desta vez fiquei estarrecida, pois um desses blogs me incluiu ao lado de diversos blogueiros da mais festiva e emperdenida direita reacionária. Pessoas que consideram uma indignidade o País ter um presidente sem curso universitário, que se dizem cristãos humanitários e que pregam a pena de morte - a pretos e pobres, claro.
Creio que meu comedimento em comentários amplos e a pluridade nas amizades tenha me levado a ser confundida com pessoas que se dedicam a denegrir a figura de Lula, como se ele fosse o inventor da corrupção ou o causador da miséria moral em que o planeta se encontra há muitos anos. O mais constrangedor é ver meu blog listado exatamente abaixo do nome de um direitista de plantão, um desses tipos que encarnam o personagem na vida real, como fazia o Jece Valadão com sua persona de cafajeste.
Por isso mesmo, abro meu coração e voto, dando o seguinte testemunho:
Em quase 30 anos como eleitora, não houve uma só eleição em que eu não votasse no PT. Ou anulava ou votava em algum candidato petista, geralmente repetindo a dupla verdinha Minc/Gabeira, alternando com alguns postulantes que não chegaram a ser eleitos, indicados por amigos, como líderes comunitários do Santa Marta. Cresci na ditadura, que aprendi a odiar em todas as suas manifestações totalitárias, seja do matiz que se apresentasse. Acredito que qualquer estado tenha condições de manter-se distante da tortura e da exceção. E tenho um tremendo orgulho de viver em um dos poucos países do mundo que ousou votar em um operário para a Presidência da República.
Critico este governo, sim, pela timidez nas reformas sociais. Critico este governo, sim, por render-se a perpetuar um sistema de corrupção ativa, herdado de todas as administrações anteriores, sem tirar nem pôr. Mas tais críticas não me tornam uma reacionária, por favor!

E mais uma vez, informo, a quem interessar possa, que sou anarquista, feminista, flamenguista, carioca da gema, por nascimento, militância e insistência; apaixonada por minha prole, meus livros, meus discos, meus filmes, cinema, música, plantas, bichos, decoração, sapatos, praia, impressões e impressionistas, minha cidade, beber mate, jogar muita conversa fora, cochilar à tardinha, almoçar longamente com meus amigos de diferentes matizes políticos, sociais, sexuais e culturais, com ojeriza ampla total e irrestrita por gente cruel e desrespeitosa.
Revoguem-se, pois, as determinações em contrário.

E por mais que me agrade ser apreciada por leitores de diferentes matizes, indicar este blog ao lado de outros de orientação tão diferente da minha pode ser propaganda enganosa. Igual quando encontrei Hiroshima, Mon Amour classificado como drama erótico e sendo levado para a seção de filmes pornográficos da locadora de vídeo. Tentei explicar ao atendente, mas ele não se rendeu a meus esclarecimentos de que o locador de tal filme ficaria absolutamente decepcionado com o conteúdo dele. Assim como alguém que esperar encontrar aqui um blog extremamente politizado e de condenação sistemática ao atual governo federal.

9.5.08

Imperdível


Chega às livrarias esta semana 1968 - Eles só queriam mudar o mundo, dos queridos Ernesto Soto e Regina Zappa, com um texto de Eduardo Graça sobre os Sete de Chicago!!!! Eduardo faz uma matéria especial sobre o livro Dream, do sociólogo Stephen Duncombe, que fala do "processo de reinvenção da esquerda no mundo da fantasia". Mas quem quiser ler, terá quer ver no livro de Ernesto e Regina, que também tem artigo de Claudinha Antunes e diversos textos interessantes, pois não se prende apenas aos aspectos políticos daquele ano, contando tudo o que aconteceu, mês a mês, em todos os campos, tratando de moda, música, cinema, futebol, cabelos e, claro, concursos de miss!!!!
Três dias doente e uma só conclusão: a MTV é o que há de mais interessante na televisão brasileira.

8.5.08

Futebol tem dessas coisas

O Flamengo já se encaminhava para a ser a potência dos anos 80, mas no fim da década de 70 aconteciam imbecilidades que o faziam perder títulos. Por causa disso, acabei conhecendo a história do Flamengo. Eu fazia coral, na Cultura Inglesa e dispúnhamos de um quadro-negro pouco usado. Depois de uma derrota pavorosa e internacional (uma Libertadores da vida ou aqueles torneios sul-americanos), eu escrevi no quadro, em letras garrafais: "Flamengo ... apesar de tudo".
Nessa mesma noite, apareceram uns diretores da Cultura no nosso ensaio. Um deles, bem velhinho, perguntou quem havia escrito aquilo no quadro. Temendo haver me estrepado (sim, eu já tinha alma de mãe judia, enxergando desgraça em qualquer acontecimento), informei que era a autora da pérola. Ele sorriu e disse: " Sou conselheiro do Flamengo há XXX anos - é provável que ele tivesse sido fundador do clube de regatas... - e vou lhe trazer um presente por causa disso". Fiquei surpresa, ouvi muita brincadeira dos colegas pelo namorado que conquistara e, no ensaio seguinte, lá estava o livro "Histórias do Flamengo", de Mário Filho, que conta de forma extremamente divertida a saga do clube e de como ele sempre teve uma política pautada pelo bom humor.
A cada derrota, que, lógico, como mulher não encaro da mesma forma que um homem, eu sempre me lembro do presente inestimável que este senhor, cujo nome não compreendo nas garatujas da dedicatória, um dia me entregou.

4.5.08

Vencer, vencer, vencer!




E ainda deu Figueirense em Florianópolis, Internacional em Porto Alegre e Palmeiras em São Paulo. Hoje, sou tetra.