30.3.11

Outras palavras

Porque não há nada de novo sob o sol. Só velhos feios e ranhetas resmungando contra a revolta de jovens lindos e chatinhos.

29.3.11

Nada como um canteiro de obras...


Minha maior dificuldade, à parte equilibrar um orçamento pra lá de capenga, é conseguir um pintor/pedreiro/bombeiro hidráulico/eletricista que não me cobre 8.000 euros para raspar, emassar e pintar três quartos, um corredor, os tetos de quatro banheiros, da área de serviço e da cozinha. Ou melhor, difícil mesmo é conseguir alguém que faça qualquer orçamento do serviço. Todos os consultados e procurados estão ocupadíssimos, sem tempo sequer para verificar o que pretendo reformar.
Estou quase agarrando um dos homens que estão reconstruindo o apartamento de baixo. É um novo imóvel, com direito a mais valia, avançando um puxadinho em uma varanda - provavelmente sem o conhecimento da Prefeitura. Obra de igreja, ouço serras elétricas há pelo menos seis meses.
E minha casa se esfarela enquanto isso.
A verdade? Adoro um canteiro de obras, o cheiro de serragem das lojas de material de construção. Atualmente estou desguarnecida de martelo (tinha três, sumiram todos), parafusos, brocas e ferramentas. Mas hei de recompô-las. E à casa também. Um dia.

25.3.11

Santa





a

Cresci em Ipanema, mas nasci em Santa Teresa, onde nunca vivi. Por Santa Teresa sinto algo semelhante a uma saudade, um carinho, uma falta de não ter sido meu pouso, minha moradia, meu ponto. Tenho pelo bairro aquele sentimento de proprietária, de pertencimento, de identificação, de compartilhamento.
Trabalhei por lá uma época, percorri ruas curiosa em festas, subi ladeiras para visitar amigos, bebi em alguns bairros, mostrei Santa Teresa a viajantes, entrando pela Floresta e desvendando o bairro, com suas paisagens, estranho trânsito, aquela cara de cidade do interior incrustada na megalópole.
Cheguei a procurar casa por lá, mas não eram adequadas, na época.
Deveria ter insistido e me embolado no emaranhado que é aquele canto.
Santa Teresa me renova a cada visita. Lá fica o meu sonho de cidade ideal, de como o Rio deveria ter permanecido.

23.3.11

Liz









Quando eu era criança, Elizabeth Taylor era sinônimo de beleza. E de muitos casamentos. E de diamantes. Vivia doente e se casando. Fez alguns bons filmes e teve poucas boas atuações - duas, excelentes, ao lado de Richard Burton - Quem Tem Medo de Virginia Woolf? e A Megera Domada.
Nos últimos anos, depois de driblar tantos tratamentos médicos, as incontáveis doenças e a idade lhe roubaram a beleza. Mas a gente pode se lembrar dela sempre bonita. Porque enfeitar o mundo também é uma boa função dos entertainers, né?

13.3.11


Somar dores: no ombro, no braço, na mão, no tendão do pulso - deu agorinha -, no joelho, na barriga, no dedo do pé...
Olhos cansados, fechando, inchados.
Ainda bem que o ano começa amanhã e vou receber amigos para comemorar o reveillon, almoçando, daqui a pouquinho!!!
Sofro daquela melancolia das ladies vitorianas, pré-Freud, pré-conhecimento da depressão, pré-Prozac.

10.3.11


Preciso mesmo é de uma semana composta por muitas quarta-feiras de Cinzas.

6.3.11

De outros carnavais

Em pleno retiro literário carnavalesco - só faço ler, recebendo a brisa do ventilador de teto, num verão, que felizmente, deu trégua ao carioca -, sofrendo por conta de uma tremenda tendinite, evito cair na folia. Fiquei velha, talvez, mas não posso expor meu braço contundido ao risco de encontrões e esmagamentos nos blocos, que frequentei religiosamente ao longo de anos, quando pular na Banda de Ipanema era sair da praia e encontrar a vizinhança cantando marchinhas ancestrais. Adoro bloco, carnaval, música. Mas tenho pavor claustrofóbico de enfrentar multidões ensandecidas, sufocantes. E observar carnaval ... bem, não estou ainda na fase de bater palmas porque sou turista. Continuo sendo representada na fuzarca por meus jovens e audazes filhos.

Um dos sambas-enredos a me encantar, ainda menina, foi "O Mundo Encantado de Monteiro Lobato". Eu tinha uns seis anos, quando foi lançado. Um ano depois, era uma leitora apaixonada por Monteiro Lobato, homem de talentos múltiplos, visionário, arrojado, progressista e... racista. Agora virou pecado admirar a obra de Lobato, que oferece aos jovens o perigo de uma formação racista. Olha, se depender da leitura de Lobato para as gerações X, Y ou Z abraçaram o racismo, podemos ficar tranquilíssimos.
Até eu, encantada que fui por ele, reconheço: o enredo ainda é ótimo, mas a linguagem ficou ultrapassada. Língua muda, a forma de escrever, de se dirigir ao leitor, precisa ser atualizada, sim.
A garotada que gosta do "Sítio" sequer abriu "Reinações de Narizinho". Nossos intelectuais precisam, urgentemente, compreender que as novas gerações não lêem muito, mesmo gostando de Harry Potter, vampiros e princesas. Preferem assistir em cinema, claro, que é muito mais prático, mesmo retirando o poder de criação do leitor, que pode imaginar a imagem de um personagem totalmente diferente do que o autor concebeu. Esses novos leitores conhecem Lobato pela televisão e ainda associam à música do Gil.
Lobato era racista, sim, igualzinho a muitos homens e mulheres de sua época. Igual a muitos de meus parentes que passam dos 80 anos hoje. Eles foram criados em outro mundo, aquele em que "asneira", "gabolice", "fanfarrão", "folgazão" eram termos utilizados e compreendidos por leitores nem tão sofisticados assim.
Temos a capacidade de separar o criador da criatura, de deixar as críticas ao comportamento do autor não permearem sua obra? Isso é bastante difícil, mas a gente consegue fazer o mesmo com os parentes caretas, retrógrados, reacionários, respeitando as diferenças ideológicas para permitir a convivência pacífica. Que seja igual com o artista, desde que seu trabalho não seja eminentemente catequista - como, tenho certeza - não era o de Lobato.
Sobre este tema eu me estendi no Estantes Cariocas, aí ao lado.
No mais, Evoé, Momo!