30.7.13

Seu Mello (29.07.1928)

Meu pai era o mais metódico dos desorganizados. Entre suas poucas tarefas domésticas estava a de comprar bebidas no supermercado para almoços de fim de semana em que reunia família e amigos. Fazia listas para calcular o quanto carregaria de peso - cerveja tinha que ser em garrafa, jamais em lata.
Se estivesse aqui, hoje, a lista seria maior, para comemorarmos seus 85 anos, embora ele detestasse fazer aniversário, e, certamente, Artur beberia algo diferente de cerveja.
Sempre vou lembrá-lo moreninho, sarcástico, de cigarro na mão, divertindo-se e alegrando quem estivesse por perto.
A lista, encontrei num livro, há pouco tempo. As fotos são de 30, 29 e 22 anos atrás. Em todas elas estão pessoas preciosas, que já se foram, e que tornaram aqueles momentos deliciosos.



19.7.13

O inverno da nossa desesperança

Nunca fui aristocrata. Sou neta e filha de gente que sempre trabalhou. Há 30 anos, trabalho. Pago impostos, como quase todos. Tive uma educação razoável, o resto aprendi por interesse próprio. Por circunstâncias de família, moro na Zona Sul. Aqui fiz minha vida, convivendo com a pobreza das favelas da região, a miséria das pequenas comunidades montadas embaixo de viadutos, dentro de canalização de águas pluviais ou de túneis.
Desde muito jovem, minha luta pela igualdade para todos utiliza armamento débil, basicamente, o voto em candidatos que dizem que farão algo pela educação, saúde e ambiente, mas que esbarram numa legislação amarrada ao Executivo, regulada pelo Judiciário. Cresci sob um regime de exceções, amadureci entusiasmada com uma democracia coalhada de incoerências, envelheço diante da revolta que busca alvos difusos.
Há cinco anos observo a progressiva gentrificação da cidade, prestes a tornar-se um parque temático que tanto agrada aos que vibram com o artificialismo da sociedade do espetáculo. É esse o Rio que queremos, uma cidade de eventos múltiplos, que transforma suas características únicas para agradar aos visitantes? Uma cidade caríssima, o que elimina "o turista pobre" - e o morador pobre também?
A quem interessa a cidade partida? Apenas e tão somente à exploração do homem pelo homem. É isso que essa cidade quer? Proibir a pobreza por exclusão, porque ela fere os olhos?
Eu sei que o carioca se recupera, retomando seus espaços, como os blocos de carnaval que ocuparam as ruas em massa, recusando o norteamento de uma festa popular. Tomara que o Maracanã possa ser recuperado para quem gosta de futebol. E que as praias não sejam privatizadas - como se faz nos lugares "civilizados".