21.7.10

Cafeína blues

Sim, eu confesso, tenho um vício.
Sou dependente de cafeína.
Ingiro doses industriais há quase 50 anos.
Sempre tomei mate em case. Cada vez mais e mais forte.
Houve o tempo do café, que abandonei há 22 anos, na gravidez.
E aí, chegou a coca light. Que virou Zero, com muito mais cafeína.
Descobri que era bom pra prevenir Alzheimer.
Que era bom para a memória.
Então, dois meses atrás, meu coração resolveu bater intensamente.
Jamais imaginei que meu corpo seria tão ingrato comigo.
Agora, meu coração palpita arrítmico, incômodo.
E a culpa é da cafeína em excesso.
Do stress.
Da vida dedicada ao trabalho constante.
(Cresci ouvindo que trabalhar não apenas era preciso, mas um traço de valor na conduta humana).
Agora, tenho que mudar minha conduta.
Trabalhar é necessário, mas não pode ser mais desejável, aprazível.
Porque o corpo não aguenta.
Ah, corpo traidor...
Me deixar na mão justo agora.
Como é que este coração faz uma dessas comigo?
E como é que eu vou viver sem cafeína?

17.7.10

Sobre blogs e narcisos


Ando tão desmobilizada para escrever blog...

E há algum tempo eu escrevi o texto abaixo, que era exatamente sobre a auto-exposição excessiva de alguns blogueiros.

De um momento pra outro, o blog me pareceu mais narcisista do que convém a alguém que não é exatamente uma cultuadora do próprio ego.

Blogar, pra mim, foi a continuidade de um exercício desenvolvido há anos, de registrar acontecimentos, de expressar pensamentos. A expressão pública das próprias sensações - que tanto sou obrigada a combater e a evitar, profissionalmente - me fez bem. No entanto, tentei me preservar pessoalmente, quis manter uma observação da cidade que acabou se perdendo ao longo dos últimos anos.

E à medida em que surgiram mais e mais ocupações profissionais, fui deixando o blog de lado. Não quero decretar minha aposentadoria como blogueira, embora eu não seja daquelas cronistas que farão falta a uma multidão de leitores.

Mas preciso justificar este afastamento, nem que seja para a meia dúzia que vez por outra baixa por aqui.

Uma gratíssima surpresa foi descobrir que uma pessoa a quem recentemente conheci já havia caminhado por estas areias.

Blog é meio estranho dentro do universo carioca. Isso porque a gente conhece a população da cidade inteira por aqui. É praticamente impossível sair à rua sem encontrar algum conhecido por acaso. Ir ao cinema ou ao teatro é quase sempre ter a certeza de esbarrar em alguém - exceto se for na Barra, claro, porque lá é outra cidade mesmo.

Mas leitor de blog não é quem vai à praia ou vive em boteco. São pessoas que têm o hábito de ler - e hoje a gente encontra mais escritores que leitores, é certo.

Por isso, minha imensa surpresa ao conhecer uma leitora.

Um momento de autor que encontra seu público, sabe?

Meus quinze minutos de fama já aconteceram...


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Acabei de iniciar e desistir da leitura de Destrinchando, de Julie Powell, a autora de Julie & Julia, em que ela contava de seu projeto de cozinhar todas as receitas de Julia Child durante um ano, algo que relatou em blog e, depois, rendeu-lhe o livro, que virou filme com Meryl Streep.
Bom, minha vida pra lá de pueril não rende nem artigo de revista feminina, sequer um filme independente com Hope Davis. Só que Ms Powell decidiu abrir seu coração nas páginas, da mesma maneira que a deslumbradíssima autora de Comer, Rezar, Amar. Elas são as escritoras do not-really-misery-books ou sei lá como serão classificados esses livros.
Dão de contar a vida desinteressante delas, entremeiam com descobertas pessoais importantíssimas e ... presto! Eis que surge um novo candidato a best seller.
Peguei o livro com a maior das boas vontades, apesar de haver achado Julie bem fraquinho.
Depois de ler mais de 100 páginas sobre os dilemas da moça que quer ser escritora e que decide aprender a retalhar carne em açougue para focar-se em um novo projeto, enquanto vive uma crise matrimonial séria, dividida entre o amor pelo marido e a paixão pelo amante, desisti.
O que me espanta não é a falta de consistência do livro, repleto de receitas, pois parece que a moça só subsiste enquanto ser humano e pessoa se houver um fogão com panelas fumegantes a enfrentar. O que me espanta é essa faceta despudorada dos tempos d'agora, de abrir sua vida ao mundo inteiro, numa exposição de problemas íntimos, sem qualquer tipo de contribuição à Humanidade. O que me parece é que esta moça decidiu brincar de maluquete, seguindo projetos insólitos - cozinhar 300 pratos franceses, dessossar boi - ligados, de certa maneira, ao ato de alimentar os outros. Mas o que está ficando bem nutrido mesmo é o ego dela.

O primeiro livrinho ainda dava pra ler. O segundo só alimenta o tédio.

8.7.10

Arriba, España!


Teremos um novo campeão mundial numa Copa muito, mas muito sem graça.
Seja lá quem vier, é bom uma renovação depois do marasmo brasileiro em campo.

O horror, o horror

Estou completamente horrorizada com o crime de livro policial que é a morte da ex-amante do goleiro Bruno.
Esquartejamento, corpo atirado aos cães, um jogador de futebol envolvido com bandidos - parece filme de Guy Ritchie.
Um caso que estarrece a opinião pública pela bestialidade.
Também me espanta o momento de glória de agentes da polícia, aproveitando toda e qualquer oportunidade para aparecerem na TV, antecipando depoimentos extra-oficiais.
É festa naquele horário de banditismo das emissoras de TV e rádio brasileiras.
Tudo muito tenebroso.

2.7.10

Já era!


Caramba, a Brahma já entrou com uma propaganda: "Em 2010 não deu pra gente, mas em 2014, será em casa, brameiros!".
É como sair do enterro pra leitura do testamento...

O bom: as vuvuzelas de Botafogo se aquietaram - um pouquinho!

Para pais e filhas

Comédias adolescentes norte-americanas geralmente tratam apenas de imbecilidades generalizadas, a reafirmação de preconceitos (a divisão social em losers e winners, negros e brancos, espânicos e wasps, pobres e ricos, nerds e vadios, virgens e devassos) e reservam aos adultos os papéis de coadjuvantes paspalhões. Há exceções, claro, como Picardias Estudantis, Meninas Malvadas, Ferris Bueller e todos os filmes de John Hughes, mas há um limbo comum medíocre, reforçado na era pós American Pie.
O cinema francês, por outro lado, firma uma nova linguagem nos filmes para toda a família. Adolescentes e pais vivem conflitos, surgem situações ridículas nas quais os adultos se mostram mais perdidos que os jovens, porém os dois mundos co-existem. Há alguns anos, Gerard Depardieu fazia o pai divorciado da então menina e hoje namoradinha da América Katherine Heigl - repetindo o personagem que encarnara no filme original francês, Meu Pai, meu Herói.
Agora chegou a vez de Daniel Auteil ser o pai divorciado que vai tomar conta da filha com quem só convive nas férias. 15 anos e meio traz as bobagens de sempre do conflito de gerações. A diferença das produções americanas é que os dois lados são mostrados - a adolescente armadora, o pai patético, em busca da autoridade desmoralizada pelos dias de hoje. Dá num filme simpático e bem mais parecido com a vida real do que a pasteurização estereotipada que Hollywood prefere apresentar.