30.9.06

Sobre santos e sobre luto


Amanhã faz cinco anos que minha mãe morreu, por volta de 17h, após uma convalescença de quase um ano.
Tenho que escrever uma matéria sobre pessoas que deixam lições de vida ao saber que estão para morrer.
O dia cinzento e chuvoso é perfeito para manter a temperatura dos enlutados.
Melhor do que se fizesse um sol forte, um céu abertamente azul, daqueles que acinzentam ainda mais as nuvens de quem está nublado na alma.
Minha bisavó morreu no dia 2 de outubro, dia dos santos anjos, contava sempre Mamãe. Minha bisavó era devota dos santos anjos.
Meu pai, que nunca foi lá muito religioso, simpatizava com São Francisco, o mais hippie dos santos. Nasci no dia do Poverino, o homem que amava o sol, a lua e os animais. E, certamente, os pastéis de Santa Clara.
Meu tio favorito nasceu em 26 de março e morreu num 25 de março.
Shakespeare parece que nasceu e morreu no mesmo dia, 23 de abril, dia de São Jorge. Como a vida dele é nebulosa, não se sabe realmente se ele nasceu no dia do santo da Inglaterra.
Talvez algumas pessoas decidam o melhor dia, o melhor momento para morrer.
Quando mamãe morreu, uma amiga falou: "Foi o presente de aniversário dela para você. O fim dessa angústia". Mal sabíamos que dali para a frente, a angústia só cresceria.
Cinco anos depois, a serenidade invade meu coração.
O livro de Joan Didion sobre a perda do marido, "O Ano do Pensamento Mágico", fala sobre a desacralização do luto, de como a sociedade contemporânea exige que nos ocupemos e nos distraiamos imediatamente após a morte de alguém querido. Não nos trajamos de negro, tomamos Prozac, precisamos superar a dor.
Mas cada organismo tem seu tempo.
Nesses últimos cinco anos sofri por perdas anteriores, pai, tio, melhor amiga, amores.
Hoje é o momento de acender uma vela e celebrar o fim do luto.
Sete anos antes, comemorávamos antecipadamente meu aniversário. No dia seguinte, havia eleição, e eu não conseguia me mexer de tanta ressaca. Convoquei Mamãe para cuidar dos meninos e botar minha casa em ordem até que eu tivesse forças para me arrastar até a seção eleitoral .
Hoje, minha filha pegou uma foto em que eu e Mamãe estamos na festa, às gargalhadas.

Hoje, quero apagar o tempo que Mamãe passou hemiplégica, sem determinar a própria vida.
Hoje, quero lembrar dela plena, rindo, cuidando de todos nós.
Hoje, quero ser plena, rir e cuidar dos meus.
(legenda da foto: M. Célia, Mamãe, Jacques e Marcelo, festejando meus 39 anos. Eu bati a foto - sem tanto foco assim, pois o teor alcoólico foi considerável)

29.9.06

Inferno astral

Duas matérias para entregar e não consigo escrever. Estou desconcentrada, sem NET e sem telefone, com espinhas no rosto, como uma adolescente tardia.
Dói o joelho, dói coluna, falta dinheiro, sobra esperança.
Semana que vem faço 46 anos.
E ontem eu tinha completado 21, tirado carteira, ganhado um carrinho...
A vida é rápida demais.

28.9.06

No escurinho do cinema


Juntar atores e amadores que falam meia dúzia de idiomas diferentes, mostrar o horror do imperialismo, do preconceito e da falta de comunicação. Tudo isso com bela fotografia, comoventes interpretações e histórias entrecortadas que tocam o coração. Desta vez Alejandro Iñarritu conseguirá mais do que indicações pro Oscar. "Babel" é seu filme mais linear, de um didatismo tão óbvio que chega a irritar. Com "Traffic", Soderbergh foi bem mais contundente - apesar do juiz do Michael Douglas ser muito clichezão. "Babel" tem Brad Pitt menos belo representando o americano dono do mundo.
É um filme daqueles que a gente não sabe se gostou. Bem pensado, bem acabado, bem feito. Mas e daí? Parece que sofre da síndrome de "Crash" - a gente critica, mas tempera com um pouco de amor e carinho. Isso assinado por um mexicano que estranha o fato de cariocas serem um povo que se agarra muito ... Estranho é um latino não estar acostumado a beijos, abraços e muito carinho.

24.9.06

TRE

Olha quem é candidata!!!!!

Ruth Lemos
A nutricionista que virou febre na internet depois da
entrevista do "sanduíche-íche" – em que, por problema
de delay, repetia o final das palavras – tenta
vaga como deputada estadual por Pernambuco

O filme que é a sua cara

Teste da Isto É.

Numa lista que tinha "Matrix" e "Quem vai ficar com Mary", escolhi "Pretty Woman" e "Gladiador", porque sou uma mulher que é mais que um filme.

Está aí o que sou

Comédia romântica

São pessoas preocupadas com as relações familiares e entre amigos.

Épico

São pessoas extremamente preocupadas
com o bem estar dos outros e com a natureza.
Dão importância à religião e à cultura.


'Magina. Não dou importância à religião. Mas dou a filme com Russel Crowe.

New look


Agora todos os costureiros, digo, estilistas são contra modelos anoréxicas, com perfil de borboleta ou envergadura de radiografia. O Armani afirma que sempre quis mulheres gostosonas vestindo as roupas dele. Em "Pret a porter", do Altman, havia uma cena chocante das modelos desfilando nuas. Na época (anos 80/90, creio), era estarrecedor constatar que aquelas moças lindas, com rostos de anjos, tinham curvas de prisioneiras em campo de concentração. A única a mostrar um corpo de mulher era uma grávida. Assisti ao filme recentemente e... não achei as mulheres tão magras assim! Na cabeça de todos o tipo anoréxico hoje é normal.
Igual a peito com silicone. Vi uma foto antiga de uma modelo-manequim-atriz-socialite desfilando no carnaval. E achei esquisitos os seios da moça, que, vinte anos atrás era admirada não apenas pelo despudor, mas pelas belas formas. Atualmente quarentona, ela já deu uma turbinada.
Reduziram o peso das moças, puseram todas pra comer alface e tomar anfetaminas. Cortaram o estômago dos gordos, tem gente fazendo bebê de proveta pra escolher o embrião perfeito. E as magrelinhas, coitadas, saíram da moda, porque alguns governos estão preocupados com adolescentes desnutridas. Vamos engordar as meninas, aumentar os números das roupas e esperar as próximas determinações dos ditadores da beleza? Com um pouco de dança, claro!

23.9.06

No escurinho do cinema


O que é uma vilã? É o que atualmente Meryl Streep faz em "O Diabo Veste Prada", é o que Glenn Close fez em "Ligações Perigosas", é Bette Davis em "Little Foxes". Mulheres perigosíssimas, elegantérrimas e frias.
Dizer que "O Diabo veste Prada" só vale por Meryl Streep é ser muito exigente. É um filminho leve? É. Mulherzinha? Bem...
Mas a diva - com Stanley Tucci fazendo novamente uma escada perfeita - domina tanto a trama que não há como deixar de invejá-la. Ela é uma bruxa, uma chefe insuportável. Impiedosa, incapaz de sorrir. Um desdém tão grande pela humanidade em geral que é impossível ser indiferente à megera.
O filme só deveria ser exibido em cinemas de rua para evitar tentações de shopping centers victims. Quem tem algum sobrando, sai da sala escura louca para comprar uma bolsinha, um sapatinho, uma echarpezinha, uma pashmina básica. Baixa uma pomba gira perua em qualquer santa. Muita bolsa maravilhosa, muito vestido sensacional. Gente, a Meryl Streep armando um cinto em cima de um vestidinho estranhísssimo e informando como se faz uma peça ir pras lojas é o máximo. E as roupas que ela usa... O cabelo brancão, a voz comedida... Que peste! Que atriz!!!! Se for indicada como coadjuvante, ganha. Pelo menos um globinho de ouro ela pega...

No escurinho do cinema


Sempre que vou assistir a um filme do Brian de Palma, entro na sala cruzando os dedos. Isso desde que eu vi uma loucura chamada 'Missão Marte', ou coisa que o valha, em que o Gary Senise vai encontrar com ETs em Marte, enquanto o Tim Robbins chora. De um ridículo atroz e intensamente entediante, a ponto de todos os espectadores conversarem animadamente durante a sessão. Devia ser verão, o ar-condicionado era potente, essas coisas.
Ele se redimiu com "Femme Fatale", embora aquele fim de "foi tudo um sonho" ser uma das jogadas mais condenáveis do processo criativo desde os tempos de escola. Aí, ele apresenta "Dália Negra". Outro filme noir, outra história de dois homens envolvidos com uma loura como bem gosta o James Ellroy, outra história de corrupção policial em Los Angeles, uma reconstituição de época caprichada, cabelos exagerados, batons escandalosos, chapéus, brigas de rua, de ringue, tiroteio e uma família de gente rica e esquisitinha. Tudo isso temperado com referências cinematográficas claríssimas (sexo sobre a mesa de jantar, bem "O Destino Bate à sua Porta", versão de Bob Rafelson) e trilha sonora presente o tempo todo, bem antigona. Ah, e k.d.lang cantando "Love for Sale", hino oficial dos homossexuais na primeira metade do século XX.
Cinemão bem feito, sem qualquer mensagem contra o sistema em geral. Só cinema. Se o Brian de Palma continuar refazendo noirs ou hitcockiar ("Dublê de Corpo", "Obsession") , melhor pra nós. Mesmo que tenhamos que aturar a Scarlett Johanssen. Ô, mulherzinha chata...

22.9.06

No Valor, hoje.


Cinco perfis de empreendedores culturais que fiz estão no Valor de hoje.
O homem dos shows espetaculares
Por Olga de Mello, para o Valor
Seis meses depois de fazer as duas maiores bandas de rock da atualidade - os ingleses Rolling Stones e os irlandeses do U2 - tocarem no Brasil com intervalo de apenas um dia entre as apresentações, Luís Oscar Niemeyer diz que ainda tem a sensação de que os espetáculos, realizados em fevereiro, aconteceram "muito recentemente". Tanto que seu próximo projeto é bem menos ambicioso, embora de grande relevância do ponto de vista educacional - gravar em DVD um concerto pop sinfônico sobre lendas brasileiras, com canções inéditas de 14 artistas, entre eles Milton Nascimento, Toquinho e Roberto Frejat.

"Há muito tempo queria fazer algo sobre a cultura brasileira. Cada um está compondo músicas sobre boitatá, curupira, saci, as figuras lendárias do país." No projeto estão também Lenine, Zé Ramalho, Ana Carolina, Fernanda Abreu, Toni Garrido e Jorge Vercillo, conta Niemeyer, que não revela se já está em negociações para trazer outro superstar internacional ao Brasil.
Há cerca de dois meses, ele jogou uma pá de cal nos sonhos dos fãs de Madonna, ao anunciar que a cantora desistira de incluir o Brasil em sua turnê mundial. Seria a terceira façanha deste ano do veterano empresário, um dos responsáveis por colocar o Brasil no circuito da música internacional em 1985, quando foi o coordenador geral do primeiro Rock'n'Rio, promovido pelo publicitário Roberto Medina.
"Difícil era montar festival naquela época. Atualmente é bem mais fácil. O Rock'n'Rio teve um papel importante, deu credibilidade ao empresariado brasileiro. O setor se desenvolveu muito e hoje é reconhecido internacionalmente", diz Niemeyer, que também produziu o Hollywood Rock, o show da Anistia Internacional em 1988 e trouxe artistas importantes ao Brasil, como Bob Dylan, Nirvana, Red Hot Chilli Peppers, Eric Clapton e Paul McCartney, que, em 1990, levou 184 mil pessoas ao Maracanã, o maior público pagante de um show musical até hoje. O ex-Beatle voltaria novamente ao Brasil para tocar em São Paulo e Curitiba, também por iniciativa de Niemeyer, que, em 1993, assumiu a presidência da gravadora BMG, de onde saiu 12 anos depois. Retornou aos espetáculos ao trazer o DJ Moby para quatro apresentações no Brasil, no ano passado.
Apesar do fascínio que o U2 exerce onde quer que se apresente, o show dos Rolling Stones, na noite de 18 de fevereiro, atraiu muito mais atenção que as apresentações dos irlandeses, talvez porque era gratuito. Mais de 1 milhão de pessoas estiveram na praia de Copacabana, acompanhando o show por telões instalados em 16 torres de som ao longo de 600 metros. Foi montado um esquema semelhante ao do réveillon, com equipes médicas e policiais percorrendo a praia.
"O maior trabalho era acertar o esquema da vinda dos artistas e conseguir patrocínio para arcar com os custos. O Rio de Janeiro já estava totalmente preparado para esse tipo de espetáculo. Meses antes o Lenny Kravitz havia se apresentado ali mesmo para 400 mil pessoas. Quem vai a esses shows quer se divertir", considera Niemeyer, que aposta na longevidade dos megashows: "A apresentação ao vivo não acaba porque desperta sensações únicas nos artistas e no público, além de ser um termômetro do mercado".

Um cinemaníaco de alma nômade
O primeiro filme a que Adhemar Oliveira assistiu era de Charles Chaplin, projetado sobre um lençol estendido na lateral de uma caminhão, em alguma cidade do interior de São Paulo. Não consegue se lembrar do lugar precisamente, nem da época. O pai tinha um parque de diversões itinerante e as viagens da família eram freqüentes: "Fui alfabetizado com sete cartilhas diferentes, uma de cada escola em que me matricularam", conta. Por conta das freqüentes mudanças, desenvolveu o espírito nômade na infância, quando também tomou gosto por cinema, o melhor programa para ele e os sete irmãos, nas matinês de domingo. Um gosto que o faz permanecer como diretor de programação dos filmes das 60 salas dos grupos Arteplex, Circuito Cinearte e Espaço Unibanco de São Paulo, distribuídas por sete cidades do País.
"Eu quero cuidar do que é bom, não me preocupar com ar-condicionado", brinca, embora quase não tenha tempo para assistir filmes no escurinho do cinema, exceto quando está fora do Brasil. "Em Cannes, eu me acabo. Vejo oito filmes por dia. Aqui, fico no DVD mesmo", diz.
Fundar uma rede de cinemas não passava pela cabeça do estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo, funcionário concursado do Banco Central. Depois de formado, queria continuar os estudos na Universidade Autônoma do México, onde pretendia ser aluno de Octavio Paz. Adiou o sonho ao se formar e pedir demissão do Banco Central para fazer a programação do Cineclube Bexiga, um dos raros cineclubes brasileiros que não estavam ligados a entidades.
A alma de cigano desse paulista de Jaboticabal voltou a se manifestar em 1982, quando rumou para o Rio de Janeiro, decidido a seguir de navio até o México. Acabou fazendo a programação do Cineclube Macunaíma, da Associação Brasileira de Imprensa. Três anos depois, integrou o grupo de oito pessoas que abria o Coper Botafogo, sala de um velho cinema no fundo de uma galeria ao lado da estação do Metrô de Botafogo. Nascia o empresário. O sucesso do Coper, pioneiro em tirar o chamado cinema de arte do circuito dos cineclubes, levou à criação do Grupo Estação - do qual Adhemar e as sócias Patrícia Durães, Eliane Monteiro e Lúcia Houaiss se desligaram em 1996 -, do Espaço Unibanco de Cinema, do Circuito Cinearte e, finalmente, do Arteplex, que colocou lado a lado os chamados filmes de arte e os comerciais.
"Havia o temor de que a platéia envelhecesse junto com a gente", explica. "Foi uma estratégia para ampliar o público, tão importante quanto as ações culturais que desenvolvemos." Entre essas ações culturais estão sessões abertas para alunos de escolas públicas em várias cidades e para os 10 mil sócios que integram o Clube do Professor.
Atualmente, o Arteplex é a empresa brasileira que mais abre cinemas no país. Até o fim do ano serão inauguradas três salas em Santos (São Paulo) e quatro em Tubarão (Santa Catarina). Em 2007, o Arteplex terá cinemas em Recife (oito salas) e Salvador (cinco salas). "Ainda estamos longe dos 3.500 cinemas que o Brasil tinha na década de 70 do século passado. Mas já foi bem pior. Hoje existem cerca de 2 mil salas", comenta Adhemar, que gostaria de ver uma rede de microcines por todo o país, como acontece na Espanha, onde 90% das cidades têm cinemas. "

(Olga de Mello, para o Valor, do Rio)
O coreógrafo dá espetáculo na periferia
Na década de 60, o paulistano Ivaldo Bertazzo assistiu ao espetáculo de "um louco" chamado Maurice Béjart e decidiu fazer da dança seu ofício. Quarenta anos mais tarde, ele se dedica a mostrar que a dança pode ser não apenas uma expressão artística, mas uma maneira de reeducar atitudes perante a vida, tanto para profissionais engravatados, que procuram sua escola a fim de relaxar das tensões do dia-a-dia, quanto para jovens da periferia de São Paulo, que participam do projeto Dança Comunidade. Mais do que levar seus alunos ao palco, em espetáculos que juntam canções da Índia e da África do Sul aos batuques brasileiros, Ivaldo quer, por meio da arte da dança, promover a mudança de valores desses jovens, preparando-os para disputar o mercado de trabalho.
Trazer um rapaz da periferia para um ensaio em sala de dança não é tarefa fácil; por isso o recrutamento fica a cargo de ONGs. "Depois vem a fase de convencer as famílias e os professores. Chamamos todos aqui, fazemos palestras, demonstrações. Se não houver integração, não sai nada", diz Bertazzo.
A primeira experiência foi no Rio de Janeiro, quando montou um projeto de experimentação de coordenação motora com 70 adolescentes de 12 a 20 anos, todos moradores do Complexo da Maré. O trabalho acabou evoluindo para três espetáculos: "Mãe Gentil" (2000), "Folias Guanabaras" (2001) e "Dança das Marés" (2002). Em São Paulo, começou o Dança Comunidade no Sesc, em 2003. A proposta era ensinar dança e formar professores entre pessoas sem qualquer conhecimento formal de técnicas de balé. Atualmente, com apoio da prefeitura de São Paulo, os 100 jovens que participam do Dança Comunidade recebem bolsas-salário e têm cinco horas de aulas diárias de música, percussão, reeducação do movimento, dança, origami, fisioterapia e práticas circenses. No Sesc, o grupo já montou concorridas temporadas com os espetáculos "Samwaad - Rua do Encontro" e "Milágrimas".
"Tão importante quanto se apresentarem em palco é que se profissionalizem, que saiam do assistencialismo e se valorizem por meio da carteira assinada, do emprego", acredita Bertazzo, que trabalha com amadores desde 1975, quando criou a Escola de Reeducação do Movimento e passou a montar espetáculos com os chamados "cidadãos dançantes". Nunca deu atenção às críticas, que sempre surgem, lembrando que o Brasil tem a tradição de aceitar amadores em teatro, fotografia e música, mas reserva a dança para os profissionais.
"Eu queria quebrar esse padrão, levar para o palco corpos heterogêneos, sem a uniformidade dos bailarinos. A Broadway, em Nova York, está repleta de talentos porque diversas gerações de artistas aprenderam a dançar nas coxias. Esses meninos vêm aprender uma linguagem gestual muito diferente da que usam no axé ou no funk, e também abrem os ouvidos e as mentes para outros sons. Além disso, o fato de se deslocarem para o centro de São Paulo os levará a tomar posse da cidade, a descobrir o circuito cultural, a ter um novo desejo de consumo", acredita Bertazzo, que continua à frente de algumas turmas na escola, entre elas a dos jovens do Dança Comunidade."

(Olga de Mello, para o Valor, do Rio)

No Valor, hoje


Paraty, agora muito mais iluminada
Divulgar a literatura brasileira no mercado internacional, criando uma atividade comercialmente interessante para Paraty. Foi o que levou o casal Liz Calder e Louis Baum a desenvolver a idéia de movimentar a bela cidadezinha do Sul fluminense com uma festival literário nos moldes dos que se promovem todos os anos em Hay-on-Wye, no País de Gales; em Edimburgo, na Escócia, ou em Mântua, na Itália. Sem ligar para as críticas quanto à distância de Paraty do Rio de Janeiro (248 km) ou de São Paulo (300 km), nem em relação ao notório desinteresse dos brasileiros por literatura, a inglesa Liz conseguiu trazer escritores do mundo inteiro, como Salman Rushdie, Ian McEwan, Toni Morrison, Eric Hobsbawn e Paul Auster, para o que viria a se tornar o mais simpático evento literário abaixo do Equador.
Uma das fundadoras da editora Bloomsbury, Liz Calder apostou no charme da pequena cidade de 33 mil habitantes no litoral fluminense como garantia do sucesso da Feira Literária Internacional de Parati (Flip). Fascinada pelo Brasil, ela já o era desde a década de 1960, quando morou em São Paulo com o primeiro marido e os filhos pequenos. Desde 1990, quando conheceu Paraty a convite do velejador Amyr Klink, ela e Louis passam três meses por ano na cidade. As temporadas de descanso acabaram. Há quatro anos eles dedicam parte de seus dias em Paraty aos preparativos para receber os escritores que vêm participar da Flip.
A organização, que envolve, em média, cerca de 600 moradores da cidade, é uma das chaves para criar a atmosfera de harmonia e intimidade entre público e escritores durante a feira, que têm atraído 12 mil visitantes à cidadezinha fundada no fim do século XVII. A beleza natural da região, celebrada pela qualidade da cachaça local, as ruas com calçamento em pé-de-moleque e o casario preservado do centro histórico são fatores determinantes para o sucesso da Flip, afirma Liz. Mesmo lotada, a cidade suporta bem a chegada de multidões que dão aos escritores tratamento de pop star. O encantamento não é prejudicado sequer pelas freqüentes chuvas, que já alagaram as ruas do centro histórico enquanto a feira se achava em pleno movimento.
Da primeira feira participaram 27 escritores. Na última, foram 38, número que deverá ser mantido, pois a estrutura de Paraty não comporta um evento maior. "Acho que chegamos ao tamanho ideal. Mais do que isso, acaba com o clima de intimidade. Para receber mais escritores seria necessário montar uma feira em locais maiores, como Ouro Preto, por exemplo", sugere Liz, satisfeita com os resultados depois de quatro anos de Flip.
"O processo é gradual, é lento, mas já há um impacto internacional. Escritores, editores e jornalistas que visitam Paraty divulgam a riqueza literária do Brasil, aumentando o interesse no exterior por traduzir autores brasileiros em outros idiomas. Na esfera brasileira, não podemos esquecer das atividades paralelas aos debates, como as oficinas de literatura, que vêm revelando novos talentos, e a Flipinha, a programação infantil, que visa a formação de novos leitores", destaca Liz.
(Olga de Mello, para o Valor, do Rio)

No Valor, hoje


Sobrevivente de uma idéia ousada
Quando o carioca Charles Cosac desembarcou em São Paulo, em 1996, após uma temporada de 15 anos na Europa, estava determinado a abrir uma editora de livros de arte. "Não procurava uma brecha de mercado, não pensava em ganhar dinheiro. Eu queria construir algo para mim e para o Brasil." Associou-se ao cunhado, o americano Michael Naify, e seis meses depois publicavam o primeiro livro, "Barrocos de Lírios", um cuidadoso volume sobre a obra do artista plástico Tunga.
Hoje, o catálogo da CosacNaify apresenta 500 títulos de história e teoria da arte, cinema, teatro, design, arquitetura, fotografia, dança, moda, literatura, filosofia, antropologia e crítica literária, todos seguindo um padrão requintado, de altíssima qualidade. "O que nos faltava em experiência administrativa, compensamos com ousadia e dedicação. A empresa cresceu sem planejamento algum. Ninguém nos dava mais do que um ano de sobrevivência."
Rapidamente, Charles Cosac descobriu que, apesar da carência de livros de artes visuais, firmar-se no mercado editorial brasileiro não seria fácil. "Na Europa, um livro de arte pode ter uma tiragem de até 50 mil exemplares. Aqui, é de apenas 3 mil volumes. O ciclo de um livro comum é de um ano e meio, desde a preparação ao tempo que permanece nas prateleiras. O livro de arte tem um ciclo muito maior, de cinco a seis anos. Eu imaginava que não encontraria concorrência, que era um ato filisteu brigar por um título no Brasil. Havia uma certa irreverência em lançarmos uma editora voltada para esse nicho dentro de um país onde nem os letrados têm o hábito de ler", lembra Cosac.
Reconhecendo que lhe faltava "uma visão panorâmica" da editora, há cinco anos se afastou da administração para se dedicar exclusivamente ao preparo das edições de livros de arte. "Acompanho tudo o que acontece na empresa, mas aprendi a descentralizar e garantir que a editora tenha vida própria, sem estar ligada a mim necessariamente."
A ênfase ainda é em arte, que responde por 35% do catálogo. Há espaço também para apostar em inovações, como a caprichada recente edição do clássico "Bartleby, o Escriturário", de Herman Melville. A capa é lacrada e as páginas, coladas, precisam ser abertas por uma espátula plástica, que acompanha o volume. Semelhante às edições da época de seu lançamento, em 1853.
Radicar-se em São Paulo foi uma decisão tomada a partir da criação da editora. "São Paulo é uma cidade dinâmica e referência para a arte no Brasil. Aqui havia mais chances de sucesso para uma editora de livros de arte", afirma Cosac. Ao chegar, não desanimou com a complexidade do processo para abrir um negócio no Brasil: "Levei um susto com o número de documentos exigidos para se alugar um imóvel. Na Europa seria bem mais simples. Mas eu não ia desistir. Queria fazer algo que não fosse efêmero, que sobrevivesse a mim, que ficasse para o meu país".
Dez anos depois, ele percorre a pé os dois quarteirões entre sua casa e a editora, em Higienópolis. Para garantir a paz de espírito, não quer enfrentar trânsito e evita ler os noticiários. "Prefiro a distância do que me angustia. Sou o homem mais rico de São Paulo, pois não preciso dirigir até meu escritório. Faço o meu próprio tempo, tive o privilégio de criar uma vida feliz para mim."

(Olga de Mello, para o Valor, do Rio)

20.9.06

Na lista dos blogs que fazem campanha pro Gabeira

Tô me achando muito...

http://www.gabeira.com.br/4321/artesdigitais.asp

Escrevemos a partir de uma necessidade de comunicação e de comunhão com os demais, para denunciar o que dói e compartilhar o que dá alegria. Escrevemos contra a nossa própria solidão e a solidão dos outros. Supomos que a literatura transmite conhecimento e atua sobre a linguagem e a conduta de quem a recebe; que nos ajuda a conhecer-nos melhor para salvar-nos juntos. Mas "os demais" e "os outros" são termos demasiado vagos; e em tempos de crise, tempos de definição, a ambigüidade pode se parecer demais à mentira. Escrevemos, na realidade, para as pessoas com cuja sorte, ou azar, nos sentimos identificados. Os que comem mal, os que dormem mal, os rebeldes e humilhados desta terra, e a maioria deles não sabe ler. Entre a minoria que sabe, quantos dispõem de dinheiro para comprar livros? Pode-se resolver esta contradição proclamando que escrevemos para essa cômoda abstração chamada "massa"?

Eduardo Galeano, um escritor bom de bola.

15.9.06

Un nuovo e bello template


Sim, eu tentei por muitas e muitas vezes trocar o template do blog. Arrumava tudo direitinho e depois desistia.
Desta vez, acho que serei obrigada a perder a faixa do "Make Poverty History", não gosto muito da fonte escolhida, mas... ficou tão bonitinho, tão minha cara.
E foi tão fácil de arrumar tudinho...
Achei por acaso, claro, entrando em outro blog. A designer é italiana.
Adoro designs italianos, só compro Fiats( ou melhor, só comprava Fiats, já que minha brava Relíquia, a Elba Weekend que me serve há 15 anos, dificilmente deixará de me servir antes da virada da década), sempre tive cafeteira Favaretto, sou louca por comida italiana, pelo futebol italiano, pela beleza dos italianos.
O new look tem uma gracinha de calendário. Não resisti (os outros eram de chocolate, preferi o Bruce Willis bancando o durão). Quase troquei o relógio por um do Corto Maltese, mas acabei achando que ia ficar muita papagaiada.
Tive que abrir mão daquela indescritível ferramenta de tradução para inglês.
Se necessário, indico os serviços de alguns tradutores amigos baratinhos, baratinhos!
Ciao!


À esquerda, Suri, filha de Tom Cruise e de Katie Holmes.
À direita, Shiloh, filha de Angelina Jolie e Brad Pitt.
Não, eu não tenho paixão por bebês filhos de pais célebres e belos.
O que eu tenho implicância é com os estranhíssimos nomes que as celebridades do mundo pop dão a seus rebentos, deixando no chinelo qualquer Gleidson, Helienne, Daieine ou Eidilmeure, registrados nos cartórios brasileiros.
Ontem, assistindo à pelada Fluminense e Botafogo (melhorou muito depois do inacreditável gol do Botafogo, mas, ô, joguinho vagabundo...), ficava admirando os nomes dos jogadores. Além de Claiton e Cleiton, havia um Júnior César. E um Lenny.
Podem ter irmãzinhas Apple Blythe Paltrow (filha da Gwyneth Paltrow, que já recebeu um nomezinho troca-letra que vou te contar), Zabelê e Sarah Shiva (filhas de Baby Consuelo e Pepeu). Eidilmeure quase foi o nome da filhinha de um porteiro que conheço. Acabou virando Edilene, que a gente pelo menos sabe como pronunciar.
O sucesso total já foi batizar três filhos com nomes de estadista: Washington, Wellington e Jefferson. Agora, concorrem firme com Waldisney (corruptela sensacional de Walt Disney) e Wesley - que particularmente, acho de uma bela sonoridade.

Parece que os mais populares ainda são Maicon e Michael para os meninos. Emily, Pamela, Sue Ellen e Jenniffer, comuns na década de 80 (todo mundo devia assistir "Dallas"), caíram de moda. Mas Dayanne continua soberana, embora já vá para dez anos a morte de Lady Di.

Agora que as nenéns acima, nomes esquisitinhos à parte, são umas lindezas, são.

14.9.06

Arco-íris sobre Niterói


E a gente sempre dizendo que Nictheroy era provinciana...
Pois é, a Câmara Municipal de lá aprovou projeto de lei reconhecendo os direitos providenciários de servidores casados com pessoas do mesmo sexo!
Viva Niterói, que mostra que seus edis têm muito mais fibra e ousadia do que os políticos cariocas!!!
Agora, que os nativos do outro lado da poça vão virar alvo de muita piada, vão!
Deixa estar! Enquanto se brinca, que o prefeito homologue a proposta e cumpra-se a lei!
Morro de orgulho de ter como vizinha Nictheroy City!!!

11.9.06

Em Onze de Setembro, remexa a estante das boas lembranças


Numa data tão dolorosa, melhor pensar em construção e passar esta corrente, que fala sobre o bom que se traz para a humanidade.

Vinte histórias (11+ 9 - olha o uso cabotino de numerologia, "ciência" cabotina por ela mesma) que marcaram minha vida (infantis ou não)

1. O Pequeno Nicolau - Gracinha de desenho, gracinha de histórias: a vida de um menininho, seus pais e os amigos de colégio, na França da década de 60
2. A série de Laura Ingalls Wilder - Quem foi menina nos anos 60/70 leu e conheceu bem as aventuras de Laura e sua família em diversos estados norte-americanos. Viveram em Iowa, Minesotta e outras lonjuras, dentro de territórios dos índios. Parece que Laura deu um upgrade na história, cortando fatos desonrosos. Ficção em cima da realidade, os livros são lindos e com ilustrações lindíssimas que foram coloridas, decalcadas e rabiscadas por mim em diversas fases de minha vida. Laura quase foi o nome de minha Júlia.
3. Léxico Familiar - Nathalia Ginzburg conta com muito humor a vida de sua família italiana. Gostoso como um Fellini.
4. Os Meninos da Rua Paulo - A bela história do húngaro Fèrenc Molnar, traduzida pelo professor Paulo Rónai, me fez desejar ser menino e, um dia, ter aulas de química que utilizassem Bicos de Bunsen. A única tristeza - a morte de Nemetchec. Nunca tive João Boka como o protagonista.
5. My family and other animals - Que recebeu o título ridículo de "A Ilha Inesperada" aqui e me levou à leitura do irmão mais velho de Gerald Durrell, Lawrence. A meus filhos, bem eu queria dar uma infância em Corfu.
6. Bartleby, o Escrivão - A mais impressionante novela sobre o ser humano, de Herman Melville
7. Os Doze Trabalhos de Hércules - Todo o Monteiro Lobato foi amado por mim com intensidade, desde Reinações de Narizinho. Não li, apenas, o livro sobre Matemática, porque aí era demais... Por causa de Monteiro Lobato, que hoje, reconheço, tem um linguajar datado em demasia, me apaixonei por mitologia grega e toda a sorte de mitos que me levaram a compreender os arquétipos literários, a antropologia e a desvendar os mistérios da mente.
8. Um Capitão de Quinze Anos - Jules Verne escreve muita coisa melhor, mas este foi o presente de um estranho, que me indicou a existência da confraria dos amantes de livros. Eu havia descido a uma pequena livraria que ficava ao lado de meu edifício, na fronteira da Visconde de Pirajá com Francisco Sá, em busca de um algo para meu pai ou minha mãe. Acho que estava com minha tia e, depois de indicar o livro que deveria ser comprado (eu era menina, tinha uns doze anos e sabia exatamente o que eles queriam), fui fuçar as prateleiras. Minha tia decidiu comprar um livro para mim e eu escolhi algum do qual não me recordo. O moço da livraria, então, me indicou o "Capitão". Fiquei em dúvida sobre qual eu levaria. E ele disse: "Este é um presente meu para você, pode levar". Aí, fiquei espantadíssima, olhei para minha tia que me autorizou a aceitar. Vez por outra eu visitava a livraria, que acabou virando uma loja de molduras. Eles faziam um embrulho caprichado, com papel azul e uma linda fita azul clara com "rendinha" dourada.
9. Tom Sawyer - Também queria ser menino e viver as aventuras de Tom, o moleque endiabrado! Ou, no mínimo, ser sua namoradinha, Becky. Abriu minha cabeça para a literatura satírica e todo o Mark Twain.
10. Série "Glorinha" - Odette de Barros Mott escreveu livros "mulherzinha" para meninas exemplares, que integravam a coleção "Jovens do Mundo Todo", da Brasiliense. Glorinha era boa filha, boa irmã, boa namorada, bandeirante (eu queria tanto ser bandeirante!!!), vivia em São Paulo e ia à praia em Santos. Mas a leitura da vida da boa moça era muito agradável.
11. O Diário de Ana Maria/de Dany - Esses foram musts da educação sexual do século passado. Escritos por um padre (!), falava da curiosidade sobre sexo dos jovens Dany e Ana Maria e de como era importante se manterem puros e castos. Mas o bom mesmo eram os relatos do dia-a-dia dos adolescentes, que matavam aula para ver "Les Amants" e acabavam assistindo uma comédia de Louis de Funnes.
12. Histórias do Flamengo - Outro que envolve recordações confortadoras e o amor pela leitura. Era 1977 ou 78 e o Flamengo andava numa daquelas fases vexaminosas, tomando goleadas históricas do Botafogo, o de sempre. Eu tinha ensaio do coral na Cultura Inglesa e escrevi num quadro-negro: "Sempre Flamengo - Apesar de tudo!!!". Um senhor bem velhinho assistiu ao ensaio e depois perguntou quem escrevera aquilo no quadro. Informei que fora eu, pronta para a bronca - o velhinho era conselheiro na Cultura, e, naquele tempo, a gente estava sempre achando que poderia ter feito besteira. Ele me disse: "Vou lhe dar um presente". Voltou no ensaio seguinte com o livro de Mário Filho e me mostrou um pouco do amor pelo Rio e pelo futebol.
13. O Apanhador no Campo de Centeio - A fala de Holden Caufield, um garoto que levou bomba no colégio, e sua forma de ver o mundo é hipnotizante. Criou uma dependência de Sallinger em mim.
14. Junky - A fissura de Burroughs por qualquer droga pesada causa náuseas, mas fascina.
15. A Sangue Frio - Faz qualquer um querer ser jornalista. Recentemente vim a saber que Capote vendeu a alma ao diabo para escrevê-lo. Entende-se por quê.
16. A Casa de Papel - Um precursor de blogs, este livro me encanta desde a década de 70. Conta a história da família da escritora franco-belga Françoise Mallet-Joris, com muitas crianças, bichos, empregadas e agregados. Tudo sem muita ordem, como uma gaveta de escritos, um caderno de anotações. E tem uma passagem maravilhosa de um faz-tudo da família que reclama da vida porque é órfão. Como está com uns 60 anos, alguém lhe diz que nessa idade a orfandade é comum. "Ah, mas eu sou sensível!", retruca o órfão.
17. Um Ano na Provence - Um livro, que, como dia meu Tio Edson, aguça os sentidos, fazendo-nos sentir perfumes e sabores de férias, de sol, de obras, de viver bem.
18. Possessão - Este me pegou por um período, não queria jamais que acabasse a aventura de dois amantes de literatura à procura de um romance entre dois poetas e a disputa com um grupo de caçadores de manuscritos. Não entendo, até hoje, por que me apaixonei tanto por este livro de A.S. Byatt, que eu conhecera antes nos belos contos de "Histórias com Matisse".
19. Crônica de uma Morte Anunciada - Um script cinematográfico em forma de novela.
20. O Diabo no Corpo - Uma das mais bonitas histórias de amor descritas por um jovem.

10.9.06

Globalização

A aldeia global de McLuhan há muito pratica a apropriação de costumes das nações do Primeiro Mundo sem perceber o quanto em alguns lugares os hábitos são bem mais humanistas e convenientes do que em boa parte dos países ao norte do planeta.
Em termos de amor e sexo, principalmente, estamos importando uma terminologia ridícula que acaba saindo do campo semântico e invadindo o social.
Há vinte anos conheci um alemão, Karl, que esperava, no Brasil, ansioso, a chegada de sua noiva. A moça chegou e logo os dois foram morar no mesmo apartamento. Continuaram se apresentando ao mundo como noivos até se casarem em cerimônia religiosa e civil, na Alemanha. O noivado do casal alemão deu o que falar entre os amigos brasileiros, pois, mesmo antes do divórcio ser legalizado no país, já se consideravam casadas as pessoas "amigadas".
Muitas mudanças legislativas mais tarde, incluindo a que reconhece a união estável como um contrato social não assinado, o noticiário é invadido por celebridades "noivas" ou "namoradas" que dividem a mesma casa.
Aí chega a notícia de Veneza sobre a apresentação de um filme de Darren Aronofski, estrelado por sua noiva Rachel Weiss e Hugh Jackman. Um detalhe interessante é que os noivos têm um filhinho pequeno. Para arrematar o ridículo da situação, obviamente os jornalistas perguntaram como ele conseguira dirigir a noiva em cenas amorosas com Hugh Jackman - como se todos fossem adolescentes montando peça no teatro amador do colégio. Na legenda do Globo on line, o redator, brasileiro, tascou "Darren e sua mulher Rachel", provavelmente irritado com essa terminologia dúbia.
Se no primeiro mundo as pessoas não se consideram casadas ao morarem juntas, provavelmente deve haver razões legais (Fisco, divisão patrimonial) para mantê-las nessa situação.
Ao nos adaptarmos a esse linguajar, incorporamos a rejeição social aos relacionamentos que dispensam a aprovação pública. Afinal, casamento, até pra Igreja Católica, é um ato que envolve duas pessoas, um sacramento celebrado pelos noivos, não pelo padre.
Da mesma forma, os namoros hoje são compromissos solenes e o casamento, graças ao imaginário norte-americano popularizado pelo cinema, um passo tão terrível na vida do adulto moderno que a fuga dele é compreensível para homens e absurda para mulheres. Como se mulher quisesse se casar a todo custo e homem não.
Só falta a gente começar a acreditar que não se podem criar filhos em cidades grandes e todos nos mudarmos para a Barra da Tijuca onde as crianças terão uma infância sadia e absolutamente dependente de automóveis.

6.9.06

Obrigada por mostrar


"Obrigado por fumar" é tão corrosivo quanto o cigarro e uma prova de que ainda há muita gente no cinema americano que pode fazer filmes inteligentes além de Woody Allen e Altman (Scorcese anda muito pipocão). Gosto de tudo de cinema, incluindo uma boa pipoca porque ninguém é de ferro, mas prefiro as sátiras. Esta, dirigida por Jason Reitman (filho de Ivan "Caça-Fantasmas" Reitman) ri da manipulação da indústria. O cinismo deste filme só não é tão terrível quanto o "Na Companhia dos Homens", do Neil Labute, também estrelado pelo Aaron Eckhart, que tem personagens mais sórdidos ainda.
Mesmo o mais feroz inimigo dos cigarros há de se divertir com as jogadas do lobby tabagista. A construção da trama é perfeita, incluindo aí o único ato de ingenuidade do anti-herói protagonista, que, afinal de contas, raciocina como homem. Um detalhe: embora se fale em cigarros o filme inteiro, ninguém aparece fumando, nem negando os incontáveis males que ele traz à saúde, apenas batendo na velha tecla da liberdade de escolha, defendida por um elenco que só não é perfeito porque nele está Rob Lowe, que não compromete.


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Blog com novidades: além da troca do relógio, novos links de amigos e uma divertidíssima tecla de tradução literal - usando o Google - dos textos para inglês. O inocente mate, bebida mais consumida nas areias cariocas, virou "kill". O nome do blog virou "Carioca enclosures for bullfighting", já que a sutileza de arenas/areias não chega à maquina. Coitados dos que tentarem ler em inglês...


Desabafo sem desatino


Admito: para mim, a simplicidade maniqueísta de até meados do século XX é invejável.
Detesto o determinismo religioso ou político, dos que têm um discurso puro e apocalíptico, decretando o fim de oligarquias ou pecadores pelo simples abraço da causa.
Dos que pregam a temperança e vivem no fausto.
De quem acha vantajoso burlar a lei em proveito próprio, mas se angustia com a possibilidade de mudanças legislativas, executivas ou judiciárias.
Odeio o deslumbramento do privilegiado com a mediocridade cultural permitida ao pobre, com a esperteza do miserável, com o prazer da prostituta, com o barato do drogado, relegando a esses um sorriso e só um sorriso, nada além.
Cansei do julgamento rápido, do determinismo ético e étnico, das escaramuças para a manutenção de cada grupelho encastelado em conceitos de dominação pura dos excluídos.
Sim, era mais fácil viver num mundo onde os ódios declarados não tinham mocinhos nem bandidos, e a conversão a valores de tribos não era moeda corrente!
Morar no Rio é deparar-se com a dor e o desdém a cada metro de calçada. Sim, a miséria vai aumentar, as crianças e os velhos viverão à míngua, o desespero continuará sendo a mola propulsora da produtividade da classe média.
Era mais fácil um mundo em que educação era uma função doméstica, não repassada por anúncios institucionais que ensinam a importância de ser solidário.
Perdi a fé no Executivo. Sei que a resolução é do Judiciário. E algum encaminhamento é do Legislativo.
Portanto, voto nulo para cargos majoritários. No Legislativo, continuo votando na mesma dupla há anos - Fernando Gabeira e Carlos Minc, atualmente em partidos diferentes. Como continuo uma anta em blogação, o link de Minc vai aqui.

4.9.06

Crocodilo Dundee


Steve Irwin não é o primeiro amante de animais a morrer por aproximar-se deles além do que o bom senso recomenda.
Teve o homem que amava ursos, que rendeu um filme tenebroso do Herzog também.
Quando fui ver baleias em Santa Catarina, os biólogos alertaram que não havia perigo, desde que ninguém falasse alto ou fizesse qualquer movimento que as assustasse. Elas não iriam nos atacar, mas uma rabanada era suficiente para quebrar braços, barco, tudo. Paranóica como sou, estava em pânico. Vi as duas baleias se aproximando do barco, falei baixinho, "Ih, que bonitinho!", tive tempo de trocar um olhar com uma delas - aquele olhão me radiografando - e dali pra frente foi só enjôo. O medo acabou rapidinho. Percebi que os bichos eram apenas curiosos. Imensos, mas curiosos. E ficavam rondando o barco, fazendo estranhos ruídos, algo como "muuu". Enquanto passsava mal, entendia que eu fizera "contato" com a vida selvagem. O olho curioso da baleia parecia um olhar de reconhecimento.
Mas daí a cair na água com elas há uma grande diferença.
O fanrarrão do Steve tomou uma tremenda ferroada no peito, enquanto mergulhava junto a arraias. Tudo filmado e documentado. Algum tempo atrás ele andou alimentando crocodilos carregando seu filhinho de meses no colo. Um ato leviano e irresponsável semelhante ao de Michael Jackson mostrando seu bebê aos fãs, num janelão de hotel. Mas Steve era simpático e um sucesso nas casas com crianças apaixonadas por animais. Pena que tenha morrido por imprudência.

3.9.06

Eu, muito enfezadinha, aos 13 dias de vida.

Presença de macho


Quem vê esta doce bichaninha sialata (vira-lata de siamesa), compenetrada a posar para foto, resplandecente em serenidade, não imagina a dura realidade
Desde o advento de Agador Spartacus Cebolinha, o macho pero não tanto após a castração, minha vida - e a da vizinhança - tornou-se um tormento.
Bella veio morar conosco aos dois meses de idade e, um ano e meio mais tarde, jamais demonstrara o menor pendor para a exuberante sexualidade felina. Enquanto as demais gatas da casa se revezavam em cios mais ou menos escandalosos, Bella ignorava que tal situação existisse. Gordinha demais, chegou a nos levar a suspeitar que fora castrada ainda recém-nascida.
Nada disso. Bella é daquelas fêmeas que necessita da presença de um macho para fazer aflorar seus hormônios. Há dez dias enloquece-nos com lamentos em decibéis semelhantes aos de Tetê Spinola (alguém se lembra dela?).
Enquanto aguardamos o fim do martírio, resta a curiosidade: será que, anulados os hormônios de Agador, Bella tomará gosto pelos brados retumbantes a cada dois meses?