17.6.16

Egotrip

Rendi-me à egotrip e listo 10 coisas sobre mim que muita gente sabe.
1) Minha bebida favorita é mate.
2) Faço diário - atualmente tá mais pra semanário, quinzenário ou mensário - desde os 11 anos de idade.
3) Cresci um centímetro depois dos 40 anos: sempre tive 1m61 e meio. Agora. ostento 1m62 e 1/2; daqui a mais quarenta anos, espero crescer, no mínimo, uns dois centímetros...
4) Meus polegares não têm curvatura, o que me impede de fazer tricô e de pegar corretamente no lápis. 
5) Fui macrô por quase três meses de vida. 
6) Faço palavras cruzadas (da Recreativa) desde criança, sou viciada em Ma-jong e Tranca no computador, adoro jogar buraco (saudades, Edu GraçaEveli Ficher - a melhor das parceiras -, Eliany FicherSolange Noronha e uma dupla que prefere manter o anonimato na jogatina). 
7) Já fiz ghost writing de livro espírita. Duas vezes. E revisei um livro psicografado de autoria de São Marcos, o Evangelista (que, em 2 mil anos, perdeu o estilo, tadinho). Nunca tive coragem de incluir esse feito em meu currículo. 
8) Gosto de escrever em papéis sem pauta.
9) Tenho paixão por loja de ferragens. Adoro comprar pregos, broca de furadeira, mãos francesas. Antes da tendinite me impossibilitar totalmente de muitas traquinagens, eu vivia furando paredes para pendurar quadros ou pregar estantes. 
10) Não sossego enquanto não descubro o título do livro que alguém carrega ou está lendo. Conhecidos ou desconhecidos. Sou daquelas que disfarça e olha por cima do ombro a página que o outro lê.


11.6.16

Alma

Nunca gostei de tatuagens, da permanência que elas imprimem na pele. Queria tatuagens removíveis, variáveis, que durassem apenas uma mudança de lua. E aí eu reconheço uma delas, um detalhe num canto de foto que mostra um pouco de quem me dá alento pra viver. 
Uma pena eu ser alérgica a pigmentos. Queria fazer uma marca igualzinha, definitiva, mas só posso carregar desenhos na alma.


Encontros

Cada vez q encontro uma das listinhas que meu pai usava como lembretes (e esquecia em algum livro) sinto sua presença, ouço sua voz, escuto seus passos silenciosos. Minha mãe lhe passava incumbências que ele cumpria a contragosto. No início desta lista, escrita num pedaço de lauda da Última Hora, há indicações de que ele precisava ver as poucas ações que lhe pertenciam. E que ia ao dentista. Também precisava resolver algo relacionado à carteira de motorista - provavelmente a minha, porque a dele, só foi tirar bem mais tarde - e nunca dirigiu, só gostava de fazer as aulas! Tinha que renovar assinatura da revista Correio da Unesco, acho, e um monte de livros a ler, entre eles os "de cabeceira" - Dostoievski e Machado -, sem contar um artigo sobre Virginia Woolf no Estadão. Montou a lista e foi desenhando uma autocaricatura.
Hoje faz 25 anos que nos despedimos.

(publicado em 4 de junho, no Facebook).



Primeiro, a questão era familiar: quem adoçaria minha vida, meus filhos Artur Koběluš (e não Arthur), Júlia Mello (e não Julia) ou minha Tia Dilma? De repente, a dúvida passou a ser ideológica! Tinha um Aécio na disputa. Guardei os três queridos no lado esquerdo, deixei Aécio lá mesmo e optei pelo adoçante. Sem nomes.

A família

Mi hermanita se fue. Descobri parte do mundo por causa dela, minha penfriend Noemi Barinotto, que um dia baixou no Rio e se instalou no coração de minha família. Com ela aprendi a dançar salsa, a comer ceviche, a amar Lima, a beber pisco sour. Fomos juntas assistir a "Procura-se Susan Desesperadamente" e "O homem que caiu na Terra"
, vimos a Mangueira entrando na Avenida em 1984, corremos todas as tiendas - e quantas -, viajamos pelo interior do Peru, festejamos nascimentos, choramos perdas e nos apoiamos por 40 anos, ainda q em terras distantes. Nossa última conversa, dolorosa, foi em novembro.


O estupro nosso de cada dia

Uma garotinha a caminho do colégio se assusta ao ver um homem com a braguilha da calça aberta, balançando o pênis e rindo para ela.
 Duas mulheres se juntam a um grupo de desconhecidos, uma família com crianças, fugindo de um desconhecido que as persegue por salas de exposição vazias, num dia de semana, no Museu Nacional. Moça alveja com a ponta do guarda-chuva o pé de seu vizinho de poltrona, no cinema: o homem, que "passava a mão" na coxa dela, sai da sala sob os gritos de "tarado" da plateia.
Jovem repórter atravessa a Avenida Rio Branco para chegar à Cinelândia, ao entardecer, e leva um beliscão na virilha por um desconhecido que vem em sua direção.
Colega acaricia barriga da grávida, dizendo ter tesão por gestantes. 
Oftalmologista abraça paciente e a força a cumprimentá-lo com beijos na primeira consulta. Dermatologista acaricia mãos de paciente. 
Amigo da família faz carícia "esquisita" na menina, que não conta para os pais, achando que levou a mal uma simples demonstração de afeto.
Homem persegue mulher no estacionamento de shopping, enquanto se masturba.
Em 55 anos de vida, algumas lembranças desagradáveis que compartilho com outras vítimas do desrespeito. Algo comum a tantas outras mulheres.
NADA JUSTIFICA O ASSÉDIO, O DESRESPEITO, O ESTUPRO.

Uma história de carnaval

Era 2009, domingo de Carnaval, eu andando pra lá e pra cá no cercadinho da Avenida, abraçando e beijando tanta gente conhecida que sentia dor no maxilar. Um rapaz alto, magro, veio em minha direção. Olhos claros, bronzeado. Eu o conhecia, não sabia de onde, achei q era coleguinha. Estava exausta de correr atrás da Madonna, que tava lá com filhos, Jesus Luz etc. O rapaz abriu os olhões e fez o ar resignado de quem vai abraçar e beijar, inclinando-se em minha direção. Eu acenei com a cabeça, dei um tchauzinho e segui em frente. 
No outro dia descobri que conhecia o moço, sim, de vista. Do cinema, na verdade. Era o ator Gerard Butler, que acompanhava os desfiles com o Rodrigo Santoro.