29.3.08

Delicadeza


Na década de 70 tive minhas primeiras experiências com o cinema de Eric Rohmer. Vi O joelho de Claire e A Marquesa D'O, tudo no finado Cinema 1. E me encantei com o universo daquele estranho diretor, que discutia moral diretamente, sem indignar o público.
Depois, Rohmer se tornou corriqueiro em minha vida, tornando a me encantar a cada filme assistido - com exceção do chatérrimo A Inglesa e o Duque, ums pintura em movimento. Escaldada por este filme, sempre temi rever A Marquesa D'O, do qual tinha recordações de numerosos fades a cada fim de cena, quebrando a história como capítulos da novela de Von Kleist, que jamais li.
Então, fui à Cavídeo pegar uns Rohmer e revi A Marquesa com olhos maduros e não com a sofreguidão da adolescência. Difícil é tirar o sorriso de minha alma. Rohmer (com Nestor Almendros na fotografia e um Bruno Ganz descabelado à frente do elenco, onde também figura o outro anjo do Win Wenders, Oto Sander) fala de honra, erros e perdão com humor e sabedoria.
Volta a sofreguidão da juventude para assistir a mais doçuras confeitadas por Rohmer - que está octogenário, mas continua na ativa.

Sou um ser privilegiado. Por anos convivi pacificamente com uma vizinhança silenciosa e discreta, que só se manifestava em ruidosas, porém bissextas festas infantis com recreadores histéricos. Não posso, então, reclamar de hoje ter vizinhos que massacram meus tímpanos e meu cérebro com funk em 550 mil decibéis de altura.
É parte da existência e servirá para meu engrandecimento espiritual.
Tenho certeza absoluta que esses degenerados hão de ficar surdos antes dos 24 anos.
Porque eu posso ser estóica, mas jamais deixarei de rogar uma boa praga pra essa gente sem consideração com a saúde mental alheia.

28.3.08

Momento Fatos & Fotos *



Linda, Carla Bruni tem tudo para ser a nova Lady Di. Ela parece meio deslumbrada no papel de princesinha francesa, mas antes de ser Mme Sarkozy já havia encantado os ainda não tão velhuscos Mick Jagger e Eric Clapton, cerca de 20 anos atrás. Agora, é uma festa pros paparazzi, mas está encarnando direitinho o novo papel, com charme e discrição. A rainha da Inglaterra que se cuide...



* A Fatos e Fotos era uma revista que trazia um monte de matérias sobre a aristocracia decadente da Europa e alguns textos-legendas sobre Soraya, a princesa desprezada pelo então Xá da Pérsia, outros sobre o Duque e a Duquesa de Windsor. Mantinha também uma cobertura firme sobre os príncipes do Mônaco, as festas dos Thurn and Taxi, e... Ira de Fustemberg. Que fim levou Ira de Fustemberg? No Carnaval, a revista tinha fotos imensas sobre os bailes do Municipal, onde todas as mulheres do high society usavam imensas máscaras com penas e não saíam dos camarins. No resto do ano, elas também posavam para fotos sem franzir os olhos, porque o botox ainda não fora inventado.
A Fatos & Fotos trazia ainda o day after das misses Brasil e Universo, algumas matérias sobre Richard Burton e Elizabeth Taylor, o casal Brangelina da época, algumas fotos de artistas de cinema maduros esquiando em Cortina D'Ampezzo. E starlets peladas em Cannes.
Ou seja, nas revistinhas de celebridades só mudam as personalidades. E ainda temos Gina Lollobrigida fotografando o carnaval carioca. Mas Elsa Martinelli sumiu.

27.3.08


Adelaide Amorim, no "Umbigo do Sonho", da Adelaide (link ao lado, estou tremendamente ruim nas abreviaturas tecnológicas ultimamente), relembra um amor do passado, do tempo em que as paixões exigiam bilhetes, cartas, serenatas, a presença física. Amores distantes, diz ela, só em romances ingleses. E ela fala de um tal Técio, protótipo do homem difícil, que um dia aparece e enche a namorada de esperanças, no outro some e explica que não tem como se desvencilhar das paqueras avulsas por ser "emocionalmente instável".
Não quero nem discutir a sobrevivência do modelito calhorda de plantão. Tenho uma quase amiga que convive perfeitamente com o seu. Tenho outra, que adaptou sua vida ao dela.
O interessante é que não existe mulher sem um técio em sua vida. Meu técio se chamava Cláudio. Um dia, ele perdeu a importância e não restou lampejo de lembrança de sua fisionomia. Será que Adelaide ou Olga é sinônimo de algum tipo específico na vida de técios, cláudios, robertos, marcelos?

26.3.08


Muito antes de Daniel Craig encarnar um OO7 platinum blond, mas totalmente dark em seu papel de jagunço sofisticado, Richard Widmark era matador blockbuster de Hollywood. E olha que tinha muito psicopata apavorante naqueles filmes B, como o Robert Mitchum em "O Mensageiro do Diabo" ou no "Cabo do Medo". Richard Widmark nunca foi simpático na tela. Lourinho, olhos claros, com tudo pra ser um daqueles eternos editores de jornal ou chefes de polícia que jamais subiam no estrelato, ele já começou encarnando um bandido, foi indicado a um único Oscar e ainda acabou justiçado no "Assassinato no Orient Express". Quando envelheceu e deixou de ser superstar, passou a fazer oficial de guerra cínico. Parece que era um cara bem boa gente, claro. Morreu velhinho, discretamente, sem aquela risadinha insuportável que marcou seu primeiro vilão - que, segundo ele, era apenas fruto de nervosismo.



Os beatlemaníacos em luto choram a morte de Neil Aspinal, o roadie de Liverpool que acabou sendo o diretor da Apple. Para quem gosta dos Beatles, Neil era da família, como Astrid, Stu Stucliff e Mal Evans. Era mais um que recebeu a alcunha de quinto beatle, como George Martin e Billy Preston. Pra quem nunca viu o Neil, ei-lo cá, ao lado dos então rapazes.

25.3.08

Caminhando e falando

"Dois dias em Paris" é o terceiro filme de Julie Delpy caminhando e falando. Desta vez, não é tão verborrágica quanto em "Antes do Amanhecer" e "Antes do Pôr-do-Sol", mas ela continua discutindo a relação. E, desta vez, dirigindo a ação toda.
O filme é tão família que seus próprios pais fazem o papel dos pais da personagem que, como ela, tem sérios problemas de visão.
Agradável sem ser gracinha, com m finzinho meio amarguinho, porém doce e próximo da realidade. Só espero que no próximo filme Julie tenha um novo personagem. Pelo que li, acho que ela anda dirigindo e filmando uma versão de Carmillia, a mítica primeira vampira, uma mulher que se banhava em sangue para manter-se jovem. O romance acaba.

Vida Carioca


Eu assistia com Júlia a um filme de crianças, mas para adultos, sabe, baseado em historinha do Neil Gaiman, então era para ser cool e cult e fica com pinta de história de Disney mal ajambrada. Adoro filme de criança, mas prefiro que assumam a faceta, né? Em dado momento, Robert De Niro e Ricky Gervais começam uma lenga-lenga de pechincha por um produto, o primeiro vendendo, o segundo comprando. A pechincha, me disseram, é uma tradição árabe, que na América Espanhola, pelo menos no Peru, foi totalmente incorporada.
Detesto pechincha, mas acho que estava na hora de assumirmos o "a gente se encontra semana que vem sem falta" como traço cultural. Quantos amigos realmente encontramos e quantas vezes ao ano? Chopps marcados e honrados são raridade nesta cidade. Mas a sensação da necessidade urgente desse encontro que não acontecerá é tão boa ou até melhor que o programa, que acaba com jeito de anti-clímax.
Não, não há tempo para desempenharmos nossas múltiplas funções cotidianas. Por isso, a gente se encontra, sem falta, semana que vem, tá?

24.3.08

Bloqueio


Meu lead passou pertinho e sumiu;
Perdi, perdi, não o encontro mais.
Cadê?????
Madrugada inteira, unhas por fazer, banho por tomar, sono pra chegar
e as palavras mágicas não surgem.

20.3.08

Salvação pela arte

Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio

Marketing, agregar valor ao negócio e investimento cultural são expressões que entraram para o jargão do mundo corporativo há menos de cem anos. A disseminação dessas práticas, no entanto, vem da Idade Média, quando a expansão das atividades bancárias precisava driblar a condenação moral da poderosa Igreja Católica. Para expiar o pecado da usura, no qual incorriam ao liberar empréstimos financeiros, os banqueiros procuravam agradar ao clero patrocinando reformas de conventos e criações artísticas com temática sacra. Destacando-se nesse cenário, o Banco Medici se espalha por toda a Europa, chegando até a Ásia. Além de dominarem a cena política na Itália, os Medicis - que dirigiram o grupo por quase cem anos - foram pioneiros na utilização da arte para favorecer a imagem da instituição perante a opinião pública, "da mesma maneira que os bancos da atualidade se empenham em aparecer como patrocinadores da cultura", explica o escritor Tim Parks em "O Banco Medici - Poder, Dinheiro e Arte na Florença do Século XV" (Record, 280 págs., R$ 40,00).


Romancista e autor de alguns livros sobre a vida na Itália, onde está radicado há 28 anos, o inglês Parks recusou o primeiro convite de um editor americano para produzir uma obra sobre o Banco Medici. "A idéia era que leigos em economia escrevessem sobre assuntos financeiros. Só aceitei quando comecei a ler sobre o banco e compreendi que o tema central seria a tensão entre o valor contábil do dinheiro e o valor do que não é palpável, como lealdade, fé, amor e arte. Decidi, então, correr esse risco e passei dois anos em pesquisas, que, por fim, me divertiram muito, tanto que devo fazer algum trabalho sobre as mudanças que o dinheiro trouxe à indústria musical", informou Parks em entrevista, por e-mail, de sua casa, nos arredores de Verona.


A curiosidade e o fascínio que os Medicis exercem até hoje não se devem a inovações em prática bancária. Segundo Parks, a única contribuição deles nesse campo seria uma forma elementar de holding, quando o grupo diversificou seus investimentos. Os Medicis não criaram o mecenato artístico nem tiveram o maior banco de sua época, mas operaram uma das mais poderosas empresas do mundo renascentista, enquanto garantiam prestígio social e poder, patrocinando artistas geniais como Donatello e Michelangelo. "Até hoje muitos milionários gastam parte de sua fortuna montando valiosas coleções de arte para legitimar o dinheiro obtido em circunstâncias suspeitas", observa Parks. Nenhuma família no Ocidente foi tão poderosa e influente quanto os Medicis, que na atualidade corresponderiam a uma mescla de políticos como os Kennedys e os Bushs ("que criaram verdadeiras dinastias dentro de regimes republicanos", comenta Parks), conjugados a filantropos como os Guggenheims ou os Rockefellers.


Além de contar a história de cinco gerações da família, desde a criação do banco, em 1397, até a falência, em 1494, o escritor traça um panorama do período de transição do mundo medieval para o moderno. O crescimento dos bancos italianos estava diretamente ligado ao poderio da Igreja Católica, a maior entidade econômica internacional e, de acordo com Parks, "fonte de capital espiritual, político e monetário", que recebia doações e pesados tributos recolhidos por toda a Europa. Bispos e cardeais que atrasassem o pagamento das taxas devidas quando assumiam novos postos eram ameaçados com a excomunhão.


A complicada lei canônica buscava brechas teológicas na doutrina para atender aos interesses do clero, enquanto a legislação comum refletia o comedimento prescrito aos primeiros cristãos, vedando aos pobres a compra de diversos produtos e até de vestir trajes em mais que uma cor, um privilégio da aristocracia. A salvação eterna era objetivo da vida dos fiéis, que compensavam materialmente a igreja em busca da absolvição de pecados.


A necessidade de tranqüilizar as próprias angústias quanto à pureza de suas atitudes determinou a aproximação dos Medicis da Igreja, ao mesmo tempo que lhes outorgou poder político. "O fundador do banco, Giovanni di Bicci, só pretendia ganhar dinheiro. Sabia que era impossível ficar totalmente fora da política, mas mantinha uma vida discreta e recomendava ao filho Cosimo que não ostentasse a própria riqueza. Os dois eram profundamente religiosos. As quantias que gastavam em arte sacra e caridade indica a angústia que tinham para se livrar do estigma de pecadores", diz Parks.


Sob a gestão de Cosimo, o Banco Medici conhece seu apogeu, enquanto aumentava o prestígio da família. "Cosimo era um banqueiro por excelência, gostava de investir e expandir as operações bancárias. Foi ele quem começou, discretamente, a ser generoso com o patrocínio artístico, de forma a colocar-se no centro do poder. Vivendo em um mundo no qual a política supostamente não era influenciada por dinheiro e os religiosos criticavam as posses materiais visíveis, exceto se pertencessem à realeza, Cosimo foi forçado a inventar um novo papel para o homem rico. Ele fez isso por meio de uma política de investimentos em construção de igrejas e em arte. Sem dúvida, tinha bom gosto e contratava artistas excelentes, como Donatello, mas, quanto mais gastava, mais inimigos fazia. Sempre foi discreto. Sua grande satisfação vinha da sensação de que estava controlando diversas coisas", afirma Parks.


Um dos aspectos mais intrigantes da análise dos hábitos da família, para Parks, está na mudança dos objetivos e ambições dos Medicis. O mais renomado deles, Lorenzo, ao contrário dos antepassados, não tinha vocação para os negócios. Brilhava na política e nos círculos intelectualizados, mas contribuiu para a ruína da família ao autorizar empréstimos a nobres que não honravam seus compromissos. A relação com a Igreja Católica também se alterou. Embora fosse pai de um papa, Lorenzo não se preocupava tanto em agradar ao clero. Entretanto, não descuidava da própria imagem, garantindo a popularidade pelo patrocínio das obras de arte.
Segundo Parks, a ruína do Banco Medici seguiu a tendência de outras instituições bancárias da época: "Quase todos os bancos florentinos faliram no fim do século por uma combinação de circunstâncias que iam desde a redução do fluxo de importações de produtos do Sul da Europa pelas nações do Norte até o desinteresse das novas gerações de banqueiros em fazer dinheiro. Altamente refinados e bem-educados, eles delegavam as funções bancárias a empregados, distribuindo cargos entre os parentes."

18.3.08


A desfaçatez da pilantragem sempre me surpreende. Uma proprietária de carro - um ser de alta condição financeira para o Fisco e as autoridades do governo estadual, pois precisa pagar impostos indefinidamente por ter um dia adqüirido um bem de consumo durável - teve seu veículo furtado no pátio do Detran, onde aguardava para fazer vistoria obrigatória de seu Fiat Pálio. Entregou as chaves do carro a um homem que se apresentou como funcionário do posto. Detalhe: ela tem mais de 60 anos e já foi devidamente achincalhada por leitores do Globo, que estranharam sua ingenuidade.
Certamente é uma mulher de outros tempos, em que não havia tanto espertalhão que tem como grande aliada a certeza da impunidade.
O Rio de Janeiro tem uma tradição de roubos e furtos desmoralizantes. A Taça Jules Rimet, retirada da sede da CBF, o posto do Banerj no Palácio Guanabara, assaltado por ladrões em plena luz do dia... O Detran, que construiu uma reputação de antro de corrupção, agora já pode acrescentar outro feito em seu currículo.

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Andar pelas ruas de Botafogo torna-se cada vez mais arriscado.
Na minha esquina, a Prefeitura tenta derrubar o casarão que foi tombado e há anos ameaça despencar sobre a cabeça de quem passa. O proprietário deu entrevista informando que não fez nada para conservar o imóvel porque não vale a pena, já que não pode, legalmente, derrubá-lo. O ônus, então, cabe à Prefeitura, claro!!!
Uma boa caminhada para resolver a vida cotidiana também é uma aventura. O número de homens, mulheres e adolescentes vivendo nas calçadas do bairro cresce vertiginosamente. Há quem culpe as operações expulsa-mendigo de Copacabana e Ipanema. Enquanto isso, é preciso armar-se de desculpas que não ofendam os pedintes, sempre requisitando litros de leite e fraldas descartáveis nas portas de supermercados, farmácias e lojas maiores. A preferência por esses artigos é simples: eles são vendidos ou trocados por drogas. Outro dia me irritei com a insistência de um homem jovem, na casa dos vinte anos, cara bem inchada de quem acabou de acordar, resmungando que eu tinha que lhe comprar leite. Desta vez nem me passou pela cabeça o que sempre me comove: que a pessoa não tem a menor dignidade, que a falta de escolaridade, a dependência química, a total ausência de assistência do governo para oferecer-lhe oportunidades leva a tais situações humilhantes. O convívio com essa miséria explícita que não queremos enxergar endurece nossa generosidade. Ninguém quer tirar a Sofia, a mendiga maluca, da Rua Dona Mariana. Ela não vai sair dali. Mas esse rapaz poderia ter alguma forma de voltar à vida, se nossos impostos não se evaporassem no Erário Público.
Coitado do próximo prefeito, se for o Gabeira ou o Chico Alencar. Arrumar uma rede de mil escolas públicas, hospitais combalidos e procurar uma destinação para esta população de rua não é tarefa para quatro anos. É para meio século.

15.3.08

Numa noite chuvosa de sábado

Pior que ter que trabalhar numa noite chuvosa de sábado (quando o ideal era ficar sob as cobertas, lendo ou vendo um filminho bom), é ter que trabalhar na noite de um sábado chuvoso ao som de Mariah Carey, J-Lo ou seja qual for a esganiçada da vez, cantando "Take a Look at me Now".
Mas muito pior que isso tudo é que a vizinha adolescente do andar de cima pensa que é um misto de Janis Joplin com Ana Botafogo e resolveu ganir por cima da voz da esganiçada da vez, executando uma coreografia para queimar os poucos neurônios que me restarem depois desta lobotomia audiofônica com a leveza do balé dos hipopótamos de "Fantasia".
É duro ser cult.

14.3.08

Quem diria, Chiquita Bacana!!!!

What philosophy do you follow? (v1.03)
You scored as a Existentialism
Your life is guided by the concept of Existentialism: You choose the meaning and purpose of your life.

“Man is condemned to be free; because once thrown into the world, he is responsible for everything he does.”
“It is up to you to give [life] a meaning.”
--Jean-Paul Sartre

“It is man's natural sickness to believe that he possesses the Truth.”
--Blaise Pascal

More info at Arocoun's Wikipedia User Page...
Existentialism
70%
Utilitarianism
65%
Hedonism
65%
Apathy
35%
Kantianism
25%
Justice (Fairness)
25%
Strong Egoism
20%
Nihilism
10%
Divine Command
0%

13.3.08

A menina que não roubava livros


Meu envolvimento com livros pode ser definido como algo bem próximo da paixão carnal. Alguns me arrebatam e tornam-se obsessões. No momento, vivo um reencontro que demorou 25 anos para acontecer. No último quarto de século, procurei intensamente Birds, Beasts and Relatives, a continuação da saga da família de Gerald Durrell em Corfu, descrita por ele em My family and other animals. Através da Internet, finalmente, consegui uma cópia de um sebo de São Paulo.
Ao longo desses anos, descobri que Durrell não era tão adorável assim como ser humano, embora tenha deixado ao mundo empolgantes descrições de uma infância libertária, ao lado de uma família excêntrica. Em contato com outros fãs de Gerry, soube que ele limou dos relatos a primeira mulher de seu irmão mais velho, o escritor Lawrence Durrell. Coisas de família e de autores. Participando de grupos de admiradores de Laura Ingalls, outra escritora que povoou minha infância com a série autobiográfica A Casa na Floresta, também tive a amarga decepção de conhecer sua sofrida realidade. Personagens reais eram fundidos em um, elementos românticos acrescentados a episódios amorfos. A vida real precisa de alguma imaginação e toques de felicidade para merecer a imortalidade. Mais ou menos como faz Ian McEwan em "Reparação".
Além de alegrar minha meninice, Gerald Durrell acaba de me tornar, na maturidade, receptadora de mercadoria roubada. Dentro do livro estava, como se marcando uma página, um cartão de biblioteca!!!! Tem o brasão de uma cidade, que não se pode identificar, algumas siglas também indecifráveis e, burocraticamente datilografado: "Mat. Livro/Autor Durrell, Gerall/Título Familia passaros e outros", sem acento algum. Abaixo, uma tabela com lacunas vazias para datas de devoluções.
Antes mesmo que eu lesse Durrell em português, tive contato com sua obra no original, na biblioteca da Cultura Inglesa. Sempre fui honesta e devolvi tudo o que li, mesmo com atraso e dor na separação de volumes que jamais encontraria em livrarias brasileiras. No IBEU, tive a mesma experiência e por pouco não entrei para o mundo do crime. Fiquei quase um ano com uma publicação interessantíssima sobre a vida de Billy the Kid contada por Pat Garret, publicada em jornais da época. Meu pai, um dos seres mais irritantemente honestos com quem convivi, ficou triste quando devolvi o livreto. "Eles nem sentiram falta. Ninguém mais vai se interessar em ler isso", comentou quando lhe relatei meu ato de pura honestidade. Ainda assim, sigo acreditando que roubar livro de biblioteca é crime inafiançável.
Exceto quando a gente compra inadvertidamente material roubado e não tem como descobrir a identidade do antigo proprietário - que nem deve ter dado conta da baixa em seu acervo. E ainda deu um quê de ilícito a esta reunião amorosa.

9.3.08

Para Maria, Vanúzia, Leda, Cilene, Fátima

Um dia após a fanfarra habitual pelo 8 de março, os jornais falam do crescimento econômico feminino, de como aumentaram os casamentos em que as mulheres são mais velhas e ganham mais que os maridos, o quanto elas batalham e buscam o reconhecimento social -sempre com a piadinha de que ainda usam batom e fazem tudo em cima dos saltos altos.
Este ano, o debate foi ampliado com passeatas pró-aborto e pelas pesquisas científicas em embriões, temas que atingem não apenas as mulheres, mas que a própria fisiologia da gestação torna afeitos às mentes femininas. Debate, aliás, bem mais conseqüente e importante, por envolver bioética e princípios filosóficos do que a eterna questão sobre mulheres que trabalham e "abandonam" os filhos por sua carreira profissional.
Hobsbaum disse que a grande revolução do século XX não foi tecnológica, mas a feminina. Uma revolução que proporcionou ganhos trabalhistas notáveis, benefícios para diferentes grupos sociais, não apenas a mulheres e crianças. Além de licenças-maternidades, o reconhecimento dos direitos de companheiros do mesmo sexo dificilmente teria respaldo legal antes das conquistas femininas. Socialmente, os homens ganharam com um movimento favorável à sensibilidade masculina, antes embotada ou reservada apenas aos artistas.
Ainda assim, feminismo é um termo malcompreendido e empregado pejorativamente, embora seja prática de quem sequer o reconhece como adjetivo. Feminista é aquela mulher que sai da cidade-dormitório às 5 da manhã, depois de ter deixado os filhos na casa da vizinha, chega no trabalho às 8h, retorna para casa à noite, faz o jantar da família inteira e não dorme, apaga por algumas horas até recomeçar tudo no dia seguinte. No sábado, ela arruma a casa, lava a roupa da família toda e no domingo ainda serve uma feijoada pra vizinhança. Essa mulher não tem aspirações profissionais, nem drenagem linfática, nem sofre pressão de homens invejosos de seu poder. São essas mulheres, que passam por constrangimentos em trens superlotados, que trabalham sem perder essa estranha mania de ter fé na vida, que os detratores do feminismo esqueceram. Mulheres sem as quais outras mulheres, de classe média, que têm como discutir ideologicamente o feminismo, jamais podem dispensar. Mulheres que ainda não descobriram que elas são, sim, o símbolo da igualdade e força que as sociedades podem almejar e devem exaltar.

8.3.08

Reflexão no Dia Internacional da Mulher



Que a vida me permita em 2O anos chegar aos 67 quase assim como Ms Christie...

Paixão


Aquele suspiro acompanhado por sorriso quando tocam os primeiros acordes de uma canção dolente, os calafrios que insistem em cruzar a alma no verão carioca, as risadinhas sem sentido correndo o canto da boca...
Estou assim, há mais ou menos uma semana.
Preciso muito voltar a experimentar a delícia da ... pimenta de bico!!!
Gente, eu não conhecia pimenta de bico! É tão inebriante quanto morfina, tenho certeza (só usei morfina em pós-parto, algo bastante usual quando a parturiente é alérgica a tudo, como eu. E é bom mesmo, a gente fica eufórica. Uma amiga teve comichão no corpo todo. Eu ficava ótima!).
Preciso de pimenta de bico.
Quem souber aonde vende, me diga! Recomendo e encomendo!

6.3.08

É o bicho!!!


A disputa pelo cargo de Alcaide de São Sebastião promete...
Depois que Gabeira aceitou concorrer, surge como candidato o Coronel Marcos, o ex-subcomandante dos Bombeiros, que se aposentou e acabou com o registro fotográfico de cada pingüim, foca, capivara, jacaré ou ornitorrinco que viesse dar nas terras e águas da mui valorosa cidade.
Como Gabeira já usou desenhos de animais em campanhas anteriores (se não me engano, uma presidencial, Artur era pequenino e adorava os anúncios com jacarés falando "Gabeira, presidente do Brasil!") e o Coronel Marcos há de mostrar suas fotografias com a bicharada no colo, pode ser até que os bicheiros abram mais postos de apostas.
Vamos ver o bicho que dá! Afinal, não existe eleição no Brasil sem um Cacareco.

1.3.08


E antes que o dia se acabe, parabéns!