28.12.07


A obrigação de comemorar o Ano Novo é imperiosamente angustiante para mim.
Já tive os piores reveillons do mundo, 200, 500 vezes. E já tive vários "um dos melhores", sempre à espera do melhor de todos.
Afora estar ao lado de meus filhos, ainda não tenho qualquer programação para a virada, já que este ano não há festa na Lagoa, o lugar mais tranqüilo para um reveillon das antigas, só com gente falando português, sem aquela espremeção entre turistas e nativos, todos imbuídos do falso júbilo com o qual nos revestimos nesses festejos.
Bom é ter a certeza de que o melhor Natal, o melhor reveillon, o melhor da vida ainda está pra acontecer. Assim, a gente não envelhece muito cedo.

13.12.07

Ele vem chegando...



... e eu apreensiva vou esperando, porque mexer com uma seqüência vitoriosa é um grande risco (principalmente quando as produções recentes do Spielberg oscilam entre o dispensável e o lamentável, com a honrosa exceção de "Prenda-me se for capaz").

12.12.07

Rio, quase 40 graus

Insensata, fui ao Saara fazer compras necessárias.
Desnecessário era o calor.
Tomara que chova três dias sem parar.

Malandragem, dá um tempo!

Quando a gente pensa que a ousadia dos ladrões cariocas chegou a seu ápice, eles sempre apresentam uma nova ação criativa. Ontem, um grupo de ladrões parou um ônibus na Zona Norte, mandou os passageiros descerem e seguiram para duas favelas, onde pegaram colegas. Rumaram, então, para o local do assalto, o Mercado São Sebastião. Não utilizaram a mesma condução para a volta, preferindo subir nos caminhões que encheram de eletrodomésticos.
Já tem lotação pra levar bandido a cenas de crime...

11.12.07



... e é por isso que chamam o futebol de belo jogo...

8.12.07

Reencontro

Tenho postado minhas matérias direto no Viver da Escrita, porém redescubro um amor que se mantém há décadas escondido nas prateleiras protegidas por vidro de um guarda-louças transformado em estante de livros ao ler A Economia em Machado de Assis, coletânea de crônicas com observações da vida financeira pelo Bruxo do Cosme Velho, selecionadas por Gustavo Franco e publicadas pela Zahar.
Esse amor não é ocasionado pelos comentários em si, mas pela forma de Machado, que li e reli todo na juventude. Faz uns bons dez anos que não relia Machado e não voltava a me encantar com o sarcasmo, o toque ferino e principalmente a cadência das palavras. Ler Machado nos leva a escrever, falar e raciocinar melhor.

A matéria, que foi publicada esta semana no Valor, segue aqui:

O investidor olha, mas não enxerga
Por Olga de Mello, do Rio
06/12/2007



A economia já rendeu literatura que encanta os interessados no tema, mas os literatos, de maneira geral, pouco apreço demonstraram pelo assunto, exceto como observadores do cotidiano. Um deles foi Machado de Assis, que, se demonstra pouca intimidade com os fenômenos econômicos, pôde comentá-los com a mordacidade habitual em prosa - e até em versos - , misturando personagens reais aos literários nas crônicas publicadas pelo jornal "Gazeta de Notícias" entre o fim da década de 1850 e o começo do século XX.


O economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, selecionou 39 desses textos para "A Economia em Machado de Assis - O Olhar Oblíquo do Acionista" (Jorge Zahar, R$ 44), que apresentam várias passagens das transformações verificadasna economia brasileira entre 1883 e 1900, período que compreendeu o fim da escravidão, a queda do Império e o início da República.


Na seqüência das crônicas, duas delas em forma de poesia, Franco percebeu um enredo - em capítulos - sobre um mesmo personagem, o acionista, alguém que vive de renda e não nutre qualquer entusiasmo por assembléias, interessado que está apenas em saber quanto obterá em dividendos. Além de apresentar a visão do escritor sobre uma época turbulenta da economia e da política no Brasil, Franco reuniu algumas das histórias com esse personagem.


"O acionista de Machado de Assis não é o investidor dos dias de hoje, que pratica a governança corporativa. Ele comparece forçado às assembléias e é, basicamente, um súdito do imperador, que entende que o governo é quem manda na política econômica, que o Estado paga o dividendo. Portanto, qual é o sentido em participar daquelas reuniões para falar sobre assuntos que, no fim, serão definidos pelo governo? Esse personagem aparece, com toda a ironia de Machado, para desnudar a influência do Estado sobre todos os negócios existentes no país. O acionista se assemelha a outra figura de diversas crônicas de Machado, um relojoeiro aposentado inconformado com o ritmo acelerado do tempo desde o fim da Guerra do Paraguai. Sob o relojoeiro estava o escritor, que também emerge na persona do acionista aturdido com a capitalização do Brasil", diz Franco.


Entre os assuntos abordados por Machado estão alguns que nunca deixaram de freqüentar o cotidiano dos brasileiros, temas que são da economia de todos os tempos, como a variação dos preços que fazem o custo de vida e o sobe-desce da taxa de câmbio. As imagens literárias e a ironia característica do escritor pontuam diversos textos. Na crônica de 16 de maio de 1885, por exemplo, Machado trava um diálogo com os "impostos inconstitucionais de Pernambuco", cobrados pela província apesar de proibidos pela Constituição: "Conheceram-me logo, eu é que, ou por falta de vista, ou porque realmente eles estejam mais gordos, não os conheci imediatamente".


Três anos depois, a mudança social provocada pela entrada de ex-escravos no mercado de trabalho rende a história do homem que, durante uma festa, dias antes da Abolição, alforria um escravo apenas para que seja registrada sua preocupação humanista, já que pretende seguir carreira política.


Ao discutir a necessidade de uma reforma monetária, em março de 1889, Machado sugere que o Brasil tenha uma moeda própria, com um nome ligado ao imaginário nacional: o cruzeiro. "Imagino até o desenho da moeda; de um lado a efígie imperial, do outro a constelação...". As falências bancárias são encaradas filosoficamente: "Não há bancos eternos. Todo banco nasce virtualmente quebrado; é seu destino, mais ano, menos ano", comenta o escritor, referindo-se ao fim das atividades do Banco Rural, em novembro de 1900.


"Ele não era apenas o maior romancista brasileiro e um dos grandes gênios da literatura mundial, mas um mestre da crônica, que envolve o leitor, sempre ressalvando seu desconhecimento sobre finanças, mas contextualizando com os assuntos daquela semana. Durante quatro décadas, ele publicou crônicas semanais, assinadas ou sob pseudônimo. A vida financeira tinha, obrigatoriamente, que se tornar assunto. A intenção de suas reflexões era agradar ao público com reflexões sobre aquele capitalismo novo que surgia, a necessidade de modernização do país e o provável retorno ao conservadorismo que ele antevia. É um enredo literário, desenhado com seu estilo espetacular, sempre usando um parágrafo inicial que contextualiza a situação, ligando a temas paralelos que falam do momento do país, geralmente com muita elegância e sarcasmo", diz Franco - que há cerca de um ano lançou uma coletânea de textos de economia assinados por Fernando Pessoa em 1926. O poeta português, ao contrário do romancista brasileiro, demonstrava ter certo conhecimento de economia.


"Machado se apresentava como leigo no assunto. Seu testamento mostra que havia adquirido títulos do Tesouro Nacional. Um mau negócio, pois o governo jamais resgatou tais títulos", afirma Franco.

3.12.07

Dezembro, Zona Sul

Enquanto eu assistia às incursões de Daniel Auteil pelas ruas de Paris em busca da arte da amizade, a menos de um quilômetro do cinema, uma professora de religião e um padre eram baleados, vítimas de bandidos que fecharam a Rua da Passagem. O carro deles era um velho Santana Quantum. Como ambos se atrapalharam no momento de abandonar o veículo, foram alvejados.
Na noite anterior, um menino foi baleado na cabeça, no Clube Federal, onde jogava bola com os amigos.
Na Lagoa, uma descomunal árvore de Natal, conclamando a paz e a harmonia entre os homens de boa vontade.
O Rio transformou cada cidadão em neurótico de guerra.