27.6.12

Em carioquês

Pena que só carioca entenda... Imagina na Copa!

20.6.12

Para Roma, com amor

Adoro esse exílio de Nova York autoimposto por Woody Allen, que, primeiro, se encantou com Londres e fez, pelo menos, uma obra-prima - um Crime e Castigo britânico, em Match Point. A fantasia nostálgica Meia-noite em Paris lhe garantiu a maior bilheteria de toda a sua carreira e encantou plateias de todas as idades. Agora é a vez de recontar o Decamerão em Para Roma, com amor.
Não conheço nem Roma nem li o Decamerão - apenas vi o filme de Pasolini. Nas primeiras exibições, na Itália, alguns críticos reclamaram da visão romântica e turística com a qual Allen  conta quatro histórias paralelas, mesclando italianos e americanos. Para alguns jornalistas italianos, o momento de crise não comporta uma peça tão escapista. Provavelmente gostariam de peças mais neorealistas para combinar com os problemas financeiros que enfrentam.
Há momento para arte engajada, mas acho que esse nunca foi o forte de Woody Allen, que está perto de completar 80 anos e ainda demonstra uma vitalidade criativa encontrada em poucos artistas. A Roma que ele mostra é apaixonante para os jovens e vista com um certo ceticismo pelos personagens mais maduros. Novamente, ele ataca os pseudo-intelectuais, a absurda indústria das celebridades, a falta de talento de alguns vanguardistas e a psicanálise. Novamente escolheu uma trilha sonora repleta de clichês da canção italiana (Volare é o carro-chefe, mas haja Arriverdeci, Roma...). E novamente, fez uma gostosura de filme de verão.

Dá um tempo?

Um dia, na remota década de 70, no século XX, quando cursava Magistério, almejando ser professora, me contaram que a ciência comprovara a necessidade de intervalos de tempo para o processamento de conceitos pelo cérebro. Aparentemente, só as mentes de gênios eram capazes de sugar informações novas e gravá-las sem repetição constante.
Uns dez anos depois, desistira do magistério e, cercada de filhos pequenos, comprovei que o aprendizado estava intrinsicamente ligado à repetição. As jovens criaturas só se habituam a tomar banho diariamente, a cumprimentar o porteiro, a mastigar de boca fechada, a calçar sapatos fechados nos dias de chuva porque são condicionadas a isso porque um bando de adultos repetem incessantemente esses comandos.
Então, no século XXI, a Internet decidiu apressar nossas vidas. Não há mais tempo hábil para nos acostumarmos com formulários, feitios, formas. Enquanto os estilistas de moda lançam duas coleções por ano, fomentando o consumo de novas peças de roupas que cairão em desuso na próxima estação, os gênios da Internet mudam o que puderem a cada semana. Não vou duvidar aqui do brilhantismo dos jovenzinhos que criaram a vida virtual. Eles facilitaram minha existência profissional - embora tenham contribuído para minha inércia e sedentarismo, que me levaram ao aumento de peso e a dores terríveis em todo o lado direito, arrebentado de tanto escrever e mexer em traquitandas como mouses. Só que esses jovenzinhos acreditam piamente que o mundo inteiro é de gente imatura que só se alegram se receberem doses incessantes de novidades.  Claro, porque se eles se apegarem a alguma imagem, se não considerarem tudo anacrônico, obsoleto, deixarão de consumir produtos com design mais apropriado ao fugaz momento atual.
Cadê o momento atual? Inexiste tanto quanto o etéreo espaço virtual.
Por causa da Internet, trabalho muito além do que já trabalhei em épocas de maior vigor físico. Aos 51 anos tenho jornadas diárias de 10 horas corridas, com poucos momentos de deslocamento para fora de minha poltrona. A Internet me distrai quando me canso da labuta em si. O telefone está ao lado para controlar a rotina da família, faço transações bancárias pelo computador.
Em casa, o computador se tornou o principal objeto de lazer de toda a família. Meus filhos se comunicam epistolarmente com os amigos. Ninguém sabe os telefones dos amigos de cor, ninguém se pendura mais por horas nos aparelhos, cuja utilização menor não reduziu as tarifas estratosféricas.
Por causa do Facebook, escrevo menos blogs, mas entro em discussões sobre ética profissional de assessoras de imprensa que já posaram de lingerie.
Continuo prezando sinceramente a confortável vida que a tecnologia me proporciona, mesmo sabendo que o tempo é cada vez mais escasso para aproveitar a convivência com os outros. Só gostaria que, vez por outra, quando decido fazer alguma postagem simples no meu blog, não encontrasse tantas novidades em formulários - geralmente atreladas a pedidos de registro de meu celular para que eu receba sabe-se lá o que por SMS - que me tiram o foco do que pretendia escrever. O que eu mais desejo é o que qualquer um, assoberbado pela pressa em capitalizar a vida quer hoje: dar um tempo!