25.4.06

Sai deste corpo que não te pertence, resfriado que me invadiu e não me abandona!
Foi bonita a festa, pá!

24.4.06

Meus santos




Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge.
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem.
Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem.
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam.
E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo, meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

Meu primeiro contato com São Jorge veio através de Caetano Veloso, cantando "Jorge da Capadócia". Um santo simpático, que vive no mundo da Lua, comendo bolinhos feitos por Tia Anastácia, que salvou donzelas, matou um dragão. Padroeiro de tantos países, mártir da Igreja Católica, protegendo a Inglaterra (protestante). Hoje gosto muito de São Jorge, da festa nos morros, o foguetório, a Praça da República cheia de gente vestida de vermelho. E esta oração, lindas palavras aproveitadas por Jorge Ben no "Jorge da Capadócia".

Desligada de crenças, tenho carinho pelos homens santos. Por São Francisco, 'dono' do meu dia de aniversário, que gostava de animais (e eu também, claro), o santo favorito de meu pai, que também não era crente, mas gostava do que ele chamava "o primeiro hippie". De São Sebastião, o padroeiro de minha terra, um santo guerreiro como Jorge, protetor das matas na umbanda. Vim a saber que ambos, Jorge e Sebastião, são Oxóssi, um na Bahia, outro no Rio. Tudo bem, já disseram que sou filha de Oxóssi. São Judas Tadeu é o santo flamenguista e preferido de Maria, minha babá. E São José, o de minha mãe.

Não gosto de religiões. Mas essa gente santa, que não era santinha, pecava, lutava, brigava e amava, essa gente era muito boa, muito forte. São Jorge morreu de turrão, defendendo seus ideais. Algo que hoje pouca gente tem o brio de fazer. Conheço um pouco desses santos porque, quando repórter, era praticamente setorista de religião. Havia festa, lá estava eu, grudada no Cardeal, já que compreendia como poucos os ritos. Então, cobri a festa de São Jorge na Praça da República e em Quintino, era habitué da benção dos Capuchinhos, fazia procissão de São Sebastião, Dia de Santo Antônio e até o Círio de Nazaré (na mesma igreja dos Capuchinhos, na Haddock Lobo, cercada por barraquinhas de pato com tucupi). Embora as músicas sejam, geralmente, ruins e entoadas com uma desafinação estridente de fazer inveja às senhoras componentes das velhas guardas de escolas de samba, a festa é alegre, bonita. Gente que se veste com cores de santos, que acreditam na manifestação das entidades da umbanda de terço na mão, compenetrados, sem entender racionalmente o que os leva ao culto. Os santos são os embaixadores, os amigos, a família que cada um escolhe para ajudá-lo a enfrentar a vida material.

21.4.06

MulheRio


A partir de segunda-feira, metrôs e trens terão vagões pintados de rosa, destinados apenas a mulheres, por força de lei, para evitar os tarados que adoram se encostar nas moças em ambientes apinhados de gente cansada, correndo pro trabalho ou voltando pra casa.
A partir de segunda-feira, haverá matérias em jornais, telejornais e rádios sobre os vagões cor-de-rosa. Algumas mulheres dirão que o vagão feminino é mais limpinho, mais cheiroso, mais festivo, mais barulhento. Homens afirmarão dirão que é um absurdo, que mulher que vai no vagão feminino é sapata enrustida. Homens lamentarão que tarados se aproveitem para tirar casquinha das mulheres nessas situações.
Enquanto os locutores falarem sobre a inauguração do vagão feminino com um sorrisinho no canto da boca, o povo estará preocupado em inventar um apelido para o vagão da mulherada. E os publicitários correrão para oferecer projetos de propaganda destinados ao público feminino, que serão anunciados em painéis em tons rosa ou pastel. O vagão terá som ambiente diferenciado dos demais. Música suave, new age ou de cantoras de MPB, entoando baladas e sambas românticos. Um leve aroma com sachês estrategicamente escondidos sob os bancos contribuirá para harmonizar o ambiente.
Na terça-feira, durante as viagens, já haverá uma mulher oferecendo jóias, outra, roupas íntimas, a terceira, produtos da Natura, a quarta, da Avon.
E o vagão da mulherada terá tanto sucesso comercial que serão criados ônibus só para mulheres, vans só para mulheres (sem contar as que levam velhinhas tijucanas ao teatro), barcas só para mulheres. Vendedoras de livrinhos de bancas (Júlia, Sabrina etc) estarão nas plataformas, oferecendo produtos de cortesia. No dia das Mães, todas as mulheres receberão uma rosa. Afinal, toda mulher tem vocação física - salvo exceções - para a maternidade.
Para evitar a entrada de homens distraídos no vagão do mulherio, agentes do Desipe convenientemente à paisana estarão alertas, prontas a expulsar os desavisados.
Os únicos seres masculinos por nascença aceitos no vagão serão menores de idade, acompanhados pela mãe ou responsável feminina. Jovens efebos constrangidos, que fizeram exame de fundo-de-olho, mas só fitam o chão mesmo, poderão entrar no vagão e ouvir a mãe explicar às companheiras de viagens o por quê da presença do menino na viagem. Assunto que não rende tanto quando a admiração de todas pelo colarzinho ou pela pulseirinha de tornozelo que a mãe exibe e suas explicações de "ah, isso? Nossa, é tão velha... Comprei numa liquidação da Sloper, se lembra da Sloper, a minha mãe adorava aquela da Nossa Senhora de Copacabana em frente ao Metro, onde hoje tem a C&A? ".
E os homens? Ah, eles ficarão esperando suas damas em casa ou nas estações, doidos para entabular uma conversa passageira sobre a decadência do futebol carioca com o moço que está ao lado.

16.4.06

Páscoa

No princípio era eu, com gripezinha. Então, o vírus se alojou em Júlia, com toda a sua glória. Júlia adoece uma vez a cada ano. Tem febre e fica boa no dia seguinte. Desta vez, não, uma amigdalite poderosa. A temperatura oscila entre 39,5 e 40 graus. Provoca tremedeira, calafrios na paciente e pânico na mãe.
Sábado de Aleluia, corremos à clínica pediátrica. Trinta criancinhas tossindo, chorando, com olhar parado. Tempo de espera indefinido. Decidi voltarmos para casa. A febre de Júlia baixou e tornou a subir. Peguei a menina, rumei para a clínica novamente, três horas depois. Lá dentro, o mesmo caos. Espera de hora e meia para o atendimento. Pais entregando formulários de reclamação quanto ao tempo de espera para as atendentes, uma mulher contando que no Copa D'Or a pediatria estava lotada.
Desisti e resolvi passar no Rocha Maia, onde fomos atendidas ... imediatamente!
Pode ter sido coincidência, mas do jeito que hoje em dia todo mundo paga plano de saúde, as emergências das clínicas particulares estão lotadas da mesma forma que os hospitais públicos. E, algumas vezes, mais do que alguns hospitais.

14.4.06

Mais traquitandas no blog. Agora tenho um álbum de fotos no Flick. Com todos os personagens desta vida diária lá retratados.
... controle remoto da NET quebrado, conversores defeituosos: temos que assistir ao Animal Planet o dia inteiro, o canal em que o conversor estava quando o controle se quebrou.
Mas no sábado, Aleluia! Vêm os moços da NET com DOIS controles remotos!!

7.4.06

Viver sem Mel

Gal, Bela (pescoço raspado, porque doou sangue) e Jolie. Foto de Angelo Duarte.

1.4.06

Caiu, caiu, caiu no primeiro de abril!!!!

Não sabia qual era a origem do primeiro de abril e, segundo a Wikipedia, ele surgiu na França, em 1564, como protesto contra a troca do ano novo, que desde o começo daquele século era comemorado em 25 de março, junto com a chegada da primavera, com festas que duravam uma semana e se encerravam em 1º o de abril. Com a adoção do calendário gregoriano, alguns franceses continuaramm festejando o réveillon em março. Daí, começou a brincadeira "plaisanterie", de mandar presentes estranhos aos que insistiam com a data antiga, que também recebiam convites para festas inexistentes.
Não confio muito na Wikipedia e fui conferir em outros sites, que confirmam a lenda. Inclusive linkei um site galego - está em português, felizmente; li um jornal uma vez que me deixou completamente tonta, dos galegos do Hospital Espanhol - no qual há diversar informações sobre a origem da data, com destaque para sua passagem em diversos anos. Em 1964, lá está a Redentora, como o Stanislaw Ponte Preta apelidou o golpe militar no Brasil.
Uma das mais antigas lembranças que tenho é desse dia. Não é a mais antiga porque me recordo - bastante bem - do dia em que Kennedy morreu. Como toda criança, a memória é por fatos diversos da data histórica. Em novembro de 1963 eu havia acabado de completar três anos e seguia com minha mãe para a inauguração de uma escola em Copacabana. Teria uma festa, um parquinho também seria aberto e Lacerda, que era o governador da época, estaria lá. Eu estava serelepe para ver o governador. Meus pais, até então, eram lacerdistas (deixaram de ser com a Redentora). Os amigos deles diziam que eu seria batizada como Jamila, a sigla para Janio, Milton e Lacerda, chapa da UDN eleita em 3 de outubro de 1960, véspera de meu nascimento. Escapei por pouco, ganhei o nome de minha avó materna. Então, três anos depois, lá seguíamos para o parquinho, quando, me recordo bem, Mamãe deu meia volta e começou a chorar. Estranhei, ela explicou que não haveria mais festa, porque haviam assassinado o presidente dos Estados Unidos. Tentei animar a Mamãe, uma emotiva de carteirinha, que chorou copiosamente quando um maluco quebrou a Pietá de Michelangelo. Isso era mal de família. Vovó Olga cansou de ser consolada em enterros de conhecidos, nos quais se esvaía em lágrimas. Todas nós temos a torneira aberta. Eu choro em comercial de caderneta de poupança, um horror. Cinema, então, é vexaminoso. Tenho que me recompor antes do fim do filme. Chorei até na abertura de "Guerra nas Estrelas" - no quarto filme, o que tem o Anakim bonitinho criancinha - só porque estava me lembrando que vinte anos antes, vira o primeiro filme da série e naquele momento levava meus filhos para assistirem o que seria uma bela decepção cinematográfica.
Meses depois da morte de Kennedy, veio a dita revolução. Eu ainda era bem pequena e nem estava no colégio. Por alguma razão que não entendi, Mamãe não trabalhou naquele dia e resolveu ir para a casa de Tia Zélia, em Copacabana. Acho que vi soldados na rua, mas não havia muita explicação sobre o que estava acontecendo. Só me lembro que era dia e que os adultos não estavam trabalhando. Todos estavam preocupados, não tinha nada para eu fazer. Então, fui para o banheiro de Tia Zélia e fiz uma festa com a maquiagem dela. Passei batom e ouvi que Papai estava chegando. Depois, vim a saber que ele decidira ir trabalhar, embora muita gente não tivesse ido. Fui mostrar minha cara macacada para ele, que se zangava se eu usasse qualquer maquiagem. "Olha, Papai, passei batom!". Ele sorriu, fez uma festinha em minha cabeça e continuou conversando com Mamãe e meus tios.
As implicações daquele dia só fui descobrir ao longo dos anos de chumbo. O filho de um amigo morreu aos 17 anos porque ingressara na luta armada. O pai era anarquista, aceitou a escolha, mas não a perda do filho, claro. Uma prima também foi morta porque pegou em armas.
A família, em geral, era conservadora e de direita, mas meus pais eram totalmente contrários à ditadura, tinham horror à propaganda do Brasil Grande e à censura. Devia ser muito difícil educar um filho naquela época, quando qualquer atitude poderia ser considerada um atentado à segurança pública. Lembro-me de discussões acaloradas entre Mamãe, a passionária da família, e um sobrinho militar que apoiava o golpe. Quando começaram a surgir as listas de militares envolvidos com tortura, suspirávamos aliviadas ao conferir que ele jamais estava nelas. Não sabíamos se, ao concordar com a filosofia anti-comunista, ele também participaria das maldades perpetradas em nome da falsa paz social.
Uma época difícil, mas que, como era a da minha infância, teve um sabor muito agradável. Eu pulava carnaval, brincava, ia à praia e ouvia histórias de outras ditaduras, de crianças obrigadas a jogar os livros de Monteiro Lobato em fogueiras, do soar de canhões nas serras distantes, durante a Revolução de São Paulo. Vivências políticas de meus pais, que geraram uma filha para nascer um dia depois de uma eleição, e que a ensinaram a rir de uma "revolução" que caiu num primeiro de abril.