29.1.10

O inventor do adolescente


Meu pai dizia que O Apanhador no Campo de Centeio era o livro que gostaria de ter escrito.
Com suas freiras que liam Joyce nas estações de trem, com professores pedófilos, homossexuais enrustidos, com uma irmãzinha adorável e o terrível temor de enfrentar a vida, Salinger rodeou a saga de Holden Caufield, que se despede da infância enquanto segue apavorado pela trilha que leva à realidade das descobertas adolescentes.
Holden Caufield me levou a Seymour Glass, Franny, Zooey, e a lamentar profundamente que o esquisitão do Salinger preferisse dedicar-se à vida do que à literatura.
A indústria do entretenimento, que alimenta públicos pouco maduros com histórias de celebridades, não permitirá que surjam outros Salingers.
Nem novos Holdens Caufields.

27.1.10

Janeiro





Trabalho, trabalho, trabalho, doença séria na família , filhos solteiros, filho com namorada, empregada nova que ficará só mais quinze dias porque é ruim demais, trabalho, trabalho, trabalho, cobrir escola de samba, entrevista com diretor teatral legal, peça de teatro - não a dele - horrorosa, show de cantora até que foi bom, chega amigo amado, viaja filho com namorada, viaja filho sem namorada, filha acaba com namorado, filho desata amor platônico, cabine de imprensa de filme ruim, cabine de imprensa de filme bom, trabalho, trabalho, trabalho, quebra máquina de lavar, quebra aquecedor, quebram instalações hidráulicas, ar condicionado não funciona, trabalho, trabalho, trabalho, conserto de tudo, calor imenso, calor suportável, trabalho, trabalho, trabalho, um pouco de gripe, talvez, cabine de filme médio, entrevistar homem insuportável, trabalho, trabalho, trabalho, os olhos purgam de cansaço, insônia, briga com plano de saúde, briga com a Net, cobrir Dia de São Sebastião nos Capuchinhos, trabalho, trabalho, trabalho.
Não há queixas.
Só constatações.

20.1.10

Globo de Ouro

Compromissos sociais me impediram de assistir a todo o Globo de Ouro. Fui informada por minha parceira de platéia, Sol, com quem troco telefonemas a cada intervalo do show, não apenas sobre o que aconteceu, mas a respeito da terminologia contemporânea para classificar as cores dos trajes. Todos os homens pareciam amarfanhados, mas, segundo a Sol, caía um temporal em Los Angeles que roubou o brilho dos astros.
Os resultados, exceto o de Jeff Bridges, que pode, quem sabe desta vez, abiscoitar o Oscar, eram pra lá de previsíveis. Os figurinos, nem tanto. Havia muito costureiro bom assinando os modelitos, mas o problema talvez seja a inadequação de quem os envergava. E isso que são as pessoas mais lindas e com o melhor batalhão de camareiras, cabeleireiros, maquiadores, produtores do mundo.
Babados, poucos cintos, vestidos de um ombro só, fendas profundas e uma profusão de cores em estilos variados foram expostos, tudo com o nome de seus criadores (que eu, realmente, omito, com uma ou outra exceção). Afinal, nós, que somos chics por natureza, queremos é nos deleitar com o momento brega-fashion-um tanto ao quanto atrasado que ora chega a este blog.

As majestades


Kate Winslet, pretinho básico de ombro único, depois de entregar o prêmio a Jeff Bridges



Meryl Streep, com mais um trofeu para a coleção.

Sigourney Weaver, imponente em seu vestido esmeralda (antigo verde-bandeira), com a dupla romântica de Avatar.

O sapatinho era feio, mas o Balenciaga de Julianne Moore, divino. E quem tem Tom Ford como adereço numa noite está mesmo pisando em nuvens...



Penelope, cada vez mais Sophia...


... e Sophia, cada vez mais diva.

Perigosas peruas

Marion Cottillard já recebeu Oscar com o mais estranho vestido de sereia que foi criado. Desta vez, caprichou na anágua preta e nos sapatos infames.


A fenda de Jennifer Aniston mostrava a lingerie, como puderam conferir os espectadores e Gerard Butler.


Um bolo de noiva envolvia Kate Hudson e suas plataformas.

O vestido para ofuscar vampiro de Anna Paquin e seus pavorosos sapatinhos.


Nesses eventos sempre aparece alguém vestido de cortinado. A disputa foi grande entre Jennifer Morrison ...



e Cloe Sevigny.



Las violeteras

Sandra Bullock num vaporoso modelito orquídea...


... ou seria este o tom do vestido de Diane Kruger (que para mim, parece fúcsia)? Help me, especialistas em glossário fashion.

O horror, o horror



Cher, de Mortícia Adams, Cristina Aguillera, de Jean Harlow.

Mamma Mia!!! Esta mocinha, tão bonitinha... por quê??? O vestido é atroz, os sapatos, inclassificáveis.

Tina Fey na categoria pastorinha de porcelana.

As mulheres de peitoFergie, de lavanda, orquídea, turquesa ou violeta - e cada vez mais botox. Candidatando-se ao troféu Jayne Mansfield/Pamela Anderson da noite.

Halley Berry, numa derivação do uniforme de Mulher-Gato ou Tempestade.



Desde que esta moça surgiu em Mad Men, o público é brindado por seus vestidos totalmente inusitados e inadequados a suas formas.


As simplesinhas

Isso sempre acontece, também. Aquelas que usam um modelito que serve tanto para pegar as crianças no colégio, ter uma reuniãozinha de trabalho ou acompanhar o marido no jantar de gala, como a Tea Leoni.
E Julia Roberts, a mulher que eu mais invejei na noite, pois ficou de papo com Paul McCartney, seu vizinho de mesa, foi com uma roupinha vintage, pronta para a reunião de pais e mestres da escola dos meninos.

Os moços e os nem tão moços

Martin e seus meninos.

Hugh Laurie, que quando não perde pro Alec Baldwin, perde pro Dexter, gravemente doente.

James Cameron, pronto para encarnar um mordomo em filme de terror.
Sir Paul não pôde deixar de lado o toque breguinha dos velhos roqueiros, com uma echarpezinha estranha.
Ih, ganhei, né????

16.1.10

Ontem, no Valor Econômico

Sem medo de Shakespeare
Teatro: Depois da montagem de "Hamlet", com Wagner Moura, Aderbal Freire-Filho dirige "Macbeth", projeto do ator Daniel Dantas, sua quarta incursão no universo do bardo inglês.
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
15/01/2010

Um artifício de menino esperto para escapar das exigências paternas foi o que originou o interesse de Aderbal Freire-Filho pelo teatro. O pai queria que os seis filhos lessem os clássicos de sua biblioteca. "Descobri uns volumes fininhos com peças de Shakespeare, Molière e muitos brasileiros, como Joracy Camargo, Raimundo Magalhães Jr. Fui tomando gosto, enquanto virava um especialista em leituras de teatro", conta Aderbal, que, nos intervalos entre os ensaios do quarto Shakespeare de sua carreira - "Macbeth", que estreia nesta semana no Rio -, conversou sobre suas mais de cinco décadas dedicadas à procura de um teatro que não afaste o público pelo hermetismo falsamente erudito.

Para o diretor, as plateias abandonaram as salas teatrais por puro tédio, mesmo diante de montagens que tentam inovar a forma e raramente o conteúdo. Reconhece que nem sempre consegue conquistar o público a quem destina seus espetáculos. Depois de um ano de temporada do "Hamlet" estrelado por Wagner Moura, montou "Moby Dick", recriação do romance de Herman Melville, que obteve boas críticas, mas não repercutiu positivamente nas plateias. Algo que já havia experimentado na década de 70, quando dirigiu Marília Pêra no monólogo "Apareceu a Margarida", de Roberto Athayde. "O sucesso me subiu à cabeça. Decidi criar um grupo e montar quatro peças ao mesmo tempo. Fracassamos, naturalmente", lembra.

A instabilidade do teatro nunca levou Aderbal a desanimar. Nos anos 70 decidiu abraçar a carreira, apesar da desaprovação da tradicional família cearense, que preferia vê-lo seguir os passos do pai, advogado. Nascido em 1941, cresceu em Fortaleza na época em que poucas companhias teatrais visitavam a cidade. Quase foi radialista, político e funcionário da Petrobras. Estudou direito e trabalhou com o pai antes de radicar-se no Rio para fazer teatro. Gostou da direção quando não encontrou quem dirigisse sua adaptação de "Flicts", de Ziraldo.

"Foi minha única incursão no teatro infantil. Ali, eu percebi que minha satisfação era maior na direção do que atuando", recorda Aderbal. Ele tem especial apreço por projetos de atores, como o espetáculo atual, que dirige a convite do ator Daniel Dantas, intérprete do protagonista. Renata Sorrah faz Lady Macbeth.

Ambientações que exigem a interação da plateia, movimentando-se por cenários distantes e inusitados já o atraíram. Como ator, fez "Diário de um Louco", dentro de um ônibus que percorria alguns bairros o Rio, e "A Morte de Danton", no canteiro de obras do metrô carioca. Em 1991, dirigiu o espetáculo itinerante "O Tiro Que Mudou a História" e levava os espectadores a diversos cômodos do Palácio do Catete, onde Getúlio Vargas morreu. No ano seguinte, a plateia de "Tiradentes, Inconfidência no Rio", era levada em ônibus para seis diferentes pontos do centro. Hoje, suas inovações cênicas estão na retomada de um teatro livre das convenções que o tornaram empoeirado. Sua preocupação não é recriar a gélida Escócia medieval durante o implacável verão carioca - o Teatro Tom Jobim fica dentro da floresta tropical do Jardim Botânico e o ambiente naturalmente abafado torna o uso de ar condicionado imperativo.

"O grande desafio do teatro hoje é não ser chato, empolado, é renovar-se e vencer o preconceito natural da plateia. É preciso conquistar o espectador. Shakespeare, que permite uma leitura em vários níveis de sofisticação, com referências políticas, poesia e jogos de palavras, escreveu para plateias majoritariamente analfabetas. A compreensão é simples, sem concessões. Ao longo dos séculos, o teatro foi se fechando, ficando mais científico, mais pesado. Shakespeare é anterior às convenções, é livre, é solto", explica. O bardo inglês situava uma ação na Dinamarca ou em Viena, batizando os personagens com nomes latinos. Narrava fatos contemporâneos, mas levava a história para a Escócia de 400 anos antes de seu tempo. "Ainda não existiam antropólogos, historiadores e sociólogos para apontar erros no enfoque político ou na fidelidade histórica", diz Aderbal.

Como em "Hamlet", ele traduziu o texto original, procurando uma linguagem que eliminasse "o falso rebuscado". Não se arriscou a traduzir sozinho. "Meu inglês não permitiria que eu fosse garçom em Londres", brinca. Da primeira vez, a versão foi dividida com a professora Bárbara Harrington e Wagner Moura. Agora, tem a parceria de João Dantas, filho de Daniel Dantas.

"Sempre traduzi as peças estrangeiras que montei, mesmo quando não tenho a menor ideia sobre o idioma. Quando fiz 'Casa de Bonecas', de Ibsen, pedi ajuda ao Carl Erik, que é dinamarquês, mas conhece norueguês. Ele traduzia, eu transformava em algo mais próximo de nossa fala. Fiz assim também com Brecht. Com Shakespeare, não quis ficar preso na métrica, mas respeitar sua poesia, que se compõe de imagens, metáforas, aliterações, ritmo", conta Aderbal, que não teme a fama de maldita de "Macbeth", pois teve sua dose de má sorte durante a montagem de "Moby Dick", quando se submeteu a uma cirurgia e precisou trocar o protagonista, acidentado na época dos ensaios.

Montar dois textos de Shakespeare em um intervalo pequeno não intimida Aderbal, convidado para a direção pelos protagonistas. "O projeto do Daniel era anterior ao do Wagner, mas compromissos dele só permitiram que a montagem viesse agora. São duas peças muito desafiadoras e incomparáveis. Não há como dizer qual é a melhor, o poema ilimitado que é 'Hamlet' ou o clima trágico, com o sobrenatural se impondo, em 'Macbeth'", comenta Aderbal.

O diretor completa: "Gosto de enfatizar o humano, que é a essência do teatro de Shakespeare. Macbeth não precisa ser a essência do mal, mas um homem que se desespera ao cometer seu primeiro assassinato. Não existe personagem raso em Shakespeare, todos têm as ambiguidade humanas".

É por isso, garante, que depois de um Shakespeare, tudo o que se quer é fazer outro Shakespeare. "E entre as duas eu fiz 'Moby Dick', que, segundo o crítico Harold Bloom, tem em Ahab o personagem mais próximo de Macbeth, em sua obstinação em levar todos para sua mesma loucura. Então, acho que eu estou no meu quinto Shakespeare."

11.1.10

Eric Rohmer (1920-2010)





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Eric Rohmer me impressionou quando eu era muito jovem e assisti à Marquesa D'O. A fotografia, os cortes, os fades, a sensualidade, o amor, a honra, o romance. Conheci então aquele universo que ele me apresentaria em outros filmes encantadores como Pauline na Praia, O Joelho de Claire, as séries dos Contos - Morais e das Quatro Estações. Não sei qual é sua obra-prima, porque ele era um realizador de conjunto. Tudo o que fez foi delicado, arrebatador, verborrágico e onírico.
Por causa dele, a gente busca brisas neste inclemente verão.

Férias de verão

Este blog estará em férias até o sol amainar um pouco. É necessário guardar forças para outras empreitadas durante a canícula.

4.1.10

Newton

Adoro os logos do Google. Este homenageia o aniversário de Isaac Newton, que nasceu em 4 de janeiro de 1643. Antes dos Beatles e de Steven Jobs, Newton competiu com as lendas de Guilherme Tell e dos escritos bíblicos para popularizar a maçã.

Cadê a praia????

No primeiro fim de semana de 2010, o carioca brincou de "Achou!!!" com barracas, pessoas e seus próprios pertences.
Foto de Marco Antônio Cavalcanti, publicada no Globo On Line.