31.8.13

O circo dos horrores pop


Prêmio de música pop há muito é o ensejo para artistas mais performáticos do que realmente talentosos - musicalmente falando, claro - enverguem fantasias carnavalescas nas categorias luxo e originalidade, de preferência beirando o ridículo, o que lhes garantirá, para os especialistas em moda da atualidade, a elogiosa qualificação de "estilosos", já que ninguém tem coragem de dizer que eles parecem com prostitutas, proxenetas e mendigos completamente ensandecidos por terem a coragem de aparecer em público daquela maneira.
Ufa!!!
Dito isso, vamos ao circo de horrores do Video Music Awards.









A gracinha da Katy Perry saiu de destaque do Bafo da Onça. Não bastasse o vestido ter uns detalhes dourados, porque a estampa de tigre não era suficientemente espalhafatosa, ela inventou implantou um grillz, uma palhaçada de implante de diamantes nos dentes, que está na moda entre os pop stars.



Um dia, Givenchy já foi sinônimo de discrição e elegância. Agora, faz essa vestimenta de destaque pra carro alegórico de escola de samba, que foi envergado, em toda a sua glória, por Ciara.



Versace é uma griffe dedicada a deixar qualquer pessoa com jeito de prostituta louca em noite de gala. E também serve para mostrar que Selena Gomez, agora que não namora Justin Bieber, é uma mulher adulta, sexy e sem gosto.





A preocupação com o desperdício dessa gente endinheirada me comove. E não é que a Luci Liu deu pra essa menininha pobre o vestido que ela usou no Emmy do ano passado? A menina customizou e foi pro VMA. Acho que ela é cantora. Mas não conheço, não. O tecido de estofar poltrona é da Carolina Herrera.



 




Para  não destoar do ambiente, a atriz televisiva Sarah Hyland foi de Pomba Gira Melindrosa Intergaláctica, tema a ser desenvolvido por qualquer escola de samba carioca no próximo carnaval.



Sabia que o inverno do Rio de Janeiro ia pegar nos outros países. Juro que li que este maiô com turbante e saída de praia são um look da coleção de alta-costura para o inverno 2013 do estilista Alexandre Vauthier




Pra VMA, tá até bom, né? Outro provável reaproveitamento de um vestido de noiva.  Caipira. Que foi cortado pra ficar mais moderninho.


Jennifer Hudson é aquela moça que gritava tanto que foi cortada do American Idol, interpretou uma mulher chata (muito bem, até) em Dreamgirls, ganhou um Oscar e virou um pesadelo que se materializa em tudo quanto é festa, enquanto aguarda um papel que lhe dê chances de mostrar que é boa atriz. Sofreu um problema pessoal terrível (teve irmão e sobrinho assassinados por um louco, um horror mesmo), fez dieta e agora anda com roupa de mulher magra. Pena que não tenha compreendido que saia de couro com top de pied-de-poule parece sofá com almofadinha xadrez.





Iggy Azalea é rapper, australiana, e aposta no tromp l'oeil em forma de vestido, com um tecido transparente, recoberto por bordados douradinhos, para parecer... a primeira-dama de alguma escola de samba de subúrbio carioca, que sai de destaque em um dos carros alegóricos, como Ísis, Afrodite, Perséfone, Cleópatra ou todas as quatro juntas, que vão encarnar em She-Ra.




Ellie Goulding, cantora britânica, deve ter afastado todos os fãs que não são sadomasoquistas com esse vestidinho espinhento.



Rita Ora, ora, ora, foi de... Galinha Pintadinha!!!!


Lady Gaga, supercomedida, de Morticia Adams enrolada no saco plástico de 500 litros.



A dama da noite foi Miley Cyrus, com sua dança de cabaré de baixíssimo nível no palco, mas que brilhou no tapete vermelho com um Dolce e Gabanna especialmente criado para ser usado como parte do cenário do Xou da Xuxa. Os coques no alto da cabeça lembram uma menininha sapequinha, diabinha, pestinha mesmo!!!




Os filhos do Will Smith, vestidos de mendigos ricos.


Enquanto o pai, que já não é mais moleque rappeiro, se vestiu de artista de cinema elegante mesmo.

Festival de Veneza 2013

Olha, até que o Festival de Veneza este ano começou bem comedido, em termos de extravagâncias e ousadias no vestir. Claro que em uma semana há de surgir alguma estrela querendo chamar mais a atenção por seu porte fora das telas do que pelo talento ou empenho profissional, mas os bonitos e as bonitas ainda estão discretos, deixando aos anônimos o brilho pelo ridículo. 





Sandra Bullock e George Clooney abriram o festival exalando charme, tanto em roupa esporte como em traje de gala, fazendo o gênero casal de gatões de meia-idade. Para tristeza das colunas de fofocas, os dois, solteiros e descompromissados, não estão namorando. 


A gracinha Carey Mulligan foi simplesinha, só com óculos à la Elton John, para quebrar a mesmice.


Dakota Fanning, cabelo boi lambeu para contrastar com o vestidão lindo e decotadérrimo - o outdoor para mostrar que chegaram à idade adulta, no caso das atrizes que começam em crianças, é fazer cena de sexo com astro coroa gostosão, caprichar no modelito sexy e ser presa por porte de drogas, bebedeira, dar vexame público até chegar aos tribunais (as cantoras, coitadas, têm que participar de show quase pornô em alguma premiação musical e passar por uma fase em que deixam aflorar a piranhuda que, segundo a indústria de entretenimento afirma, existe em toda mulher). 


Mia Wasikowska também optou pelo look simples, chique e com sandálias greguinhas que, surpreendentemente, deram certo.






    Nicholas Cage, cabelos intensamente castanhos, ganhou o troféu Pé de Pato Mangalô Três Vezes, que ostenta na gargantilha carregada de patuás. 

    Como os estilistas que odeiam as mulheres atrasam mas não falham, a atriz He Wenchao foi a vítima dessa criação inspirada em galos de macumba (penas pretas) e de briga (a couraça). Moça linda dessas merece usar algo assim? 





    Claro que Judi Dench está acima de qualquer moda. Ela é simplesmente o máximo, mas... precisava ir de penhoar pra Veneza? 


    Mais grave é quando senhoras como esta jornalista, editora de moda, Franca Sozzani,  foi vestida de Noiva de Drácula. Se não bastasse o rendão com cintinho prateado, as madeixas louras, totalmente inadequadas para a faixa etária, completam o look retirante nordestina brasileira em casamento caipira. 



    Coube a outra senhora, a escritora e personalidade televisiva italiana, Marina Ripa di Meana, apresentar-se como a já ganhadora do troféu Melancia no Pescoço de Veneza. Tá bom, ela deve ter se divertido horrores, assim como seu companheiro, de gravata do Wally. Agora, pra quê? 
    Medo, muito medo...




    16.8.13

    A invisibilidade dos adultos do século passado

    O elevador está lotado, dois homens de 20 e poucos anos se postam próximos à porta. Chego a meu andar. Tenho que me esgueirar entre ambos para alcançar a saída. Nenhum faz menção de me dar passagem.
    Puxo o portão da escola, mas não consigo chegar à calçada. Preciso aguardar a entrada de três adolescentes, todos mais altos que eu, e de tantos outros, gente que chegou ao planeta mais de trinta anos depois de mim e que ignora minha existência.
    Tem sido assim há muito tempo. Não se abre espaço nas estreitas calçadinhas de Botafogo para a adultos que ainda não entraram na categoria "idosa", (mal) amparada por leis capengas.
    No metrô, meu filho mais velho se levanta para dar lugar a uma mulher, que o elogia Estranhei. Ela diz que dificilmente alguém jovem age assim, hoje em dia.
    Falar alto é uma característica brasileira que assusta quem vive há muito fora do País. Serve também como identificador de grupos ou famílias de viajantes no exterior. O alarido acompanha os brasileiros e vem aumentando, desafiando os decibéis suportáveis pelo ouvido humano a cada ano.
    O afã de rejeitarmos a natureza, recusando o envelhecimento previsto por nossos DNAs, valorizou de tal forma a pureza da alma juvenil que nos esquecemos de passar às novas gerações algumas noções de convivência. Gritar o tempo todo, como se estivéssemos em estádios, tornou-se traço de jovialidade, de descontração. O uso e abuso de palavrões para pontuar, advertir, expressar admiração ou adjetivar situações e sentimentos propagou-se entre todas as faixas etárias.
    É imperativo usar o celular - do despertar ao adormecer. Dar atenção a quem está a seu lado, no entanto, é circunstancial. Se houver algo mais interessante a verificar no celular, deixa-se o interlocutor falando sozinho, claro. Porque não existe mais a regra básica da cortesia. O formalismo deu lugar a um total descaso com o mundo ao redor. Como bebês, estamos prontos a exigir e a aproveitar o que surgir para nosso prazer puro e simples.
    O problema é que a gente cresce. E sente que vai se tornando invisível para esses novos espécimes, fortes, grandes e com antolhos permanentemente acionados para não se contaminarem pelos intocáveis - mendigos, feios, doentes e velhos.
    Confundir cortesia com hipocrisia é preguiça de educar, papel das famílias e das escolas também.

    13.8.13

    A falta que ela me faz

    Se minha mãe fosse viva, completaria hoje 88 anos.
    Gostava, quando jovem de marcar os aniversários indo a estúdio fotográfico, posando para fotos como esta, de 1951, quando fez 26 anos.


    Seu ensinamento mais importante para mim foi a de não temer a vida, enquanto me inoculava vícios como o amor pela literatura, pelo cinema e pela arte.


    Com meu pai, formou uma dupla conversadeira, companheira e festeira, embora cultuassem a severidade dos que nasceram antes da Segunda Guerra Mundial.


    Vaidosa, nunca temeu a velhice. Ao contrário, gostava da respeitabilidade de velhas damas, sem se impressionar tanto com as rugas, desprezando solenemente as tinturas capilares, já que jamais pintou os inexpressivos cabelos brancos que timidamente surgiram após os 70 anos (comemorados com almoço festivo, registrado abaixo).



    O riso aberto, pleno e sempre presente pontuavam seu traço maior, a sociabilidade, que a levava a  incorporar-se aos amigos da filha e a ser afetuosamente aceita por todos eles. Na época, o convívio de gerações diferentes era parte da vida adulta.


    Como avó, redescobriu a paixão, percebendo nos netos características notáveis em cada um. A única retribuição que lhe dei por tantos anos intensos, foi uma grande descendência, que pôde conhecer, amar e aproveitar por um tempo breve. 


    Tivemos uma convivência conturbada, muito mais por nossas semelhanças do que pelas diferenças,  captadas nas expressões diametralmente opostas nesta fotografia, feita por meu pai, em nossos primeiros tempos juntas. .



    Talvez eu já soubesse que ninguém conseguiria me repreender e me compreender tanto quanto ela. 


    2.8.13

    Depois de meses (mais de 18, pra falar a verdade), envergo novos óculos. Tudo ficou límpido, repentinamente. Mas só num repente. Sou míope, tenho alguma presbiopia e cataratas ainda inoperáveis. O grau diminuiu bastante num dos olhos. Para ler, tenho que tirar os óculos. Mas ao menos, com esses, posso usar enquanto estou no computador. Os outros, mais fortes, turvavam a tela. 

    Envelhecer é estranho mesmo.