31.8.06

A foto do livro

Como todos os autores tiveram uma foto publicada no livro, esta aí foi a minha. Jolie embelezou o quadro e, além de descontrair a modelo, serviu, na falta de uma echarpe, para cobrir o papo...
Foto de meu amigo Angelo Antonio.

Literatos


Alguns dos autores de Parem as máquinas! na festa de lançamento na Estudantina. Jornalista é indisciplinado até pra tirar foto. Ô, raça!

29.8.06

Pra não dizer que não falei de flores II


Pão e rosas.
(Hugh Jackman sem a juba de Wolverine, especial para Sol)

Pra não dizer que não falei de flores


Richard Gere, envelhecendo belamente.

24.8.06

Pluft Plutão!!!


Então, tá, né? Plutão não é mais planeta e, sinceramente, apesar da imensa simpatia que eu tinha pelo corpo celeste, acho que minha vida continuará a mesma. Creio que essa luta dos astrônomos era antiga. Houve época em que eles queriam desplanetizar Urano, se não me engano. Ou já estavam no movimento de redução do status plutânico?
Astrólogos já se pronunciaram. Os regidos por Plutão podem ficar tranqüilos. E um ainda explica que o "planeta" foi descoberto em 1930, mais ou menos. Quer dizer que antes ninguém era regido por ele?
Há mais coisas entre o céu e a terra do que explica essa vã astrologia...

22.8.06

Viver da escrita


Algum tempo atrás conversei com o escritor Paulo Lins que usou uma expressão linda para falar sobre o ofício de quem escreve: "viver da escrita". Ele não estava falando do escritor como concebemos a palavra ao nos depararmos com ela, que significa, para a maioria das pessoas, romancista, literato. Referia-se, sim, a tudo o que se faz quando se escreve: livros, artigos, roteiros.
No Brasil há uma distinção básica entre escritor (alguém que é dono de seu tempo, sem patrão fixo, que produz textos atemporais, publicáveis em livros que atravessarão meses) e jornalista (um ser vinculado a emprego, que cumpre horários acima do recomendável pela legislação trabalhista, autor de textos efêmeros, que se esgotam em, no máximo, uma semana). Quando o jornalista alcança o estágio de escritor, acaba tornando-se biógrafo ou ensaísta, relator de fatos, um seguidor do new journalism.
Estou muito distante deste patamar, claro, mas, há um ano vivo da escrita, entre resenhas de livros, textos para editoras, matérias para jornais e revistas. Mesmo que eu sempre seja mais repórter do que analista e que possa, eventualmente, tocar nos fatos com o calor de uma ficção, tentando entrelaçar gotas de poesia à realidade.

18.8.06

No Valor, hoje


O verbo transitivo

Por Olga de Mello e Robinson Borges, para o Valor
18/08/2006

Os ciclos de intensificação das relações internacionais, como a globalização de hoje, têm um componente cultural evidente, que reflete, sobretudo, o peso econômico e político dos países dominantes. Ou de um só, como se afirma em análises da amplitude que ganharam nos últimos tempos as influências americanas e, com elas, a extensão sem precedentes do interesse pela língua inglesa, especialmente no mundo dos negócios. Mas o idioma até agora visto como de utilidade universal praticamente exclusiva também já é encarado apenas como uma das necessidades básicas para o êxito, ou a sobrevivência, no mundo corporativo, que vai abrindo espaço para a valorização de currículos nos quais constem conhecimentos de outras culturas e línguas.

Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem Cultura em disseminação: o dragão circula pela avenida Paulista, antes de ser exibido nas festas do ano novo chinês,no bairro paulistano da Liberdade

Um meticuloso estudo sobre o aprendizado do inglês no mundo, intitulado "English Next", sustenta que o inglês continuará universal, mas revela que a partir de 2016 - quando for falado por 2 bilhões de pessoas -, haverá um declínio no interesse pela língua. "Será vantajoso aprender idiomas como o mandarim e o árabe e ter noções da cultura de seus interlocutores", observa David Graddol, autor da pesquisa recém-concluída, realizada a pedido do British Council. "A influência econômica e política da China começa a ser sentida fortemente na América Latina, na África e na Ásia. Não se pode ignorar a velocidade com que o chinês pode vir a se transformar em um fenômeno global."

Em 2010, o inglês terá sua relevância no mundo dos negócios na casa dos 28% em relação às outras línguas. Logo atrás estará o mandarim, com 23%. Com uma grande diferença em relação aos dois primeiros colocados estarão o japonês (5,6%), o espanhol (5,2%), o francês (4,2%) e o português (3,4%), segundo o "English Next". Até a hegemonia do inglês na internet deve ser reduzida. Em 2000, 51,3% dos acessos na rede eram feitos em inglês, contra 5,4% em chinês. Mas apenas 32% dos acessos em 2005 foram em inglês, e 13% em chinês.

Luciana de Jong, diretora comercial da Comissaria Ultramar, empresa de logística de transporte internacional, percebeu a mudança e está no segundo período de chinês básico na PUC-Rio. "Sou a mais velha da turma. Temos muita gente mocinha, buscando a nova linguagem de negócios", diz. A executiva decidiu aprender a língua no fim do ano passado, quando estava na Ásia. "Falo francês, espanhol e holandês, além de inglês, mas percebi que não é suficiente, pois o comércio com a China só tende a aumentar", calcula.

Tanto headhunters quanto lingüistas, ouvidos para o estudo encomendado pelo British Council, dizem que, diante dessas evidências, para se destacar no universo corporativo melhor será seguir o exemplo de Luciana e preparar-se para a nova ordem mundial, que deve promover uma onda de exclusão lingüística para os desatentos. Isso porque o monolingüismo agoniza - mesmo para quem fala inglês- e o bilingüismo serve apenas para o início da conversa. A tendência é toda voltada para o multilingüismo. De fato, na União Européia, com a criação de uma comunidade de várias línguas e culturas, o multilingüismo é um fato irreversível. Nos EUA, a hispanização traz novas realidades e expectativas. "Na pós-modernidade, o multilingüismo é a norma e as identidades são mais complexas, fluidas e contraditórias", explica Graddol.

Para ele, entre os interessados no aprendizado de chinês, poucos têm o inglês como língua materna, fato preocupante num cenário em que o monolingüismo está prestes a se extinguir entre a elite dos homens de negócio. "Quem nasceu falando inglês se acomoda, o que deixa os países ricos em desvantagem perante os outros", afirma Graddol. Ele observa, por exemplo, que a importância econômica do Brasil já alterou o status global do português. "É recomendável que os investidores em países lusófonos da África aprendam português também", acredita Graddol, que também destaca o crescimento do ensino de espanhol.

Fabiano Accorsi/Folha Imagem Migrações também explicam: o vaivém demográfico ajuda a dar novo ritmo à difusão de idiomas como o chinês (na foto, crianças de famílias chinesas em escola de São Paulo)

De acordo com o vice-presidente do British Council no Brasil, Michael Thorton, britânicos e americanos são tradicionalmente resistentes ao aprendizado de outros idiomas, mesmo depois que sua língua, agora de uso universal, deixou de "pertencer" aos anglo-saxões e passou a ser falada de diferentes maneiras.

Thorton compartilha da opinião exposta por David Crystal em "A Revolução da Linguagem" (Zahar), de que o inglês é uma das línguas que mais se apropria de palavras estrangeiras. "As línguas se modificam e a globalização acelera esse processo. Verbos como deletar, que vem do latim, surgem no português como se fossem anglicismos, mas são apenas uma retomada das origens", comenta Dinah Callou, do departamento de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Nesse cenário, aprender o mandarim vai subindo para o topo das prioridades. Mas também é conveniente dar-se atenção ao espanhol e ao árabe, que podem se tornar suficientemente importantes em algumas regiões do mundo, para incomodar a supremacia do inglês. Apesar da relevância proporcional do japonês e do francês, esses dois idiomas não desfrutam mais do status de outros tempos.

O espanhol avança rápido e já tem a mesma proporção do inglês em termos de falantes nativos - é o idioma de aproximadamente 380 milhões de pessoas no mundo, além de outros 100 milhões que o falam como uma segunda língua. Pelo número de usuários, já é a terceira língua do mundo. Na última década, especialmente, a demanda por cursos de espanhol cresceu em todo o mundo. Nos EUA, a língua já desafia o inglês. Há cidades com predominância da língua de Miguel de Cervantes sobre a de Shakespeare. "O espanhol também tem se expandido em importância econômica, tanto nos EUA quanto na América Latina", mostrou a pesquisa, pois é uma língua internacional e idioma oficial de 21 países.

O árabe também tem conquistado importância econômica maior no mundo global como efeito colateral do crescimento demográfico mais rápido entre as populações que o têm como idioma nativo. Mas também é notória a expansão de seu uso em outros lugares, o que lhe dá um certo status transnacional, diz o estudo encomendado pelo British Council.

Roberto Machado, diretor da Michael Page International no Rio, empresa de colocação de executivos, observa que quem conhece os idiomas dos países emergentes pode ter um diferencial na carreira a médio prazo. "O volume de negócios com a China teve aumento significativo e quem vai trabalhar naquele país deve procurar fazer um curso de chinês. Inglês não é mais diferencial. Existe procura grande também por profissionais que tenham fluência em espanhol", diz Machado.

As projeções apontam que o mandarim é uma língua na mais pura ascensão. De acordo com Graddol, o setor de serviços chinês responde por cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que cresce a 10% ao ano. O segmento promove sempre demanda maior por línguas, pois exige melhor nível de comunicação do que o setor industrial. O relatório também revela grande interesse pela língua chinesa na Ásia, na Europa e nos EUA. Não por acaso, o governo chinês abriu o primeiro Instituto Confúcio, de promoção e divulgação do ensino do mandarim, na Coréia, em 2004. Atualmente, existem sedes do instituto em diversos países, como Quênia, Austrália, EUA, Dinamarca e Portugal.

Em 1995, havia cerca de 5 mil estrangeiros inscritos para as provas de proficiência em chinês que são aplicadas anualmente no mundo pela Universidade de Pequim. Em 2005, cerca de 40 mil estrangeiros se inscreveram para os exames. Atualmente, estima-se que 30 milhões de pessoas estejam estudando mandarim. As expectativas do governo chinês são de que esse número chegue a 100 milhões em poucos anos.

O crescimento do ensino de mandarim no Brasil começou com a vinda de empresas chinesas para o país e se intensificou a partir da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China em 2004. Foi nessa época que Victor Key Harada e três sócios abriram o curso Mandarim, que acaba de estabelecer sua segunda filial na capital paulista. A maioria dos alunos é de profissionais de comércio exterior, administração, engenharia, direito e relações internacionais. Também há procura de estudantes secundaristas, que já pensam em seus futuros currículos.

Até o fim deste ano, a chinesa Yang Aiping inaugura a quarta filial do Centro Cultural China-Brasil, em Brasília. Professora de línguas, há oito anos ela chegou ao Rio, a caminho de Washington, onde ia fazer uma especialização em inglês. Apaixonou-se pelo Brasil, ingressou no curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e passou a ensinar português para chineses e mandarim para brasileiros. Publicou cinco livros destinados ao ensino de chinês a brasileiros antes de, em 2004, montar o curso, que hoje tem 12 professores, todos chineses, e 200 alunos nas três filiais cariocas. De início, executivos, advogados e diplomatas eram a maioria dos alunos. Hoje não existe um perfil definido e uma das turmas é de crianças. "Português é mais difícil do que mandarim. O curso básico tem dois anos e quem termina sai com um vocabulário mínimo de 500 palavras", afirma Yang.

Depois do inglês, o curso de chinês é um dos mais procurados no Instituto de Pesquisa de Línguas (Ipel) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A dificuldade no aprendizado desestimula alguns alunos, diz a coordenadora, Márcia Lobianco Amorim, mas a maioria persiste, por entender que está fazendo um acréscimo importante ao currículo. "O imediatismo leva muita gente a acreditar que em um semestre sairá falando chinês. Quem está aprendendo por diletantismo, desiste. Fica quem quer investir na carreira."

Uma das especialidades que tem grande número de inscrições, na PUC-RJ, é a de chinês instrumental para negócios. "É específico para quem vai viajar ou morar na China, para profissionais liberais de grandes empresas."

Segundo Machado, da Michael Page, houve uma estabilização na importância do conhecimento de línguas européias, como alemão, francês e italiano. "Muita gente está se antecipando às exigências do mercado e investe no conhecimento de chinês e russo. Espanhol é um idioma em alta, principalmente por causa da América Latina. A tendência do mercado é buscar profissionais com boa vivência em suas especialidades, mas conhecer outra língua, principalmente quando se está fazendo negócios, é um facilitador", reconhece.

Os movimentos migratórios, que têm crescido nos últimos anos, também influem no cenário linguístico. Entre 1960 e 2000, 3% da população mundial (175 milhões de pessoas, pouco menos do que a população brasileira) mudaram de país em busca de uma vida melhor. De acordo com Graddol, em Londres, uma das cidades onde é maior a variedade lingüística, falam-se mais de 300 idiomas nas escolas. No entanto, com o crescimento das economias emergentes, muitos exilados em países desenvolvidos estão voltando aos seus países de origem com filhos nascidos e criados em outra língua. "Essas crianças enfrentam problemas de identidade. Muitas vezes, integrantes dessas famílias têm a sensação de que pertencem a outro lugar", comenta Graddol.

Essa sensação se torna cada vez mais comum com a globalização intensificada. O headhunter Robert Wong aprendeu mandarim em casa. Nascido na China, veio para o Brasil aos 3 anos e não encontrou dificuldades em conciliar o uso dos dois idiomas. Quinze anos atrás, recomendava a executivos que aprendessem inglês, uma língua latina e uma língua oriental.

"Se quisessem um investimento de curto prazo, deveriam aprender japonês. Se preferissem um investimento a longo prazo, que estudassem chinês. No entanto, o chinês passou a ser importante bem antes do que imaginava", reconhece Wong, que não vê diminuição do interesse pelo inglês em termos absolutos: "Os anglo-saxões impuseram sua impressão digital no mundo, reforçando seu domínio de uma forma simpática, com a disseminação de sua cultura, de sua literatura. O Ocidente se acostumou à música popular em língua inglesa, ao cinema falando inglês. E na China, na Rússia, até em Cuba, os contratos são redigidos em inglês".

Para Wong, o declínio do inglês ainda está distante. Os próprios chineses são um dos povos que mais estudam o idioma. Se tivesse que recomendar o aprendizado de idiomas estrangeiros a executivos brasileiros, Wong continuaria apostando no chinês. Para ele, o bom executivo pode até se expressar por meio de um intérprete, mas é essencial conhecer um pouco da cultura do país onde se fará negócios. "Durante a Copa do Mundo, todos viram o intérprete japonês do Zico, que tentava imitar os gestos do técnico quando ele passava instruções para os jogadores. Mais do que um conhecimento profundo do idioma, quando ele é tão diferente da língua materna, é necessário desenvolver a sensibilidade, a flexibilidade, a capacidade de adaptar-se e adequar-se à cultura do outro país", diz.

Wong lembra que os orientais não têm formas diferentes de encarar o mundo corporativo. Na década de 1980, ele morou alguns anos na China, que havia acabado de reatar relações com o Japão. "Era comum que executivos japoneses de grandes empresas, antes de começarem a trabalhar na China, vivessem no país por períodos longos, de até dois anos, apenas para compreenderem a cultura local. Era um investimento em formação, para que soubessem criar bons relacionamentos comerciais."

Historicamente, as línguas vivem seu apogeu e depois entram em declínio. O grego, por exemplo, foi a língua mais disseminada entre as nações após a criação do mundo helênico por Alexandre Magno. Na Idade Média, o latim passou a ser língua franca e deu origem a muitas línguas modernas, como o português e o espanhol. Durante a Renascença, o italiano tornou-se o idioma mais difundido, por causa da força do comércio, da arte e da música. Durante as descobertas marítimas, o português foi também muito divulgado, mas ,com o declínio da economia portuguesa, cedeu espaço ao espanhol, por causa do domínio hispânico na ocupação de novas terras. Com a Revolução Francesa, o francês tornou-se o idioma da elite e a Revolução Industrial fez do inglês o que ele é hoje. Qual será seu futuro?

16.8.06

Bombom

Compreendam. Acabei de ver "Chocolate".

15.8.06

Parem as máquinas

Com festa, saio da webesfera literária e tenho um de meus contos no livro "Parem as máquinas - Jornalistas que valem mais de 50 contos".
O lançamento, com samba, suor e cerveja, será em 26 de agosto, na Estudantina, onde muito dancei 20 anos atrás.
O horário ainda não foi revelado, mas eu aviso.
E espero meus amigos reais e virtuais - que passarão a ser mais próximos, então - lá!

Sem meia luz

A imagem de velas coloridas acesas é sempre plácida e inspiradora.
Tenho dezenas de velas em variados formatos e cores distribuídas pela casa inteira. Nunca são acesas, exceto se falta luz e ninguém se lembra de procurar as velas Santa Clara, São Sebastião, São Jorge, simplesinhas, brancas, guardadas nas gavetas da cozinha.
Vez por outra, dou sorte, só acendem as de citronela.
Fica um perfume adocicado até que volta a energia. Saio a computar os estragos em móveis e o fim de minhas velinhas redondas, cheias de desenhos bonitos, as que um dia tiveram pétalas como florzinhas.
Refeições à luz de velas, nem pensar.
Sou míope e praticamente sofro cegueira noturna. Irrita-me profundamente não conseguir perceber o que estou para ingerir.
Banheira cheia com pétalas de flores cercada por candle light é impossível também. Belíssima imagem, mas realidade angustiante. E se alguma das chamas atingir um pote plástico de xampu? Relaxar dentro da água é impossível, já que a banheira não será automaticamente lavada após a imersão.
Outro dia ganhei uma linda vela decorada pelas irmãs clarissas, presente de uma amiga carismática. A primeira providência, depois de acendê-la, foi remover a figurinha de Santo Antônio para que não queimasse com a vela que custaria muito a se acabar, de 7 ou tantos mais dias. A amiga carismática passou-me um pito, a vela tinha que queimar junto com o santinho.
Tentamos colar o santo na cera, não deu certo e, de repente, o pavio estava fora da cera.
Com o auxílio de uma caixa de fósforos inteira, consegui acender a vela, lembrando-me das experiências descritas em almanaques e no Thesouro da Juventude.
Simplesmente a vela queimou quase toda em pouco menos de meia hora. Foi cera para todo o lado e queimaduras nos dedos dos incautos que tentavam removê-la.
Paranóicos nunca alcançarão a felicidade zen.

13.8.06

Truffaut et Moreau


A pausa dominical para ver François et Jeanne acaba. O ciclo Truffaut do Telecine, se não me engano, acabou. E ficou faltando foi filme bom! O jeito é rever os Truffauts que tenho em casa, nenhum deles com la Moreau, mas com a insossa e belíssima Deneuve, que crescia muito sob a direção dele.
Não sou uma grande fã de Jeanne Moreau, aquele ar de eterno desdém mesclado às precoces rugas que ela sempre mostrou. Prefiro-a velhinha, encarnando mulheres alegres e não aquelas mulheres fatais tão blazées. Sob as ordens de Truffaut, como quase todos os atores, ficava sensacional.
"A Noiva Estava de Preto" conheci porque minha mãe me contou o filme inteiro depois de ver, quando eu era criança. Mamãe era apaixonada por Truffaut. Depois li o livro, uma novela americana. O filme, só agora. Menos falado e com locações mais cuidadas, seria um perfeito Hitchcock.

11.8.06

No Valor, hoje

Atentados lotam as prateleiras das livrarias

Olga de Mello, para o Valor
11/08/2006

Um tema ainda timidamente explorado pela ficção literária, os atentados terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, provocou uma previsível avalanche de publicações que analisavam os ataques sob os mais variados aspectos. Ao lado de títulos que privilegiavam os feitos heróicos no resgate das vítimas do World Trade Center, ensaios sobre as conseqüências políticas das ações terroristas disputavam espaço nas prateleiras das livrarias.

Se atualmente as análises sócio-políticas continuam predominando na literatura sobre o 11 de setembro, pouco a pouco, os atentados e os traumas que causaram em todo o mundo são aproveitados pela ficção, enquanto os acontecimentos daquela terça-feira em que o mundo parou também ganham novos relatos por perspectivas diferentes.

Um desses novos ângulos é explorado pelo brasileiro Ivan Sant'Anna em "Plano de Ataque" (Objetiva), que acaba de chegar às livrarias. Ao ver a imagem do choque do primeiro avião contra uma das torres do World Trade Center, Sant'Anna, mais do que perplexidade, sentiu que ali estava a "maior história da aviação moderna" a ser contada. No ano anterior, havia sido lançado seu livro de maior sucesso, "Caixa-Preta", sobre três episódios com aviões brasileiros - dois desastres e um seqüestro. Sant'Anna debruçou-se sobre o relatório da comissão americana que investigou os ataques de 11 de setembro, leu 30 livros e escreveu 17 mil páginas, das quais restaram no livro apenas 270.

"Meu interesse era mostrar a história de quem estava nos aviões, entre tripulação, passageiros e seqüestradores. Ouvi gravações de caixas-pretas, de telefonemas de passageiros, das conversas entre aeromoças e controladores de vôo. Não há qualquer criação ficcional no livro. É uma reportagem com uma grande carga emocional, pois aquela gente toda morreu. Meu cuidado foi o de ser o mais isento possível, a ponto de evitar o uso de palavras como 'herói' ou 'terrorista'. Preferi chamar os seqüestradores de kamikazes", diz Sant'Anna.

No campo da ficção, outro autor brasileiro, Jorge Furtado, já havia utilizado o 11 de setembro como elemento que assinala diferenças culturais e separa amantes em "Trabalhos de Amor Perdidos", uma recriação livre sobre peça de William Shakespeare. A reflexão e o temor crescente que os atentados trouxeram permeiam narrativas de diversos escritores, como Ian McEwan ("Sábado") e Monica Ali ("Brick Lane").

Os ataques já foram aproveitados como referência em um policial de Michael Connelly, no thriller de William Gibson "Reconhecimento de Padrões" e no conto de ficção científica "Em Espírito", de Pat Ford. A novidade nas prateleiras brasileiras é a abordagem direta sobre a dor da perda e as tentativas de recuperar o passado em "Extremamente Alto e Incrivelmente Perto" (Rocco), de Jonathan Safran Foer.

O jovem protagonista Oskar é um menino de 9 anos que procura desvendar um mistério relacionado a seu pai, morto no desabamento do World Trade Center. Repleto de fotografias e páginas com reproduções de manuscritos, não há revolta nos personagens do romance, apenas uma tristeza profunda. Paralelamente às aventuras de Oskar, que corre por Nova York, conhecendo adultos que, ele acredita, irão aproximá-lo do pai, estão as recordações de seus avós sobre o bombardeio de Dresden, na Alemanha, pelos aliados, na Segunda Guerra.

As diferentes definições do que são crimes de guerra e como a classificação varia, dependendo do lado que julga a ação, é um dos focos de Noam Chomski em "Ambições Imperiais - O Mundo pós-11/9" (Ediouro), que estará nas livrarias até o fim do mês. Na série de entrevistas concedidas a David Barsamian, Chomski ataca a política de George W. Bush e recorda que a parcialidade no enfoque da guerra pode ser comprovada pelos padrões adotados pelo Tribunal de Nuremberg para julgar os crimes dos nazistas durante a Segunda Guerra. Ele lembra que, responsáveis pelos "devastadores bombardeios de centros urbanos civis, como Tóquio e Dresden", as forças aliadas tiveram suas ações minimiza-das no julgamento: "Como os aliados bombardearam muito mais do que o Eixo, esses bombardeios foram retirados da categoria de crimes de guerra". Crítico contumaz da "doutrina Bush", Chomski afirma que os pretextos para a invasão do Iraque "não são mais convincentes que os de Hitler".

Na mesma linha, chega às livrarias no fim do mês "Insegurança Total - O Mito da Onipotência Americana", da jornalista Carol Brightman, que compara a invasão do Iraque à participação dos Estados Unidos no Vietnã. Para Brightman, o poder ilimitado, a corrupção corporativa e a vulnerabilidade política são marcas do governo Bush. No livro, ela analisa as maneiras pelas quais a obsessão pós-11 de setembro com segurança deflagrou uma economia de guerra planejada por estrategistas conservadores. Carol Brightman adverte para a ascensão do nacionalismo iraquiano - que teria sido fomentada pela ação dos Estados Unidos naquele país -, enquanto aponta a relação próxima entre indústria, governo e militares, e adverte para o perigo da contratação de mercenários como empregados de indústrias que estão no Iraque.

Outro lançamento da Record é "Crônicas da Era Bush: O que Ouvi sobre o Iraque", do renomado ensaísta e crítico literário americano Eliot Weinberger. Organizado cronologicamente, o livro traz textos escritos no dia seguinte aos atentados, três semanas depois, um mês mais tarde, até chegar a completar um ano e meio após os ataques. Originalmente publicada na revista "London Review of Books", a aclamada crônica "O que Ouvi sobre o Iraque" traz notícias a respeito do Iraque e de Saddam Hussein a partir de 1992, quando os Estados Unidos se congratulam por não haverem tomado o governo durante a Guerra do Golfo. As modificações no discurso oficial que deveria legitimar a invasão do Iraque perante o mundo são mostradas sem qualquer consideração pessoal por Weinberger, que fez uma nova versão da crônica em 2005.

No início de setembro, a Zahar lança "Poder, Terror, Paz e Guerra", uma visão sobre as relações externas dos Estados Unidos depois dos atentados de cinco anos atrás. O autor, Walter Russell Mead, propõe que Bush modifique sua posição em relação aos conflitos entre Israel e os palestinos, e que procure formas para reconquistar o apoio da população dentro dos Estados Unidos.

10.8.06

Valei-me São Francisco!

Mal castramos Agador Spartacus Cebolinha, Júlia me aparece em casa com uma ... coelhinha!!!!A coisa mais linda, branquinha.Diz ela que o amigo do colégio comprou e está convencendo a mãe a ficar com a bichinha. Se não conseguir, vou devolver à loja de animais.
E prometo voto ao primeiro vereador que faça um projeto de lei tornando proibidaa venda de animais de estimação a menores de idade!
Paz de espírito é descobrir a possibilidade de sobreviver sem celular.
Ambição é querer uma câmera digital.
Mas isso apenas para expressar a vida melhor e imortalizar virtualmente o presente que escapa por entre os dedos.

Sonho refrescante


Quando eu tiver muito dinheiro, mas muito dinheiro mesmo, vou viver sempre na primavera.
Ou nos verões da Escandinávia.
Mas minha preferência serão os países do Mediterrâneo quando estiver quente no Rio.
Como eu nunca vou ter muito dinheiro, mas muito dinheiro mesmo, ainda arrumo um canto pra mim mais fresquinho aqui no Brasil mesmo.
Ou compro um ar condicionado.

Compasso de espera


Indecente este calor de inverno.
O Rio voltou à fase de duas estações do ano: quente e mais quente ainda.
Eu já pensava que teríamos temperatura de lugar civilizado, como diz meu amigo Edu.
Não quero enfrentar o sol, saio só à noite. Um olho se machucou de manhãzinha, lacrimeja e aguardo que melhore. Sou alérgica em demasia, se doente, geralmente, espero a cura natural, já que remédios me provocam reações perigosíssimas.
E pacientemente consulto a cada meia hora meu e-mail, para ver se chegam as respostas a uma entrevista com um antropólogo inglês.
Um dia para ser baiana, fazer tudo devagarinho, lamentando apenas não estar em Parati, extasiada na Disneylândia literária. O jeito é pegar um livro aqui mesmo. A nudez, infelizmente, só é permitida aos bichos da casa.

9.8.06

Bichanas

Um carinho de Gal em minha gatinha

6.8.06

Dimanche, a la nuit

Pausa obrigatória no trabalho de free lancer. Ver "Jules et Jim" é compromisso da humanidade.

5.8.06

Crescer

Agora reconheço, passados dois meses do desaparecimento de Valentina, a tartaruguinha. Ela se foi. Alguém teria levado? Ela teria fugido? Como uma tartaruguinha some de um apartamento de segundo andar? Uma versão plausível é que ela tenha se embolado no lixo e sido jogada fora. Por anos tive Relâmpago, meu jabuti, que acabou sendo levado para Florianópolis, para a casa de meus avós. Mais de vinte anos depois, comprei, com licença do Ibama, Brigitte. Não durou nem um mês e ela morreu. A licença do Ibama não imunizava contra fungos ou vírus que ela, provavelmente, trouxe da loja de animais. Depois de um tempo, ganhamos Valentina, que se foi antes da chegada de Ágata--Agador.
Ágata-Agador era um belo filhotinho de gato que Júlia pegou na rua, numa noite chuvosa de 27 de maio. Trouxe para casa jurando que iria ficar com a bichaninha por apenas dois dias e que depois ela seria deixada no Beco dos Gatinhos, um canto da Rua São Clemente, onde gateiros se encontram e cuidam de animais abandonados. Dois meses depois, constatamos que Ágata, na verdade, é Agador Spartacus (homenagem ao empregado gay da "Gaiola das Loucas") e que está prestes a mostrar toda a sua virilidade assim que a puberdade tomar conta de seu ser. Com mais três fêmeas em casa, logicamente, Agador será castrado, embora eu ainda considere a castração uma violência contrária à natureza. O problema é a natureza se mostrar presente com ninhadas de gatinhos na primavera...
Mas como nem tudo é amargura e angústia neste meu zôo, nasceu semana passada um periquitinho de poucos pêlos amarelinhos. É uma das mais pavorosas produções do Reino Animal, mas há de tornar-se lindo! Já come uma papa horrorosa de leite de soja e chilreia furioso se não é alimentado a cada meia hora.
Os filhotes humanos crescem também e me tornam oficialmente a primata de menor estatura da casa. A vida corre neste segundo tempo.

4.8.06

Sinistra

Como qualquer destro, desde cedo queria muito ser canhota, ter aquela distinção congênita que intriga a tantos. Quantas vezes ouvi "acho tão bonito ser canhoto..." Eu fingia indiferença, pois tinha avó, tios, primos e pai canhoto. Tanto na família materna quanto na paterna sobram os canhotos.
Mas fiz mais do que ser canhota. Botei no mundo três canhotos. E um destro.
Só pra me fazer companhia.

3.8.06

Um sonho de sala

Acachapante




Quem viu "Caché" e se espantou com o fim em aberto esquece que a vida é repleta de episódios não concluídos. Só vim a assistir o filme agora, em DVD, dentro de casa, sozinha, e com direito a pesadelos sanguinolentos a madrugada inteira. O que significa que Michael Haneke conseguiu de mim um efeito interativo melhor do que poderia esperar: além de ficar com o filme no consciente, discutindo a culpa da classe média e das elites ocidentais, o terror se alojou no meu inoconsciente - o que, em tese, me tornaria tão esnobe e insensível quanto os personagens principais, grande tema para levar a um analista com pendores existencialistas; como abandonei há muito a terapia e não conheço nenhum analista que queira discutir filosofia/ideologia/política e cobrar 20 reais a sessão, deixa isso pra lá mesmo.
O que o filme tem de sensacional não é apenas um elenco afiadíssimo (as diferentes personas que surgem em Daniel Auteil, os comportamentos em cada situação específica, seja a maneira estúpida como fala com o ex-companheiro de infância ou o olhar subserviente e bajulador que dirige ao chefe; o desespero de Juliette Binoche com o desaparecimento do filho; Maurice Bénichou, maravilhoso como o ex-agregado; e a força de Annie Girardot), mas uma costura perfeita de situações absolutamente desprezíveis para a polícia, que deixa o cidadão atemorizado por conta própria. E que só considera cidadão o branco de elite educada. Qualquer um que o ameace esta elite é encarcerado.
O que o filme tem de artificial é a parábola, é a justificativa que atenua o crime, o terror. Se ele existe, é porque em algum momento o terrorista foi vítima do aterrorizado. Ele também força a barra ao pôr sobre uma criança de seis anos a culpa pelo destino de outra criança. Aliás, a culpa só existe do lado atemorizado, não de quem atemoriza. No entanto, o didatismo pueril é minimizado pelo cuidado em montar uma fábula contemporânea, uma vida como ela é, com gente que trabalha muito para estar em boa posição social, que vive no mundo da venda de idéias e reflexões, que come literalmente entre livros.
Haneke fez um filme para ser discutido, falado, para não se esgotar dentro da sala de projeções. E conseguiu.

1.8.06

Praticamente uma Holanda

O Brasil, evoluidíssima nação no que tange a direitos trabalhistas, pode até não reconhecer a profissão de prostituta, porém garantiu o cadastramento dos "profissionais de sexo" na Classificação Brasileira de Ocupações - que, dentro do mesmo espírito liberal, deveria incluir também a ocupação "dondoca".
E para ser mais ridículo ainda, já que ocupação não é emprego de ninguém, embora a relação esteja no site do Ministério do Trabalho e Emprego (ó, coisa mais atroz, esta mania brasileira de inventar nomes politicamente corretos e patéticos, quando pretendem esclarecer o óbvio e jamais deixar prevalecer o bom senso lingüístico), vem a descrição da atividade exercida por (sic) Profissional do sexo - Garota de programa , Garoto de programa , Meretriz , Messalina , Michê , Mulher da vida , Prostituta , Puta , Quenga , Rapariga , Trabalhador do sexo , Transexual (profissionais do sexo) , Travesti (profissionais do sexo): Batalham programas sexuais em locais privados, vias públicas e garimpos; atendem e acompanham clientes homens e mulheres, de orientações sexuais diversas; administram orçamentos individuais e familiares; promovem a organização da categoria. Realizam ações educativas no campo da sexualidade; propagandeiam os serviços prestados. As atividades são exercidas seguindo normas e procedimentos que minimizam as vulnerabilidades da profissão.
Entrando em cada um dos itens do menu, descobre-se que entre as competências profissionais estão demonstrar capacidade de persuasão, de expressão gestual e de realizar fantasias eróticas; agir com honestidade; demonstrar paciência; planejar o futuro (?) , demonstrar capacidade lúdica e ouvir atentamente (saber ouvir).
Quanto aos recursos de trabalho, que em algumas profissões, como a de jornalista são cadeira, scanner,internet e mapa urbano , os profissionais de sexo têm "guarda-roupa de batalha", gel lubrificante, preservativo masculino ou feminino, cartões de visita, papel higiênico e lenços umidecidos (sic).
Preconceitos à parte, enquanto um jornalista tem que demonstrar competência em conhecimento do idioma, um profissional do sexo tem que demonstrar capacidade de expressão gestual? Por mais que a gente tenha boa vontade com a associação de apoio aos profissionais do sexo que respondeu ao questionário, incluir a "ocupação" ao lado de categorias profissionais regulamentadas é uma vergonha. Outro vexame é termos uma atividade marginal que lista como instrumento de ofício papel higiênico. Pior que tudo é termos um Ministério do Trabalho que lista "ocupações". E que reconhece que o mercado informal de trabalho é maior do que o formal.
Se querem dar respeitabilidade ao comércio dos corpos, que regulamentem a atividade, ora! Incluir numa relação, definindo atribuições vagas e falsas (planejamento de futuro, que balela), não garante aposentadoria para ninguém. E para cada celebrada Bruna Surfistinha há milhares de mulheres desconhecidas, pobres, precocemente envelhecidas, exploradas por cafetões, "batalhando" nas calçadas próximas a hotéis decadentes.