30.12.05


Amo fogos de artifício, detesto cabeça-de-negro! E adoro desejar um bom ano novo com praias de águas calmas, marolas só pra não perder a graça, mergulhos restauradores da fé na vida, areias fininhas pra gente caminhar suavemente, alegremente, sem se afundar.
Então, que neste ano novo todos possam se maravilhar com fogos que iluminam a noite e sonhar de olhos bem abertos.
E beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo-beijo

para Sonia, Paulo Thiago, Lívia, Paulinha, Cynthia, Marília, Affonso, Marcelo, Eduardo e as Graças, com destaque para Marina, a leitora-padrão dessas arenas, além de todos os anônimos que me deixam intrigada com a assiduidade em suas visitas nas quais sempre se mantêm incógnitos. Manifestem-se, saiam da obscuridade, soltem a franga em 2006!!!!

26.12.05

Natal sempre foi uma festa estranha para mim, menina que não acreditava em Papai Noel por conta de pais intelectualizados e temerosos do trauma da frustração pela descoberta da não-existência de figuras mágicas. Mais esquisito que esses pais vanguardistas era ter uma família que se reunia para almoços de Natal, não para ceias, hábito iniciado quando minha avó foi morar em uma casa geriátrica por desejo próprios (uma família estranhíssima, já disse) e precisava participar da festa natalina com as companheiras de dia-a-dia.
Eu queria Natal com árvore enfeitada, casa toda macaqueada. Faço isso todos os anos. Meus filhos acreditaram em Papai Noel e coelhinho da Páscoa, até na Fada dos Dentes. O ideal hollywoodiano do White Christmas (sou mais o de Dickens, no belo "Conto de Natal") é tão forte que um Natal foi a minha referência para os parágrafos iniciais de minha tentativa de romance "Novela Familiar", ainda não terminada.
Seguem aí os ditos parágrafos, que são precedidos por um outro, que nada tem a ver com o Natal.

"Minha família se definia por esses silêncios constrangidos. Era uma falta de intimidade desconfortável. Nunca se imaginava que nos amássemos. Não havia beijos estalados, abraços apertados, beliscões na bunda das crianças, cosquinhas. Só cantávamos juntos “Parabéns para você”. Até as brigas eram arroubos, desabafos, a verdade que saia vomitada, depois de comprimida, sufocada. O carinho com as crianças pequenas era comedido. Na verdade, poucos tinham ou exibiam seus bebês. Éramos aristocráticos. Sem grandes recursos financeiros, mas nobres.
As festas constituíam suplícios que cumpríamos com o estoicismo dos ateus em missas de sétimo dia. Jantares de Natal ou aniversário se resolviam em três, quatro horas no máximo. Enquanto todos os cristãos se reuniam para a ceia natalina, nós fazíamos um almoço na véspera do Natal. Lá pelas seis da tarde partíamos, aliviados, cada qual para sua casa ou para festas de amigos ou de parentes “do outro lado”. Duas tradições eram mantidas nesses Natais. Quando havia crianças, os presentes eram deixados dentro de um saco vermelho, na porta, por um Papai Noel que não se via. E eu roubava rabanadas, passando para minha mãe, meu afilhado ou meu padrinho, antes do início da refeição principal. Vovó Antonina e Tia Gertrudes, as coordenadoras dos eventos, ficavam furiosas com a transgressão cometida por mim todos os anos, a fim de me assegurar que pertencia a uma família normal, daquelas que cultuam piadinhas e risadas cúmplices."

Não, minha avó não se chamava Antonina, nem tenho uma tia Gertrudes. Mas o Natal era assim mesmo. Algo que deixava apenas a sensação do dever cumprido.

A meus filhos, meu desejo de Natal é que vivenciem amores intensos, quebrem barreiras, fronteiras, o gelo da alma intimidada pelo pavor do desconhecido.
E que esses amores não se expliquem, apenas existam, cresçam, se frutifiquem, arriscando tudo para que se eternizem e banalizem a dor de enfrentar o mundo.

Então foi Natal


(Li em algum lugar do passado que a roupa de Papai Noel, como a concebemos atualmente, veio de um anúncio da Coca-Cola. Antes, São Nicolau usava vestes longas, medievais, e verdes. E, embora bondoso, era um senhor menos folgazão, com um aspecto mais vetusto. Hoje estou anacrônica como o Natal hollywoodiano, branco, nevado, esquentado pelas lareiras do amor familiar. Aqui, a família fica de bermudas, troca presentes, se empanturra de rabanadas e bacalhau e inclui até os parentes pagãos... O calor de minha família escolhida me trouxe um Natal muito maior do que os que experimentei com parentes de sangue ao longo de tantos anos. Graças ao Eduardo e aos Graça).
Três imagens ótimas: Criança sapeca, Papai Noel surpreendido assaltando a geladeira e coca-cola light, minha bebida natalina! Vamos fingir que esta aí era light...

21.12.05

Admirável Mundo Novo da Gamboa


Minhas andanças atuais me levam a percorrer ruas antigas de bairros pobres, com casas centenárias em permanente risco de desabamento. Os carros têm cores que não se restringem aos tons metálicos preferidos por quem adquire modelos modernos - são magenta, azul turquesa, marrons feiosos, com crateras de ferrugem na lataria e peças que se mantêm agarradas à estrutura por singelas amarrações com barbantes.
Nessas ruas estreitas de pavimentação irregular, o capim brota exuberante nas calçadas que nunca conheceram pedras portuguesas, por onde passeia gente de pele escura, dourada no sol da labuta, cabelos compridos e encaracolados. Pessoas acostumadas a mostrar generosamente pedaços do corpo, sem importar se estão em forma. Um despudor alegre de roupas colantes que tapam pouco de pernas e braços. Seios pulam nos decotes inadequados às dimensões dos bustos fartos, pêlos em evidência sob camisas abertas para arejar o calor e deixar escorrer sem recato o suor provocado pelo clima perenemente abafado e úmido desses lugares.
As crianças são diferentes dos adultos. Também vestem-se modesta e exiguamente, mas as meninas têm cabelos caprichosamente arrumados em cachos arrematados por elásticos e prendedores coloridos. Os meninos, de canelas finas e compridas, jamais vestem camisas. A pele brilha, quando eles pulam alegremente, atrás de bolas murchas, em terrenos secos e poeirentos.
Até os cães são diferentes dos que conheço. Vira-latas usam coleiras e são conhecidos pela vizinhança. Não há cão de raça.
Em frente ao casario destelhado, homens e mulheres de cabeças brancas sentam-se em cadeiras de plástico. Acompanham a passagem dos carros que começam a trilhar aqueles caminhos. Entre os velhos, há mais gente de tez clara, muitos portugueses.
Durante o dia, as ruas têm vivacidade, mesmo nos becos de galpões imensos, antigos entrepostos de carga, fábricas, todos desativados. Caminhões ultrapassam os sinais de trânsito, que apenas os novatos na área respeitam. Os armazéns de esquina servem para guardar material de construção ou escondem oficinas clandestinas, sem placa indicativa, sem impostos recolhidos. Nos bares aos pedaços, quem pede informações timidamente é acolhido calorosamente pelo povo ruidoso e simpático. Numa esquina, uma loja com placa vende vasos, fontes e canteiros, além de estátuas em estilo grego-romano para jardins. Num muro, o aviso: "À 100m lava-jatos". Na outra esquina, uma plaquinha na árvore, com seta indica o local do lava-jato, um homem sem camisa, que usa uma mangueira para limpar carros.
À noite, os recantos tornam-se sombrios, tenebrosos, perigosos na quase total escuridão.
Um dia, há mais de 100 anos, ali foi um lugar pulsante, onde as pessoas conviviam em semi-escuridão pré-luz elétrica. Este imenso grotão de pobreza e decadência faz parte de minha cidade, muito embora eu tentasse não reconhecer como minhas as calçadas esquecidas pelas quais caminha um povo barulhento, de hábitos, alimentação e perfumes tão diversos dos meus, tão fascinantes para mim.
* A foto de Augusto Malta mostra o finado Morro do Castelo. Mas as construções da Gamboa são iguaizinhas, entremeadas por modernos edifícios de pilotis e pastilhinhas feiosas.

19.12.05

Sina


Casa empoeirada
Reforma interminável
Peso insuportável
Bronquite
Computador que nunca funciona perfeitamente
Ventiladores que nunca funcionam perfeitamente
Campainha que nunca funcionou
Papéis por todo canto
Cansaço perene

16.12.05

Espírito natalino


Será que alguém vai perceber que isso é uma guirlanda natalina? Meu espírito de Natal (ou seja, espírito comercial inventado pelo capitalismo e cristalizado pelo cinema americano) está em baixa este ano. A casa em obras intermináveis não permite a montagem da árvore e de toda a papagaiada que eu costumo pendurar por tudo quanto é canto. Só recebo cartões virtuais de boas festas, meu bom humor já era, a pressão subiu e o calor promete.
Alguém botou uma rena de pelúcia na minha escrivaninha, não vou participar de nenhum amigo oculto, sinto enjôo e dor-de-cabeça por causa das tintas e lá vem minha paranóia de fim de ano:
1. Preciso enfrentar um shopping para trocar um livro.
2. Preciso ir ao banco, com o maior cuidado pra não ser assaltada na saidinha de banco.
3. O trânsito vai piorar
4. Meu carro pifou, mas este inferno astral atrasado que tem me assolado nos últimos meses um dia passa
5. A poeira que cobre animais, plantas, móveis e seres humanos desta casa um dia há de se acabar também
6. Vai ser um inferno viajar no Natal
7. Vai ser um inferno circular pelo Rio no Réveillon
8. Escaparei novamente das listinhas do carteiro, lixeiro e entregador de jornais (não tenho mais assinatura, é muita cara dura querer que eu dê gorgeta, não?)
9. Uma mísera rabanada tem 300 calorias, adoro bacalhau com farofa e não posso comer nada porque entrei realmente em dieta para redução de peso.
10. Depois do movimento de fim de ano, vem o verão, as férias, e o show dos Stones, pra me deixar paranóica antes do tempo.
11. Envelheci mesmo.

15.12.05

Adorável Vagabundo


Depois de brindar ilustre público leitor com a biografia do Chico Buarque e o policial bitter-sweet "Doce Lar", Regina Zappa lançou ontem "Adorável Vagabundo". Nesta suculenta reportagem, Regina conta episódios hilariantes da trajetória do nosso malandro favorito.
(Confinada em redação, não consegui chegar a tempo na noite de autógrafos, mas fui dar um beijo em Regina num restaurante na Cobal do Leblon. Parecia set de filme do Carvana, de tanto artista figurinha fácil nas criações dele...)
Dois livros novos na praça, escudada por uma família amorosa, com uma penca de projetos a serem executados em 2006, Regina tinha tudo pra ficar metida. Mas quem fica são os amigos que têm a felicidade de contar com sua experiência, alegria e doçura.

Dia esquisitinho

Dia estranho. Tinha planejado ir ao Rio Sul trocar um livro e passar nos bancos pra fazer pagamentos, mas li que lá agora tinha assalto e só depois soube que era tudo armação de uma falsária pra ganhar seguro do shopping. E no mesmo dia teve um princípio de incêncio e me lembrei de quando trabalhava na Torre e tínhamos que descer correndo aquela montoeira de degraus, sem saber se era treinamento para evacuação ou se havia algum problema pra valer. Na época do atentado no WTC a todo instante a administração da Torre inventava de fazer treinamento. Uma vez todos descemos, eu já era craque, ouvia a buzina e pegava a bolsa automaticamente e seguia pras escadas, só que uma colega, a Fernanda, estava no banheiro. Quando ela saiu deve ter se sentido num episódio de "Além da Imaginação", não havia ninguém no escritório, silêncio absoluto e as portas trancadas. Ao percebermos que ela ficara lá em cima, o pânico instaurou-se. Pelo celular, eu a aconselhava a pegar uma máquina de escrever e jogar na vidraça da entrada para sair do escritório, uma colega teve um ataque de pânico, sentada no meio-fio, a secretária, sentindo-se responsável por haver trancado a Fernanda, galgou os 12 andares até o escritório, seguida por um bombeiro e libertou a cativa.
Eu pensava nisso tudo, dirigindo meu carrinho que estava totalmente às escuras, sem qualquer iluminação própria, exceto a luz de freio e o pisca alerta, pelo Santo Cristo e Gamboa, imaginando se deveria subir numa ladeira antes da que leva ao estacionamento do Jornal do Commércio. A primeira ladeirinha é menos íngrime, mas segui no piloto automático até a outra, observando um edifício horroroso que destoa do casario aos pedaços da Rua do Livramento e... na ladeira do jornal, fui recepcionada por um carro de polícia. Imaginei confusão com o pessoal do Morro da Providência, mas não, era algo bem menos habitual que troca de tiros entre traficantes e policiais: um caminhão que levava bobinas pro jornal tombou em plena ladeira. Tive que dar uma tremenda volta pela Gamboa, praça da Harmonia e adjacências antes de subir pela primeira ladeira e chegar a uma ruazinha linda, parecia Santa Teresa, velhinhos com cadeiras na calçada. Entoava mentalmente "Gente humilde" quando me deparei com um tremendo buraco da Cedae, sendo escanhoado por uma equipe de seis homens, que serviram de sinalizadores para minha passagem sobre a calçada. Definitivamente, um dia muito estranho.

E a obra? Continua empoeirando minha vida.

13.12.05


E daqui a pouquinho, ele estará vindo assim!

Meu menino quebrou três dedos do pé e está caminhando de muletas, tadinho...

12.12.05

Era só o que faltava


Inventaram protetor solar para cachorros e gatos.
Ignorante que sou, imaginava que cães e bichanos tivessem pêlos o suficientemente expessos para protegê-los das intempéries.
A divulgação manda release informando que "com a pele mais sensível do que a dos humanos, cães e gatos precisam de atenção especial no verão." E prossegue: a exposição ao sol pode tornar os pêlos secos e quebradiços, além de correrem o risco de alterações na coloração. Sem o filtro solar, a pele dos animais pode ficar ressecada e suscetível às doenças.
O release tem até aspas de uma veterinária explicando que a pele dos animais é muito fininha e que, por isso, eles têm risco de desenvolver doenças como câncer de pele. O protetor solar, de sabor amargo para que os gatos não o retirem com lambidas, é indicado até para os animais que não freqüentam praia ou sítio (o grifo é meu). Ué, e eu que pensava que fosse proibida a freqüência de outros mamíferos que não o homem nas praias...
E vamos à explicação da veterinária: “Gatos gostam de tomar sol em cima dos telhados ou perto da janela, cães também deitam-se ao sol, às vezes até de barriga para cima. Eles precisam de proteção solar diária, de preferência 30 minutos antes da exposição ao sol”. E mais: a empresa vende ainda óculos de sol para animais, que protegem olhos e pálpebras contra a radiação solar, e previne doenças como a catarata ou inflamações causada por ciscos, areia, corpos estranhos etc. Específico para cães que andam de carro com a cabeça para fora da janela podem ter os olhos irritados e ressecados.
Coitados dos bichinhos...

Direto da frente de batalha


Choveu terrivelmente em São Sebastião e nas cercanias, o que impediu a chegada de Vanúzia a tempo. O interfone ficou mudo. As novas tintas chegaram, uma força tarefa de pintores ataca a sala, depois que embalei todas as quinquilharias que enfeitam minhas estantes, atualmente uma montanha de prateleiras dispostas na varanda. As plantas foram levadas para o jardinzinho de inverno do edifício. A CEG escolheu justo hoje para fazer a conversão de fogão e aquecedor para gás natural. Um dos pintores quebrou um lustre. A nós resta lanchar, tomar banho frio e torcer para que a pintura acabe até o fim da semana.

11.12.05

Os 15 personagens mais ricos

A gracinha é da Forbes

1. Papai Noel
2. Oliver "Daddy" Warbucks (o pai de Annie, a Pequena Órfã)
3. Riquinho
4 . Lex Luthor
5. C.Montgomery Burns
6. Tio Patinhas
7. Jed Clampett (da Família Buscapé)
8. Bruce Wayne
9. Thurston Howell III (de Gilligan's Island)
10. Willy Wonka
11. Arthur Bach (do filme Arthur, com Dudley Moore)
12.Ebenezer Scrooge
13. Lara Croft
14. Cruella De Vil
15. Lucius Malfoy

A vida dos outros

Uma amiga diz que não lê qualquer blog porque não tem curiosidade pela vida alheia. Compreendo, porém, nesta época de falta de tempo pela correria do cotidiano, o blog é uma das maneiras mais práticas de sabermos da vida de quem está longe - mesmo que esta distância seja a dois ou três quilômetros numa metrópole.
Outra amiga participava da conversa e disse que sabia de todas as etapas de minha obra pela leitura do Arenas.
A verdade é que os blogs nos deram o direito de bisbilhotar a vida dos outros. Costumo visitar alguns de gente que não conheço realmente, mas das quais acompanho as aventuras. O mesmo parece que ocorre comigo. Botei aquele marcador geográfico de entradas e vi que tenho leitores nos EUA, América Latina, Brasil (ainda bem, né?), Europa e até na Oceania...
Minha curiosidade só é menor do que a das gatas lá de casa, que vivem bisbilhotando minhas gavetas ou o que chega de novidade em casa. No momento, estão intratáveis, já que não compreendem por que os móveis se acumulam no meio da sala, o que aconteceu com as estantes de livros, desmotadas na sala de música, a varandinha abrigando as gaiolas e o viveiro dos pássaros e o desaparecimento de todos os vasos de plantas da varandona. Não podem entrar no quarto de Hugo nem no de Júlia, que têm livros por todos os cantos. Então, resmungam e ficam nos rondando, desorientadas.
Intrigante como este tipo de acontecimento não importa para a maioria dos meus amigos próximos, nem para meus filhos. Aliás, compreendo o desinteresse dos filhos pelos escritos dos pais. Eu também não gostava de ler o que meu pai escrevia, exceto quando era para jornal. Suas literatices me incomodavam, porque ali parecia estar o homem real (só pra compensar, minha mãe vivia lendo escondido meu diário, até que passei a chave em tudo que tinha, para garantir minha privacidade), um ser desconhecido, não o pai, outra figura. Esse outro homem não me servia. Deve ser difícil para os filhos de artistas encontrarem o pai no meio da produção artística.
Nesta sociedade sem meio de exposição, os blogs me fascinam. Tem gente que se mostra para mim e eu jamais vou conhecê-las, porque custo a ter coragem de me identificar como leitora. É meio como ficar olhando o interior dos apartamentos à beira-mar, minha diversão favorita quando estou passando de ônibus ou de carro. Adoro ver a decoração das casas e imaginar como vivem aquelas pessoas.
Engraçado é que o autobiografia da Danuza Leão encabeça as listas de best sellers. Nos blogs leio detalhes da vida ao vivo.

9.12.05


O melhor da obra: três horas de musculação, trocando 3 mil volumes de livros de lugar. Esvaziei cinco estantes da sala. Outras são fechadas com vidro, felizmente! Mas nelas há uns 600 livros no máximo. O pior foi invadir os quartos das crianças para guardar os livros empilhados.
Ah, tem os DVDs também. E um monte de fitas de vídeo, que guardo, embora não veja mais vídeo. Já dei um bocado delas. Falta passar alguns filmes caseiros (dois ou três) com os meninos pequenininhos, lindos, pra DVD. E me desapegar das fitas do "Terceiro Homem", "Hair" (não encontro em DVD nenhum dos dois). Os CDs foram guardados, as plantas distribuídas pelo prédio.
As gatas estão indóceis, furiosas com tanta azáfama. Me seguem pela casa, com olhares acusadores, quando não tentam subir em meu colo, me arranhando.
E me vem à lembrança uma cena da "Guerra dos Mundos" do Spielberg que me fez gostar do filme (logo eu, que me angustio com esses temas): a família foge, de carro, e, pela janela, vislumbram uma pessoa empurrando um carrinho de supermercado coalhado de livros.
Acaba de ser descoberta nova - mas pequena - infiltração.
Chega o momento que atormenta qualquer proprietário de casa em obras: será que um dia isso acabará? Será que um dia eu voltarei a respirar?
Quando precisavam pintar o apartamento, meus pais chamavam sempre um pintor, o seu José. porque, com ele, como Papai costumava dizer, a casa não parecia estar em obras. Para mim, havia uma nítida diferença entre pintura de paredes e reforma do apartamento - época que exigia meu asilo na casa de parentes ou amigos. Obra significava cimento, areia e poeirada, claro! Mas a pintura de seu José só se percebia quando ele surgia, completamente coberto pela tinta que respingava em sua pele negra. Seu José reunia todos os móveis do cômodo no centro do aposento. Cobria tudo e não deixava no chão, nem um pingo de tinta. Um artífice.
Para encontrá-lo, era necessário mandar um telegrama, já que ele não tinha telefone nem vizinhos. Calado, misturava as tintas, e ia em frente.
Um dia, seu José foi pintar a fachada de uma casa em São Conrado e caiu do andaime dentro da piscina. Machucou-se seriamente, ficou hospitalizado por muito tempo. Quando voltou, entrou para uma igreja evangélica. Continuou discreto, mas passou a pregar a palavra de Deus.
Fui conhecer a dura realidade de uma grande reforma quando me mudei para a São Clemente e comandei a construção de um banheiro, a reestruturação de dois outros e a abertura de uma varanda. No meio da obra, engravidei. Morávamos, os cinco (Artur, Oto, Hugo bebê, eu e o pai dos meninos) num dos quartos. Descobri que existia poeira cinzenta (de cimento), amarela (de reboco velho) e vermelha (de tijolos velhos), além da branca, causada pela raspagem das paredes. A obra acabou no dia 24 de novembro, véspera do nascimento de Júlia. Só pudemos entrar na casa, eu e ela, duas semanas depois, por proibição do pediatra.
A atual reforma, que deve durar mais uns dez dias, quem sabe, começou com a infiltração do corredor, aquela que foi coberta pelo poster do Indiana Jones desde março. Agora, quando retomamos os trabalhos, havia nova infiltração, na área de serviço e outra, antiqüíssima, na parede da sala.
Decisão tomada: arrumar a parede da sala, consertar bicas que pingavam, secar as infiltrações.
Orçamento fechado, tudo certo.
Aí, pintei uma parede da sala, ficou linda, fez um tremendo contraste com as demais. Então, resolvi pintar as duas salas, as duas varandas, o corredor, os portais e as portas.
Orçamento fechado, tudo certo.
Bem, só ficará faltando pintar dois quartos - o de Júlia tem papel de parede. Será que o orçamento será estendido?
Tomara que a casa fique linda logo, antes que eu morra de asma.

7.12.05

Malandrices


Filha: Posso faltar ao inglês hoje?
Mãe: Não.
Filha: Por quê?
Mãe: Porque eu pago uma fortuna pela sua educação etc e tal etc e tal etc e tal.
Filha: Eu não vou!
Mãe: Vai!
Filha: Não vou!
Mãe: Você está me desafiando?
Etc e tal etc e tal etc e tal.
Toca novamente o telefone.
Filha: Mamãe, me lembrei que hoje é terça-feira, minhas aulas são segundas e quartas.
Mãe: Então, acabou o problema, né, filhota? Vamos ficar as duas satisfeitas: você porque não tem aula, eu porque você não vai faltar a aula!
Filha: Mamãe...
Mãe: Sim, minha vida?
Filha: Posso faltar amanhã?

4.12.05

Esse estranho poder II


The Full Monty exerce sobre mim o mesmo poder que Moulin Rouge: simplesmente preciso rever sempre que topo com ele na TV. E quem tem TV a cabo sabe que tudo é repetido à exaustão. Vez por outra, surgem os peladões de Sheffield, que vi pela primeira vez num sábado de carnaval, no São Luís - e amei! O que me encantou foi a maneira tratar com leveza e bom humor um tema amargo - o desemprego. Aquele velho charme do cinema britânico que tanto me agrada.

3.12.05

Homens trabalhando

Tenho poeira sobre todos os poros, em cada célula, na ponta de cada cílio. Devo confessar: gosto de obras. Elas me estimulam a recomeçar em vez de desanimar frente às renovações constantes que minha casa exije.
Então, a cada espirro, a cada coceira no fundo da garganta, a cada dose de anti-histamínico/alérgico-corticóide-descongestionante, penso em minha parede recoberta por cimento e a encaro como um antidesesperante. Por causa das reformas, sinto-me sempre no limiar de uma nova aventura

1.12.05


Que calor!!!!
Agora que sou Brigitte, dá bem vontade de viver trajada a caráter!
Até as 14h, sobrevivemos a um conto do vigário ou assalto em casa.
Um vigarista entrou no prédio dizendo que ia verificar canalização em busca de infiltrações. Ainda bem que Vanúzia é sagaz e me ligou para confirmar se eu havia tratado alguma coisa com o cara, que saiu furibundo quando ela se recusou a permitir sua entrada. Então, foi para outro apartamento, onde desmontou uma torneira, em busca de falsos vazamentos, levando 200 reais de uma vizinha, dizendo que compraria material para o conserto. Não voltou.
Na rua, Vanúzia viu dois motoqueiros arrebentarem a janela de um carro e levar a bolsa de uma mulher. Semana passada, dei carona de táxi a uma senhora que acabara de ser assaltada com arma em punho, ao sair do banco. Ontem, um ônibus foi incendiado por bandidos sem qualquer motivo aparente, num dos atos mais bestas entre as muitas selvagerias que esta cidade já aturou.
Não dá vontade de voltar no tempo áureo de BB reinando no imaginário masculino? Bem que disseram que os golpes do rapaz retratado por Leonardo DiCaprio em "Catch me if you can" só deram certo porque era a década de 60, uma época em que as pessoas confiavam nas outras. Como seria bom confiar nos outros e fazer um striking de protesto!