29.8.05

Hora do Rush

... e não posso ir para casa. O tiroteio come solto no alto do Santa Marta. Não sei como está o trânsito e quando irei para Botafogo.
Vive no Rio, vive!

Uma saga felina



É nisso que dá ter nascido no dia de São Francisco de Assis. Passei um fim de semana felino. Promovi a adoção de duas gatas de rua. Meu objetivo original era me livrar de duas de minhas gatas, a Bela, a mais nova e a Gal, a mais chata. Bela iria para o porteiro. Gal, para Mara, uma conhecida que estava louca por uma fêmea para “casar” com seu gatinho.
Júlia, que havia caído em minha proposta de trocar Bela por um celular, depois de haver prometido ao porteiro que entregaria a gatinha no domingo, passou o sábado à tarde com cara de infelicidade suprema, daquelas que fazem qualquer mãe fraquejar e jogar para longe os princípios da palavra de honra e da sanidade mental. Então, me veio a engenhosa idéia de arranjar outra gatinha para o porteiro.
Liguei para Miriam, gateira que nos havia conseguido a Bela, que tinha outra gatinha, miudinha, bonitinha, parecia cruza de sapo com gato, olhos imensos e castanhos, muito estranhos... Apresentamos Miudinha ao porteiro que não se mostrou muito animado com a troca de bichanas. Uma nova idéia surgiu como um clarão em minha mente: doar a gatinha desprezada para Beto, namorado de Maria, a babá que me criou.
Seguimos para o botequim que o Beto tem no Largo do Machado. Lá, expus minha teoria de que todo o boteco carioca deveria manter um gato para evitar roedores e insetos, o que Beto afiançou, não existem em seu bar. Maria ficou resmungand, mas Beto aceitou a gatinha, que se acomodou numa gavetinha embaixo do balcão. Eu e Júlia partimos, então, para o Campo de Santana, decididas a encontrar outra gata para o porteiro. Isso tudo carregando Bela numa mochilinha apropriada para o transporte de animaizinhos. Por que a Bela estava conosco, não tenho a menor idéia.
Naturalmente, quando o impulso surgiu eu nem me lembrei que eram duas horas de uma tarde gloriosamente quente do inverno carioca, que eu calçava sandálias de salto anabela, totalmente inadequadas para incursões em parques ou o quanto é cansativo percorrer o Campo de Santana em sua totalidade por três a quatro vezes. Encontramos nossa amiga gateira, Miriam, que nos ajudou a pegar uma bichana “pré-adolescente”, branca com máscara negra nos olhos. Do Campo de Santana, fomos ao supermercado, para comprinhas urgentes. A gatinha ficou dormindo no carro. Bela miava, irritada com a demora do passeio.
Fizemos as compras, chegamos em casa para descarregar e dar a nova gatinha para o porteiro que, constrangido, disse que não queria aquela, não. Ele queria era a Bela. Mas a Bela... bem, largamos Bela e as compras em casa, rumando de volta para o bar do Beto, onde a primeira gatinha, a Miudinha, comia galinha, arroz, batatas e ervilhas, que a Mascarada logo atacou também. Maria acionou Mara por telefone e pediu que aguardássemos sua chegada, pois temia que abandonássemos duas gatas no bar. O jeito para nos livrarmos da população felina foi nos integrarmos ao ambiente, fingindo uma surdez aristocrática para os cabeludos palavrões bradados por um botafoguense, visivelmente embriagado, a cada gol de seu time ou do Corinthians, que passava na televisão. Maria providenciou alimentação para a Mascarada, enquanto aguardávamos a chegada de Mara, que se apaixonou pelas duas gatinhas. Mal Mara havia se decidido a carregar a Mascarada, um homem puxou conversa comigo sobre a Miudinha. Eu falei que estávamos dando e ele, prontamente, chamou a mulher e a filha que se encantaram pela miúda e... num instante, estávamos sem as duas gatas!
Bom seria se eu conseguisse reduzir a população animal lá de casa também. Mas Júlia acaba de me telefonar entusiasmadíssima. Um dos três ovinhos que minha agaporne chocava se rompeu. Temos um novo bebê na casa.

Caminhada virtual e pesquisa

É pra entrar lá!!!!!

27.8.05

Adoções politicamente corretas


Ainda não destaquei para minha meia dúzia de leitores fiéis os banners e links politicamente corretos deste blog. Além do "Make poverty History" e do combate à pedofilia na Internet - que estão em banners, há um link novo, o Adote um Gatinho.
Combater a miséria é dever de todos nós, claro, e pode ser exercido das mais diferentes formas. Com nossa tradição de país católico/espírita, temos o hábito da caridade e diversas maneiras de trabalharmos para minimizar as péssimas condições de vida da maioria de nossa população.
O combate à pedofilia é dever de todo ser humano normal. Mãe de quatro jovens, sei bem o quanto estão expostos aos maníacos pela Web. Minha filhota, mal abriu um flog, foi imediatamente bombardeada por mensagens de adultos, saudando sua entrada na rede. Tanto ela quanto meus meninos sabem que devem se acautelar quanto a desconhecidos que surgem em jogos interativos cheios de amizade a oferecer. É assustador como essas pessoas estão prontas a se aproximar de crianças.
O link felino - O ditado "Quem tem um gato não tem só um" é comprovado aqui em casa. No princípio, veio a Mel, uma experiência tão maravilhosa que, ao chegarmos de uma viagem e a encontrarmos muito jururu, decidi arrumar-lhe companhia. Veio a Sol, que era linda, mas não gostava de mim. Depois, chegou Gal, batizada antes de, no primeiro cio, nos provar que era uma legítima xará da cantora miando tão aguda e estridentemente quanto a guitarra de Armandinho no "Meu nome é Gal". Passou-se um tempo, as duas crescendo, pegamos Jolie. E ia ficar por aí até entrar a Luz, uma pretinha de patinhas brancas que adoeceu, me fez gastar uma baba de veterinário, sarou e fugiu, a finada Pérola (não dou sorte com gatas negras) e para eu pagar todos os meus pecados, a Bela, uma sialata de olhinhos azuis.
Mais gatinhas aqui nem pensar. No entanto, depois de eu tentar dar Bela para a mãe de meu porteiro e de Júlia chorar desesperadamente, estamos hospedando Sardinha, uma miudinha que, se tudo der certo, irá com o porteiro amanhã. Aproveito, então, para informar a quem está querendo um bichinho de estimação, que há muitos gatinhos abandonados nas praças cariocas e que diversos voluntários os recolhem para repassar a quem estiver interessado numa adoção de felinos. Ninguém precisa ser como eu, claro, mas é só visitar o site e cair de paixão pelos olhos azuis, amarelos e verdinhos também.

26.8.05

Mamografia



Depois de muito postergar, tomei coragem de enfrentar uma mamografia, pensando na máxima de muitas senhoras d’antanho: como mulher sofre. Enquanto aguardava o resultado das chapas – que, logicamente ficaram ruins e tiveram de ser refeitas -, refleti que a medicina privilegia o tratamento aos homens, exceto ao exigir que tenham a dignidade abalada quando se submetem ao exame de próstata. Tudo besteira, homens e mulheres são massa de modelar quando viram pacientes. A primeira providência em um hospital é nos vestir com uma bata horrenda, de florzinhas ou listinhas, aberta atrás e enfiar um soro na veia. Jesus, Maria e José, por que médico ama ligar-nos a um frasco de cloreto de sódio, o que nos obriga a caminhar à la Estátua da Liberdade em modelito micro e mais arejado?
Felizmente, fui apenas fazer mamografia, o que deveria ser um exame rotineiro para maiores de 40 anos, mas o incômodo de suportar a pressão daquela máquina sobre o que já alimentou literalmente quatro bocas me levou a fugir do mamógrafo por dois anos. Um erro, eu sei. O que torna mais penosa ainda a espera pelo resultado.
A sala de espera da clínica de mamografia é um dos ambientes mais tensos que conheço. Só tem coroa, umas poucas jovens que vão fazer ultrassom. Nesta clínica, em particular, nunca aparece uma grávida. E, vez por outra, tem um homem acompanhando a mulher. Sempre preocupado e mal humorado. Se fosse uma clínica de exames de próstata provavelmente haveria um monte de mulheres acompanhando os maridos, irmãos, filhos, namorados. Porque homem não vai a médico sozinho.
A solidão feminina nas salas de espera é sufocante, é pesada. Mulheres desconhecidas geralmente têm assunto. Tornam-se íntimas, contam suas vidas umas para as outras. Não no consultório de mamógrafo. Todas parecem apreensivas com o que pode ser descoberto ali. Saindo, peguei o metrô, caminhando lépida. Um casal de velhinhos entra no vagão, guardo o lugar para a senhora, o marido senta-se ao lado, resmungando. Maior que a solidão feminina nas salas de espera de consultórios médicos só a dos casamentos longos e insuportáveis.

25.8.05

Inveja...


Mariana, minha doce estagiária vem confirmar notícia importante: Diane Keaton e Keanu Reeves estão namorando. Saiu num dos concorrentes, o blog Garota Carioca, cheio de comentários semelhantes aos do mulherio daqui: "Ué, ele não é gay?", "Ah, eu acho ele muito sem sal", "Uh, ele é lindo!", "Um tremendo canastrão", "Ué, o Giane e a Gabi também têm uma tremenda diferença de idade e estão super-bem!"
Marketing, paixão, seja o que for, um final bem melhor do que largar o meninão em Paris pelo balofo velhote do Jack Nicholson...

24.8.05

Depois da tempestade

A ressaca ainda não passou. Fui trabalhar no dia seguinte ao pavor, para, no outro, desabar no terapeuta, que me mandou ficar no ex-sacrossanto recinto de meu lar, transfigurado em sucursal de Bangu III.
Tem tanta tranca em porta, agora, que me sinto uma carcereira.
A verdade é que havia apenas uma porta com chave - a da rua. As demais, incluindo as dos banheiros, eram livres para serem abertas por qualquer um. Partia do raciocínio que se a porta estava fechada, a gente dá umas batidinhas, ouve um "que é?" - são crianças do Terceiro Milênio, mal educadas por pais culpados e tratados com extrema severidade pelos avós pós-Segunda Guerra Mundial - e entra.
Também não ligava muito para as grades nas janelas, nem acreditava na necessidade da presença de um porteiro desligado na portaria. Minhas certezas ruíram e cumpro à risca o ditado: depois de arrombada a porta, instalo o ferrolho. É assim o ditado? Sei lá, mas é parecido,
Chamo corretores que avaliam o apartamento, visito um cubículo em frente de casa, com piscina, sauna seca, bar, salão de festas, sala de ginástica, churrasqueira, tudo para compensar as diminutas dimensões aonde se espremem famílias de classe média. Não estou ainda convencida se quero trocar meus extensos domínios violados por uma caixa de fósforos cercada de encantos por todos os lados, limitadas por paredes finas e varandas de onde se acompanha a vida da vizinhança inteira.
A questão agora é "should I stay or should I go", mas meus valentes filhotes se dividem em prós e contras. Vanúzia, nossa escudeira, prefere permanecer onde já estamos. De Brasília, Artur avisa que ama Botafogo, que não quer apartamento nem em Ipanema. Júlia, passado o trauma inicial, circula pela casa tranqüilizada pela profusão de trancas, reiterando seu amor pelo lar. Hugo mostra-se tentado pela novidade de uma mudança. Oto, animado porque vai se mudar de apartamento em Brasília, ainda não tem opinião formada. Danúzia, de Rio das Ostras, é a favor.
Muitos palpites, mas quem decidirá sou eu. Veremos. A verdade é que, no impacto da intrusão, passei a notar cada detalhe de reforma que fiz, os quadros que pendurei, a decoração, a cor da parede, cada pedaço de uma peça de 13 anos que montamos aqui. Uma história que tinha mocinho, mocinha e sua extensa prole. O vilão é sempre o mesmo, um ogro que continua atazanando a existência dos que permanecem na propriedade, porque acredita ser tanto o xerife quanto o senhor feudal, que concede aos vassalos o privilégio de aqui viverem. Um mocinho se foi, houve substituições no papel, a mocinha perdeu a ingenuidade e se transformou em matrona, dois jovens audazes preferiram descobrir a vida em outras plagas. Bailes, intrigas, dor, uma morte no clã. Faltava apenas um ataque à fortaleza que tinha flancos desguarnecidos. Todas as vidas podem ser armadas como uma peça de Shakespeare...

22.8.05

Ressaca

Hoje não é um dia muito feliz. É um dia de ressaca. De ressaca carioca, mas não da boemia.
A ressaca da violência, do ultraje, do acostumar-se a ser vilipendiado, desrespeitado, ignorado.
Com outros cariocas acontece coisa pior. Eles perdem tudo: casas na enchente, filhos no tiroteio, pais atropelados. Eu só perdi a tranqüilidade, aquela sensação falsa a que me apeguei como um marsupial ao ombro da mãe. É a sensação que garantia minha permanência sobre este solo.
Chegar em casa e encontrar seu quarto revirado, seus documentos jogados, livros no chão, roupas, lenços, lingerie...
Como ele entrou? Pela janela talvez? O que levou? Até agora, só demos falta de um cofrinho de crianças e de meu título de eleitor (?).
Será uma tentativa do lobby das armas de me pressionar a votar contra o desarmamento, no plebiscito?
Será que pensam que eu conheço segredos industrais importantes para George W. Bucho?
Será que o cara desistiu ao obter apenas 10 reais em moedinhas como féria do ganho?
Será que o cara se assustou com algum barulho e caiu fora?
Ah, que bom que a gente estava na rua, que bom que as crianças estavam a salvo, que bom que nada nos aconteceu.
Na delegacia, os policiais discutiam se registravam o caso como tentativa de furto ou invasão de propriedade privada. Perícia? Pra quê se sou dura mesmo? Investigação? Ah, quem decide isso é o delegado e aí ele costuma chamar o síndico - que, aliás, nem se dignou a descer para verificar o estrago.
Agora, é trocar fechaduras, gradear ainda mais a fortaleza em que me encerro e deixar o mistério para nunca ser entendido, como alguns fatos da vida.

21.8.05

A Poesia da Maria

Numa tarde agradabilíssima, que bom foi ouvir a linda Maria Rezende dizer suas poesias com uma candura e um calor (e uma memória impressionante) cativantes.
Segue uma amostra.

No meio dos meus peitos mora o filho que eu vou ter.
O buraco que tem lá foi feito por ele em mim muito antes de chegar.
Desse buraco eu nasci.
Quando ele aparecer pra mulher que eu me tornei
é nesse buraco antigo,
bem no meio dos meus peitos,
que ele vai se encaixar.
Esse filho que vai vir faz meus dentes mais macios e ilumina o meu olhar.
Lá no fundo do buraco,
ocupando aquele espaço,
estão minhas dádivas mais raras:
as doçuras que eu cultivo,
minhas melhores palavras,
esperança armazenada esperando ele chegar.
O dia em que ele vier ocupar minha barriga
é nesse sonho vivido que ele vai se aconchegar,
até que meus peitos inchados jorrem no seu corpo novo
todo o leite abençoado que vai nos alimentar.
Desse instante eu vou viver.

Para saber mais da poesia da Maria, é só entrar em Maria da Poesia que está na lista de Blogs Amados aqui da página.

20.8.05

Ah, o poder da mídia ...

Encontro com Cesinha Tartaglia, feliz da vida com seu blog, que, em um dia teve 2 mil acessos!!!!
Meu número de visitantes em 5 meses de contagem.
Bem, se tanta gente me lesse assim, aqui, acho que acabaria me sentindo devassada.
Qualquer semelhança com "A Raposa e as Uvas" é mera coincidência.

19.8.05

Exclusivo para maiores de 40


Existe coisa mais irritante do que esta mania brasileira de chamar tudo o que é admirado pelo diminutivo? Não falo de nomes de pessoas, o que denota carinho. Mas eu odeio o jeito como se chama comida de "comidinha", vestido de "vestidinho".
Lógico que tudo depende do tom. É a forma infantilizada que me incomoda. Igual a quem vive falando com "vozinha de neném". "Fufufu", "tchuco-tchuco", "bibi", "nhenheco". AIIII!!!! Nem com meus filhos pequeninos eu falava assim - o que me rendia repreensões de todas as mães e pais que tratavam seus filhotes com mil "puques-puques" e a admiração dos mesmos e dos outros pelo excelente vocabulário empregado por minha prole (o que não quer dizer que algum tenha se tornado um aluno brilhante; só aprenderam a se expressar bem).
Minha amiga Solange é que definiu esta maneira falsamente ingênua de falar como "Voz Tilibra" - olha o merchandising!!!! Houve uma campanha dos cadernos Tilibra que trazia uma moçoila relatando o quanto o produto a acompanhara na vida, desde a escola. Vai contando tudo com a vozinha de garotinha até dizer que entrou pra faculdade, conheceu o Fulano, que, entre outras coisas a aconselhou a deixar aquele tom ridículo de voz que usava antes. Acaba o comercial e a personagem adota um tom mais adulto e, naturalmente, sem o falsete característico das velhas menininhas.
Aí, a gente bota num programa moderninho qualquer da MTV ou do Multishow em que uma estilista, ou seja, uma moça com cabelo desgrenhado, sapatos atrozes e um vestidinho de chita qualquer que custa uma fortuna numa confecçãozinha, digo, numa lojinha escondidinha do bairro chique de São Paulo ou do Rio, vai sugerir um novo visual para outra guria que se traja de com um figurino clássico para encenar "A Volta dos Mortos-Vivos 20". Então, a estilista descabelada combina um blazer roxo "super sério" (ah, sim, o "super" é superlativo que se gruda em qualquer palavra, intensificando seja lá o for) com uma saia laranja e umas sandalinhas azuis de salto alto, não se esquecendo de jogar acessórios indispensáveis, como quatro ou cinco broches de flor em cores berrantes, para complementar a fantasia de espantalho com a qual a cliente pretende se apresentar numa entrevista de emprego. Reconheço: a moda mudou e que essas peças kitsch fazem sucesso desde os anos 60, o glamour imposto pelos então chamados costureiros, como Givenchy, Chanel e Pierre Balmain dificilmente voltará, mas o que me apoquenta profundamente, mais do que o carnaval estilístico no trajar, é chamar tudo de "super" ou de "inho". E gente de mais de 30 anos falando com voz de boboca, agindo como adolescente com medo de virar adulto. Parece que esse grupo é descendente dos "tatibitati", uma forma anacrônica de classificar a fala das criancinhas, bastante empregada por jovens vendedoras de lojas de roupa ("Oiêê, meu nome é Juliana, e o seeeeu???? Nooossa, a saia balonê ficou a sua caaara") Talvez pensem que estejam soando como Marilyn Monroe interpretando a vizinha gostosona do "Pecado Mora ao Lado", mas correm o risco de ficar igual a surfista geriátrico, sempre com aquela voz arrastada, imortalizada pelo Evandro Mesquita, cheia de "éééaaaaahhhh" ao fim de cada palavra ou frase. Há que lembrar também que tanto Marilyn quanto Evandro encarnavam personagens que se mesclaram às personalidades de ambos, atendendo a demandas mercadológicas (sim, estou particularmente ranzinza hoje!).
Isto posto, confesso que adoro sapatos verdes, jamais penteio os cabelos, já usei boina, paletós masculinos, chapéus, gravatas e tudo que há de ridículo para vestir, mas sempre com uma voz firme. E daqui a pouco mais de um mês fecho os 45 minutos do meu primeiro tempo neste planeta ... então... posso ser rabugenta mesmo.

17.8.05

Concorrência Desleal

Ai, a gente tenta ser original e aí chega o capitalismo selvagem atropelando nossas modestas idéias...
Brincadeira à parte, estreou esta semana o blog Front do Rio, assinado pelo Cesinha Tartaglia e pelo Mauro Ventura. No dia de Nossa Senhora da Glória, o que me fez desejar a eles um glorioso futuro, falando sobre o meu canto favorito do planeta. Os dois são, além de gracinhas de pessoas, jornalistas brilhantemente eficientes, bem-humorados e grandes apuradores. Será, certamente, um dos melhores blogs da resistência carioca.
Linká-los aqui é muita pretensão, mas, depois de protestos de minha leitora número 1, Marina Gadelha, lá vai o link !!!! É só clicar no farolzinho do título. Depois, quem quiser ler, pode até entrar no Globo On Line, que tem alguns leitores a mais que este Arenas.

Caderno de Perguntas


Quando eu era menina, várias amigas tinham "Cadernos de Perguntas". Em cada página, uma informação confidencial: se já havia amado, se namorava, qual era a pessoa mais importante no mundo para si (sempre eram os pais), se acreditava em Deus, se temia alguma coisa, qual tipo de homem a faria perder a cabeça (é verdade, aos nove anos, para criar impacto, respondi: "Alguém que me domine", sem saber bem o que era isso), qual era o último livro que lera, filme que vira, qual era seu filme, ator, atriz, música, cantor preferidos. E por aí ia.
Agora, temos os Cadernos de Perguntas na internet. Copiei e respondi este aqui:


HÁ 10 ANOS
1. Estava me divorciando.
2. Morava provisoriamente na casa de minha mãe, com meus quatro filhos, enquanto acionava meu inquilino que não pagava aluguel.
3. Trabalhava como redatora num jornal
4. Estava apaixonada.


HÁ 5 ANOS
1. Preparava-me diariamente para a morte de minha mãe.
2. Morava com dois de meus filhos; os dois maiores haviam se mudado para a casa do pai, em outra cidade.
3. Trabalhava como assessora de imprensa de um hospital
4. Estava sofrendo a dor de perdas.

HÁ 2 ANOS
1. Estava confusa.
2. Morava com meus filhos menores; os dois maiores continuavam com o pai e só nos reuníamos nas férias.
3. Começava a trabalhar como assessora de imprensa de uma grande empresa.
4. Continuava sofrendo a dor de perdas.

HÁ 1 ANO
1. Voltei a ir à praia
2. Abri minha casa para festas.
3. Comecei a vida de internauta e webliterata
4. Comecei a me curar

ONTEM
1. Estava sonolenta de manhã e desperta à noite
2. Fiz ginástica laboral, mas só de brincadeirinha
3. Comecei a ver a novela das 8, na tentativa de me comunicar com o resto da humanidade, mas acho que continuarei isolada porque a novela é chatérrima.
4. Consegui não chorar numa despedida.


HOJE
1. Consegui fazer tudo o que planejei para a manhã.
2. Joguei na Mega-Sena
3. Escrevi um texto interessante que pode dar um bom conto/novela, seja lá o que sair.
4. Não comecei a fazer regime novamente.


AMANHÃ EU VOU
1. Comprar lentes de contato
2. Marcar médico para a família inteira - oftalmologista, dentista, gastroenterologista.
3. Conferir dever de casa da turma toda e estudar com eles.
4. Telefonar para minha madrinha, meu tio, minha tia.


CINCO COISAS SEM AS QUAIS NÃO POSSO VIVER
1. Meus filhos.
2. Literatura.
3. Meus amigos
4. Praia
5. Música

CINCO COISAS QUE EU COMPRARIA COM MIL DÓLARES
1. Alguns DVDs
2. Muuuuuuuuuitos livros.
3. Roupas pra molecada.
4. Uma cama nova pro Hugo
5. Um armário pra Júlia

CINCO MAUS HÁBITOS
1. Acreditar que o salário é suficiente para meus gastos
2. Postergar o início de caminhadas diárias
3. Postergar o início de dietas
4. Falar antes de pensar.
5. Acreditar que posso e devo resolver os problemas de boa parte da humanidade

CINCO PROGRAMAS DE TV
1. "Lost"
2. "Desperate Housewives"
3. "Changing Rooms"
4. "Gilmore Girls"
5. "House"

TRÊS COISAS QUE ME ASSUSTAM
1. Barata
2. Avião (passei da categoria susto para fobia)
3. Máquina de lavar quebrada

TRÊS COISAS QUE ESTOU VESTINDO NESTE MOMENTO
1. Saia estampada de crepe
2. Casaco de crepe marrom
3. Colar de prata e coco que comprei na loja do Túlio.

QUATRO DAS MINHAS BANDAS FAVORITAS
1. Beatles
2. Stones
3. Skank
4. Maroon 5 (parece com o Jamiroquai, que parece com o Spyro Gyra e todos se parecem com o Simply Red) - oba, consegui dar sete bandas... mas faltaram tantas...

TRÊS COISAS QUE EU REALMENTE QUERO AGORA
1. Crescer
2. Escrever
3. Sorrir

TRÊS LUGARES ONDE QUERO IR DE FÉRIAS
1. Toscana
2. Provence
3. Jamaica (mas vou acabar em Florianópolis ou Rio das Ostras mesmo)

16.8.05

Terça-feira


Minha filha mudou o penteado, atitude extremamente importante para qualquer mulher.
Minha filha está virando mulher, mas não quer, reluta em abandonar a infância.
Meu filho declara-se gótico, porém não tem muito gosto por músicas grunge ou punk, preferindo os pops, rocks, blues e samba mesmo. Está exultante com um princípio de buço, brinca de "cofiar os bigodes".
Uma colega, jovem, lê minha crônica sobre saídas de praia e pergunta o que é sianinha.
Uma amiga surge vestindo uma blusa enfeitada por sianinhas. Prevejo que sianinhas serão moda e estarão na boca dos modernos em pouco tempo.
No cartório aonde vou pedir uma certidão, todos os atendentes são homens acima dos 55 anos. Eficientes e ríspidos. É bom conhecer algum lugar na cidade em que não haja domínio juvenil. Dá uma impressão de segurança, de estabilidade, de década de 50, quando homens trabalhavam e tinha emprego até mais velhinhos.
Folheio revistas femininas. Uma faz um raio-X da masculinidade e traz artigos assinados por homens comentando tudo o que correntes da Internet já informaram: homens são literais, gostam de futebol, de automóveis e de olhar mulheres bonitas, estão aprendendo a cuidar de filhos. Também mostra as tendências da moda do verão, ensina que filhos CDFs são problemáticos porque eles deveriam estar preocupados em se integrar a grupos e não em estudar, e tem como destaque uma matéria sobre a dieta de Jesus, que emagrece e dá mais energia. No mínimo, transforma a gente em santa.
E a CPI hoje está muito chata...
Ô dia que não acaba!!!!!

15.8.05

Mais uma Jane Fonda


Muito antes de Madonna se recriar marketineiramente, na cola de David Bowie, que por algum tempo poderia ser verbete para "vanguarda", havia Jane Fonda, que se reinventava de tempos em tempos, supreendendo os mais diversos públicos. Eu a recordo como "filha do Henry Fonda", "mulher do Roger Vadin", "Barbarella", "Cat Ballou", "Hanói Jane", a inventora do "cabelinho Jane Fonda" (uma mistura com o corte romeuzinho, que depois foi copiado por Renata Sorrah numa novela - seria "Meu Primeiro Amor"? Me ajuda, Solange, porque o Eduardo Memória Graça não era nascido nessa época) e, de repente, a oscarizada pela interpretação em "Klute".
Parecia que a mulher ia sossegar, deitar sobre os louros do talento e continuar politicamente correta.
Bem, ela fez mais alguns bons filmes, foi indicada e premiada novamente, casou-se com um senador esquerdista, e tornou-se a musa do culto ao corpo, com o qual ganhou fortunas. Continuava criando moda. Quando a gente aprendeu a combinar fitness com política social, Ms Fonda deu outra guinada. Casou-se com o tycoon Ted Turner e saiu de cena para ser primeira dama.
Quinze anos longe do cinema - só aparecia em festinhas, como o Globo de Ouro, para acompanhar o sucesso tardio do irmão Peter e as incursões do filho Troy e da sobrinha Bridget em produções menores-, a sessentona volta numa comédia com (ai!) Jennifer Lopes. E faz do filmete um filme. É a megera, a sogra detestável, mas também uma mulher brilhante, com passado glorioso, bonitona, corpo enxuto, apesar do rosto marcado, com o mesmo jeito seguro de atuar. Aliás, ultimamente, as comédias americanas apostam todas as fichas em elencos que dosem rostos e corpos jovens com o talento da geração que já passou dos 60. Até que naquele "Meet the Parents", Ben Stiller segura a onda sem Robert De Niro, La Streisand e o adorável Dustin Hoffman em cena. Na "Sogra", a gente sente falta de Jane Fonda na tela sempre que a trama a exclui. É duro envelhecer e ver a moça bonita conquistando os olhares masculinos. Mas com Jane Fonda ao lado, mesmo as moças bonitas perdem em audiência.
A questão que me intriga: qual Jane Fonda ficará - a militante política, a atriz brilhante, a mulher que entronizou a "geração saúde", a super-heroína das telas ou da vida real? E tem ainda a socialite, a mãezona, a filhona, a irmãzona. Papéis que costumamos desempenhar em nossas rotinazinhas menos glamourosas que as de Ms Fonda.

12.8.05

Já morando


Converso com minha amiga Jordana, depois de uns bons seis meses sem nos falarmos, ao telefone. Entre as novidades, ela me conta que continua com Carlos e que estão "Já morando", uma nova flexão de casamento e namoro.
Sim, porque hoje em dia é muito difícil classificar a passagem de ficante para namorado e deste para marido. Existe ainda a categoria rolo, que deve corresponder à antiga amizade colorida. Eu criei o termo "namorado residente", que é quando o casal praticamente mora junto, mas, embora todas as roupas dividam os mesmos armários, existe ainda outra casa que abriga discos e livros. A outra residência não tem nem água na geladeira, mas é um refúgio para momentos de tensão. O momento em que os discos e livros coabitam no mesmo espaço, pra mim, é casamento.
Minha poética amiga Rosane, que só tem um grande defeito - nutre um superstioso temor a samambaias e jibóias -, AMOU a nova expressão apresentada a nós por Jordana.
E Rosane pediu que eu fizesse um post sobre ela.
Tá aqui, com os votos de que todos os solitários da terra possam, um dia, já morar juntos, sem necessidade de se enquadrar em qualquer estado civil.

11.8.05

A família que escolhi


A maturidade me torna aristocrática como moçoilas dos romances de Jane Austen. Aquelas jovens que não faziam trabalhos domésticos, silvestres ou selvagens, mas tinham obrigações sociais de visitar doentes, escrever cartas aos amigos distantes, aborrecer-se em festinhas de batizado. Enquanto observo o envelhecimento de minha família e o conseqüente adoecimento de muitos parentes idosos, vejo crescer o número de compromissos a serem observados semanalmente: visitar meu tio velhinho, telefonar para minha madrinha, viúva de meu padrinho, para outro tio que adoeceu, para os tios e primos de Florianópolis, para os de Brasília e os das Gerais. A isso se somam os telefonemas a amigos que a gente pouco esbarra na própria cidade, com os quais marcamos encontros que nunca saem das agendas. Há também os amigos que freqüentamos virtualmente, por e-mail ou em comunidades da Internet, quase diariamente.
Telefonemas são mais solenes que e-mails e praticamente mataram o charme das cartas, que nas histórias de Austen eram algumas das principais atrações das reuniões sociais. Hoje, pelo Correio, só recebo contas e anúncios. Na época do Natal, vêm os cartões, que grudo nas soleiras de portas.
A relação mais longa que tive na vida foi epistolar. Durante 40 anos, dos 14 aos 44, mantive uma correspondência constante com um amigo bem mais velho, o seu Moura. Na verdade, 44 anos mais velho. Alguém que passou a fazer parte da família que escolhi. Amigo de meus pais desde a época em que eram solteiros, era desenhista e um dos melhores escritores de cartas que conheci. Mineiro, vivia em Belo Horizonte com a mulher e os três filhos.
Meu pai, que escrevia profissionalmente com maestria invejável, era o homem mais preguiçoso do mundo no que se referia a redigir uma carta para um amigo. Só tinha constância em escrever para meus avós, quando eu era pequena e telefone não dava sopa pelo Brasil. Havia até um ritual: ia-se a um posto telefônico e pedia-se a ligação para a telefonista. Meia hora depois, éramos chamados e entrávamos numa cabine para falar com a turma de Florianópolis.
Bom, o seu Moura amava escrever cartas para todos os amigos. Mamãe, às vezes, respondia por toda a família. Papai, mantinha-se quieto, rindo das ilustrações em bico-de-pena. Por causa de uma dessas cartas, aprendi o significado da expressão "torre de marfim", que era onde seu Moura havia desenhado uma caricatura de Papai. Decidi, então, mandar uma resposta para Minas. Três dias depois chegava a primeira das cartas semanais que trocamos por anos, com um imenso buquê de flores desenhado.
Louco por cinema dos anos 40, principalmente musicais com Bing Crosby e Fred Astaire, além de comédias com Cary Grant e James Stewart, encontrou em mim, outra cinemeira tarada, a correspondente ideal. A diferença de idade não parecia existir. Inventei que gostaria de assinar com um "nome de bang-bang", brincadeira de criança, criando o pseudônimo "Jimmy Boney", juntando Jesse James com William Boney, o Billy the Kid. Ele, prontamente, se transformou em Old Joe Moore. As duas famílias acompanhavam nossa vida epistolar, mandando recados, contando histórias através das cartas. Eventualmente, todos nos reuníamos, no Rio ou em Minas. Mas a exuberância dele era reprimida quando estávamos juntos. O tímido se soltava no papel, relatando a vida da família, a idas para o sítio de Lagoa Santa, o nascimento de netos e bisnetos, comemorando as vitórias do Atlético, comentando os filmes antigos que assistia no vídeo. Eu falava de namorados, festas, viagens, nascimento de filhos, crescimento de filhos, fim de casamento, perdas, ganhos. A medida que o tempo passava e minhas atribuições familiares aumentavam, meu entusiasmo de escriba arrefeceu. A correspondência se manteve, reduzida, até um ano atrás, quando lhe enviei a última carta antes que ele adoecesse. Na véspera de meu aniversário, morreu. Uma estranha coincidência: sua filha mais jovem falecera, alguns anos antes, no dia de meu aniversário.Seu Moura foi apenas um dos membros da família que escolhi. Seus filhos e netos continuam “parentes”, assim como minha família de Brasília, uma intrincada rede de padrinhos de casamento e batismo, mais próximos que muitos tios e primos “de sangue”. De meus pais herdei esses membros da “família” e ganhei “parentes” que passarei a meus filhos. Há um mês, fui tia-avó pela terceira vez, com o nascimento de Pietro, neto de meu compadre João. O pai de Pietro, Rafael, escolheu o nome do filho inspirado pelo sobrenome de minha amiga-irmã, Danúzia, sua ex-madrasta. As famílias mudam tanto como as formas de comunicação. Li uma vez que um fenômeno da vida urbana atual é a união de grupos de amigos como se fossem núcleos familiares. É uma das poucas inovações louváveis deste sempre admirável mundo novo.

10.8.05

Fashion Rio


Quando eu era criança, existia uma peça de vestuário chamada saída de praia. Geralmente, era fabricada em tecido atoalhado e seguia um modelo entre o robe de chambre e o vestidinho. Não sei o que as mulheres mais velhas usavam. Eu tinha uma saída confeccionada pela costureira (mulheres que iam em nossa casa e faziam três vestidos por dia), um vestidinho atolhado de listras azuis sobre fundo branco, enfeitado nas cavas com uma sianinha vermelha. Acho que ninguém no mundo usou tanta roupa com sianinha como eu. Quando não era sianinha, era rolotê ou debrum.
Na pré-adolescência, abandonei a saída de praia, que servira também para ir à natação. Eu detestava sair de madrugada com meu pai de Ipanema para a Gávea, enfrentar as piscinas do Flamengo. Na volta, por vezes, eu trocava a roupa e podia me sentar no ônibus. Papai ficava assistindo aos treinos de futebol, vendo as broncas que os jogadores levavam de um técnico chamado Yustrich. O detalhe é que Papai era Fluminense doente, mas, como todo homem, apreciava qualquer pelada de praia.
O que mais me irritava na saída de praia era que aquilo não combinava com absolutamente nada. Usá-la na rua, para mim, era um constrangimento comparável apenas à vergonha de estar com blusa semitransparente que permitisse a visão de meu sutiã. Isso porque, precoce, comecei a usar sutiã com 7 anos, pois, como se dizia naquele século, era “muito desenvolvida para a idade”. Aos 10 anos, quando fui aprender a nadar corretamente (embora criada na praia, sabia me virar no mar sem dar uma só braçada), a saída de praia atravessou outros bairros, para mim, extremamente distantes do Atlântico, onde ninguém passeava sem estar convenientemente trajado. Era uma época bem formal, em que homens vestiam camisa para ir à praia e ninguém se sentava nos bancos de ônibus se estivesse molhado ou sujo de areia.
Na maturidade da pré-adolescência, esqueci a saída de praia ao lado da esteirinha que também se usava. Papai tinha uma cadeirinha de madeira e lona, com assento de ripas que se encaixava no encosto. A mim, cabia a esteira, que abandonei pela imensa toalha listrada da Artex que minhas tias de Santa Catarina me enviaram antes do lançamento nacional. A toalha, literalmente, deu na praia, mas eu me sentia uma vanguardista por ter sido uma das primeiras garotas a estendê-la nas areias de Ipanema. Fazia montinho e me deitava sob o sol por pouco tempo. O calor me obrigava a disputar a sombra da barraca com Papai, naquela era pré-filtro solar, em que as meninas se besuntavam de óleos de bronzear. Eu passava óleo de amêndoas e ficava na sombra. Saía mais escura do que as moças-jacaré, pois vinha de uma longa linhagem de morenos naturais.
Naquela época surgiu uma moda atroz, de substituir a saída de praia pela toalha enrolada no tronco. Parecia que a gente havia saído do banho, mas as toalhas, além de enroladas, eram presas por imensos alfinetes de fraldas. Houve um breve período em que aderi a umas saídas esquisitíssimas, rendadas, brancas e esvoaçantes, complementadas por imensos chapéus de palha. Depois veio a moda das camisas de homem. Invadi o armário de Papai e surrupiei camisas sociais que ele não usava desde os tempos de solteiro, mas guardava porque era colecionista por natureza. Os chapéus foram se reduzindo, mas eu não os dispensava, pois meus cabelos ficavam muito queimados no sol e, naquela fase do século XX, melenas claras demais era coisa de surfista ou de mulheres que “oxigenavam” as cabeleiras. Em meados da década de 70, Papai já fora dispensado como meu acompanhante praiano - Mamãe não ia à praia, mas obrigava meu pai a me acompanhar - e eu trocara os camisões pelas cangas.
Atualmente, vou de roupa para a praia (blusa, canga curta, como saia, ou de short), coisa que nos anos 60 e 70 era bcaracterística dos farofeiros, que vinham dos subúrbios carregando caixas de isopor, com lanches. Usavam roupas porque tinham que pegar ônibus onde plaquinhas informavam a proibição de viajar sem camisa, advertindo que o passageiro que insistisse seria retirado do veículo. Comer na praia era considerado brega. Só se bebia mate, limonada, tomava sorvete, comia-se biscoito Globo, ou aquele pirulito esquisito que a gente chamava de “tlique-tlique” ou "ligue-ligue", vendidos pelo mesmo homem que oferecia biscoitinhos em canudinhos e bolinhas de sabão. Os sanduíches naturais chegaram nos anos 70, é verdade, mas os bons cervejeiros ficavam no Jangadeiros, no Barril, nunca perto do mar.
Os costumes se modificam em quase meio século. Não há mais saídas de praia. Mas os quimonos atoalhados continuam circulando pela cidade, envergados por senhoras que fazem hidroginástica ou criancinhas a caminho da natação. As crianças ficam muito bonitinhas com aquelas roupinhas, claro. Mas os adultos parecem pacientes que escaparam de um sanatório. Sempre que encontro alguém assim trajado, olho para o outro lado. Sabe lá se não é um maluco que fugiu da Doutor Eiras e resolveu passear por aí, disfarçado de atleta da Terceira Idade?

Na foto, Ipanema, nos anos 70.

7.8.05

Este estranho poder

Houve tempo em que eu sabia qual era o filme que eu mais vira. Atualmente, não tenho idéia, mas acredito que seja "Moulin Rouge". Foi o primeiro DVD que comprei, criando uma obsessão em meus filhos que passaram a assisti-lo compulsivamente, a ponto de eu proibi-los de cantarem "Your Song" ou "Lady Marmallade" no carro, durante viagens.
Agora, graças à TV a cabo, o filme vai ao ar umas três vezes por semana. E sempre que está passando, acabamos vendo novamente. Há muitos filmes que exercem este poder comigo - o que me impede de não assisti-los, mesmo que já tenha visto 850 vezes, desde que sejam comédias ou musicais.

5.8.05

O momento em que os sapatos perdem os saltos



Um dia toda mulher quer o glamour eterno das divas hollywoodianas.
Cometer atos estranhos como jogar champanhe sobre um homem abobado,
entrar numa piscina de roupa e tudo,
olhar enigmaticamente para um ponto que ninguém percebe e ser percebida por todos.
O desejo de glamour chegaria bem quando estivesse calçada com um tênis velho,
feio, confortável o bastante para acolher pés doloridos a ponto de esmaecer qualquer laivo de charme que pudesse passar pela mente cansada.
Naquele instante da vida que se prolonga pela maturidade inteira,
o momento em que os sapatos perdem os saltos,
um suspiro enfraqueceria o vestígio da vontade fútil em favor da sabedoria
e daria alento ao consolo de prevalecer sobre a beleza apagada.

4.8.05

Aqui e na China


Voltei à fase de leitora ávida, que percorre páginas incessantemente. Em quatro dias devorei a "Noite do Oráculo" e "As Boas Mulheres da China", este, lutando com uma tradução modorrenta (também foi feita sobre a tradução do chinês pro inglês. Então, ficou sem graça, pueril).
Agora, me debruço sobre "Esforços do Afeto", crônicas e contos de Elizabeth Bishop. Comprei o livro em 1996 e nunca o abri. Grata surpresa ao fazê-lo quase 10 anos depois.
A vantagem de ser ex-compulsiva na compra de livros e estar atualmente sem recursos para passar por perto de uma livraria é que tenho pelo menos uns 100 volumes a serem desbravados, sem contar com os que já tiveram duas ou três páginas lidas e foram depositados na mesinha de cabeceira.
Voltando às chinesas, tive idéia de tentar um livro semelhante aqui, coletando diversos relatos entre nossas mulheres. Faltaria um tema. A desesperança, a violência, a vida moderna. Na China, essas mulheres viveram o horror da Revolução Cultural, foram aniquiladas, estupradas, escravizadas, separadas das famílias. Aqui, há mulheres que deixam a família para trás, como minha empregada, Vanúzia, que saiu da Bahia dez anos atrás e só encontrou os dois filhos em duas ocasiões nesse período. A forma que encontrou para sustentar os filhos foi vir para o Sudeste. Quantas moças que engravidam para conquistar respeito em suas comunidades? Quantas mulheres que dão duro para evitar que os filhos se envolvam com o tráfico? Quantas mães que perderam os filhos para a violência?
Desgraça por desgraça, acho que o mundo inteiro tem. Cultura machista também. Incesto e abuso de menores, idem. Tudo é muito parecido, seja aqui ou na China.

3.8.05




Eu não consigo gostar do Roberto Carlos cantando qualquer coisa que não seja Jovem Guarda, não consigo achar a Maddona importante no panorama social ou artístico, não acho o Chico Buarque bonito, nem o Sean Connery atraente.Eu gosto é do Truffaut e do Jean Pierre Leaud, mesmo velhinho, em contraponto com suas imagens jovens em "Os Sonhadores", do Bertolucci.

2.8.05






Um dia todos terão sapatos como os de Dorothy, do Mágico de Oz, para transportar-se até a casa sem enfrentar trânsito, culpas ou olhares de reprovação.

Revelações fotográficas

Nada contra Fernanda Karina, mas não sei por que a moça causou tanto frisson em seus depoimentos. O que disse era bombástico, claro, mas a Renilda e a socialite Mendes Caldeira eram bem mais bonitinhas.
Mas a Fernanda Karina quer posar nua para financiar sua carreira política, com o "todo apoio" habitual da família, possivelmente, se as fotos forem um trabalho artístico de bom gosto, do J.R.Duran. Então, a moça se submete a uma sessão de fotos para a Folha de S.Paulo (
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u52338.shtml) , com um resultado mais ridículo ainda do que o que sai publicado na Playboy.
Gente, por que, no Brasil, basta ser mulher para ter que posar pelada?
(A fotografia anda na minha cabeça, ultimamente, desde que me lembrei do "Cortina de Fumaça". O bom foi pegar "A Noite do Oráculo" no sábado à noite e terminar no domingo de manhã. Um livro desses que nos agarra pelo pé é como um bom uísque. Dá pena quando acaba...)




Eu já vi blog de tudo quanto é jeito pela Web. Outro dia caí num sobre menstruação, em que mulheres descrevem TPM, menarcas, uma maravilha só! Interessante até pode ser, porque lida com as emoções da womanhood (não há uma palavra semelhante em Português, creio. Só usamos "passagem da meninice para a vida adulta e desta para a maturidade"), com os traumas da sexualidade, com a descoberta da capacidade reprodutora, com mil e um grilos, pudores, exibicionismos, tudo o que a Internet permitiu em exposição e egotrip.
Tem uns blogs que não me interessam em nada, geralmente os masculinos que só falam em futebol e em cerveja. Os diários abertos são mais envolventes, embora boa parte seja tão mal escrita ou feito na nova linguagem criptográfica da Rede, que me cansam imediatamente.
Tem também os blogs das mocinhas, das crianças, dos adolescentes bobalhões, dos artistas, dos birutas, dos pesquisadores, dos herméticos, os profissionais. Por acaso, encontrei um muito interessante, o http://timetales.com/, sobre fotografias jogadas no lixo.
A dessas duas criancinhas foi encontrada na Flórida. No verso estava escrito "Sig. Clotilde". Certamente, eram dois irmãos, provavelmente gêmeos, um menininho e uma menininha, com vestidinhos femininos, um costume da época. Seriam Sigmund e Clotilde? Estariam vivos ainda? Tenho dezenas de fotografias semelhantes, da família de minha mãe, mostrando meus tios bebês, muito lindinhos. O mais impressionante nesses retratos é que as crianças se mantinham quietinhas, sérias, amedrontadas. Vai tentar fazer isso hoje em dia!
Tem ainda esta, brasileira, com os seguintes dizeres atrás: "22.11.1963. Trajano e Maria". Naturalmente, foi encontrada no Rio. O que me intriga é por que nem Trajano nem Maria guardaram a foto de seu casamento. Teriam morrido, teriam se separado? No dia seguinte, John Kennedy foi assassinado. Estariam Trajano e Maria em lua-de-mel, distantes de qualquer noticiário, interessados apenas um no outro? Os filhos de Trajano e Maria, se é que nasceram, não guardaram as fotos do casamento dos pais?






A curiosidade foi o que motivou uma fotógrafa e um artista plástico holandeses a montarem o site, que faz a gente refletir sobre o registro de vida de desconhecidos que acaba no lixo, em mercados de pulgas, aos olhos de todo o mundo. Alguns se reconhecem nas fotos e avisam ao site. A única mulher radiantemente bela nas fotos é esta, uma linda noiva da década de 50.