21.12.16

Barbies

Eu sei q vende jornal, dá mais audiência a site, o que for. Mas, na boa, coleguinhas, a que ponto chegamos? 
Não é só a chamada ruim ("Com seios enormes, Kyllie levanta especulações?" Melhor, talvez "Seios enormes de Kyllie provocam/geram especulações") nem o texto mal traduzido, decorrente, muito provavelmente da pressa em publicar ("A admissão de que ela encheu seus lábios com 17 anos significou como um menor, um pai teria de assinar em cima deles"), mas, poxa, é nisso que se resume o noticiário de gente famosa hoje?
Acho até que a matéria tem um monte de boas pautas embutidas - o exagero das plásticas, a objetificação das mulheres, a "barbierização" das mulheres. Eu me lembro de uma matéria no Ela, assinada, se não me engano, pela Sonia Biondo, que usava uma imagem da Mulher Maravilha e perguntava: "Como alguém pode salvar o mundo vestindo um collant tomara-que-caia?".
Era possível fazer matérias inteligentes para discutir o papel feminino e não deixar de lado a vaidade, a besteirice que qualquer pessoa adora. A culpa não é dos jornalistas, não, é de um sistema que tritura o profissional e obriga todo mundo a publicar qualquer bobagem pra encher tela/página.


http://oglobo.globo.com/ela/gente/com-seios-enormes-kylie-jenner-levanta-especulacoes-sobre-implante-de-silicone-20677907#ixzz4TTe1NnX7

17.12.16

Pensando tanto, tanto...

Este blog começou como um registro das crônicas  no finado Multiply. Era quase tudo resmungando da cidade, num tempo em que eu ainda era um bicho praieiro. Quase se tornou um registro do cotidiano, mas aos poucos a faceta confessional desapareceu. Vieram muitas ocupações, diversas cada uma de si, compartimentei alguns escritos pra lá e pra cá. O Facebook matou essa registrância toda.

Penso em fazer um site com todos os arquivos, penso no custo baixo disso, em chamar um webdesigner (custo alto disso), em esperar meu primogênito estar habilitado para desenhar tudo... A vida em exposição é tão cansativa.

E o blog foi morrendo, arquivando apenas um monte de brincadeiras sobre roupa de gente que vive da exposição.

Não sei que rumo tomará, se é que existe algum rumo ou necessidade de subsistir nesse universo virtual.
Afinal, o que gosto mesmo de fazer é de bater papo, o que exercito o tempo todo no Facebook, onde as escaramuças se avolumam a ponto de me tornar temerosa da existência internáutica.

A verdade é que é chato ter tanta trabalheira pra ser pouco lida e muito esquecida.

Chove muito em São Sebastião, a temperatura caiu e ficou agradável, mas o supermercado, o trabalho e nada além disso me espera.

Do Facebook, a vida sub/in/e/consciente

Sonho doido. Chego de táxi à Barão da Torre, onde vivi a maior parte da minha vida. Tenho, aos pés, um pacote imenso de livros. Tomo um susto ao ver o preço da corrida, R$ 72, pago apenas 70, tudo o que tenho comigo. Salto do táxi furiosa, largo lá os livros, e sou agarrada por um homem que me belisca dizendo que é um assalto. 
"Ih, moço, deixei tudo o que tinha com o táxi, foram 72 reais, imagina!",
O assaltante continua beliscando meus dois braços e dizendo para eu tirar tudo o que tenho na bolsa. Medito se vou lhe passar meu combalido celular... e chega o taxista, que derruba o ladrão, tascando o pacote de livros em sua cabeça.
Ou seja, a literatura fortalece e protege nossa integridade... 








Meu avô Candonga acordava antes das 6 da manhã, todos os dias. Eu, de férias em Florianópolis, não conseguia entender o que ele tinha que fazer tão cedo. Mas tinha. Saía, comprava pão quentinho, ligava o rádio para ouvir notícias. Não incomodava ninguém, exceto minha avó Júlia, que fazia café para os dois tomarem juntos. 
Ele morreu num 15 de novembro, num dia de eleição. Corri pra seção eleitoral, meus pais conseguiram furar a fila, depois fui levá-los para o aeroporto. Era minha primeira eleição e eu me senti completamente órfã, num dia nublado que passei na praia, tristonha. E hoje, eu me lembrei do Vovô Candonga, porque me levantei cedinho e fui votar junto com outros velhinhos que despertam pra vida nas primeiras horas do dia. 
Envelhecer é pular cedo pra viver. (15 de novembro)



Conheci seis mulheres que foram espancadas por ex-maridos. Uma jamais admitiu, mas passou duas semanas de óculos escuros informando que caíra "em cima da televisão", o que deixara marcas nos seus olhos. Outra, deu queixa na Polícia, mas acabou fazendo acordo e mantendo com ele boa relação, após a separação. Uma matou o agressor com um tiro certeiro - e se livrou de processo convencendo o delegado encarregado do inquérito de que a arma disparara acidentalmente (ela me contou que só deu certo o engodo depois que aceitou transar com o policial). Duas permaneceram ao lado dos companheiros até a morte. Outra se suicidou. 
Que sorte a minha de ter sido criada por um homem bom, que jamais levantou a mão para mulher alguma.
2 de julho (10 de outubro)




O Rio se despedaça lentamente, como um doente sofrendo de males perenes e diversos, que esperam uma baixa de imunidade generalizada para surgirem ao mesmo tempo, destruindo as forças, a alma. Na cidade maquiada se abrem feridas, o asfalto se rompe, a violência explode, dizimando a população. Inertes, pagando custos altíssimos, assistimos ao espetáculo da degradação. (26 de junho)




Atendimento em ambulatório hospitalar. A atendente pergunta o nome de minha mãe, minha idade, ocupação e religião. Eu falo, encabulada, "atualmente, não professo, mas já fui católica". 
E ela, cúmplice: "Logo vi que a senhora era inteligente. Todo mundo que chega aqui e fala assim, bem, mais elegante, sabe, não tem religião. Isso é pra essa gente, sabe?".
E eu, completamente sem graça: "Não, senhora, é que eu não fui dotada da graça da fé...". Mas ela, triunfante: "Gente como nós entende que essa coisa é muito ultrapassada, né?". (17 de março).



   
O taxista me encara pelo retrovisor e pergunta: "Posso fazer um desabafo com a senhora?". Eu, animada, pensando que lá vinha discussão política, assenti. E ele desfiou sua crise no casamento, a mulher estressada por ter que cuidar da mãe, doente, pediu um tempo. "Senhora, nós sempre nos demos bem. Ontem mesmo estivemos assim, sabe, nos relacionando. E depois, ela me pede um tempo". 
E eu, sem o menor treinamento psicanalítico, ouvi as tristezas do moço da Praia do Flamengo até o Centro. Aconselhei que buscassem ajuda especializada, indiquei hospitais públicos com fama de bom atendimento psicológico/psiquiátrico. E ainda paguei a corrida.
Mais uma vez, comprovo a máxima de Otto Lara Resende: dois brasileiros que se desconhecem constituem a hipótese de íntima amizade depois de cinco ou dez minutos de conversa.




Em 1º de abril de 1964, eu tinha 3 anos. Um dia interessante, porque minha mãe não foi trabalhar. Meu pai, sempre temendo perder emprego, se mandou pra Cidade. O dia passando, Mamãe, nervosa, resolveu que íamos pra casa da irmã dela, Tia Zélia. Andamos até o Posto 6. Tia Zélia estava agitada, séria, Mamãe também. No banheiro, peguei as maquiagens de minha tia para brincar. Quando meu pai chegou, no meio da tarde, fui a seu encontro, toda lampeira! Ele mal me olhou, dizendo apenas "Estás linda, filhota!", voltando para a conversa grave com os adultos. Fiquei muito decepcionada. Naquele dia em que ninguém me deu bola. 
Um golpe de estado faz exatamente o mesmo com o povo, que é tratado como criança arteira, nada mais.




Parte superior do formulário


Não gosto de balas, nem de doces em geral, sequer chocolate. Criança, não comia nada disso, uma tristeza mesmo. Meus pais nunca me deram doces, acostumei meus filhos longe do açúcar também - embora eles tenham acessos de formiga, vez por outra.

Cosme e Damião, pra garota da Zona Sul, já era sem graça por si só, mas piorava quando me davam saquinhos de confeitos na rua. Eram todos confiscados por Maria, minha zelosa babá, temerosa que estivessem "envenenados com macumba". Engraçado é que ela se comprometia a provar todas as guloseimas, reservando para mim, apenas, as duas únicas de que eu gostava: cocada e cocô de rato. À noite, meu pai se regalava com as sobras dos doces de Cosme e Damião, minha mãe também dava uma beliscada. 

E eu, só de olho comprido, sem entender como tanta gente se estapeava por aquelas delícias todas. 

O tempo passou, descobri appfellstrudel, pastéis de Belém e Santa Clara. Deixei de gostar de cocada, de cocô de rato, mas ainda sou louca por algodão doce, daqueles que botam a cara da gente toda caramelizada. E virei um doce de pessoa, né? (27 de outubro)


18.9.16

Emmy 2016 - Tapete vermelho

Estrelas desfilam sobre o tapete vermelho da entrega dos prêmios Emmy. Tem muita gente bem vestida. E tem gente, como sempre, sem um porteiro amigo, sem mãe, sem filho que lhe proíba de sair à rua envergando uns horrores. Claro que existe Heidi Klum, que só pode vestir coisa feia pra parecer mais bonita que as roupas. Não é possível que ela realmente goste de tanto modelito atroz. Esta noite, não foi exceção.

Contrabalançando o pavor acima, Joanne Frogatt, de Downton Abbey, mostrando que o pretinho básico sempre dá certo. 

Já Laura Carmichael, que fazia a Lady Edith na mesma série, escolheu outro estilista, um maximalista que juntou todas as tendências possíveis (Lacinho, eba! Amarelo, eba! Margaridinhas, eba!) com um cortinado lilás e criou este Tributo ao Engov. 


Michelle Dockery, a Lady Mary, foi convencida de que branco com um debrunzinho ficaria lindinho. Ficou, né? E ainda há de inspirar confeiteiros a criarem belos bolos de noiva com o mesmo padrão. 



Sabe a camisola que sua avó usou um dia, em menina? Pois é, foi herança de família. Era pra ficar em casa, mas a moça resolveu levar à noite de gala. Não serve nem pra figurar como madrinha em casamento hippie. 


A prova de que uma roupa menos formal pode ser elegante em moças de todas as idades. Simples e chique. 




 Informalidade é isso: ir ao Emmy com uma blusinha que não deveria jamais ter saído do ateliê do louco misógino que a imaginou - que deve ser o estilista da Dilma Roussef...


 ... ou o vestidinho floridinho de verão carioca ...



... ou o que Kelly Preston comprou em Rio das Ostras - juro que tive um com a mesma estampa que eu usava por lá. 




Transparências e preto podem dar certo. Não foi o caso aqui. 


Faltou pano? Faltou gosto? Faltou imaginação? Imperdoável não haver UM ser humano caridoso o suficiente para alertar a moça sobre o horror que ela enverga. 


Ela é jovem, é estrelinha, é uma gracinha. Por isso, que tal vestir a menina com um dos modelos mais infames que a misoginia pode inventar? Não é engraçado, não é bonito, não é prático. É só ridículo. 

Amy Pohler me lembrou Linda Batista. 


Mandy Moore sabe que o amarelão ficou uma tristeza. Olha a cara da moça.


Um must do tapete vermelho, o vestidinho "Noiva de Drácula", desta vez em azul marinho.


Anna Chlumsky, gravidíssima, fantasiada de Lua Cheia. 


Kristen Bell de Jardim Tropical. 


E no meio de tanta coisa esquisita, um bom decote, um corte sereia, uma jovem diva. 




14.9.16

Tecnovida

Na minha distante juventude, sempre havia um homem que entendia de "som". Os caras eram vidrados em marcas como Marantz, Technics, Pioneer, agulhas Shure, coisas do gênero. E sempre existiram aqueles homens que entendem tudo de potência de automóvel, cilindradas, injeções eletrônicas. 
Os conhecedores de tecnologia de hoje são homens e mulheres. A eles dedico todo o respeito do mundo sobre a capacidade de telefones, gravadores, telas, chips, cartões de memória e tudo que faz a vida ser mais fácil pra mim. 
Mas continuo avessa a saber a funcionalidade de tanta traquitanda. É igual entender de alcalinidade do solo para melhor produção de vinho da uva tal. 
Prefiro viver sem entender de química e eletrônica. Só aproveitando o que elas me proporcionam.
(Cansada depois de ler as especificações de um telefone).

Do Facebook, de um ano atrás. 

3.9.16

Grey power em Botafogo

Aconteceu e registrei há um ano, no Facebook.
Grey power em alta na província de Botafogo. No campo de batalha que é o Mundial, hoje absolutamente entupido de gente se esgueirando pelos corredores ocupados pelos repositores de mercadorias (só pode ser marketing, poxa. Eles não param de fazer isso - ou então ficam arrumando os produtos nas gôndolas), uma senhora entre 78 e 84 anos implica com uma mulher jovem de carrinho cheio na fila dos idosos. A moça aguardava a patroa, uma senhora entre 78 e 84 anos. A que chegou depois começa a gritar pelo gerente e se enfia na frente da empregada. Chega a patroa, as duas batem boca. A acusadora dá um empurrão na outra. Salomonicamente, o gerente fecha o caixa e ambas se transferem para outras filas, onde, gentilmente, outros consumidores lhes cedem a vez.
Pego um táxi. O taxista, língua coçando no palato, me conta, sem que eu peça, que
1) a passageira que descia e que me abria a porta, faixa etária entre 78 e 87 anos, cabelos negros até a altura do peito, está fazendo comprinhas para ir a Paquetá, passar uns dias com o namorado. Digo "que bom pra ela!". E ele completa: "É um romance secreto, ela não quer que os filhos saibam". Eu continuo no "que engraçado". E ele: "Ela falou que o marido é muito bom, mas muito chatinho, por isso arranjou o namorado".
2) abre um preâmbulo que não é vaidoso, longe disso. Mas que ontem, dois rapazes, no carro parado ao lado dele, perguntaram se sua barba era natural e elogiaram o rosto hisurto. (eu só via a cabeça, fios brancos esparsos, fininhos...) E que uma mulher o interpelou no Posto 6, onde ele mora, para dizer que sua barba era linda. "Mas eu não gosto, sabe? Envelhece". E eu: "Então, tira". E ele: "Só depois do Natal".
Felizmente, cheguei a meu destino, antes que ele viesse com um papo qualquer sobre fantasias amorosas de um Papai Noel.

29.8.16

MTV Video Awards 2016

Num dia pavoroso, a gente precisa ver VIPs de roupa esquisita. Para isso, existem os tapetes vermelhos como o do MTV Video Music Award. O tema da noite, aparentemente, era a Guerra dos Farrapos. Todo mundo parecendo que saiu de festa junina de colégio. Começando pela filhinha linda da Beyoncé, cujo traje - eu li, eu pesquisei - custou algo em torno de R$ 36 mil. Na boa, era só dar um pulinho na Petit Ballet ou na Casa Turuna mesmo. Saía bem mais em conta e o efeito "Fadinha da apresentação de fim de ano do Jardim Garotinhas Riquinhas" seria até melhor. 






Queen B mais uma vez esqueceu-se do forro do vestido em casa. A fantasia de Rainha das Avestruzes no Lago Azul pode ser totalmente desfeita e reaproveitada para desfiles carnavalescos ou como cortina de teatro em shows da diva.

O filho do Will Smith continua lutando para ser finalista do troféu Helena Bonham-Carter, porém ainda não compreendeu que precisa de mais autenticidade na composição de adereços. No máximo conseguiu o troféu Chico César pelo arranjo capilar.

Transparência já é feio normalmente. De calçola, então... 

Nicki Minaj, sempre buscando o troféu Adele Fátima.  

E Britney, cada vez mais Deborah Secco. 
 O modelito de Rita Ora tem plumas, tem transparência, tem cor, tem contraste, tem pelúcias. Mais um pouco, virava poltrona dos irmãos Campana.

4.7.16

Abra as suas asas

Um dia saí de casa, e, ao voltar para visitar meus pais, descobri que meu quarto fora transformado em escritório. Minha caminha de solteira havia sido dada para o porteiro, os quadros de cortiça aguardavam num canto que eu decidisse seus destinos. Meu armário já guardava incontáveis paninhos, roupas de cama, objetos que até então estavam espalhados por outros cômodos. Minha presença tinha sido exorcizada dali: o que um dia eu usara ganhava outras utilidades, entre elas a de depósito do que preferimos esquecer que faziam parte da vida.
O recado era claro: quis sair, não volte. Mas eu voltei, quase dez anos depois, acompanhada por quatro crianças pequenas. Minha mãe engoliu o ressentimento pela "fuga" da filha única, nos acolhendo generosamente, embora, naquele momento, ficasse claro que éramos hóspedes temporários, que atrapalhávamos sua tranquila e dolorosa solidão.
As aves expulsam do ninho os filhotes para que eles aprendam a voar e tomem seu rumo. Ninho vazio só existe pros humanos. Retardamos a saída dos filhos desde que derrubamos o manto hipócrita da sexualidade camuflada desses filhotes, permitindo que tragam namorados para dormir nos seus virginais quartos. Nós os queremos embaixo de nossas asas, mesmo que sejamos tolhidos por visitantes que passam as noites sob nossos tetos. Precisamos vê-los diariamente, dar palpite em suas decisões, ouvir suas vozes, festejarmos a existência no encontro frequente. Desejamos que eles voem, mas que estejam bem próximos, ao alcance de nosso olhar.

O esvaziamento do ninho vai além da saudade dessa convivência interrompida. É mais uma comprovação de que nosso tempo está se esvaindo, de que a decadência física ficou mais próxima do que imaginávamos. Que a maior realização de nossas vidas não é a fortuna adquirida, a carreira sólida. A vida continua interessante, porém, nosso maior prazer está ligado a quem trouxemos ao mundo. E  a alegria pelo surgimento de novas gerações jamais sublimará a noção da perda do poder. Passar o bastão, recolher-se para o mundo, é impensável. Que o diga a Rainha Elizabeth. 


17.6.16

Egotrip

Rendi-me à egotrip e listo 10 coisas sobre mim que muita gente sabe.
1) Minha bebida favorita é mate.
2) Faço diário - atualmente tá mais pra semanário, quinzenário ou mensário - desde os 11 anos de idade.
3) Cresci um centímetro depois dos 40 anos: sempre tive 1m61 e meio. Agora. ostento 1m62 e 1/2; daqui a mais quarenta anos, espero crescer, no mínimo, uns dois centímetros...
4) Meus polegares não têm curvatura, o que me impede de fazer tricô e de pegar corretamente no lápis. 
5) Fui macrô por quase três meses de vida. 
6) Faço palavras cruzadas (da Recreativa) desde criança, sou viciada em Ma-jong e Tranca no computador, adoro jogar buraco (saudades, Edu GraçaEveli Ficher - a melhor das parceiras -, Eliany FicherSolange Noronha e uma dupla que prefere manter o anonimato na jogatina). 
7) Já fiz ghost writing de livro espírita. Duas vezes. E revisei um livro psicografado de autoria de São Marcos, o Evangelista (que, em 2 mil anos, perdeu o estilo, tadinho). Nunca tive coragem de incluir esse feito em meu currículo. 
8) Gosto de escrever em papéis sem pauta.
9) Tenho paixão por loja de ferragens. Adoro comprar pregos, broca de furadeira, mãos francesas. Antes da tendinite me impossibilitar totalmente de muitas traquinagens, eu vivia furando paredes para pendurar quadros ou pregar estantes. 
10) Não sossego enquanto não descubro o título do livro que alguém carrega ou está lendo. Conhecidos ou desconhecidos. Sou daquelas que disfarça e olha por cima do ombro a página que o outro lê.


11.6.16

Alma

Nunca gostei de tatuagens, da permanência que elas imprimem na pele. Queria tatuagens removíveis, variáveis, que durassem apenas uma mudança de lua. E aí eu reconheço uma delas, um detalhe num canto de foto que mostra um pouco de quem me dá alento pra viver. 
Uma pena eu ser alérgica a pigmentos. Queria fazer uma marca igualzinha, definitiva, mas só posso carregar desenhos na alma.


Encontros

Cada vez q encontro uma das listinhas que meu pai usava como lembretes (e esquecia em algum livro) sinto sua presença, ouço sua voz, escuto seus passos silenciosos. Minha mãe lhe passava incumbências que ele cumpria a contragosto. No início desta lista, escrita num pedaço de lauda da Última Hora, há indicações de que ele precisava ver as poucas ações que lhe pertenciam. E que ia ao dentista. Também precisava resolver algo relacionado à carteira de motorista - provavelmente a minha, porque a dele, só foi tirar bem mais tarde - e nunca dirigiu, só gostava de fazer as aulas! Tinha que renovar assinatura da revista Correio da Unesco, acho, e um monte de livros a ler, entre eles os "de cabeceira" - Dostoievski e Machado -, sem contar um artigo sobre Virginia Woolf no Estadão. Montou a lista e foi desenhando uma autocaricatura.
Hoje faz 25 anos que nos despedimos.

(publicado em 4 de junho, no Facebook).



Primeiro, a questão era familiar: quem adoçaria minha vida, meus filhos Artur Koběluš (e não Arthur), Júlia Mello (e não Julia) ou minha Tia Dilma? De repente, a dúvida passou a ser ideológica! Tinha um Aécio na disputa. Guardei os três queridos no lado esquerdo, deixei Aécio lá mesmo e optei pelo adoçante. Sem nomes.

A família

Mi hermanita se fue. Descobri parte do mundo por causa dela, minha penfriend Noemi Barinotto, que um dia baixou no Rio e se instalou no coração de minha família. Com ela aprendi a dançar salsa, a comer ceviche, a amar Lima, a beber pisco sour. Fomos juntas assistir a "Procura-se Susan Desesperadamente" e "O homem que caiu na Terra"
, vimos a Mangueira entrando na Avenida em 1984, corremos todas as tiendas - e quantas -, viajamos pelo interior do Peru, festejamos nascimentos, choramos perdas e nos apoiamos por 40 anos, ainda q em terras distantes. Nossa última conversa, dolorosa, foi em novembro.


O estupro nosso de cada dia

Uma garotinha a caminho do colégio se assusta ao ver um homem com a braguilha da calça aberta, balançando o pênis e rindo para ela.
 Duas mulheres se juntam a um grupo de desconhecidos, uma família com crianças, fugindo de um desconhecido que as persegue por salas de exposição vazias, num dia de semana, no Museu Nacional. Moça alveja com a ponta do guarda-chuva o pé de seu vizinho de poltrona, no cinema: o homem, que "passava a mão" na coxa dela, sai da sala sob os gritos de "tarado" da plateia.
Jovem repórter atravessa a Avenida Rio Branco para chegar à Cinelândia, ao entardecer, e leva um beliscão na virilha por um desconhecido que vem em sua direção.
Colega acaricia barriga da grávida, dizendo ter tesão por gestantes. 
Oftalmologista abraça paciente e a força a cumprimentá-lo com beijos na primeira consulta. Dermatologista acaricia mãos de paciente. 
Amigo da família faz carícia "esquisita" na menina, que não conta para os pais, achando que levou a mal uma simples demonstração de afeto.
Homem persegue mulher no estacionamento de shopping, enquanto se masturba.
Em 55 anos de vida, algumas lembranças desagradáveis que compartilho com outras vítimas do desrespeito. Algo comum a tantas outras mulheres.
NADA JUSTIFICA O ASSÉDIO, O DESRESPEITO, O ESTUPRO.

Uma história de carnaval

Era 2009, domingo de Carnaval, eu andando pra lá e pra cá no cercadinho da Avenida, abraçando e beijando tanta gente conhecida que sentia dor no maxilar. Um rapaz alto, magro, veio em minha direção. Olhos claros, bronzeado. Eu o conhecia, não sabia de onde, achei q era coleguinha. Estava exausta de correr atrás da Madonna, que tava lá com filhos, Jesus Luz etc. O rapaz abriu os olhões e fez o ar resignado de quem vai abraçar e beijar, inclinando-se em minha direção. Eu acenei com a cabeça, dei um tchauzinho e segui em frente. 
No outro dia descobri que conhecia o moço, sim, de vista. Do cinema, na verdade. Era o ator Gerard Butler, que acompanhava os desfiles com o Rodrigo Santoro.

22.5.16

Cannes

Tanta coisa acontece no Brasil d'agora, que mal dá tempo pra prestar atenção nas bizarrices dos tapetes de Cannes. A musa brasileira Sonia Braga encabeçou o elenco de Aquarius, aos quais secundou no protesto contra a situação política brasileira. E foi assim, chique, charmosa, discreta em cor de vinho, uma beleza que se fixa na maturidade. 


Apesar de contar com estrelas de primeira grandeza do cinema francês, o canadense Xavier Dolan decepcionou em Cannes. Na estreia de Juste la fin du monde, quem deu show foi a veterana Nathalie Baye, num vestido envelope branco, combinando com os elegantérrimos Gaspard Ulliel e Vincent Cassel.  Lea Seydoux foi de Tzarina da Croisette, enquanto a doce Marion Cottillard, envergou um delírio de estilista misógino.




Marion é ousada, ninguém pode negar, mas os recortes do traje não favorecem ninguém. E se não fica bem nela, é só imaginar o desastre nas demais mortais.  


Outro imperdoável equívoco da Cottillard...


... que, felizmente, é uma excelente profissional, mas vai na onda de costureiros malvados, incluindo o sádico que a convenceu a se vestir com esse tributo a Joana D'Arc.


 Elle Fanning, que também é lindinha e talentosa, foi de princesinha numa noite ...


... de baiana do acarajé radicada em Paris, na manhã seguinte, ...


 ... e de Pavão Misterioso no badalado baile da Amfar. 

Na falta de Jennifer Lopez, Blake Lively decidiu encarnar a gostosa mal revestida, com um daqueles modelos que não caem bem nem numa beleza como ela e não devem ser sequer experimentados pelo restante da humanidade. 


Já Geena Davis aproveitou as sobras dos estofados da casa de praia para montar um vestidinho bem primaveril.  


A crepuscular Stewart, na versão loura de farmácia, foi de cisne branco.


Todos os anos, essa moça surge em Cannes com sua cabeleira de Marge Simpson. Tem complexo de Maria Antonieta, é russa de nascimento e vive na Europa. Com tantas extravagâncias capilares, só me intrigo com a força na musculatura do pescoço da Rapunzel e aonde ela se senta para assistir aos filmes num festival de cinema? 




As modelos - muitas delas brasileiras - são tratadas com reverência pelos sites de celebridades, que gostam muito mais delas do que dos artistas que vão a Cannes. Até quando usam um penhoar à guiza de vestido de noite. 


O absoluto ar de desalento da moça se explica. A pobre saiu descabelada, vestida de cortinado do berço do Bebê de Rosemary. 


  Na linha "Francesa também usa roupa feia", Vanessa Paradis, concorrendo ao troféu Galinha Pintadinha.


 A inspiração para este vestido foi um pesadelo do estilista  sobre seu  mergulho na Baía de Guanabara, da qual emergia coberto de garrafas de guaraná Jesus. 



Uma jovem órfã no tapete vermelho. Quem tem mãe, pai, irmão ou um porteiro amigo não sai assim, como se coberta por um saquinho de brindes de festa de criança. Teve muita coisa feia em Cannes, mas dificilmente algo há de superar isso...


... nem o modelito vintage, totalmente anos 70, retratados na finada Fatos & Fotos ...


... ou essa trágica Pierrete abandonada.



Melhor prender as melenas, botar uma blusa sem botão e jogar charme, à la garçon, como a deusa Charlize Theron.