28.1.09

Lá vem o Oscar I - Dúvida - e uma provável injustiça


É ridículo darem o Oscar de coadjuvante ao Heath Ledger por sua imitação de... Mel Gibson em Máquina Mortífera 1!!!! De máscara branca e enchimento nos lados da boca, ele é o próprio Riggs, mais doidão e mais cruel.

Estava esperando uma interpretação lapidar, algo fora do comum, um novo Marlon Brando. Não tem nada disso, não. É forçação de barra de garotos que acham que o cinema começou ontem, como diz o Miguel. Quem está bom mesmo no filme é o Aaron Eckhart.
Duro é pensar que Phillip Seymour Hoffman, que dá um show como o padre moderninho, talvez pedófilo (não dá MESMO pra saber, pela interpretação dele), manipulador, charmoso e sedutor em Dúvida . Ele consegue jantar a Meryl Streep no filme, bom e pesado, que retrata fielmente um ambiente de escola religiosa na década de 60. Aquele clima repressivo que só as crianças conseguiam suportar, uma severidade absoluta, mas também a dedicação e a rejeição absoluta à perversidade dentro de um mundo que tentava se isolar da realidade externa. Cada personagem adulto é um arquétipo fragmentado: o padre que busca a integração da fé com a realidade antes do Concílio Vaticano II, enquanto se vê como superior às incultas freiras, a madre lutando pela manutenção da tradição e sendo obrigada a se curvar a uma hierarquia misógina, a jovem irmã deslumbrada pelo amor ao próximo, a mãe que vê nas concessões a única maneira de um menino negro e pobre almejar um futuro melhor que o dos pais naquela sociedade engessada.
A peça de John Patrick Shaney (que só dirigiu no cinema Joe e o Vulcão, credo) ganhou Tony. O autor tem um Oscar pelo roteiro de Feitiço da Lua. O filme tem uma carrada de indicações (La Streep, Seymour Hoffman, a gracinha da Amy Adams que faz a freirinha, e Viola Davis, como a mãe do menino. Impressiona, mas dá aflição, porque chora soltando secreções de novela brasileira pelo nariz...). Correm o risco de saírem do Dorothy Chandler Pavillion de mãos abanando.


* Lógico que não encontrei foto do Mel Gibson fazendo cara de maluco ao contracenar com um Rottweiler. Só esta, dele bebinho, bebinho, pros paparazzi de uma delegacia. Assustador é saber que hoje ele porta uma imensa e ridícula barba grisalha, pavorosa como a máscara do Coringa.

27.1.09

Mantra


... Mas se Deus quiser
Tudo, tudo, tudo vai dar pé! Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé! Tudo, tudo, tudo vai dar pé
No, woman, no cry, no, woman, no cry!
Não, não chores mais ... menina não chore assim


Gilberto Gil, versão de No Woman, no Cry, de Bob Marley

20.1.09

Da série Meu passado me condena


Todos têm um fato que deveria permanecer obscuro no passsado, mas que, vez por outra, assoma e revela os esqueletos enfurnados em armários poeirentos.
Tem gente que já gostou de Wanderley Cardoso, de Michael Jackson cantando Ben, de Diana Ross, de baladas de Lionel Richie. Eu gostava do Elton John. Já era iniciada no rock'n'roll, gostava de Cat Stevens e dos inevitáveis Carole King-James Taylor-Carly Simon. E dos Beatles, dos Rolling Stones, de Carlos Santana, Chuck Berry, Little Richard. Aos 12, 13 anos, achei que precisava me apaixonar por um roqueiro mais atual. Como boa menina católica e culpada previamente, ele tinha que ser solteiro. Escolhi, então, o pianista de cabelos verdes, o que já demonstrava minha afinidade com os gays.
Portas de armários abertas, hoje, Sir Reginald Kenneth Dwight não me levaria à Apoteose, não.
Vi o show de São Paulo pela TV, cantei quase tudo para espanto de meu filho. E convenhamos, Sir Reggie não ficou um gorduchinho muito fofinho? Ele parece um ursinho!!!! Uma graça!!! E ainda toca um pianão. Agora, a Nigel Olsson, o baterista que teve longos cabelos negros e lisos ficou gorducho como o patrão, grisalho, sorridente, parecendo aqueles senhores que tomam cerveja no boteco com os amigos, no fim de semana desde a manhã. Davey Johnstone, o guitarrista, pouco mudou. Continua magérrimo, altíssimo, feíssimo. Mas Elton, com uma indumentária até discreta, se comparada às fatiotas dos velhos tempos, estava ótimo!!!
E vamos lá, quem não gosta de Bennie and the Jets, Philadelphia Freedom, Rocket Man, Daniel e Your Song? Todos têm um esqueleto no armário. O meu é bem fornido, mais pra urso de pelúcia.

São Sebastião, rogai por nós!



17.1.09

Adeus da semana




Quando Martha, minha "irmã de adolescência" - como ela gostava de nos definir - morreu, aos 36 anos, depois de oito meses lutando contra uma leucemia, eu me consolei pensando que o período de sua convalescença fora muito rico para nós duas, já que estávamos juntas todas as semanas. Esburacou meu peito, mas foi infinitamente duro para os "adultos" que conviveram com aquela jovem. Minha mãe, que só a visitara uma vez no hospital, estava arrasada. Martha deixou dois meninos pequenos, marido, mãe, irmãos.
Na mesma idade, esta semana morreu Mariana, a quem literalmente carreguei no colo e de cuja vida só aproveitei, praticamente, a infância. Foi uma das mais belas crianças que conheci, uma linda mulher, feliz no casamento, com uma filhinha. Mari era uma parente por afinidade, irmã de uma das afilhadas dos meus pais. Por um ano brigou com um violento câncer de pâncreas.
A morte só me revolta quando causada pela estupidez humana. Mesmo assim, é doloroso ser um "adulto" e sobreviver a quem se entreteu quando ambas éramos imortais.

15.1.09

Adeus de dezembro

Harold Pinter, dramaturgo

Adeus de ontem


Oi, Patrão, chegou no avião?
(Hervè Villechaise, o Tattoo, morreu em 1993. Ricardo Montalban, em 14 de janeiro).

13.1.09

Caramba, Madonna arrumou um namorado brasileiro de 20 anos e só eu não sabia?
Tô erudita demais, alienada dos interesses do mundo.
Só penso em trabalho, filhos, guerra no Oriente Médio, premiações de filmes/TV, literatura...
Preciso urgentemente ver o Big Brother e cair no mundo real.

12.1.09

O Globo de Ouro foi de uma chatice ímpar, com pouquíssimas surpresas. O sentimento pátrio americano bem incorporado pela imprensa estrangeira de Hollywood premiou qualquer maçada que reforce o espírito de nação dos que se arvoram de defensores da liberdade. Dá-lhe aquele sonífero John Adams, com um bom elenco que não pode fazer milagres, e o já repetitivo cool 30 Rock. Mas o importante não era excelência artística e sim muita paixão pelo que eles dizem ser a América.
Fora isso, foi a noite dos bad boys Colin Ferrell e o mais que decaído Mickey Rourke. Lógico que o Brendan Gleeson janta o Colin Ferrell e só é ombreado pelo alucinado Ralph Fiennes em In Bruges, mas, convenhamos, ele não é tão bonitinho quanto o irlandês mais jovem do trio. Se a Kate Winslet ganhou tudo é porque não dava pra sobrar pra mais ninguém mesmo. O prêmio póstumo ao Heath Ledger não me convenceu. Lição para o mundo: olha, perdemos um ator promissor, corajoso, mais uma vítima das drogas... Afinal, sobrevivente por sobrevivente, havia o Robert Downey Jr, fazendo o melhor ator de sua geração na bobajada Tropical Thunder. Se o negócio era dar prêmios comoventes, Downey quase enterrou a carreira por causa de drogas, e, como observou minha companheira telefônica de noites de premiações, Solange Noronha, ao menos, está vivo.
Mas o que interessa MESMO são os modelitos e os cabelos estranhíssimos que a moçada usou. Difícil dizer qual o pior.





Pra começar, Dona JLo, usando um vestido (?) em tecido de baiana de fantasia de carnaval, mostrando o quanto estava recuperada da gravidez recente.

A melhor plástica facial ainda é da Susan Sarandon, linda e eternamente jovem.
Colin Ferrel caprichou no sotaque irlandês, com paletó de filme sobre a formação do IRA e cabelo arrepiadinho. Atrás, na foto, a miss Golden Globe do ano, Rummer Willis, uma grandalhona que, segundo Rubens Ewald Filho, não herdou nem o carisma do pai, Bruce Willis, nem a beleza da mãe, Demi Moore.
Hugh Laurie perdeu o Globo de Ouro. A barba por fazer de House, já incorporou. Como já disse um personagem da série, isso fica bem em homens jovens.
Drew Barrymore pegou a mesma moto que Colin Ferrell para chegar ao teatro da premiação.* Foi, de longe, a mais desgrenhada da noite. Passou o tempo todo grudada na Jessica Lange, porque trabalharam juntas e agora são amigas igual a Marieta e Andrea Beltrão.
Anne Hathaway buscava manter nesses tempos desconstruídos o glamour das estrelas antigas.



O Sting gorducho e de barba e cabelos pretos ficou tão esquisito quanto qualquer roqueiro velho.
Forte concorrente ao título de esquisitona da noite, Rachel Griffiths não conseguiu o mesmo pano da ala das baianas de J.Lo. Foi de grega de bloco de sujo mesmo.
Johnny Depp, que ama ir vestido de mendigo às premiações da MTV, até que estava comportado. Mas deu um jeito de aparecer com cabelo cuidadosamente sujo e despenteado.
Pierce Brosnan deu uma retocada nas ruguinhas, engordou um pouquinho, pintou o cabelo de castanho mais claro e foi o único britânico - fora Hugh Laurie, claro - efetivamente elegante.
Rita Wilson, a Mrs Tom Hanks fez uma ótima plástica. Já o modelito sereia estilizada deveria ser limado. La Jolie tava sem gracinha, cabelo chapeado, toda contida. La Winslet soube escolher bem o pretinho básico.
O prêmio de Mickey Rourke provocou quase um ataque apoplético de Rubens Ewald, revoltadíssimo com o que ele considera uma "não-interpretação". O modelito ridículo combinava com o look absolutamente desleixado de boutique de Robert Downey Jr. Já as feições recompostas por plásticas de Mickey Rourke só combinam com filme de terror.
America Ferrera não deixa pra ninguém o título de Betty, a Feia. Balonê em nanica em tons de bege... Beyoncé, acho que já usou esta roupitcha em outro tom, que, seguramente, não cai bem nas branquinhas bonitinhas de gerações diferentes, como Kristin Scott Thomas e a filha da Mamma Mia.
* Copyright - Sol Noronha

9.1.09


O Dau é um dos meus sete (!!!!) compadres.
É tão difícil hoje em dia alguém ter compadres e comadres, mas, com quatro filhos e quatro afilhados, eu tenho a sorte de contar com tantos - que se tornaram parentes, também.
Dau e Giselle fizeram uma bela família. No momento, sentem um pouco da síndrome do ninho vazio, já que a primogênita (tô antiga hoje...) Ana Luísa foi trabalhar por um curto período na Flórida.
E isso ensejou a reflexão abaixo, que, na falta de um blog próprio, Dau enviou pra termos a honra de publicar cá nessas Arenas.
A propósito, também acho meio difícil sentir saudades atualmente. Ou até a gente se desligar, em férias, do mundo real.

Saudade

A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração. (Henrique Maximiliano Coelho Neto - Romancista e contista brasileiro - 1864/ 1934)

Dizem que saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa. Expressa mais do que nostalgia, tem a ver com falta, esperança e distância. Sem um destes ingredientes, o que ela é? E, justamente, vivendo um momento de distância de minha filha mais velha, sentindo sua falta no dia a dia, na esperança do reencontro em breve, descobri que a saudade é, como tantas outras espécies atualmente, uma categoria em extinção.

Realmente, sentir saudade dói, mas cria um mundo vivo e saudável em nossas memórias. Ajuda a exercitar o verdadeiro conhecer o outro, a valorizar aquilo que, muitas vezes, não percebemos pelo excesso de proximidade. E, quando do reencontro, chorar de alegria, curtir tudo aquilo que aquela falta representou, aproveitar cada momento de convívio. Só que...

Só que hoje existem as tais tecnologias de informação, essa Internet, em banda larga, que nos permite estar em qualquer lugar, a qualquer momento, em texto, som, imagem. E aí, covardes que somos, com medo de sentir um pouquinho de dor e solidão, usamos dessas tecnologias para, consciente ou inconscientemente, procurar exterminar essa tal de saudade. Um cyber-café, um ponto de rede, um acesso wireless no aeroporto, um notebook (já encolheram, esses danados, viraram netbooks, mistura de rede e computador) e lá estamos nós, dando notícias diárias, mostrando nosso rosto e fotos para que não haja sequer tempo de sentirem nossa falta. Há ainda o recurso dos celulares, com sms, mms e outros, tudo viabilizado pelo roaming internacional.

Tudo isso é muito bom, sim, mas algo se perdeu. Aquela expectativa que acompanhava a viagem de pais, tios, primos, amigos, namoradas, de olhar todo dia a caixa de correio para ver se chegava algum cartão ou carta. A surpresa quando, brasileiros espertos, descobríamos algum orelhão no exterior que, distraído, nos permitia ligar para casa de graça. Os dias sem notícias, em que a imaginação voava solta, pensando no que o outro estaria fazendo. E, por fim, o retorno, o abraço, o beijo, as horas de bate-papo, de abrir a mala, ver postais, descobrir mimos e lembranças. Havia, ainda, um outro prazer: a tal revelação das fotos, que mesmo quem tirava só via e sabia como tinham ficado depois.

Se, por um lado, o mundo se tornou menor, facilitando estarmos com qualquer um, a qualquer tempo, em qualquer lugar, por outro encolheu, também, um espaço precioso: o da nossa imaginação, o do nosso interior. Nossos cyber-sentidos se ampliaram, mas, e nossa intimidade? E a profundidade de nossa alma?

Não estou desdenhando a importância ou o valor da tecnologia. Pai coruja (pãe, brincam alguns) que sou, sem dúvida foi mais fácil suportar dois longos meses sem a presença constante de minha filhota. Mas, ainda assim... Não sei... Acho que sinto saudades da saudade.

Jorge Alberto Torreão Dáu.

No Valor Econômico

A era do triunfo da imagem
Por Olga de Mello, para o Valor, de São Paulo
09/01/2009

Apresentação ou representação? Desde a consolidação da sociedade do espetáculo nos últimos anos, essa pergunta chama a atenção de intelectuais no mundo todo. No Brasil, com a estréia de mais uma temporada da febre "Big Brother", na terça-feira, o debate ganha interesse renovado. Em seu livro "O Show do Eu - A Intimidade como Espetáculo", recentemente lançado pela Nova Fronteira, a antropóloga Paula Sibilia analisa a questão ao abordar vários aspectos da valorização de comportamentos e atitudes pela proliferação de "reality shows" expondo a vida dos anônimos.
Divulgação
Bolha de vidro do novo "Big Brother": reconhecer-se a partir do olhar do outro é característica humana, diz o psicanalista Benílton Bezerra Jr.

"Cada vez mais é preciso aparecer para ser. A espetacularização tornou-se um modo de vida, esvaziando o interesse do público pela criação ficcional", afirma a antropóloga. "A ficção, que preenchia a vida e era capaz de refletir sobre a existência com profundidade, perdeu para uma teatralização da existência, que, por sua vez, encobre a crise do real", prossegue.

Esse fenômeno não é exatamente novo. Escândalos e idiossincrasias sempre atiçaram a curiosidade pública, consagrando personagens admirados ou detestados por multidões ávidas por conhecer a intimidade de aristocratas, políticos e artistas. Em 1885, o cortejo fúnebre do escritor francês Victor Hugo, por exemplo, atraiu às ruas de Paris 2 milhões de pessoas.

Mas os tempos são outros: sem uma obra tão consistente quanto a de Hugo, o jornalista Jean Willys, conhecido por participar do programa "Big Brother Brasil", foi o escritor mais assediado na Bienal do Livro do Rio, há dois anos. Na mesma época, o blog da garota de programas Bruna Surfistinha gerou um dos principais sucessos do mercado editorial brasileiro, chegando a vender mais de 200 mil livros.

Casos semelhantes aos de Willys e de Bruna, que ingressaram no grupo cada vez mais numeroso de celebridades notabilizadas ao mostrarem seu cotidiano na mídia, surgem diariamente. Em 2001, a internet contabilizava cerca de 3 milhões de blogs. Hoje, eles chegam a 100 milhões, mais do que o dobro que abrigava há um ano. Se a princípio os blogs atendem ao interesse pela intimidade alheia, eles estariam servindo mais para a divulgação de pessoas do que para revelar aspectos inusitados do cotidiano.

"O blog está distante dos diários íntimos da sociedade do século XIX, em que os cadernos continham segredos confiados apenas ao confessor dos autores. A busca pelo relato genuíno leva ao sucesso de blogs e 'reality shows', porém dificilmente encontraremos autenticidade no espaço virtual ou na televisão", afirma Paula. "Vivemos a era do triunfo da imagem, obedecendo a padrões estéticos que utilizam o photoshop para retirar rugas e imperfeições que os corpos não conseguem esconder."

Autora de "Segredos Íntimos", Luíza Lobo, professora de literatura da UFRJ, estuda a progressão dos relatos de diários confessionais a blogs. Para ela, há uma distinção nítida entre registros que servem à reflexão de seu autor e o que se veicula pela internet. "O blogueiro, aparentemente, promove a união entre o público e o privado, sem deixar de fixar limites, protegendo-se sob pseudônimos. O blog é como um grafite. Mais que um desabafo, é uma expressão direcionada a outros", diz Luíza.

Paula vê nos blogs o reflexo da mudança da textura do real, que exige personalidades maiores do que suas realizações. Para a antropóloga, o esvaziamento da interioridade seguiria a revolução tecnológica iniciada na segunda metade do século XX, que privilegia a interação a distância, sem, no entanto, revelar pessoas reais. O mundo virtual estimularia a criação de aparências sem conteúdo próprio.

"O blog passou a ser instrumento para o fortalecimento daquela grife que hoje representa a pessoa. Atualmente, todos precisamos da imagem, mesmo os anônimos. Isso já ocorria entre artistas, como Salvador Dali e Andy Wahrol, que criaram personagens tão marcantes quanto seus trabalhos. Agora, essas figuras se sobrepuseram aos criadores", comenta Paula. "Todo mundo sabe quem é Madonna, mas poucos conhecem suas músicas. Ela é uma marca, não apenas uma artista, que provoca mais interesse pela personagem do que por sua obra. Hoje, qualquer um quer mostrar sua marca, mesmo que sem uma obra a apresentar."

A antropóloga vê ainda um novo produto cultural criado a partir do anseio pela autenticidade da vida real: compositores, escritores e artistas não apenas ganham biografias (autorizadas ou não), mas são transformados em personagens de relatos ficcionais, como Virgínia Woolf em "As Horas", livro de Michael Cunnningham. No cinema, Jane Austen vira a protagonista de um romance bastante semelhante às tramas que imaginou no filme "Amor e Inocência", enquanto o processo de criação de Shakespeare se mistura à paixão ficcional por uma personagem que jamais existiu na realidade, em "Shakespare Apaixonado".

Reconhecer-se a partir do olhar do outro é uma característica humana, percebida em qualquer cultura, lembra o psicanalista Benílton Bezerra Jr. A possibilidade de ter um blog lido em qualquer parte do planeta expandiu um espaço social que, há 50 anos, se restringia a círculos restritos, obrigando cada um a mostrar seu valor individual, diz Benílton.

Para ele, é importante destacar os pontos positivos dessa exposição do íntimo. "Estamos observando um fenômeno complexo. Existe uma certa preocupação com os que preferem o mundo virtual a interagir pessoalmente com seus interlocutores. No entanto, ninguém mais precisa permanecer em total isolamento. Até os mais tímidos podem encontrar seus semelhantes na internet."

7.1.09

E a Sierra, Maestro?


Aonde o Alexandre descobre essas pérolas, não sei. Mas que esta foto de Fidel Castro* abotoando o paletó e Che Guevara** com cueca de fora e cabelo molhado tá pra lá de suspeita, tá...
*A cara do ator David Arquette!
** Que gato!

Constatações de início de ano

  • Filme francês, alemão ou escandinavo mostra casas desarrumadas. Os americanos e boa parte dos ingleses apresentam mais arrumadinhos e bem harmônicos, com toques retrôs ou modernosos em doses perfeitas. Quase novela brasileira passada no Leblon.
  • Sempre corto meu cabelo achando que vou ficar a cara da Meg Ryan antigamente, com aquele desalinho mantido a muito laquê. Quanto mais corto minhas melenas, minha cara fica cada vez menos minha. Ou seja, cada vez menos o que eu me recordo como minhas feições (que é mais ou menos o mesmo que eu me lembro de meu corpo - nada correspondendo às imagens reais da atualidade). Mas nem mais a Meg Ryan tem o cabelo ou a cara da Meg Ryan.
  • Se o anoréxico tem uma auto-imagem de gordo, o obeso tem uma auto-imagem de esquelético.
  • Encontrar um espelho pode provocar uma síncope após os 45 anos.
  • Há mais cãs e pés de galinha em meu ser do que supunham minha vã filosofia.
  • Nunca aprenderei a cozinhar.
  • Este é um dos mais estranhos verões que o Rio conhece.

5.1.09

A primeira bronca do ano

Existe imposto mais injusto que o IPVA? 40% dos proprietários de automóveis do Rio de Janeiro estão inadimplentes. Por que será? O IPVA é um dos impostos mais absurdos criados no Brasil - e olha que eu nem quero falar daquela ridícula taxa de incêndio, que é considerada inconstitucional e continua sendo cobrada pelo Fundo dos Bombeiros. Eu, hein? E quando a Polícia também cobrar taxa de segurança, a Comlurb reativar a taxa do lixo (que gerou uma brigalhada feia na década de 7o, quando as pessoas se insurgiam contra impostos sem sentido algum até derrubá-los) e forem criadas taxas para escolas, hospitais e os demais serviços que a Prefeitura ou o Estado têm obrigação de fornecer?
Minha velha fubica não tem mais IPVA cobrado, porém devo pagar, anualmente, a quantia de 200 reais por uma vistoria e um seguro obrigatório. O carro tem 17 anos. Pelos proibitivos preços dos automóveis brasileiros, daqui a uns trinta anos compro outro.
Agora, a PM promete rebocar os carros de devedores de IPVA. Até parece. Já forneceram os locais das blitzes. E quem acredita que há lugar em depósitos para quase a metade dos dois milhões de veículos circulando pela capital? Porque se a maioria dos carros se concentra na cidade, é de se imaginar que o grande volume de devedores esteja por aqui.
Não defendo o calote de impostos, não. Só que esse número altíssimo de inadimplentes deveria levar seus credores a refletir sobre a cobrança de um imposto caríssimo, sem o menor sentido. Mas quando se compra um carro, paga-se uma pequena fortuna em impostos. Quando a gente compra uma roupa, também paga. Só que por usarmos o carro em espaços públicos, há mais impostos a serem pagos. A roupa, que circula por aqui e por outras paragens, não paga. Mas o carro provoca desgaste de espaço público e a roupa, não. Tudo bem. Acontece que já pagamos pedágio para as mantenedoras das estradas E IPTU para as prefeituras manterem os logradouros públicos. Então, por que, raios, continuamos a pagar taxas e taxas para ter um carro?
O brasileiro quer a classe média extinta.