31.12.06


E que venha 2007!!!!!

30.12.06

O horror, o horror


As últimas palavras do Coronel Kurtz, o terrível personagem criado por Joseph Conrad em "Coração das Trevas", a novela que foi a base de "Apocalipse Now", o filme de Coppola, marcam o fim de um ditador e de seu mundo particular, mas, para mim, sempre têm a dimensão de tudo o que a barbárie significa.
O horror é haver gente cruel a ponto de matar suas vítimas ateando fogo a um ônibus.
O horror é o enforcamento de Sadam Hussein, que poderia ser mantido vivo, numa cadeia de segurança máxima e trabalhos forçados.
O horror é ouvir as teorias pueris e sanguinárias para o fim da violência urbana, entre elas o fuzilamento constante de presidiários nas cadeias brasileiras como solução para eliminar o banditismo no país.
O horror é ouvir Bush dizendo que Sadam teve um julgamento justo.
Certamente a negligência com os cidadãos de Nova Orleans, abandonados às vésperas da chegada de um furacão, não pode ser objeto de um julgamento justo. Invadir países para fomentar lucros com a indústria da guerra também não vale julgamentos públicos.
Bom seria o horror ficar reservado ao cinema e à literatura, enquanto à realidade caberiam ainda os sofrimentos decorrentes da existência.

26.12.06

Valeu, Braguinha!


Meu coração

não sei por que

bate feliz

quando te vê

e os meus olhos ficam sorrindo

e pelas ruas vão te seguindo

mas mesmo assim foges de mim

Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso

e muito muito que te quero

e como é sincero meu amor

eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem,

vem sentir o calor dos lábios meus

à procura dos teus

vem matar essa paixão que me devora o coração

E só assim, então, serei, feliz, bem feliz.

23.12.06








Um feliz Natal aos habitués destas arenas!
A blogueira e seus personagens favoritos entram em recesso
para degustação de bacalhau e rabanadas!






22.12.06

O ano sabático de meus filhos

Durante o ano letivo de 2006, em vista da bancarrota financeira que me acometeu, matriculei meus filhos na melhor escola pública municipal da região que compreende Botafogo/Lagoa/Urca. Sem querer fazer deste texto um relato pessoal, vou às observações que colhi ao longo do ano inteiro e os motivos para desacreditar totalmente no ensino público de 1a a 8a séries na cidade do Rio de Janeiro.
- Na primeira reunião de pais, soube que alunos mentem e fogem do colégio, portanto, devem ser questionados e vigiados na medida do possível.
- Televisão e DVD da escola são mantidos dentro de uma jaula fechada com cadeado - isso porque as escolas do Município são vítimas de constantes assaltos, não por causa dos alunos.
- Na mesma reunião falou-se sobre freqüência dos alunos, mas não sobre proposta pedagógica.
- No primeiro mês de aulas, recebi telefonemas de empresas interessadas em contratar meu filho de 13 anos para "inseri-lo no mercado de trabalho" como office-boy, graças a um convênio que as escolas top de linha, ou seja, na qual os alunos respeitam a integridade física e moral do corpo discente e dos parcos funcionários de apoio, mantêm com tais firmas.
- Em dois bimestres sem abrir um só livro, meu filho já havia passado de ano, exceto em Educação Física, onde seus conceitos nunca foram muito além de regular; no restante, foi uma coleção de "ótimo", "muito bom" e "Excelente".
- Minha filha, sem qualquer esforço, levou o ano inteiro brincando e com conceitos regulares. Foi aprovada embora tivesse passado de ano com dependência em Matemática; isso porque reprovação só existe para quem levar bomba em três matérias.
- Pela primeira vez em toda a vida letiva de meus filhos, eles não precisaram ler nenhum título literário ao longo do ano.
- A professora de Matemática adoeceu e ficou dois meses sem ir à escola. O conceito dado no bimestre anterior foi repetido para todos os alunos daquela turma.
- Todos os professores faltam religiosamente ao menos uma vez ao mês.
- Na ausência do professor, o aluno é dispensado e pode voltar para casa, se for nos últimos tempos - as aulas não são repostas, nem há substituição daquele professor.
- A diretora e as professoras se revezam na abertura dos portões: não existe zelador nem porteiro no colégio.
- Palavras da coordenadora pedagógica: "Fornecemos diplomas para que os alunos acabem como caixas de supermercado. Infelizmente, o sistema é esse. Aqui não tem bandido, mas não podemos exigir nada do aluno em termos de aprendizado. E somos top de linha dentro da região. Ano que vem será pior, pois a Prefeitura adotou a aprovação automática em todas as séries".


Minhas conclusões:

- À escola pública do Município não cabe ensinar, mas educar seus alunos para que saibam se comportar a serviço dos cidadãos de primeira classe. Eles estão ali para conhecerem seu lugar.
- Ao fechar convênios para levar crianças ao mercado de trabalho, a escola está se distanciando do ensino, enquanto enfatiza que seu aluno é um futuro servidor das elites.
- Algumas instituições, como o Ceasm, na Maré, dá reforço escolar para os meninos pobres irem para a universidade. E conseguem que eles se formem, sim. Mas os meninos não podem trabalhar.
- Enquanto abrimos cotas, não existe reforço no ensino público fundamental. Precisamos abrir cotas, sim, mas garantirmos que o ensino fundamental seja compatível com o que é oferecido nas escolas particulares. Se o conteúdo é, teoricamente, o mesmo, e se os professores também são os mesmos, muitas vezes, aonde está a diferença? Apenas no que é exigido do aluno. Embora a escola particular também esteja sofrível e faça de tudo para o aluno passar de ano sem tanto esforço, ainda existe preocupação com a integridade física dos estudantes e com a reposição de dias perdidos de aula. Isso porque existe uma relação comercial entre famílias e instituições.
- Uma professora com 30 anos de Município me contou que a Prefeitura quer manter as aprovações lá em cima para obter verbas do Banco Mundial. Por que o Banco Mundial não fiscaliza a qualidade desse ensino ou a forma como se aprova o aluno? Ora, por que será?
- A meus filhos caberá fazer cursinho suplementar para cursarem o Ensino Médio em uma boa escola particular ou nos colégios federais que ainda prestam. Em casa têm acesso a conhecimentos que seus colegas sequer sonham. E os sonhos... bem, a todos restam apenas os sonhos.

19.12.06


A simpática escolha da Time é uma homenagem a todos que produzem, lêem e fazem do mundo na rede uma forma universal de harmonizar a Humanidade.

Nós, por exemplo!

17.12.06

Deu pra ti


... baixo astral? Vai pra Porto Alegre e tchau!
Parabéns ao Internacional pela melhor zebra dos últimos tempos!!!!

15.12.06

Retrô



  • Melhor música chiclete - Ela só pensa em beijar, beijar, beijar...
  • Melhor chope - O do Botequim Informal da Conde de Bernadotte, uma tarde, após a praia
  • Melhor dia - hoje e sempre
  • Melhor encontro - Com Thereza e Mamunia, depois de intervalos de 30 (!!!!) e 7 anos respectivamente
  • Melhor constatação - Meus amigos são um barato
  • Melhor confirmação - Família a gente faz e escolhe
  • Melhor almoço - Os cívicos
  • Melhor festa - As que reúnem as Graças
  • Melhor lançamento de livro - "Parem as Máquinas! Jornalistas que valem mais do que 50 contos", na Estudantina
  • Melhor "já foi tarde" - Pinochet
  • Melhor aventura - Viver
  • Melhor terapia - Escrever
  • Melhor livro chiclete, aquele que a gente só larga se precisa tomar banho - Anotações sobre um escândalo, de Zoe Heller
  • Melhor dia - hoje e sempre

Dezembro


Dezembro é o único mês que tem prazo no calendário. Ele acaba por volta do dia 20, mas desde seu início começam as comemorações e confraternizações pelo fim do ano. Na verdade, motivo não existe. Todo mundo vai a essas festas porque gosta é de festejar. Tenho uma amiga com cargo de responsabilidade em uma grande empresa. Uma de suas principais atribuições é coordenar eventos festivos apenas para os funcionários da empresa. Fazer festa é necessidade básica do ser humano. Em dezembro, elas se avolumam de tal maneira que conciliar as agendas vira uma arte. Porque é urgente que amigos, colegas de trabalho, ex-colegas de colégio e famílias se reúnam neste mês, antes da virada do ano e a gente dê prazos mais etéreos, como o famoso "depois do carnaval", quando realmente começam os dias úteis de uma parte do Brasil - outra parte vive na miséria, na pobreza, na circunstância e não tem a menor noção sobre datas e deadlines.
O detestável em dezembro neste canto aqui do Brasil? O trânsito, as ruas fechadas, as lojas entupidas, aquela noção ridículo de que somente consumindo podemos ser felizes, a loucura comercial.
O bom de dezembro? A esperança de um novo começo.

13.12.06

Em 13 de dezembro de 1981


.. eu tinha 21 anos





... dirigia meu primeiro carro, um Fiat GL duas portas, amarelo táxi, que apelidei de "Perigo Amarelo" - e vivia sendo confundida com taxista, levando velhinhas na porta da igreja da Paz para casa, por gentileza mesmo, porque naquela época dava para ser gentil e aceitar caronas de jovens desconhecidas





... fui ao cinema à tarde, ver sei lá o quê no finado Ricamar, convencendo uma amiga botafoguense a torcer pelo Flamengo, que iria jogar no Japão pelo Mundial de Clubes





... assisti ao jogo, que começou à meia-noite, com um grupo de amigos em Ipanema





... o Flamengo fez bonito





... a madrugada na Zona Sul foi uma festa só





.... saímos pelas ruas em carreata





... passávamos de um carro para outro - sempre de gente conhecida porque as mães nos assombravam com o fantasma de Cláudia Lessin, coitada da moça





... brincamos na praia até quatro da manhã





... a cidade dormiu feliz.





10.12.06

Ela voltou


O Rio, iconoclasta como ele só, precisa muito de símbolos que se incorporem à privilegiada paisagem natural. Há alguns natais veio a árvore da Lagoa. Já me acostumara a ela, apesar de considerá-la feia demais. A do ano passado até ficou bonita, melhor do que a de 2004. A cada ano, elas são maiores. Uma beleza de desperdício de energia quando temos horário de verão exatamente para poupá-la. Não importa que tenha gerador próprio, é só o princípio que vejo violado.
Violada também é a Lagoa, coitada, sempre aterrada, entupida de despejos de esgotos que matam peixes ou palco para obras de arte como a felizmente finada estrela-polvo-ovo frito de Tomie Otake, que mais parecia um golpe na auto-estima da cidade, algo como fizeram os gaúchos ao amarrerem os cavalos no obelisco da Avenida Central. Não podiam deixar a Lagoa em paz, enfiaram a árvore de Natal, que, no entanto, permitiu que a região perdesse o ar de gueto de elite que vinha tomando para ser local de passeio de todas as camadas sociais que freqüentam ou vivem na cidade. É delicioso ver aquela montoeira de gente comendo pipoca, tirando fotografias, famílias, namorados, bebês em carrinhos, senhoras de cabelos armados, todos disputando espaço com os corredores e os ciclistas - esses, por sua vez, ficam enfurecidos.
Pena que este ano o Bradesco tenha armado a mais pavorosa de todas as árvores. Durante o dia, vá lá, até que as bolas vermelhas sobre a armação metálica dão um certo tom festivo à pavorosa estrutura. Mas à noite... as bolas se transformam em alegoria de escola de samba, com pinta de pintura de botequim carioca!!! Cada bola, se não me engano, traz a paisagem de alguma cidade brasileira. São HORROROSAS!!!!
Devo passar o reveillon na Lagoa, onde ainda é possível comemorar o Ano Novo num simulacro de cidade civilizada, entre adultos, idosos, crianças e bichos. Criança na rua, à noite, com os pais, é sinônimo de vida tranqüila. Não falo nos meninos de rua, gerações de crianças que ali se criaram sem qualquer cuidado por adultos ou pelo Estado. Falo das crianças que ainda têm pais, como as que eu vi, dois anos atrás, passeando à noite em Gramado, correndo atrás dos artistas que estavam lá para o Festival de Cinema. Ou crianças como eu, que, no outro milênio, era arrastada todas as noites de verão para passear até Copacabana ou até a Praça da Paz, apenas para fazer a digestão e dar uma voltinha na rua. Um mérito a árvore da Lagoa tem. Por algumas noites, em uma pequena área da cidade, vivemos as sensações do Rio do século passado.

8.12.06

A Botafoganização do Leblon



Aquele bairro do qual só passei a gostar recentemente e com o qual volto a antipatizar a cada glorificação estereotipada de que ali reside o último bastião de excelência do carioquismo, o Leblon, enfim começa a se igualar aos demais recantos da cidade.
Quando eu era criança, considerava-se absolutamente ridícula a paixão paulistana por lojas. Carioca fazia compras, claro, mas vivia era na praia ou no boteco. Em quarenta anos, tudo muda, claro. Carioca hoje tem devoção por shopping center. Carioca não gosta de sair de seu canto para dedicar-se à cristalização do entretenimento consumista. Carioca só vai a cinema de shopping e só assiste a filme comendo pipoca, tomando litros de refrigerante. Carioca senta-se em cafés que servem bebidas com as mais estrangeiras denominações e que têm toques da rubiácea, mas o gosto, mesmo é bem distinto. Carioca não gosta mais de um cafezinho de botequim, mas AMA tomar esses drinques globalizados. Em algum momento, eles serão servidos à americana, em copos de papel. E os neo-cariocas irão preferi-lo ao velho cafezinho tão fumegante quanto as pouco higiênicas xicrinhas de porcelana mantidas em água fervente de duvidosa assepsia.
Bem, todo este nariz de cera é para informar que, enfim, o Leblon começa a ser reintegrado ao resto da cidade graças à inauguração de seu novo shopping center, um trambolho arquitetônico de gosto duvidoso, parecendo um mausoléu branco em diversos andares, aos quais se alcança após galgar dois lances de escadas rolantes que lembram, em muito, a estação de metrô Arcoverde, em Copacabana (onde os trilhos são tão próximos às primeiras camadas magmáticas da crostra terrestre, que em um dos respiradouros foi instalada a marca do Batman, numa demonstração do bom humor pop que a carioquice manteve por tanto tempo). Mas antes, muito antes de usufruir dos prazeres oferecidos pela nova catedral do consumo chique, há que se alcançá-la. E lá fui eu para a nova Livraria da Travessa (imensa e linda, reconheço) para o lançamento do livro da Regina. Foi então que descobri um novo Leblon. O Leblon dos engarrafamentos que são comuns no resto da cidade. A Afrânio de Melo Franco virou terra de ninguém. Flanelinhas, todos moradores da Cruzada São Sebastião, indicam vagas sobre as calçadas. Orientadores de trânsito gesticulam e nenhum motorista dá bola. Guardas municipais e alguns PMs acompanham o caos, enquanto carros empacam e ninguém se entende.
Provavelmente esta é a forma de democratizar o Leblon, deixar a bagunça imperar e contrabalançar as griffes famosas do novo shopping, que começou a funcionar antes de estar ... limpo! No afã de aproveitar o Natal, meia dúzia de lojas abriram suas portas sem ligar para a poeira de obra que se acumula por tudo quanto é canto. A Travessa, por exemplo, tem todas as superfícies em madeira sem verniz aparente, mas o cheiro de impermeabilizante impede que se permaneça por muito tempo em seu interior. De qualquer modo, as autoridades municipais estão de parabéns: permitiram que fosse incrustrada na área do Teatro Casa Grande uma aberração arquitetônica que contribuirá para prejudicar ainda mais o tráfego da cidade. Mas isso, até eu, que não sou engenheira ou arquiteta, previa que iria acontecer. O Rio merece por entronizar tanta gente preocupada em esmagar de vez o carioquismo.

7.12.06

Andei tão atarefada que esqueci o registro da morte de Puskas, vinte dias atrás. Os gramados do Paraíso devem estar sorridentes.

4.12.06

Zappa Girl


Semana de muito trabalho e muita festa pela frente!!!
Regina Zappa está IMPOSSÍVEL - lança filme e livro sobre dois baluartes da MPB.
O filme, que ela dirigiu com a não menos diligente Beatriz Thielmann, é sobre Edu Lobo e a arte da composição. Eu vi, e é maravilhoso, principalmente para quem gosta de música, de arranjos, de linguagem musical. Tem a última entrevista do Guarnieri, já doentinho, uma graça o sorriso dele para Edu.
O livro, que ela escreveu sobre fotos do não menos talentoso Bruno Veiga, é sobre Chico Buarque e sua relação com o Rio de Janeiro, através de algumas letras de música. Eu li e é maravilhoso, com uma daquelas caprichadíssimas edições da Casa da Palavra, atualmente a mais carioca das editoras do Rio.
O lançamento do filme, na quarta, é fechado para convidados, mas o do livro é aberto, conforme está no convite aqui em cima!!!!

E o feitiço carioca?


O bairro mais famoso da cidade merece muitos e muitos posts. E muita polêmica, claro, entre os freqüentadores destas arenas, já que Cantagalo, para alguns, está mais associado ao tráfico do que ao ponto geográfico.
Sou uma cultora de nomes antigos, odeio essa mania de batizar colégios e logradouros com nome de morto recente. Até porque ninguém sabe quem é o defunto homenageado, depois de algum tempo. Adoro a Rua das Acácias. Não é bonito? Também é interessante haver uma rua Dona Mariana, porque o 'dona' suscita a curiosidade (tá, era uma Guinle, Botafogo inteira é Guinle). Acho que por isso sou favorável a batizar as estações com nomes consagrados, como Cantagalo, Arcoverde, que a Sonia teme que venha a confundir os viajantes do metrô que não sejam do Rio. Mas quem toma condução deve se inteirar dos caminhos percorridos e até que o Metrô carioca indica direitinho, com muitos mapas e avisos por alto-falantes a cada chegada em estação.
Batizar estação de metrô é fácil, difícil é não se revoltar com a nova produção norte-americana de terror/suspense, usando o Brasil como cenário apavorante para jovens turistas que são dopados e seqüestrados por uma quadrilha de traficantes de órgãos humanos. Já recebi mensagem pedindo o boicote ao filme - ao qual já iria aderir de qualquer maneira, pois não gastaria meu tempo nem meu suado dinheiro vendo uma bobagem dessas. Drogas, tô fora!
Não é de hoje que o Brasil é desconhecido pelo mundo todo, mas também não é de hoje que o mundo todo é desconhecido pelo planeta inteiro. Da mesma maneira que os gringos acreditam que temos macacos saltitando alegremente pelas praias cariocas, imaginamos que não existam executivos na China nem na Índia (isso pra falar dos países mais badalados). Vivemos ainda no imaginário do século XIX, acreditando piamente que a Europa e os EUA são 'desenvolvidos' e que o resto do mundo, excetuando o Brasil, vive no limbo ao qual o colonialismo o relegou.
Em 1983, eu era foca no Globo e a faixa de rádio que usávamos para falar dos carros de reportagem com a redação era a mesma utilizada pela produção do filme "Feitiço do Rio", um dos poucos trabalhos ruins na carreira de Stanley Donen (acontece, acontece). O filme tinha Michael Caine (acontece, acontece) e Joseph Bologna como dois amigos que se hospedavam numa mansão no Joá com as filhas. A de Caine era a então jovem Demi Moore. A filha do outro tinha um caso com Michael Caine - uma baixaria só, mas compreensível por causa do tal feitiço do Rio. O nome original da obra era "Blame it on Rio", culpando esse lugar mágico que transforma os amigos da família em pedófilos tarados que se relacionam com meninas que viram nascer. E tinha, naturalmente topless na praia, com direito a papagaios fazendo de adereços de ombros dos banhistas.
Uma tarde, o chefe de reportagem enlouqueceu. Eu tentava explicar alguma coisa sobre uma apuração complicada quando entra uma outra voz no meio de nossa transmissão informando que não precisávamos levar mais cobras nem papagaios ou macacos para o Pão de Açúcar. O chefe deu uns berros no microfone, mandou todo mundo pegar aquela bicharada e levar pro zoológico ou pro Pinel. Desconheço o paradeiro dos produtores e seus animais, mas naquele dia reinou a tranqüilidade nas ondas do rádio.

30.11.06

A copacabanização de Botafogo II

Oba!
Depois da C.A., Botafogo ganha uma filial do Ponto Frio!
E parece que um grande supermercado se instalará na São Clemente.
Horácio continua sumido.

Ai de ti, Copacabana!


Moradores de Copacabana querem que a futura estação Cantagalo, do Metrô, seja rebatizada como Eugênio Jardim, nome da pracinha por onde se desce até os trilhos subterrâneos. Alegam que o nome Cantagalo está associado ao tráfico de drogas.

O detalhe é que a estação fica exatamente no Corte do Cantagalo, que liga Copacabana à Lagoa.

O Morro do Cantagalo é um pouco mais do que um ponto de venda de drogas. Se não me engano é o morro de onde esta foto foi batida, no século passado. Um morro que também é conhecido pelos nomes de Pavão e Pavãozinho, onde mora muita gente que não é nem quer saber de traficantes.

E os separatistas de Copacabana poderiam fazer as malas para a Barra da Tijuca, onde viveriam isolados com uma falsa sensação de segurança. (revisado, depois do toque do Jôka, sem querer ofender ninguém)

29.11.06

Azáfama

É simples.
Se eu tivesse tempo, dormia mais.
Se eu tivesse paciência, leria menos.
Se eu tivesse um cachorro, batizaria de Napier.
Se eu tivesse mais um filho, chamaria de Noé.
Se eu tivesse dinheiro, pintaria a parede do quarto de verde claro.
E aí, iria só sonhar.

25.11.06

13 anos de minha menina




Júlia em três tempos.
A família que ganhei. E minha menina, ainda pequenina, tempos atrás.

Solão e eu vou à praia. Infelizmente, ficarei no asfalto, labutando. 11 da manhã, sábado, aniversário de minha filha e eu lá, fazendo matéria...

Vinte anos atrás, esta era minha sina, nos fins de semana de plantão. Era uma briga dentro da redação. Ninguém queria fazer "praia". Coisa mais natural numa cidade à beira-mar era ir todo mundo pra praia num dia bonito. Mas a gente tinha que procurar notícia naquilo. Calor, engarrafamento, todos pelados e as equipes de jornalistas de calça, culote, paletó, almofadinha (só entende a referência quem tiver mais de 40anos...), caminhando pelas areias cariocas, dizendo: "Dá licença, eu sou do Globo e estou fazendo uma reportagem sobre a praia no fim-de-semana. Você mora aonde? Vem sempre aqui? Tem turma de praia?".

Uma tarde foi linda. Vi golfinhos brincando na beira d'água em Ipanema, na altura do Castelinho. Todo mundo fugiu do mar, em pânico. Beira d'água é força de expressão, claro, mas uns dez bicho pulavam perto da arrebentação. Por quê? Sei lá. Uma festa para os olhos. O que faziam esses desgarrados em Ipanema, quando geralmente ficam lá longe, em alto mar ou na Baía?

Ideal era fazer a matéria à tarde, depois de ter pegado uma prainha de manhã cedo. Aí, eu já saía com a malévola intenção de usar meus amigos como personagens das matérias. Ainda bem que todos levavam na brincadeira e não ligavam quando liam suas declarações no jornal de segunda-feira.

No século passado era assim: havia gente que não plantava bananeiras na Rio Branco para aparecer em jornal.


Eu e meu amigo Ricardo Góes, num domingão desses, em Ipanema.

22.11.06

Bye bye, Altman!

20.11.06

No Escurinho do cinema


Só por haver transformado a linda e insossa Penelope Cruz numa Sofia Loren (embora a referência final seja Anna Magnani) exuberante e doce, Almodóvar merece um Oscar de melhor diretor por 'Volver', filme de um homem que ama as mulheres. Fazer Carmem Maura perder o charme não é vantagem alguma. Ela se vira com ou sem Pedro.

Um elenco de mulheres estupendas, as cores de sempre mais discretas, modernos moinhos de captação de energia eólica substituindo os tradicionais - de vento - com os quais lutou Dom Quixote, em La Mancha, terra natal de Almodóvar e cenário do filme, tudo é docemente triste e histericamente engraçado nesse universo feminino.

Quem tem mãe morta, chora. Quem tem mãe viva, telefona correndo pra ela.

E as comidas, a falação, a viração. Tudo com uma pitada de perversão, uma música dramática, um tom de ódio, muita paixão. Uma comédia da vida real, sem um encerramento grandiloqüente, mas com créditos finais estupendos.

Não é o maior nem o mais bombástico Almodóvar. Mas é um dos mais delicados e poéticos, com uma simplicidade de Manoel Bandeira.


19.11.06

Gris


Ando com antigas canções francesas na cabeça.
"La Mer", "La Vie en Rose", "Que rest-il de nos amours".
Eu, hein!
Meu clima hoje é de doce melancolia em preto e branco.

13.11.06

Gambiarra


O termo vem do teatro, segundo o Aurélio. Sempre conheci como aquela fileira de lâmpadas que fazem as árvores de Natal do Aterro ou que iluminam as festas de São João. O termo é lindo e atualmente tem diversos significados, entre eles mulher feia. O mais comum é um remendo, feito por mecânicos de automóvel ou eletricistas.

Minha mãe era especialista em gambiarras. Nutria uma paixão secreta por instalações elétricas, sentava-se no chão e ia pregando fios nos rodapés até chegar a uma tomada, que recebia benjamins, outros fios cortados e colados. Tomava choques e, no fim, os fios ficavam invisíveis e os eletrodomésticos funcionavam perfeitamente. Ela era mestre em consertar descargas quebradas também. Papai, filho de pedreiro, nunca se habilitou a esses trabalhos de handy man. Sua única participação no setor de ajustes domésticos era trocar lâmpadas (e varrer cacos de vidro. Ele tinha pavor de cacos de vidro, se um copo se quebrava, rapidamente se apresentava, vassoura e pá em punho). Sempre se prontificou a trocar carrapetas de torneiras, distribuindo artisticamente ferramentas em torno da área a ser consertada. A exposição durava dias até que alguém pedia ao porteiro para resolver o problema.

Sou uma negação neste tipo de serviço. Meu negócio é decoração e urbanismo, trocar plantas de vasos e furar paredes para botar prateleiras ou quadros. Tenho absoluta fascinação por loja de material de construção, sempre preciso comprar porcas, parafusos, ferramentas - preciso mesmo, descobri que só tenho três chaves de fenda em casa. Pois não é que depois que eu desisti de arrumar os plugs do computador e saí triste para trabalhar, minha filha, honrando a tradição feminina da família, montou uma gambiarra que permitiu o funcionamento do equipamento. Pegou um teclado antigo, ligou no plug redondinho, fixou com fita durex, prendeu o plug do mouse no local correto e... tudo ficará assim até eu comprar - amanhã, espero - a espécie de benjamim para drivers recomendada pelo moço do computador.

A menina promete!

Ainda Cândida


A meus amigos queridos, informações relevantes:

- Mais uma vez, tenho que me virar pra blogar, escrever, trabalhar. Este PC zinho está dando mostras de cansaço absoluto e sinais de falência múltipla dos órgãos. Afinal, tem quase seis anos de vida. Em tempos modernos, isso não serve nem como tempo de duração de casamento de celebridades, quanto mais de eletrodoméstico. (Alguém viu as últimas fotos do casal Brangelina, passeando com os filhinhos pela Índia? Depois de tanta promoção, inclusive com a produção de um bebê próprio, os dois se mostram bicudos - o que, convenhamos, é fácil pra ela; parece que a relação vai pro mesmo brejo que o fugaz casamento de Britney Spears. Fim do parênteses Contigo/Caras)

O que pifou agora no bravo PCboso - o driver do mouse e o do teclado - já havia dado umas boas tossidelas em tempos atrás. Agora, parece que já era. Assim como o driver do CD-Rom. Toca, vê, mas não grava.

Sei que é o momento de me desapegar desta máquina que tantos bons serviços me prestou. Acontece que não tenho COMO arrumar outra. Está sendo dramático escrever qualquer coisa, pela simples razão de que sem o mouse não sou quase ninguém. Então é um tal de plugar e desplugar as conexões pra utilizar mouse e teclado separadamente, o que se torna bastante confuso na maioria das vezes e atrasa meu serviço.

Se eu não estivesse trabalhando muito - felizmente -, não haveria tanto problema. ARRRRGGGGG!!!!!! Odeio tecnologia que falha!

- Como este ano aprimorei meu estoicismo, ficarei no plug, replug, desplug até o moço do computador conseguir vir trocar os drivers ou decretar a caquexia absolura de meu PCbento. Mas tô cansada de viver na gambiarra.

- Para todos os estetas, que torcem pela modernização do visual de uma mulher que está mais pra banhista de Renoir do que para Venus de Milo, um alento: iniciei um projeto de caminhadas. Só houve uma ontem, outra acontecerá amanhã, que hoje, com os drivers that drive me crazy não pude abandonar ainda meu home office.

7.11.06

Nota de Falecimento

Morreu Paul Mauriat, bandleader da minha infância, que fazia tanto sucesso quanto Ray Conniff. Não tinha o prestígio de Henry Mancini ou Nino Rota, nem acompanhava Frank Sinatra, como Nelson Riddle.
Nesta era de som eletrônico, é estranho lembrar que houve um tempo em que ser músico, mesmo que de orquestras que animavam bailes, era algo mais trabalhado.
Paul Mauriat, Herp Albert (desse eu gostava, com os Tijuana Brass), Ray Conniff tocando "Besame Mucho" foram os reis da música de elevador. Tranqüila e distante. Como minha infância.
Horácio continua sumido.

É a mãe


Eu não sei se a culpa é de Freud, do cinema americano ou de Proust, mas a maternidade volta e meia entra em voga. No momento, a moda é falar do dilema da mulher contemporânea que ama o filho e não quer perder sua individualidade, ou seja, não vai deixar de trabalhar fora para ficar em casa dedicada ao bebê.

A vida não tem receita de bolo, é só a repetição de comportamentos observados. A maioria das mães ama seus filhos acima de qualquer coisa. É biológico. O ser viveu dentro da barriga da gente ou foi gestado por outra, mas nos conquistou no primeiro olhar, num orfanato, na rua, na vida. Agora, isso é um comportamento atual, não era assim, não. Quem diz é a Elizabeth Badinter, no "Um Amor Conquistado - O Mito do Amor Materno", uma pesquisa histórica que lembra os hábitos das mulheres chiques dos séculos XVII e VIII na França, que entregavam os bebês para amas-de-leite criarem no campo. Muitas crianças morriam. No século XIX, o padrão muda e nasce a mãe abnegada, imortalizada pela literatura.

Desde que tive meu primeiro rebento revolta-me a insistência em estudar o comportamento social apenas observando os hábitos das classes abastadas ou mais instruídas. As amas-de-leite francesas precisavam daquelas crianças para sobreviver. Seus próprios filhos eram os geradores da situação profissional delas, mas não me recordo o que acontecia com aquelas crianças. Hoje, as revistas e livros que analisam a maternidade no mundo moderno também resumem a abordagem à vivência das mulheres de classe média. Fiquei enfurecida ao ler, uns 17 anos atrás, no fim de minha primeira licença-maternidade, que a mulher precisava optar entre permanecer com o bebê ou retomar suas atividades profissionais. Não se mencionava ali a mãe que, como eu, precisava trabalhar para sustentar a família.

Ao longo de seis anos tive quatro filhos e jamais parei de trabalhar, exceto nos períodos de licença-maternidade. Naturalmente com a entourage indispensável à mãe de classe média brasileira: avós e empregada, além de um pai participativo, que jamais "ajudou", mas fez sua parte na criação dos filhos, claro. (Odeio a expressão "meu marido me ajuda". Se os dois estão trabalhando fora de casa por que as lides domésticas e os cuidados com a prole são responsabilidade apenas de um?)

Ter uma profissão me trouxe muito mais do que uma realização pessoal, mas é a única forma de garantir a sobrevivência de minha família. Minha mãe sempre trabalhou fora, muito mais por necessidade do que por prazer. Sou da geração que teve a felicidade de escolher uma profissão e de escolher a maternidade também.

Nesses quase vinte anos em que me graduei na função materna (nem com tanto louvor assim, mas com experiência de serviço), a imprensa e a literatura continuam abrindo espaço para textos intrigados quando mulheres admitem que trabalhar é muito menos cansativo do que criar pessoas. Ao mesmo tempo, observo mulheres de classe média ainda fora do mercado de trabalho, sem qualquer pressão ou desejo de trabalhar. A vida doméstica as satisfaz plenamente. E mulheres pobres, que vivem em condições abaixo da dignidade (linha da pobreza, no Brasil, é algo próximo à miséria absoluta; basta manter uma família com salário mínimo para estar quase em classe média, de acordo com nossos sensacionais indicadores sociais), também se arvoram de ter maridos que as sustentam. Mas essas mulheres não são objeto de análise. Estão dentro do padrão hollywoodiano de maternidade compensatória pela vida difícil. Só são mostradas quando a vida abate um de seus filhos e aí surgem descompensadas, desesperadas, escandalosas como uma mãe de tragédia grega. Ao leitor branco e educado resta condoer-se da situação "dessa gente".

6.11.06

Pros meninos


Estreou o novo filme de James Bond, com o feioso Daniel Craig encarnando nosso assassino profissional favorito.

Não sou viúva de Sean Connery, ao contrário. Acho que a canastrice de Pierce Brosnam é perfeita para um personagem ridículo daqueles - além, naturalmente, dos belos atributos naturais do maduro ator irlandês.

Divertido é imaginar que OO7 tenha que ser lindão para levar mulheres ao cinema. Mulher não gosta de filme de James Bond, nem de qualquer pancadaria básica estrelada por Schwazzenegger, Van Damme, Chuck Norris ou os fenomenais George Segal e Dolph Lundgreen. Sim, eu conheço tudo quanto é trash production. Afinal, basta ficar com a televisão ligada na Globo aos domingos à noite que se é brindado com a diversidade da porcaria cinematográfica.

Bem, eu já fui ao cinema assistir 007. Não os que tinham Sean Connery, era criança ainda. Mas acho que vi alguns com Roger Moore (incluindo Live and Let Die, péssimo, mas com o melhor tema musical, assinado por Paul McCartney, e um pavoroso, filmado no Brasil, em que 007 saía da Amazônia direto para as cataratas do Iguaçu, um que o Sean Connery fez que tinha Klaus Maria Brandauer como vilão e a Kim Basinger novinha como Bond girl (este filme, acho que se chamou Nunca mais outra vez não foi computado na série, porque não foi produzido por Albert Broccoli), os dois ou três com o Timothy Dalton, todos os com Pierce Brosnam.

Tanta cultura bondiana me credencia a afirmar que pouco importa se o intérprete do agente 007 é bonito ou feio. Ele tem é que convencer aos ... homens!

É só entrar em qualquer sala que exiba filme de 007 para constatar o que observei: só tem homem na platéia. Quando fui ver uma dessas maravilhas, levando meus filhos, notei que, além de mim havia mais duas mulheres dentro do cinema. Ambas, naturalmente, acompanhando os namorados.

Se este filme será um sucesso de crítica? E importa?


Ah, sim, antes que eu me esqueça. Outro filme que não fez parte da série oficial, o primeiro Cassino Royale trazia o mais britânico dos ingleses, Sir David Niven, encarnando o espião. Ai, será que alguém se lembra de David Niven? Parece que estou lendo uma página da finada Manchete!!!!

5.11.06

Negligência materna

Jamais imaginaria que um dia faria a defesa de Maddona e que condenaria um jornalista apressado.
Está no Globo on line de hoje que a cantora admite ser uma mãe negligente. A princípio, achei que era mais uma jogada de marketing dela, depois da adoção do menininho africano. Ou que fosse algum erro de tradução, já que Maddona diz que não se contentaria em dedicar-se apenas à família, pois quer provocar mudanças no mundo (!).
As mudanças que Maddona pretende promover no planeta não me afetam. Mas me afeta essa incorporação da ideologia norte-americana de que mulher precisa ser mãe 24h por dia, que não pode conciliar carreira com maternidade, como se cuidar de filho fosse uma tarefa que se relegue a segundo plano quando seus interesses não estão focados apenas na educação deles. Classificar isso como negligência é, no mínimo, sensacionalismo de redação.
Negligência foi editar assim a matéria.

31.10.06

Sobre o post abaixo



Um ano atrás minha vida ficou diferente. Perdi abruptamente um emprego e não tinha mais dinheiro.

Um ano atrás, Aninha, a calopsita, entrou em nossa casa.

Um ano atrás, eu comecei a reaprender a trabalhar. Voltei pra jornal, escrevi tanto e, mesmo resvalando a penúria, reaprendi a seguir em frente.

Daqui a um ano eu quero estar feliz como hoje.
E mais magra, né?

UFA!!!!



Depois do purgatório - que, tomara, esteja chegando ao fim - o que vale é lembrar Rita Lee:

O ano passado passou tão apressado
Eu sei que foi um corre-corre-corre danado
O ano inteiro eu passei sem dinheiro
Eu sei que foi um tal de segurar essa peteca no ar
Como se fosse empinar papagaio


A todos que me ajudaram a continuar sobrevoando por aqui, obrigada!

26.10.06

Adeus, Internet Explorer


Meu bravo PC deu uma surra no técnico, mas foi consertado!
Com a eliminação do vírus que consumiu o Internet Explorer e a subseqüente reinstalação deste navegador, descobri que: odeio o Explorer; quem o utiliza vê a página deste blog toda estranhamente configurada; continuarei usando o Mozilla, bem mais ágil e mais simples que o Explorer.
Aliás, aconselho a todos esquecerem o IE e passarem para outros navegadores, como o Mozilla e o Opera. Já testei ambos e são muito mais céleres do que o IE.
De qualquer maneira, acho que vou voltar ao antigo layout ou a algum layout do Blogger mesmo, que agora tem versão Beta e deixa a gente botar milhares de enfeitezinhos por todo o "corpo" da página.
Ah, a nova integrante dos linkados no "Guia de Viagem" é minha amiga-irmã de mais de 30 anos de vida (colega de colégio, madrinha de casamento, comadre), Márcia, que abandonou o Rio pelo Planalto Central e conta suas andanças pelas terras de lá, descobrindo cantinhos deliciosos naquelas estranhíssimas paragens.
A foto desfocadíssima, esmaecida, é do dia do batizado de Júlia, de quem Márcia é madrinha. Essas mulheres são parte de minha vida até hoje. Márcia é a que está com a mão em minha cinturinha de pilão de doze anos atrás...

20.10.06

Sanatório Geral


Vai acabar sobrando pra imprensa, claro, toda essa maracutaia de delegado da PF entregando fotos para repórteres. O conteúdo do dossiê que valia tanto dinheiro não interessa a ninguém, já que o crime maior seria a compra de tais informações.

Igual à mulher que reagiu a um assalto aqui no Rio, atirando no ladrão. Enquanto responde judicialmente pelo delito, ganha medalha Pedro Ernesto da Câmara Municipal, honraria concedida a quem preste serviços a cidade.

Não quero nem discutir se ela estava certa ou errada quando deu um tiro no assaltante.
Mas a Câmara deveria ser um pouco menos pródiga na concessão de medalhas.

Pedro Ernesto, coitado, tentou ajeitar esta cidade enlouquecida, que, nos anos 30, já exalava odores de gordura velha e de lixo acumulado nos valões. Virou político porque era médico de Getúlio Vargas, ficou popular por sua bela atuação como prefeito da cidade, onde construiu escolas e hospitais. Queria a autonomia municipal do Rio, então distrito federal. Era época de discussões ideológicas e suas idéias acabaram associadas aos comunistas, o que o levou à cadeia. Depois de uma boa temporada de prisão, afastou-se da política.

Não é a cara do Rio?

19.10.06

Epifania




... e ontem, a ficha caiu: sou uma mulher a caminho dos 50 anos.
Minha mãe preparou-se desde jovem para ser velha. Vestia roupas de mulher anacrônica, fora de moda, de época, de tanta vontade de parecer-se com a própria mãe.
Minha geração é a segunda a não querer reproduzir a mãe e a tentar ser igual à filha.
Pessoas em volta fazem lipo, musculação, pilates, redução de estômago, siliconam peito, cortam pelanca, mexem no rosto.
Eu não quero nada disso, mas a sabedoria da maturidade, por melhor que seja, não aniquilou minha curiosidade perante a vida.
Um amigo deprimiu-se ao completar 45 anos.
E eu ainda não havia me dado conta de que agora eu preciso ser definitiva. Adulta, madura, absoluta.
Foi mais fácil ser infalível aos 25.

Vai passar


Vivo aquela fase Murphy em que tudo pode dar mal no reino dos eletro-eletrônicos domésticos que se mostram totalmente selvagens.

O computador é um viveiro de cavalos de tróia e demais vírus. Para felicidade geral de meus amigos, não consigo contaminá-los. Peguei, aliás, da maneira mais prosaica. Abri um spam de pessoa desconhecida. Sabe quando a gente está no meio do ato e já percebeu que não vai dar certo?

Pois é, foi assim.

Em solidariedade, a máquina de lavar quebrou. Os telefones, bem, eu já me conformei que na vida não voltarei a ter aparelho de telefone que funcione - nem campainha de porta. Tais objetos se mostram absolutamente incompatíveis quanto à convivência em meu lar. Comprei dois novos aparelhos, já que os últimos chiavam. Naturalmente, procurei modelitos exatamente iguais aos que substituía (bonitinhos, sabem?) Naturalmente, os novos aparelhos chiam um bocado, igualzinho aos que os sucederam.

O chiado foi um problema apenas por alguns dias. Minha linha virou pai-de santo, só recebe.Isso porque não pude arcar com contas que somam mais de 1000 reais -
acumuladas até que eu tenha o suficiente para saldar a dívida com a Telemar. O motivo do desvario telefônico? Minha doce filha adolescente, pendurada com as amigas, ligando para celular por vinte minutos, para falar sobre gatos. Felinos, quadrúpedes. Ainda.

Decidi, então, usar o corte da linha como instrumento de educação dos jovens consumidores locais. Não sei se vai dar muito certo, não.Redescobri, assim, a alegria de falar em orelhão. Atualmente todo mundo tem celular, então os orelhões vivem vazios. É muito mais barato do que usar celular. Constatei ainda que falo ao telefone muito mais do que necessito, claro. E ainda baixei o skype no computador, mas pouco uso. Semana que vem, começam os consertos e pagamentos atrasados.Enquanto isso, quatro lâmpadas queimaram, dois banheiros estão com problemas hidráulicos e a torneira da cozinha pinga incessantemente.

Eta, vida boa, olerê, eta, vida boa, olará, o estandarte do Sanatório Geral vai passar!

18.10.06

Legendas e Links


Novos visitantes nessas praias, todos devidamente linkados aqui ao lado.
Adelaide Amorim, carioca militante como eu, com quem divido uma dessas coincidências criativas que nos obriga a ser amigas de infância a partir de agora: uma definição de perfil muito semelhante.
Há tempos, no site Releituras, fiz uma apresentação para ser publicada junto a um um conto meu. Dizia assim: "Olga de Mello é carioca por nascimento, convicção”, frase que utilizei também para acompanhar meu conto no "Parem as Máquinas". Um dia, Adelaide veio me visitar aqui. Fui ao blog dela e descubri que Adelaide se define como carioca por ... nascimento e convicção! Não é maravilhoso? Adelaide fala do Rio com amor e graça, tem livros e poemas publicados, tudo lindamente escrito.Chegaram também por aqui a bela poesia de Lia Noronha, dona do "Cotidiano", escrito lá de Vila Velha, no Espírito Santo, pincelando palavras que se encaixam perfeitamente nas ilustrações maravilhosas que ela publica, e o sopro de ar jovem da carioca Maria Paula, autora de Segredinhos Secretinhos e torcedora do América Futebol Club! É a quarta torcedora da gloriosa agremiação que conheço e que está viva!!!Por último, linkado está o coleguinha de Franca, São Paulo, Sidnei Ribeiro, que tem o simpático "Diário de um Gordo".O que adoro na Web é viajar por tantos cantos, sentir-me tão cidadã do mundo, tão acolhida por gente amável, bonita, elegante e sincera (sic Lulu Santos).

Puff, puff

Quando eu fumava, tentava aproveitar os resfriados para abandonar o tabagismo. Depois de um período  de gripe em que não conseguia sequer respirar, acreditava que aproveitaria o embalo para largar o vício.
Bastava três dias de curada para eu voltar aos meus habituais maço e meio diários.
Superada aquela dependência, tenho outra - muito pior, pois visível - a ser extirpada: a obesidade, atualmente encarada, mais do que uma questão estética ou de saúde, como o atestado da falta de caráter de ... quantos mesmo? algo em torno de 40% da população brasileira?
Não são as gripes que provocam anorexia que deveriam me levar à frugalidade alimentar que eu almejo, mas o momento chave para cumprir o destino reservado às gerações pós-década de 60, que têm de submeter-se à tortura da ginástica, algo hoje conhecido como "malhação" - gíria que vi nascer a partir de um esquete de programa do Jô Soares (ele repetia o bordão "Vamos malhar?" pra Cláudia Raia e ambos, numa academia de ginástica, desciam o malho em figuras públicas ou fictícias enquanto se exercitavam). Acho meio ridículo ouvir o termo, assim como acho brega chamar a Montenegro de "Vinícius". Mas isso é meu esnobismo ZSul mesmo.
Logicamente não pretendo nunca mais ingressar naqueles ambientes repletos de gente suada, comandada por um trainée de recreador de festa infantil berrando enlouquecidamente acima dos 800 mil decibéis de música bate-estaca que marca o rítmo e a intensidade da tortura.
Minha ambição é modesta. Quero tão somente caminhar pelas ruas da cidade, com disposição essencial para eliminar celulite e flacidez.
Como nos tempos de fumante, espero um sinal divino de que chegou a hora de deflagrar o Kenneth Cooper que existe em mim (alguém se lembra dele? Veio depois ou na mesma época em que o programa da Força Aérea Canadense). Pela quarta vez na vida, o sinal surgiu. Ontem, eu encerrei entrevistas no prédio de uma grande empresa brasileira. E então, acabou a energia elétrica, que não voltou em carga suficiente para fazer os elevadores funcionarem. Naturalmente, era hora do almoço. Tive minutos para imaginar paranoicamente que a Al Qaeda estava atacando o prédio, que a Coréia decidira lançar um míssil no Brasil, que alquiministas desvairados rodeavam a empresa pregando sua privatização. Por alguma iluminação que só posso creditar a santas e santos descalços, eu carregava numa bolsa meu velho par de tênis, que imediatamente tomou o lugar das sandálias de plataforma. Roubaram-me dez centímetros, mas permitiram que eu galgasse lepidamente, embora sem a graciosidade que gostaria, os QUINZE andares do edifício até chegar ao solo.
Hoje, claro, estou toda dolorida. Se amanhã vou pegar no tranco e percorrer a Lagoa? Nem a pista Cláudio Coutinho, que tem meio metro e a vista panorâmica mais bonita do mundo... A verdade é que vou virar uma escultura de meia idade da mesma maneira que larguei o cigarro: num dia qualquer, sem motivo algum, apenas porque aquele era um momento propício. 
Sem fazer alarde, sem badalar a própria conquista. Apenas porque a hora chegou.
Um dia. Sei lá quando.


15.10.06

Galáxias

Horácio, o mendigo da São Clemente, está desaparecido.
Ele é parte da paisagem local, um "invisível" que, reza a lenda, optou pela vida na rua após um surto psicótico anos atrás.
Tem um irmão, parecidíssimo com ele, que trabalha numa padaria e jamais conseguiu levá-lo para casa.
Horácio foi internado no Miguel Couto com um edema pulmonar agudo em 17 setembro. Não há registro de sua saída, mas ele não está no hospital. O irmão e moradores das imediações estão em busca de Horácio, já estiveram no IML, inclusive.
Sem pistas.
Será que Horácio resolveu evaporar-se da Terra?
Ele gostava de ficar na calçada do colégio Santo Inácio, sempre imundo, cheirando a urina, comendo o que os comerciantes e moradores lhe davam, conversando sozinho. Não é jovem, deve ter por volta de 50 anos. Do outro lado da calçada é ponto de Sofia, uma mulher magrinha, que também fala sozinha e, vez por outra, engravida. Seus bebês são encaminhados à adoção. Um deles foi adotado por uma moça que vive aqui pertinho.
Com o sumiço de Horácio, surgiu um mendigo novo, mais moço e igualmente amalucado. Como Sofia e Horácio, carrega papéis e está sempre sujo.
Fechamos nossos olhos, apertamos o passo e fingimos não ver esses personagens que alcançaram a total liberdade de vida, dentro de mundos que jamais conheceremos, pois nunca conseguiremos enxergá-los.

10.10.06

Com mais licença

O post abaixo veio antes de eu ler no Globo on line que há um projeto em tramitação no Congresso que amplia a licença-maternidade de 120 para 180 dias.
Juntando esses seis meses com mais um mês de férias é um excelente tempo para amamentar os bebês e ajustá-los à vida com outros que não a mãe.
Se este país não dá aposentadoria, atendimento de saúde nem educação decentes para a população, que ao menos garanta uma boa expectativa de vida para quem nasce.

Maternidade



Depois de Angelina Jolie, Madonna vai adotar uma criancinha órfã e pobrezinha de país miserável. Psicólogos já disseram que a moda é prejudicial para as criancinhas órfãs e pobrezinhas de países miseráveis, pois viverão do sonho de que uma celebridade trilhardária de país riquíssimo virá adotá-las. Como se o sonho de crianças no orfanato não fosse a adoção. (Já fui a orfanato. É uma dureza, coitadinhos. Dá vontade de trazer todo mundo pra casa).
Antes de Angelina e Madonna, diversos outros superstars adotavam criancinhas pobres. Spielberg tem uns dois filhos adotivos. Tom Cruise e Nicole Kidman, dois, Hugh Jackman também. Mia Farrow exagerou: dos nove filhos que tem, cinco são adotivos, entre elas Soon-Yi, que casou-se com o ex-padrasto Woody Allen (pai biológico de dois, adotivo de mais dois) e adotou duas menininhas. Há dúvidas se Mia adotou mais duas crianças, uma delas com paralisia cerebral.
Quem começou com isso foi a Josephine Baker, que adotou, sozinha, no milênio passado, doze crianças, que ela chamava de Tribo do Arco-Íris, devido às diversas nacionalidades e etnias: Aiko (Coréia), Luis (Colombia), Janot (Japão), Jari (Finlândia), Jean-Claude (Canadá), os franceses Moses, Marianne e Noel, o árabe Brahim, Mara (Venezuela), Koffi (Costa do Marfim), Stellina (Marrocos).
Só acho meio ridículo Maddona correr atrás de criancinha agora, beirando os 50 anos. Mas homem tem filho depois de velho e todo mundo acha interessante e legítimo, não. Como eu não vou muito com a cara da Maddona, me parece mais uma jogada de marketing dela.
E viva Josephine Baker, a entertainer que abalou Paris!
Nas fotos, Josephine com a pirralhada no castelo onde moravam; os filhos Jari e Jean-Claude, numa festa em homenagem ao centenário de nascimento da mãe.

4.10.06

Balanço

Atravessei o primeiro tempo de minha vida passeando por um gramado macio, bem mais suave do que o capinzal que a maioria da humanidade precisa esmagar.
Conheci poucos países, passei 16 férias em Florianópolis e uma no Piauí.
Estive no meio do mundo, bem na linha do Equador.
Matei poucas baratas.
Asfixiei um pintinho comprado na feira.
Tive mais de 30 passarinhos, três cachorros, sete gatos, 15 hamsters, nem sei quantos peixes Beta, um sapinho, três jabutis.
Hoje são seis pássaros, quatro gatos e muitos mosquitos.
Tive seis mil livros, agora só tenho uns dois mil, mais 500 discos e 368 DVDs.
Tive uns 30 namorados, só pude casar com um.
Vivi seis intensas paixões e mais umas 35 médias ou pequenas.
Pus no mundo quatro brasileirinhos.
Três guris, uma guria.
Tenho amigos há 30 anos. Tenho amigos de 30 anos também.
Casei na igreja, descasei no cartório.
Tive um quiosque na praia de uma cidade pequena.
Pulei carnaval, dancei discoteca, sambei em gafieira e na Mangueira.
Saí na Banda de Ipanema, nunca desfilei em escola de samba.
Cantei em coral, estudei piano, toquei flauta
Subi morro, entrei em delegacia, em favela, em palácios
Nunca subi o Pão de Açúcar (tenho medo do Bondinho)
Fiz carinho na cabeça de um pingüim
Entrei num barco para ver baleias e vomitei o tempo todo
Andei de helicóptero, nunca mais vou me sentar num teleférico
Passei mal antes de um show do Paul McCartney e só o vi de relance, lá longe...
Tirei amídala, adenóides, os sisos, em nunca perder o siso (que pena)
Levei pontos na perna, no útero e na barriga,
Tomei anfetaminas, antidepressivos, antialérgicos.
Tive dengue.
Tenho asma e hipertensão.
Fiquei míope, fui astigmata, convivo com a presbiopia.
Fiz dieta da lua, de Beverly Hills, de South Beach, do Dr Atkins
Macrobiótica, ioga, natação, hidroginástica
Caminhei muito até virar sedentária
Fumei, bebi, parei de fumar.
Pintei as unhas de verde
Corto meus próprios cabelos
Tenho orelha furada, só uso tatuagem removível
Fui amiga de uma esquizofrênica.
Fiz análise freudiana, mas não deitava no divã.
Já quis ser professora primária.
Fui ghost writer de livro espírita e fiz copy de texto (psicografado) de São Marcos, o evangelista (que perdeu muito do estilo nesses últimos mil anos...)
Tenho contos webmundo afora e um publicado em livro
Vivo de escrever
Escrevo pra viver
Já tomei banho de cuia.
Nadei nua.
Quase nasci dentro de um cinema.
Mas esperei até minha mãe chegar ao morro de Santa Teresa, aos pés do Cristo Redentor
Só para ter uma idéia do que é ser carioca.
Ainda não li "Ulisses" nem "Em busca do tempo perdido"
Na infância, quis ser menino, super-heroína, astrônoma, bailarina, bibliotecária e escritora
Na maturidade, quero estar sempre perto do mar





Nasci um dia após uma eleição e obriguei meus pais a saírem do cinema para correrem ao Hospital Silvestre.
Então, nada mais coerente que o Festival do Rio coincidir com meu aniversário e as eleições continuarem pairando próximas.
Mas este segundo turno bem que veio atrapalhar minha festa. Em vez de tecerem loas a mim, os amigos dão parabéns e falam de política.
Fazer o quê? Comemorar a eleição de Gabeira e rezar pra São Francisco para que dê aos homens um pouco do discernimento que deveria nos distinguir dos demais animais.

1.10.06

No Escurinho do Cinema




Ridley Scott deveria desistir de vez de fazer filmes "sérios" e partir para as comedinhas ou filmes médios. "Um Bom Ano" tem a lenda da vida boa na Provence, a paisagem agradável, um bom elenco. Bem melhor do que aquela droga de "Cruzada" ou "Falcão Negro em Perigo". É um filme "rapazinho", ou seja, toda e qualquer observação saiu da cabeça de homens, o que significa que a cada quinze minutos o algum deles fala em bunda ou peitos, com mais discrição do que nas comédias imbecis de adolescentes americanos.
Um pouco fora de tom está apenas a interpretação de Russel Crowe. Craque em papéis intimistas, ele não compõe bem o inglês charmoso como o personagem do filme é, embora tenha ficado bastante parecido com o paspalhão do livro de Peter Mayle em que foi baseada a fita. O protagonista do filme é mais jovem do que o ator também.
Bem... mas tem Albert Finney e o menininho Freddie Highmore, que é o máximo!

Na Continente Multicultural

CONVERSA
PAULO LINS: “Há muita lenda em torno da vida de bandido”
Paulo Lins, autor de Cidade de Deus, fala do Estácio – tema de seu novo livro –, das lendas em torno da vida de bandido e de sua experiência como roteirista de cinema

Por Olga de Mello

Passar em frente a um dos muitos botequins no bairro carioca do Estácio era uma aventura apavorante para o menino Paulo Lins na década de 50. Quando saía sem a companhia – e a proteção – de um adulto, atravessava correndo para a outra calçada, a fim de evitar os bares, onde, segundo sua mãe, “só tinha bandido e vagabundo”. Levou tempo até descobrir que os malandros que a mãe apontava eram Nélson Cavaquinho, Cartola e outros bambas, que ficavam nos bares conversando, bebendo e criando obras-primas da MPB. Foi no Estácio que Paulo Lins nasceu, há 48 anos. E é o Estácio, em épocas diversas, o cenário e o eixo de seu novo romance, que será lançado em 2007.


Há quem diga que o segundo romance é o mais difícil para o escritor do que toda a sua obra. Como o senhor está enfrentando esta pressão?

Na verdade, este é o meu primeiro romance, ou melhor, a primeira proposta de romance que eu fiz, muitos anos atrás. Cheguei a botar alguma coisa no papel muito antes de Cidade de Deus. Queria juntar o samba, a umbanda e a história do negro no Brasil. Então, a idéia é antiga. Mas, aí, comecei a trabalhar na pesquisa da (socióloga) Alba Zaluar na Cidade de Deus. Fui chamado porque eu conhecia os moradores, tinha crescido ali. Ouvia histórias, recordava outras. Então, acabei sendo convencido a escrever sobre o crescimento da violência e a formação daquela comunidade. Agora, retomei minha primeira história. Por isso nem dá para sentir medo da segunda obra. Para ser mais preciso, este será meu terceiro livro, pois o primeiro foi Sob o Sol, de poesias.

Como em Cidade de Deus, o novo romance terá uma linguagem reproduzindo a forma de falar de cada época em que a história se passa?

Pensei que uma linguagem mais acessível, bem fiel à maneira como o povo falava, atrairia aquela população que eu mostrava ali, atingiria mais aquele público que estava sendo ali retratado. Não foi isso que aconteceu. O livro foi lido pelos consumidores habituais de livro, a classe média e a elite. Os pobres só se viram depois, com o filme. Nesta história de agora eu teria muita dificuldade em recriar a linguagem dos anos 30, precisaria inventar uma linguagem oral, inventar um idioma próprio. Ia ficar muito Guimarães Rosa, então, optei pelo uso do coloquial, com algumas gírias.


A história vem de suas experiências como morador do Estácio?

Na verdade, ele vem do medo que eu sentia dos sambistas. O Estácio era o centro nervoso do samba. Eu queria contar um pouco daquele Estácio, queria falar sobre o bairro, a música e os negros no Brasil. Mostrar um Brasil ainda mais difícil para o negro do que o país que conhecemos agora. O samba começou a se popularizar na década de 20, mas sambista não tinha o mesmo status que hoje em dia, não. A valorização começou bem mais tarde, em meados da década de 60. O preconceito contra o negro e suas manifestações era aberto. Ninguém respeitava umbanda. Havia perseguição da polícia que, não raro, enquadrava todos por vadiagem. Se até hoje o negro é perseguido, imagina há 40 anos.

Por que sua família saiu do Estácio, bairro central do Rio, para a Cidade de Deus, na época classificada como zona rural?

Foi o sonho da casa própria. Meu pai queria sair do aluguel, por isso nos mudamos, numa trajetória diferente dos outros moradores da Cidade de Deus, que haviam sido removidos de favelas no Centro. Para mim foi uma festa. A Cidade de Deus parecia mais uma estrada empoeirada, mas tinha mato, rio. Fui morar na roça, subir em árvore, brincar o dia inteiro com a molecada, a melhor das infâncias.

Sua formação foi diferente dos outros meninos da Cidade de Deus?

Muito, pois não precisei ajudar a sustentar a família. Minhas irmãs mais velhas completaram o secundário e foram trabalhar. Eu pude fazer Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro. E a vida é muito diferente para quem pode estudar, o ensino sempre traz algo de bom. Até uns anos atrás, eu sempre me encontrava com ex-colegas de colégio da Cidade de Deus. Quase todos tiveram que trabalhar muito cedo. Hoje, há campanhas para manter as crianças na escola, mas é raro encontrar projetos sociais que não privilegiem o aprendizado profissionalizante. O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré é um dos poucos a dedicar-se essencialmente a estimular os meninos pobres a fazer faculdade. Quem vai para a universidade sempre melhora de vida.

Como a sua vida mudou depois do lançamento de Cidade de Deus?

O livro foi bem recebido, mas nem chegou perto do sucesso do filme, que teve mais do que a boa direção do Fernando Meirelles – um elenco extremamente talentoso. Foi o filme que botou a Cidade de Deus no mapa do planeta. Até hoje eu estranho, porque o livro acabou sendo lançado em 30 países, teve mais de 25 traduções. Aí, estou na Finlândia participando desses lançamentos e vem uma pessoa falar que leu a minha história. Tudo isso me levou a deixar o Magistério, os convites foram surgindo, outros tipos de trabalho também. Gosto de criança, sinto saudades do Magistério, porque sala de aula rejuvenesce.

O reconhecimento da chamada cultura da periferia veio a partir de Cidade de Deus?

Naquele momento estavam surgindo o Afroreggae, o Rappa, Seu Jorge. Não havia música vinda das comunidades. Hoje, o pessoal está se expressando e entrando no mercado, que antes existia muito distante da manifestação da periferia. Certamente houve uma inclusão cultural da periferia depois de Cidade de Deus. No entanto, a inclusão social e econômica não acompanharam essa inclusão cultural. Continuamos um país sem profissionais liberais negros, o que só vai se modificar com um investimento político maciço em educação.


Como é viver da escrita?

Em 2004, fiz o roteiro de Quase Dois Irmãos, com Lúcia Murat. Atualmente, tem o romance, mas além dele estou trabalhando no roteiro de Beirando a Maré, que Lúcia Murat deve começar a rodar este ano, e A História de Dé, de Breno Silveira, cujas filmagens serão em 2007. A literatura é um ofício muito solitário. Roteiro é divertido, muda o tempo todo, tem muita gente para mexer. Ou é a locação que fica muito cara ou é o ator que não acha sua fala verossímil. É bom porque se trabalha em equipe, embora seja arte de segunda. Roteiro é treino, filme é que é jogo.

(Leia a entrevista na íntegra, na edição nº 70 da Revista Continente Multicultural. Já nas bancas)


Olga de Mello é jornalista.