30.5.07

Programação homofóbica

É no mínimo incoveniente a programação do Telecine Emotion (que vai virar Light - já que nada na TV a cabo é em português, pois somos globalizados e bregas como a Barra da Tijuca) quando exibe um filme televisivo sobre os processos contra os padres pedófilos da Arquidiocese de Boston e, em seguida, a "Gaiola das Loucas".
É como se pusesse no mesmo saco a perversão dos pedófilos e a sátira desvairada gay.
Adoro "A Gaiola", tanto a versão original pra cinema, com o Ugo Tognazzi, quanto a segunda, do Mike Nichols, com Robin Williams, Nathan Lane e Gene Hackman, odeio pedófilos de qualquer tipo, e achei divina a fala de um dos padres do filme, que foi afastado da Igreja por ser gay. Interpretado pelo poderoso Brian Dennehy, ele diz "dizer que basta ser gay para ser pedófilo é o mesmo que considerar todos os negros viciados em crack".
Programar uma comédia gay logo depois de um filme de tribunal sobre pedofilia é muito, muito estranho. Parece um ataque (in)consciente das forças homofóbicas. Estou com a síndrome de Oliver Stone altíssima hoje...

29.5.07

Terça-feira, manhã nublada

Ana Carolina ou Ed Motta se esgoelam num rádio ao longe. Não dá pra saber qual é, acho que é ela mesmo, estou com janelas fechadas. O frio não me pegou, é um bate-estaca na papelaria ao lado. Já fizeram uma obra de mais valia absolutamente irregular que causou infiltrações em minha sala. Vamos ver o que aprontam agora.
Ai, tenho um texto i-men-so pra escrever! O tempo urge, o clima clama por uma boa sessão da tarde embaixo das cobertas. Labutar é preciso.

26.5.07

Enquanto o especial de Caetano não começa...


Na sexta-feira, ontem, a TV a cabo brasileira decidiu homenagear o trio estrelar de "Bridget Jones". Cansada, cheguei de viagem e vi o finzinho de "Notting Hill", estrelado por Hugh Grant. Em outro canal, corria a comédia sarcástica "A Enfermeira Betty", com Renée Zellwegger à frente do elenco. Imediatamente depois de "Notting Hill", a emissora emendou com "Bridget Jones" propriamente dito. Pensei: "Ah, decidiram mostrar Hugh Grant bom moço e Hugh Grant canalha, aquelas dobradinhas que as emissoras sempre fazem". No canal vizinho, começava "Tudo o que uma garota quer", com Colin Firth. Para fechar a noite, entrou "Love Actually", com Grant e Firth.
Conclusão: daqui até o Dia dos Namorados, só vai dar comédia romântica na TV.

21.5.07


Antes, quando eu era bela, queria ver como eu saía nas fotografias. O resultado geralmente era bom, pois, já disse, fui bonita e fotogênica.

Hoje, presque irremediavelmente feiosa, preocupo-me com a decoração de minha casa nas fotos. Principalmente com a fotogenia de minhas estantes.

Já tive estantes de madeira escura, embutidas, de metal negro, de madeira pintada de azul, de madeira pintada de verde, de compensado, (que mofou e se desminliguiu quando o apartamento foi inundado - porque faltava água e os homens que instalaram as grades abriram as torneira; quando a água voltou encheu até o poço do elevador - e eu nem morava ainda no apartamento), de metal vinho, herdadas de sogros, pais, amigos.

Através das fotos das estantes, recomponho as fases de minha vida.


Maldade

Tá magrinha, né?

Jóia rara

Fred Pinheiro, filho de minha querida Sonia Sant'Anna (Contando Causos, aí ao lado), irmão do coleguinha (*) Eduardo (Dunga) e pai da empreendedora Irene, é um designer de jóias inspiradíssimo. Ele é o protagonista do livro "Bicho Solto", seu relato corajoso ao tio Ivan Sant'Anna sobre a adolescência como dependente químico.
Depois que se livrou da dependência, Fred trabalhou no atelier de Caio Mourão, teve loja em Búzios e está retornando ao Rio.Irene o ajuda na administração dos negócios. As peças são lindas, daquelas que se eu pudesse e se meu dinheiro desse, compraria todas. Vejam no www.fredpinheiro.kit.net, e aproveitem para conhecer o blog da Irene, o Entra, fica à vontade... Aceita algo para beber? (http://pinheiroirene.blogspot.com).

(*)Aos não iniciados: "coleguinha" é gíria criada pelo Stanislaw Ponte Preta para designar jornalista. "É coleguinha?" é a pergunta padrão inevitável quando alguém do ramo está de namorado novo.

19.5.07

Terminologia

A psicanálise e o "Ela", do Globo, anunciam um novo termo para definir amigo: fiador emocional. O rótulo é para as pessoas que tiram a gente das grandes crises, com apoio e um olhar externo que "reorganiza o simbólico".
Entre os fiadores emocionais de estilistas está a mãe de uma delas. Ora, o fiador emocional representa a mãe onipotente e carinhosa, diz a psicanalista consultada. Então, mãe de verdade não serviria para avalista das emoções, né?
Que besteira, que besteira... Às vezes a psicanálise é tão chata e vazia quanto a pomposidade dos eruditos acadêmicos.

15.5.07

Te quero verde

Sabe aquele óleo que você jogava na privada, mas que depois aprendeu que deveria jogar no vasinho de plantas? Esqueça tudo e ligue para Disque Óleo Vegetal Usado: (21)2260-3326 / (21)7827-9446, email: contato@disqueoleo.com.br

Guarde o óleo usado numa garrafa PET. Quando tiver três garrafas completas, telefone pro Disque Óleo que eles pegam em sua casa. Também fornecem galões para o condomínio inteiro guardar o óleo, que é reciclado e utilizado para fabricar sabão.

Muito antes do filme do Al Gore eu já era partidária da reciclagem e tentei introduzir a noção em meu edifício, tendo a idéia rechaçada pelos demais condôminos. Por sorte, a Comlurb obrigou os prédios de algumas regiões da cidade a separarem o lixo, o que muitos fazem a contragosto, enquanto não tornam a reciclagem um hábito. Essa novidade do óleo já está antiguinha, vi no blog da Marina W, o www.blowg.pixelzine.com, telefonei para lá e soube o que fazer.
Hoje estou verdíssima!!!!

13.5.07

Grosseria, dá um tempo!

Clodovil não foi preconceituoso nem machista com a deputada petista. Foi apenas e tão somente grosseiro.
Mostrou ter a arrogância misógina, isso sim, imbuída em si. Clodovil Hernandez é uma dessas figuras populares e polemistas, sem papas na língua nem autocrítica, necessários às casas legislativas brasileiras, para distrair o respeitável eleitorado das maracutaias que perpetram.

10.5.07

Cruzes!!!

De cada quinze carros que subiam ao Corcovado para ver a cidade aos pés do Cristo Redentor apenas UM tinha o pedágio entregue ao Ibama, que administra o Parque Nacional da Tijuca. Quando a gente pensa que não vai dar mais para arrumar vexame no Rio de Janeiro aparece outra forma de nos constranger perante o mundo...
Ah, tá, o Getúlio Vargas, na Penha, que há anos é um hospital que só funciona porque não há outro jeito virou hospital de guerra.
Então vem aquela pergunta: a gente resiste porque é carioca ou é carioca porque resiste?

9.5.07


A Assembléia Legislativa aprovou uma lei proibindo postos de gasolina e outros empregadores de impor às funcionárias o uso de uniformes que deixem o corpo exposto. Ou seja, as frentistas não poderão ser obrigadas a ficar praticamente de biquíni no trabalho. Louvável a preocupação da deputada petista que apresentou a iniciativa, porém... COMO se proíbe uma imposição? Qual empregada vai dizer que está sendo obrigada a ficar semi-pelada nos postos?
Acho que o posto que pusesse mulheres seminuas também deveria ser obrigado a manter homens trabalhando vestidos como gogo-boys. Eles ouviriam tantas gracinhas, passariam por tantos constrangimentos que acabariam abandonando os empregos, sentindo-se ultrajados.
Para todas essas medidas tênues na defesa da dignidade feminina a melhor resposta está no texto antológico de Gloria Steinem - "Se os Homens Menstruassem". É só botar os homens no lugar das mulheres para que eles compreendam o que é vivenciar diariamente a discriminação.
Para quem não conhece o texto da Steinem, vai aqui uma palinha.

" (...) o que aconteceria se, de repente, como num passe de mágica, os homens menstruassem e as mulheres não?

Claramente, a menstruação se tornaria motivo de inveja, (...) um evento tipicamente masculino:

Os homens se gabariam da duração e do volume.

Os rapazes se refeririam a ela como o invejadíssimo marco do início da masculinidade. Presentes, cerimônias religiosas, jantares familiares e festinhas de rapazes marcariam o dia.

Para evitar uma perda mensal de produtividade entre os poderosos, o Congresso fundaria o Instituto Nacional da Dismenorréia. Os médicos pesquisariam muito pouco a respeito dos males do coração, contra os quais os homens estariam, hormonalmente, protegidos e muito a respeito das cólicas menstruais.

Absorventes íntimos seriam subsidiados pelo governo federal e teriam sua distribuição gratuita. E, é claro, muitos homens pagariam mais caro pelo prestígio de marcas como Tampões Paul Newman, Absorventes Mohammad Ali, John Wayne Absorventes Super e Miniabsorventes e Suportes Atléticos Joe Namath — “Para aqueles dias de fluxo leve”.

As estatísticas mostrariam que o desempenho masculino nos esportes melhora durante a menstruação, período no qual conquistam um maior numero de medalhas olímpicas.

Generais, direitistas, políticos e fundamentalistas religiosos citariam a menstruação (”men-struação”, de homem em inglês) como prova de que só mesmo os homens poderiam servir a Deus e à nação nos campos de batalha (”Você precisa dar seu sangue para tirar sangue”), ocupariam os mais altos cargos (”Como é que as mulheres podem ser ferozes o bastante sem um ciclo mensal regido pelo planeta Marte?”), ser padres, pastores, o Próprio Deus (”Ele nos deu este sangue pelos nossos pecados”), ou rabinos (”Como não possuem uma purgação mensal para as suas impurezas, as mulheres não são limpas”).

Liberais do sexo masculino insistiriam em que as mulheres são seres iguais, apenas diferentes. Diriam também que qualquer mulher poderia se juntar à sua luta, contanto que reconhecesse a supremacia dos direitos menstruais (”O resto não passa de uma questão”) ou então teria de ferir-se seriamente uma vez por mês (”Você precisa dar seu sangue pela revolução”).

O povo da malandragem inventaria novas gírias (”Aquele ali é de usar três absorventes de cada vez”) e se cumprimentariam, com toda a malandragem, pelas esquinas dizendo coisas tais como:

— Cara, tu tá bonito pacas!
— É cara, tô de chico!

Programas de televisão discutiriam abertamente o assunto. (No seriado Happy Days: Richie e Potsie tentam convencer Fonzie de que ele ainda é “The Fonz”, embora tenha pulado duas menstruações seguidas. Hill Street Blues: o distrito policial inteiro entra no mesmo ciclo.) Assim como os jornais, (TERROR DO VERÃO: TUBARÕES AMEAÇAM HOMENS MENSTRUADOS. JUIZ CITA MENSTRUAÇÃO EM PERDÃO A ESTUPRADOR.) E os filmes fariam o mesmo (Newman e Redford em Irmãos de Sangue).

(...) É claro que os intelectuais criariam os argumentos mais morais e mais lógicos. Sem aquele dom biológico para medir os ciclos da lua e dos planetas, como pode uma mulher dominar qualquer disciplina que exigisse uma maior noção de tempo, de espaço e da matemática, ou mesmo a habilidade de medir o que quer que fosse? Na filosofia e na religião, como pode uma mulher compensar o fato de estar desconectada do ritmo do universo? Ou mesmo, como pode compensar a falta de uma morte simbólica e da ressurreição todo mês?

A menopausa seria celebrada como um acontecimento positivo, o símbolo de que os homens já haviam acumulado uma quantidade suficiente de sabedoria cíclica para não precisar mais da menstruação.

Os liberais do sexo masculino de todas as áreas seriam gentis com as mulheres. O fato “desses seres” não possuírem o dom de medir a vida, os liberais explicariam, já é em si castigo bastante.

E como será que as mulheres seriam treinadas para reagir? Podemos imaginar uma mulher da direita concordando com todos os argumentos com um masoquismo valente e sorridente. (’A Emenda de Igualdade de Direitos forçaria as donas de casa a se ferirem todos os meses : Phyllis Schlafy. “O sangue de seu marido é tão sagrado quanto o de Jesus e, portanto, sexy também!”: Marabel Morgan.) Reformistas e Abelhas Rainhas ajustariam suas vidas em torno dos homens que as rodeariam. As feministas explicariam incansavelmente que os homens também precisam ser libertados da falsa impressão da agressividade marciana, assim como as mulheres teriam de escapar às amarras da “inveja menstrual”. As feministas radicais diriam ainda que a opressão das que não menstruam é o padrão para todas as outras opressões. (”Os vampiros foram os primeiros a lutar pela nossa liberdade!”) As feministas culturais exaltariam as imagens femininas, sem sangue, na arte e na literatura. As feministas socialistas insistiriam em que, uma vez que o capitalismo e o imperialismo fossem derrubados, as mulheres também mens-truariam. (”Se as mulheres não menstruam hoje, na Rússia”, explicariam, “é apenas porque o verdadeiro socialismo não pode existir rodeado pelo capitalismo.”)

Em suma, nós descobriríamos, como já deveríamos ter adivinhado, que a lógica está nos olhos do lógico. (Por exemplo, aqui está uma idéia para os teóricos e lógicos: se é verdade que as mulheres se tornam menos racionais e mais emocionais no início do ciclo menstrual, quando o nível de hormônios femininos está mais baixo do que nunca, então por que não seria lógico afirmar que em tais dias as mulheres comportam-se mais como os homens se portam o mês inteiro? Eu deixo outros improvisos a seu cargo).*

A verdade é que, se os homens menstruassem, as justificativas do poder simplesmente se estenderiam, sem parar.

8.5.07


A gargalhada no outro quarto é um dos sons mais agradáveis que invadem a cabeça dolorida, os olhos lacrimejantes, o corpo entorpecido pela virose da hora. Carros aceleram, uma serra elétrica ao longe, o troar de um helicóptero que sobrevoa o bairro, atento à favela ou ao trânsito.
O riso sincero é o bálsamo contra a cidade violenta e a virulência que o sangue comum encerra.

Votar no Cristo


Em julho será anunciado o resultado das Sete Novas Marailhas do Mundo (http://www.new7wonders.com).
O Cristo Redentor, símbolo do Rio, está entre os monumentos selecionados, mas não entrou ainda nos dez mais votados.
Vale a pena entrar no site e votar gratuitamente no Cristo.
Por quê?
Para aumentar o fluxo turístico à cidade, o que movimenta a economia, ora essa!
Movimentando a economia, abrem-se novos postos de trabalho, reduz-se o nível de desocupação e de pobreza, o que, conseqüentemente, pode levar à diminuição da violência.


Já que aparentemente o governo só dará show de segurança durante o Pan Americano, podemos tentar aumentar o score do Rio nesse concurso.
Como está numa mensagem no Globo On Line, brasileiro gasta dinheiro para votar no BBB, mas uma eleição gratuita, que pode render algo concreto para a cidade, passa em brancas nuvens.
Mobilizem-se! Mesmo os ateus graças a Deus, judeus (afinal, o cara era judeu), muçulmanos (afinal, o cara rompeu com os judeus), umbandistas, brâmanes, taoístas, budistas, agnósticos, rastafáris e à toa na vida! Paulistas, catarinenses, cearenses, mineiros, matogrossenses, amazonenses, piauienses, povo de todo o país. O Rio é a cidade mais conhecida (turisticamente) do País e dela partem muitos turistas para outras paragens. Por isso, vale a pena votar. Além de ser simpático, não?

6.5.07

Por causa do Jôka...

escrevi uma matéria sobre as manifestações contra a violência no Rio.

Acabou de ser publicada na websfera, mais precisamente no blog "Repórter de Crime", do Jorge Antônio Barros, do Globo. O link para o blog está à direita. É um trabalho sério o do Jorge, que registra a violência nesta cidade e que vale a pena ser conferido por todos os cariocas que insistem em viver aqui.
Segue o texto, que também está no Viver da Escrita (www.viverdaescrita.blogspot.com), meu blog-portifólio.

Cidadania
Tragédias se repetem e mobilização não cessa

Agora à noite em Vila Isabel mais uma vítima de bala perdida. Uma senhora de 62 anos, moradora do bairro, passou e ficou no meio do fogo cruzado entre bandidos e policiais do 6o BPM (Tijuca).

Enquanto haverá hoje manifestação na praia pela legalização da maconha, há outros que se mobilizam na luta contra a violência urbana no Rio. A reportagem especial deste domingo é da jornalista Olga de Moura e Mello, que fez a meu pedido a matéria abaixo porque alguém tem que continuar trabalhando. E, para alegria dos que estão descascando o Mino Penna Firme, eu mesmo fiz questão de postar, de um cybercafé no Aeroporto Internacional, enquanto esperava o vôo para minha ilha no Pacífico.

Olga é jornalista, carioca por nascimento, convicção e insistência. Longe da cobertura diária das redações de jornal, mantém a militância pela cidade e é autora do blog Arenas Cariocas ( www.arenascariocas.blogspot.com).
Aqui vai a íntegra:


"A manicure carioca Nelly Bezerra do Nascimento não gosta de multidões. Sente-se angustiada ao perceber qualquer ajuntamento de pessoas. Nelly tem sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, desencadeados a partir da noite de sábado de oito de fevereiro de 1992, quando conversava com amigos em um bar na Rocinha, onde vive desde que nasceu, há 35 anos. Sem qualquer motivo aparente, homens passaram correndo trocando tiros. Um deles atingiu Nelly na perna esquerda, onde permanece até hoje. “Os médicos preferiram não operar, já que a bala não atingiu o osso nem afetou a musculatura. Doeu muito na hora, incomodou por algum tempo. Depois, ficou só essa sensação ruim”, conta Nelly, uma das vítimas diretas da violência do Rio de Janeiro, cidade onde quase todos os moradores sofreram ou conhecem alguém que passou por alguma experiência traumática.

A literatura sobre desordem e estresse pós-traumático é extensa nos Estados Unidos, que tem diversos estudos com veteranos de guerra mulheres vítimas de estupro ou violência doméstica, na segunda metade do século XX. No Brasil, uma das mais recentes pesquisas sobre o assunto está no livro “As Vítimas Ocultas da Violência na Cidade do Rio de Janeiro” (Civilização Brasileira), de Gláucio Soares, Dayse Miranda e Doriam Borges, que entrevistaram 690 pessoas geralmente esquecidas nas estatísticas de violência. Segundo os autores, as mortes violentas – assassinatos, suicídios ou acidentes de automóvel - de 103 mil moradores da cidade no período compreendido entre 1979 e 2001 deixaram profundas marcas psicológicas, econômicas e sociais em até 600 mil cariocas.

As vítimas ocultas

“Não há qualquer tipo de assistência para os que perderam cônjuges, filhos, pais, amigos. Essas pessoas vivem um longo período de desânimo, apáticos, com a sensação de que não têm futuro, deprimidas e sofrendo distúrbios de sono. Não existe apoio do Estado, que, ao contrário, não trata com respeito quem faz o reconhecimento de um corpo ou passa por um exame de corpo de delito. Muitas vezes, ao chegarem a um necrotério, essas pessoas ainda têm que lidar com extorsão para conseguir a liberação do corpo. Como essa situação só vem se agravando, o setor público deveria criar mecanismos de ajuda às vítimas ocultas da violência”, sugere Gláucio Soares, coordenador da pesquisa.



Os pais de João Hélio, Edna e os pais de Gabriela: união contra a violência no Rio, apesar de eventuais divergências porque ninguém é perfeito e nem deve querer unanimidade absoluta


Para enfrentar a perda da filha Gabriela Prado Ribeiro, que morreu aos 14 anos, atingida por uma bala perdida em tiroteio dentro de uma estação do metrô carioca, em 2003, os pais da menina criaram o movimento Gabriela Sou da Paz (www.gabrielasoudapaz.org). “Conseguimos que Gabriela não fosse apenas mais um nome na estatística. Vivemos em estado de guerra, a violência mata 105 inocentes por dia no Brasil”, diz Cleyde, mãe da adolescente, que tenta comparecer a todas as manifestações em memória de pessoas assassinadas. “Tenho obrigação de apoiar os amigos da dor, sei o que é ter um plano de vida interrompido. Não era isso que eu queria da vida, mas em algum momento, a morte de Gabriela fará diferença nesse processo”, acredita Cleyde.

Morte de João arrasta manifestantes

Em fevereiro, a morte de João Hélio Vieites, de 5 anos, arrastado por sete quilômetros, preso ao cinto de segurança do carro, fez eclodir uma onda de protestos públicos contra a violência. O primeiro, depois da missa de sétimo dia por João Hélio, foi a caminhada de 600 pessoas pelo Centro do Rio, pedindo a redução da maioridade penal. Entre os atos que se seguiram, manifestações com maior apelo visual vêm sendo montadas por dois grupos. Um é organizado pelo músico Tico Santa Cruz, da banda Detonautas, engajado na causa de combate à violência desde a morte do guitarrista do grupo, Rodrigo Netto, durante um assalto. O outro grupo é o Rio de Paz, capitaneado pelo pastor presbiteriano Antônio Carlos da Costa.

O Palácio Tiradentes, onde funciona a Assembléia Legislativa fluminense, já teve suas escadarias manchadas de vermelho no ato que recebeu o nome de “Contagem de Corpos”, promovido por Tico Santa Cruz, que também coordenou outra manifestação na qual os participantes se cobriram de branco, representando os fantasmas da política e servidores públicos corruptos. O movimento Rio da Paz (www.riodepaz.org.br) já fincou 700 cruzes nas areias da Praia de Copacabana para simbolizar o número de mortos em todo o estado do Rio de Janeiro do início do ano até março. Semanas depois, mil pessoas se deitaram na Avenida Atlântica, sinalizando que a violência já havia feito mil vítimas no estado. Em 19 de abril, a entidade voltou a marcar presença em Copacabana instalando 1.300 rosas nas areias, para demonstrar que a violência fluminense já fizera 1.300 vítimas.

A contagem do Rio de Paz se baseia nos cálculos do site Rio Body Count (www.riobodycount.com.br), que desde 1º de fevereiro traz o número de mortos e feridos a bala no Estado, baseado em notícias de jornais. Enquanto as autoridades informam que os índices de violência estão aumentando, o escritor Marcos Rolim, autor de “A síndrome da Rainha Vermelha – Policiamento e Segurança Pública no Século XXI” (Zahar), afirma que os registros estão abaixo do número real de crimes. “Na Inglaterra, onde a população respeita a polícia, calcula-se que sejam praticados até seis vezes mais crimes do que constam nos boletins de ocorrência. Aqui, acredita-se que o número de crimes seja dez vezes maior do que o divulgado”.

Descrédito em instituições provoca desânimo

Para Rolim, o descrédito nas instituições poderia explicar a falta de entusiasmo que as manifestações despertam em boa parte dos cariocas. Uma enquete espontânea do Globo on Line mostrou que 69% de 3.354 internautas não vêem eficácia nesse tipo de protesto. O artista plástico Jonas Prochownik, morador de Copacabana, a princípio ficou chocado com as cruzes fincadas na areia da praia: “Plasticamente, funcionou muito bem, mas senti que faltava ali uma proposta concreta”. O antropólogo Luis Eduardo Soares, ex-secretário Nacional de Segurança do Rio de Janeiro, defende a legitimidade das manifestações que expressam “apenas a indignação, o luto, a dor”, mas concorda com Jonas: “Só haverá adesão em massa a um projeto objetivo de mudança da situação em curso. Não é que o povo esteja apático, inerte. Estamos, talvez, mais céticos depois de vinte anos de manifestações contra um conceito abstrato e muito vasto, que é a violência”.

O diretor executivo do Viva Rio (www.vivario.org.br), Rubem César Fernandes, que, ao lado do sociólogo Herbert de Souza, esteve à frente de grandes mobilizações populares pela segurança no Rio, admite que há momentos em que sente fraquejar seu entusiasmo na busca pela paz. Mas isso não dura muito: “Há noites em que eu desanimo, depois de abraçar mais um pai desesperado pela perda de um filho, mais um filho revoltado pela morte de sua mãe. No outro dia alguém me procura com uma nova proposta de discussão, um projeto diferente de conciliação. Aí, já volto a me entusiasmar, mesmo sabendo que a solução ainda está muito distante e que talvez eu nem veja um Brasil mais justo e mais pacífico”, acha Rubem César.

2.5.07

Para quem sofre



Maladies
Melodies
Allergies to dust and grain
Maladies
Remedies
Still these allergies remain
My hand can't touch a guitar string
My fingers just burn and ache
My head intercedes with my bodily needs
And my body won't give it a break
My heart can stand a disaster
My heart can take a disgrace
But my heart is allergic
To the women I love
And it's changing the shape of my face
Allergies
Allergies
Something's living on my skin
Doctor please
Doctor please
Open up it's me again
I go to a famous physician
I sleep in the local hotel
From what I can see of the people like me
We get better
But we never get well
So I ask myself this question
It's a question I often repeat
Where do allergies go
When it's after a show
And they want to get something to eat?
Allergies
Allergies
Something's living on my skin
Doctor please
Doctor please
Open up it's me again
Maladies
Melodies
Allergies to dust and grain
Maladies
Remedies
Still these allergies remain

Paul Simon - Allergies

Sim, eu sei que nesta altura da vida eu já deveria dominar a arte de linkar músicas aqui. Mas ainda sou tecnoanalfabeta funcional.
E enquanto os olhos lacrimejam, o nariz arde, e a garganta coça, me consolo com o resto da humanidade que não tem nem idéia do quê está causando reação alérgica neste momento.