26.2.09

Fim de férias

Sou mãe de um visionário.
Sou mãe de um moicano.
Sou mãe do Recruta Zero.
Sou mãe da Nina Hagen.


Quando acaba o horário de verão, sinto que está terminando a estação de absoluto tumulto em minha vida.
O fim de um período agitado, com ocupação média de 150 por cento da casa - três hóspedes, mais dois moradores no momento honorários, além dos três efetivos.
Muito calor, correria pra trabalhar. Toneladas de comida. Adolescentes barulhentos e belicosos por todos os lados.
Quando eles se vão, já não me parece mais que a casa está silenciosa e vazia. Os que aqui vivem trazem mais amigos (neste exato momento, há sete visitantes. SETE!), os estoques de alimentos e bebidas permanecem nos mesmos níveis que os de uma cidade pilhada por piratas famintos.
Aos poucos, a rotina tranquila e tediosa invadirá novamente meus dias.
E o verão, com suas disputas territoriais, escassez de víveres, desordem e demonstrações explícitas de ânimos exaltados, torna-se uma era lendária de lembranças ternas e harmoniosas.
A saudade se molda sobre sentimentos, nunca sobre experiências verdadeiras.

25.2.09

E teve um carnaval também...





Botamos o bloco na rua!
Semana que vem, começa o ano!



Agador adorou os adereços!

A noite do Oscar

A noite foi dele! Vamos combinar que este foi o mais animadinho show do Oscar dos últimos tempos. A performance de Hugh Jackman como mestre de cerimônias, criando um ambiente realmente íntimo para os espectadores, mostra que ele não apenas é um bom showman, mas que nasceu para apresentador de TV!!!
Os modelitos estiveram mais contidos e solenes do que habitualmente, Kate Winslet fez aquele ar de "não acredito" hipócrita que a Sarah Jessica Parker imortalizou nas entregas de Emmy e que eu acho deveria merecer o confisco do prêmio, Sean Penn estava feliz e simpático, Robert De Niro fez graça, Brangelina permaneceram sorrindo magnânimos para os súditos, Beyoncé cantou bem, Meryl Streep vestiu-se bem, não houve zebras e a apresentação dos candidatos a ator com cinco laureados no palco foi bastante interessante. Ah, e Queen Latifah interpretou lindamente I'll be Seeing You, canção clássica, de 1938, totalmente fora dos padrões rapeiros que a consagraram.
Fora o doce momento mezzo saia justa, quando Jennifer Anniston se exibiu no palco, em frente ao casal Brangelina, correu tudo bem, ágil e divertido.
E nem deu muito tempo para perceber as mancadas em trajes, alegorias e adereços. No quesito cabeleira enlouquecida, terno amarfanhado e calçados brancos de gênero impossível de se descobrir, ninguém barrou o respeitadíssimo fotógrafo Anthony Dot Mantle, que ganhou o Oscar de fotografia. Não há registro copiável do modelito dele no Oscar, mas ele estava barrando até o sempre estranho Mickey Rourke.
Então, vamos lá!

Os esquisitões



Até o Phillip Seymour Hoffman sabia que perderia (injustamente) o Oscar pro Coringão, mas precisava ir à cerimônia de touca na cabeça?
Adrian Brody, que sempre compensou o narigão com uma elegância carygrantiana, quis mostrar-se desglamourizado como um palestino cabeludão. Deve ser composição de personagem.
Até que ficou bonita a fatiota de dona Tilda. Mas na TV, ela parecia muito desengonçada. A cor da blusa era quase a de sua pele.

Os desastres
Tudo o que uma menina veste fica bonitinho? Nem sempre. A simpatiquinha Milley Cyrus, a Hanna Montana, parecia um desastre coberto por asas de borboleta. E o cinto...
A linda Marion Cotilard também caprichou no cinto sobre o vestido dos sonhos de uma noiva de Tim Burton.
Lá embaixo tem uma foto da Beyonce mais lindona, tá? Porque o modelito bruxa do mar em jardim japonês é duro...
Christopher Walken, absolutamente deprimido por apresentar Oscar de ator coadjuvante - seu eterno papel em Hollywood - nem ligou pra gravata tortinha.

Whoopie saltou em L.A. direto do desfile do Bafo da Onça. Vai ser anticonvencional assim no carnaval carioca!

Encontro de divas. A espetacular Sophia Loren, que desafiou o tempo por muitos anos, apelou pro Botox, que Meryl usou com prudência. Mas nada superou o clássico de babadinhos dourados, absolutamente retrô e pavoroso!!!
Sarah Jessica Parker mostrou seios turbinadíssimos, o cinturão estranho, ao lado de Mathew
Chubby Broderick, que tinha ballaiage dourada nos cabelos (?).

Goldie Hawn, sempre exuberantemente feliz ao lado de Kurt Russell, surgiu diáfana, com um penteado jovial demais para suas netas.


Os acertos
O colar mais fotografado da noite foi o de Amy Adams. Diferente e ousado.
As Kate e Penelope Cruz (mais uma que ganha Oscar sob direção de Woody Allen), belíssimas, com Sean Penn arrumadinho.

Os belíssimos quietinhos Brad e Angelina - com esmeraldas fantásticas, sem quebrar a sobriedade.

O show de abertura de Hugh Jackman, que levantou a platéia.
Os 'meninos' do Oscar.
Jackman e Anne Hathaway num pas-de-deux que jamais envolveria Frost e Nixon, a quem ambos representavam.
A Rainha. Acima do peso, modelo extravagante, mas muita, muita majestade.
La Streep, novamente, porque ela é maravilhosa mesmo.
Beyoncé, coxão de passista de escola de samba, no número musical com Hugh Jackman, dirigidos por Baz Lurman.

21.2.09

Oooooiiiii!!!!!

Mudou o nome da Telerj-Telemar pra Oi, mas o atendimento, que já esteve melhorzinho, continua surrealista. Agora, com as novas regras do SAC, a gente tem que anotar um monte de números de protocolos. Mas isso não quer dizer que haverá solução quanto às reclamações.
Meu telefone amanheceu parcialmente bloqueado na melhor linha pai-de-santo, só recebendo chamadas. Houve atraso no pagamento, reconheço, porém o corte chegou dias após o dinheiro estar na conta da empresa, que, inclusive reconhece isso, ao vasculhar seus arquivos.
Quando a gente liga pra um desses serviços tem que dar sorte de ser atendida por algum ser pensante. Se isso acontece, tudo pode dar certo. O problema é quando o primeiro atendente diz que precisa estar nos encaminhando para um setor X, responsável pelo desbloqueio da linha. Uma voz com sotaque nordestino e muito desamor no coração fala, com uma má vontade absoluta e em tom bem baixinho, que em até quatro horas a linha estará sendo restabelecida.
Gerúndios à parte, lógico que isso não aconteceu. Telefonei outra vez e, quando estava prestes a relatar novamente o caso ao "setor responsável", a ligação... caiu!!!
Na terceira vez, a atendente tinha neurônios em atividade suficiente para sinapses básicas. Dispensando os gerúndios, não me passou para um setor responsável, informou que não havia nenhumn pedido de desbloqueio anterior e me deu mais um número de protocolo do "comando de desbloqueio", que poderá ser acionado em até quatro horas.
Por que as outras que atenderam da primeira vez tinham que me mandar para um setor responsável, ninguém jamais saberá. Nem por que alguns funcionários são eficientes, enquanto outros descontam a ira de estar de plantão no fim-de-semana no assinante incauto que ousa reclamar alguma coisa.
É cansativo ser brasileiro.

Evoé, Momo!

Anarquista, sempre curvei-me em reverência a um reinado de confetes e serpentinas


Aos 3 anos, fui bailarina!



Aos 9, uma fantasia do que seria o psicodelismo de uma menina bem-comportada.



Aos 47, o arranjo no bloco de sujos é algo que chamei "Nem sou Frida, nem me Calo", porque o melhor da fantasia é o título que ela encerra.



Aos 48, ainda desenho meus trajes...

20.2.09

Lá vem o Oscar! - Frost/Nixon


Poder, fidelidade, lealdade, cobiça e muita politicagem. Tudo isso está em Frost/Nixon, uma peça sobre um episódio recente - e para muitos brasileiros, ainda incompreensível - que mudou a história dos EUA. Watergate é só o gancho para a discussão sobre ética e sobrevivência num cenário em que as aparências são mais importantes do que a verdadeira imagem de cada um.
Eu sei que Frank Langella dificilmente ganha o Oscar, mas seu Nixon é tão charmoso quanto persuasivo. Um show sobre o show que é a vida televisionada de hoje em dia.

17.2.09

Vá ao Teatro - Medida por Medida


São os últimos dias, mas vale a pena dar um pulinho ao CCBB para ver a montagem de Medida por Medida, dirigida por Gilberto Gavronski. Divertida, alegre e de uma estética gay que não ofende nem a fundamentalistas cristãos - eu estava ao lado de alguns deles, que gostaram muito do espetáculo. Uma trilha sonora bem pop/disco, fidelidade ao texto original e marcação bem aos moldes do que se fazia na época do bardo, com discursos dirigidos ao público. O destaque no elenco masculino é Nildo Parente, embora as "mulheres" roubem as cenas mais dramáticas. Luís Salém e Ricardo Blat mostram a competência habitual, em meio aos outros moços, incluindo Rodolfo Bottino fazendo uma cafetina feia de doer. E no fim, tudo acaba em festa!
A matéria que eu fiz pro último número da Aplauso conta um pouquinho do que eles aprontam no palco.

Medida por Medida

Montagem elizabetana para um clássico de Shakespeare

À frente da primeira montagem da comédia Medida Por Medida, de William Shakespeare, no Brasil, o diretor Gilberto Gavronski quer que o espectador que for ao Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil tenha a sensação de uma viagem no tempo, com homens desempenhando os papéis femininos, como na Inglaterra seiscentista. Mesmo que a irreverência contemporânea perpasse o espetáculo, que conta com canções de um passado pouco distante, como Non, Je ne Regrette Rien – sucesso de Edith Piaf - para pontuar a trama desta comédia sombria, situada em Viena.

“Que ninguém espere dar gargalhadas estrondosas. A concepção de comédia daquela época era outra”, adverte Gawronski, que no palco faz duas aparições – uma como o próprio Shakespeare, outra na pele de Bernardino, um prisioneiro. “É um papel pequeno, mas o crítico Harold Bloom diz que ele guarda toda a essência da trama”, informa o diretor, que pediu o máximo de naturalidade a todo o elenco, incluindo Rodolfo Bottino, Sérgio Maciel e Rafael Leal, que interpretam as mulheres da peça. “Eles não são travestis, não estão fazendo caricatura de mulheres. Naturalmente, provocam risadas iniciais, pois são mulheres um pouco diferentes, precisam afinar a voz, cuidar da postura, tudo sem afetação. Ninguém quer buscar o riso fácil”.



Como em muitos trabalhos de Shakespeare, em Medida por Medida não há um protagonista definido, o que, segundo Gawronski, exigiu um cuidado maior na escola do elenco, que conta com Ricardo Blat, Nildo Parente, Luis Salém e Pedro Neshling em papéis de destaque. Salém vive o Duque, o governante de Viena, que passa o governo para Ângelo (Blat) e Escalo (Parente), quando sai em viagem. Invocando a necessidade de limitar a corrupção moral na cidade, Ângelo decide punir com a morte quem praticar sexo fora do casamento. A primeira vítima é um nobre, Cláudio (Neschling), cuja noiva, Julieta, está grávida. Quando a irmã de Cláudio, Isabela (Sérgio Maciel) pede que a pena seja comutada, Ângelo promete voltar atrás se a moça, muito religiosa, perder a virgindade com ele. Mas o Duque, que voltou à cidade disfarçado, consegue reverter a situação.

Para Ricardo Blat, apesar do comportamento dúbio, Ângelo não é um vilão, mas um funcionário determinado a cumprir sua missão. “Shakespeare não tem personagens totalmente bons ou totalmente maus, excetuando os claramente psicopatas que encontramos em algumas tragédias. Ele tinha um olhar agudo para analisar o ser humano em todas as suas nuances e contradições, oferecendo ao público possibilidades para perceber o personagem através de diferentes pontos de vista. E isso tudo é apresentado com um texto primoroso, rico, bem elaborado, extremamente envolvente”, diz Blat. Nildo Parente concorda que a dualidade dos personagens shakespereanos tornou o teatro mais humano. “Por isso ele é representado até hoje, pois o sentimento dos homens é o mesmo. Temos ciúmes, queremos nos vingar e nos apaixonamos da mesma maneira que na época de Shakespeare”, afirma o ator.

A cafetina Madame Jápassada, encarnada por Rodolfo Bottino, é a terceira mulher que interpreta. “Como ela própria, por cacoete profissional, é muito artificial, pude representá-la de maneira mais exuberante. Ela surge na época em que as grandes cortesãs começavam a ficar poderosas, usa maquiagem exagerada. O papel é pequeno, mas muito marcante. Afinal, os melhores personagens de Shakespeare são secundários”, lembra Bottino. Para Luís Salém, o espetáculo é agradável como “filme de capa e espada na Sessão da Tarde”. Em seu primeiro Shakespeare, Salém aceitou o convite de Gawronski porque gostou do desafio de deixar o tipo contemporâneo urbano que geralmente interpreta.

“O texto me intimidou, a princípio, mas é só se deixar levar pelo assunto que as palavras soam atuais, pois tratam de sensações eternas. O mais delicioso é o lado lúdico deste espetáculo, em que o público é cúmplice das artimanhas montadas pelo Duque”, diz Salém.

Coringas em cena

Para pontuar as ações de Medida por Medida, Gilberto Gawronski interferiu no texto original de Shakespeare, criando dois novos personagens que permanecem em cena durante toda a peça. Os dois coringas são interpretados por Wallace Lima e Murilo Fontes, atores da Cia Aplauso de Teatro. “Aos sábados, assim que o espetáculo termina, por volta de 20h30m, vestimos os figurinos de Todo Mundo é Mundo e nos enfiamos em um táxi para chegar a tempo de nos apresentarmos, às 21h, no Galpão Aplauso”, conta Wallace, 22 anos.

Contracenar com atores consagrados, como Ricardo Blat, ainda parece um sonho para Murilo, de 20 anos. “Custo a acreditar que divido palco com o Ricardo, um artista que admiro desde criança. É um aprendizado maravilhoso, até porque todo o elenco tem sido extremamente afetuoso e generoso conosco”, diz Murilo, que está na Cia Aplauso há dois anos. Participar de uma peça com atores mais experientes levou Wallace a se reconhecer como ator: “A Cia Aplauso é nossa família, que nos trata com carinho, que nos protege. Fazer um trabalho sem o grupo é me ver como um artista autônomo, um crescimento profissional importantíssimo”, afirma Wallace, que pretende, como Murilo, fazer faculdade em Artes Cênicas. “O melhor é sabermos que não estamos abrindo mão do convívio com a Cia Aplauso, mas trazendo um pouco do que vivemos nesta temporada, no CCBB, para junto do grupo, que só tem nos apoiado nessa etapa de aprimoramento pessoal e teatral”, acredita Murilo.

Medida por Medida

Comédia de William Shakespeare. Tradução: Bárbara Heliodora. Direção: Gilberto Gawronski. Com Luís Salém, Nildo Parente, Ricardo Blat, Celso André, Rodolfo Bottino, Alcemar Vieira, Pedro Neschling, Tatsu Carvalho, Rafael Leal, Gilberto Gawronski , Murilo Fontes e| Wallace Lima. Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro - Teatro I (Rua Primeiro de Março, 66, Centro). Fone: 3808-2020. Quarta a segunda, 19h. R$ 10.

16.2.09

Frozen River



Abraçar a ilegalidade como forma de sobrevivência nunca foi um dilema moral para o cinema, desde priscas eras. Frozen River, cujo título não sei ainda como será traduzido no Brasil, fala de outro gênero de desonestidade, menos abordado. Aquela coisa errada que, na verdade, não parece tão grave assim para a maioria dos fracos e oprimidos. Não se trata de matar nem de roubar, mas de prestar um serviço ilegal e receber um dinheirinho por isso. É esta a chance a que uma mulher se agarra para conseguir dar conforto aos filhos, depois de abandonada pelo marido. Alia-se a uma índia Mohawk e passa a transportar imigrantes ilegais do Canadá para os Estados Unidos.
Melissa Leo vi em alguns filmes, o mais notório 21 Gramas, em que ela interpretava a mulher de Benício Del Toro. Além da boa interpretação, eu me perguntava por que haviam escalado uma atriz nitidamente mais velha que o ator que fazia seu marido. Porque Melissa Leo é totalmente fora do look do star system. Tem rugas, pés de galinha, aparenta a quarentona que é. Segura, certamente será esquecida pela Academia, que a indicou para o Oscar de melhor atriz este ano. A interpretação é tão natural que nem parece desempenho. Parece vida real.
O filme? Previsível como a vida de quem caminha sobre gelo fino. Arrepia, mas a gente vai em frente.

Big Brother - o original.


Pro Alexandre, pro Jôka e pro Miguel, que garimpam essas capinhas insinuantes. O artista captou como poucos o espírito de Orwell. A moça, inclusive, é o protótipo das jovens que hoje pupulam, insinuantes, no programa da TV Globo.

15.2.09

Irrevertíveis



Adoro decoração. Bom gosto para praticá-la me sobra, falta é dinheiro para a execução. Quando cheguei a este apartamento, 16 anos atrás, encontrei armários que aproveito até hoje. Um deles sobreviveu a uma reforma completa na cozinha, apenas troquei a fórmica que o revestia.
Em meu blog favorito sobre decoração, que sempre traz dicas e informações preciosas, surge, só pra contrariar, um post mostrando como fica diferente e "charmoso" um armário que tem o interior forrado por papel de parede. Imediatamente me veio à cabeça o armário da cozinha, que conheci já revestido por ... contact irretirável. Não é nada charmoso. Como sempre temi arrancar o contact e encontrar sabe-se lá o quê por baixo dele, permanece lá, florido, pavorosom, porém prático.
O charmoso da revista, no entanto, também é feio que dói. O meu, ao menos, fica fechadinho, escondido.


Horário de Verão

Por uma semana, vivo em jet lag. Alguém sabe que horas são???

14.2.09


Hoje, dia de São Valentim, primeiros momentos da enfim alcançada Era de Aquarius, ponho aqui o belo texto do tricolor Nelson Rodrigues sobre O Mais Querido. Uma referência a meu novo blog favorito, o Tua Glória é Lutar, assinado por um menino que cursa jornalismo. Como estou cercada por três tricolores em casa, preciso ter algum alento rubro-negro vez por outra, né?


"Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte:- quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas, tremem, então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará à camisa, aberta no arco. E diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.”

Nelson Rodrigues

Além das sábias palavras daquele ardoroso tricolor, vai cá minha homenagem ao massacre de São Valentim, através de duas velhas traveconas que o testemunharam, como personagens de Quanto Mais Quente Melhor. A foto, de Annie Leibovitz, eu tirei da Marina W.. Pois não é que milênios mais tarde, Tony Curtis e Jack Lemmon conseguiram reproduzir as mesmas expressões que haviam feito no filme de Billy Wilder?

13.2.09

Faça-se a luz


Depois de tantos blackouts, meu banheiro parece altar de velas em igreja.

Na roça



Na província de Botafogo, durante o temporal, acabou-se a energia elétrica. Desta vez, foi um blackout dos bons, iniciado pontualmente às 20h, avançando madrugada adentro.
A princípio, decidi tomar um banho à luz de velas. Uma hora mais tarde, comecei a iluminar a casa com todas as velinhas aromáticas decorativas. Jogamos buraco, conversamos um bom bocado. Acabamos decidindo ler um pouco, para aguardar o sono. E fazer fotos, já que um apagão desses é digno de registro.

Hoje de manhã, novo colapso elétrico. A Light está na rua, trocando geradores e tentando organizar a bagunça. Pelo sim, pelo não, renovei meu estoque de velas.

12.2.09

Sarau virtual

Nestas divagações sobre o bloguear, reaparece o Halem, com um blog novo que eu muito ambicionei montar em diversas ocasiões. No Sinistras Bibliotecas , ele leva à discussão sobre temas literários. Algo que eu gostaria muito de fazer, mas, como até expliquei ao Halem, me constrange um pouco. Primeiro, porque não sei quem estaria disposto a entrar no debate. E autoreflexiva eu já sou sozinha, aqui. Segundo, por uma questão profissional. Como leio muitos livros para montar releases ou entrevistar seus autores, não posso emitir minha opinião desfavorável sobre boa parte deles. Mas o que me agradam todos sabem. Eles estão aqui ao lado...
Leio muito e muita coisa ruim. Aliás, poucas publicações me encantam e, quando o fazem, trato de anunciar aos quatro ventos. É mais ou menos o mesmo com cinema. Vejo tantos filmes que nem dá pra respirar e avaliar com isenção. Nem tenho tal pretensão, porque sou muito do "gosto" e "não gosto" - algo que a arte vem deixando de lado ultimamente. Importante é marcar presença, difundir conceitos e ideias, não conquistar adeptos. Eu gosto de me apaixonar por livros e filmes.
O teatro, minha mais recente atribuição profissional, esse então fica bem longe de minhas opiniões. Até porque eu não quero me indispor com os artistas e com os assessores de imprensa. E até porque teatro ruim não é igual a cinema ruim. Filme quando é chato, a gente dorme ou vai embora. No teatro, nem pensar. Vamos deixar o coitado que esta em cena perceber nosso desagrado? No mínimo, é uma descortesia.
Mas o que importa hoje é chamar pra conversa nas bibliotecas sinistas do Halem. Um dia eu monto a minha salinha de discussão literária virtual. Com uma decoração coloridinha, claro! Mas isso ainda demora!

40 mil visitantes

Quando a gente chega a um número significativo de visitas ao blog, deve fazer uma reflexão.
Enquanto muito da vida atual é dedicada ao cumprimento de regras, horários e, principalmente pagamentos, há sempre uma parcela de descaso e desrespeito a tudo o que se faz apenas para garantir a sobrevivência. Blog é isso, absolutamente desnecessário, umbiguista, reflexivo, válvula de escape do exibicionista que se esconde sob todos os tímidos.
Falar do dia-a-dia, postar imagens bonitinhas, reclamar do governo, tentar alcançar as massas de alguma maneira... O blog suscita isso tudo, mas sempre traz a frustração de se perceber o quão pouco interessante são suas próprias opiniões. Afinal, blog que dá ibope é igual a revistas de celebridade: todo mundo finge que não lê, mas acompanha avidamente, nem que seja no salão de beleza, as fofocaiadas envolvendo aquele povo pouco cerebral e muito visual. Ou igual a reality show.
Meus amigos mais próximos ignoram solenemente meu blog. Mantemos ainda o anacrônico hábito de conversar longamente, por telefone ou vis-a-vis. Vez por outra, entram no blog, mas sempre com cerimônia, como se aqui fosse uma gaveta que abre segredos constrangedores sobre nossa intimidade.
Não é. Blog é público, um espaço que até comporta tristezas e desabafos, porém nada que precise ser mantido em sigilo. Porque segredos, é claro, tenho - e muitos. Tinha até para minha analista, então...
Houve época em que eu rastreava cada visitante do blog. Hoje, espero as parcas manifestações sem ficar ansiosa.
Esta não é uma obra aberta. É um canto desarrumado, indefinível, mas indispensável, de minha necessidade de registrar a vida.
E também de postar imagens fofinhas, como a da Bella em um de seus postos favoritos: sobre os velhos LPs, atualmente conhecidos como 'discos de vinil', que mantenho expostos, porém intocados, na estante da sala.

9.2.09

Lá vem o Oscar III - Milk



Que delícia ver Sean Penn em um papel tão adorável quanto o de Harvey Milk, o político gay assassinado bestamente por um adversário amalucado, nos anos 70, em uma San Francisco ainda não tão abertamente liberal quanto hoje. Sem a ousadia e o erotismo característicos de sua obra, Gus Van Sant optou por um relato tradicionalista, tendendo até à pieguice, mas que cutuca os primeiros ativistas da causa gay em algumas peculiaridades, como misoginia que então imperava entre o grupo.

A ambientação camufla a pavorosa moda da época, em que bigodes, cabelos e costeletas se sobrepunham a qualquer lógica estética. Eles estão lá, mas aliviados, enfeiando Diego Luna e mantendo a beleza de James Franco, os dois companheiros de Milk. Josh Brolin, que faz o político enlouquecido, ganhou um penteado ridículo e uma indicação ao Oscar. Com um elenco afinadinho, destacando ainda o irreconhecível Emile Hirsh e um dos astros da série da Disney High School Music, Lucas Grabeel (será que ele perde a bocada nos filminhos bem-comportados, agora?), Milk não chega a empolgar, mas emociona, principalmente num mundo em que o fundamentalismo conquista tantos adeptos.



7.2.09

Lá vem o Oscar II - O Leitor


Kate Winslet deve ganhar o Oscar este ano. O prêmio tem lá suas peculiaridades. Entopem um ator de indicações óbvias (Glenn Close em Atração Fatal, Glenn Close em Ligações Perigosas), mas nem sempre eles ganham então. O prêmio virá, quando vem, por um filme pequeno, inexpressivo, que só vale pela interpretação do ator. Foi assim com a Jessica Lange, que deveria ter ganhado por Frances, mas acabou premiada por um filminho do qual nem me lembro o nome. Os que jamais ganham Oscar, acabam agraciados na velhice, pelo conjunto da obra, como o Peter O'Toole. Certamente isso acontecerá um dia com a Glenn Close.
Kate Winslet é linda e sensível. Já li cr[íticas entusiasmadas por seu desempenho no Leitor, que tem também o impecável Ralph Fiennes e um menino muito bom, David Kross. A história eu já conhecia do livro - que achei um pastiche de Radiguet com relatos de alemães purgando a culpa pelo nazismo. Um rapazote de 15 anos se envolve com a mulher que o ajuda na rua, quando ele está passando mal. Anos mais tarde, estudante de direito, descobre que a mulher, que havia sumido de sua vida, fora carcereira de campo de concentração nazista e culpada pela morte de diversas prisioneiras. E La Winslet se cobre de maquiagem para envelhecer uns bons 30 anos ao longo do filme, sempre com um semblante que se alterna entre estupefato e severo. Ah, tem também o olhar tristonho e o sorriso deleitado.
Mas como bem disse Ricky Gervais na entrega do Globo de Ouro, é só fazer um filme de holocausto que os prêmios surgem. E ela sai como favorita pro Oscar. Tem ainda a seu favor a maquiagem, que já rendeu prêmio pra Nicole Kidman.
O filme? Pior que o livro, pois ainda tem os arremates emotivos de Hollywood.