28.2.11

Oscar 2011

Este ano, rompendo tradição antiga, não me pendurei ao telefone com a Sol para falar sobre escolhas da Academia durante a festa do Oscar, porque tirei a noite para assistir a cerimônia em grupo. Em tão boa companhia, fui benevolente com os trajes - até porque ainda me recupero do Grammy. Mas algumas observações não poderiam faltar, porque, afinal, é pra isso que a Helena Boham-Carter vai a Los Angeles, né?
Então, vamos à distribuição de veneno e alguns afagos.

1. Os enamorados

Num oceano de gente bonita, arrumada, careta e elegante, Tim Burton e Mme Mim tinham que surgir fantasiados de Gomez e Morticia Adams. Justiça seja feita, ele até que usou um paletó comum, mas o penteado desagradavelmente desalinhado parecia combinar com ... o que era aquilo que ela vestia? Uma homenagem à Dona Maria, a Louca, de luto, mesclada à visão muito peculiar de Ms Burton sobre a Ordem da Jarreteira? Por que uma mulher bonita e talentosa faz isso sempre? Devido à crônica ausência de melancias nos mercadinhos do Hemisfério Norte?



Todo mundo sabia que ele não iria ganhar do Colin Firth, mas quem imaginava que a bela Penélope, um dia ficaria gordinha? Flamejante num vestido estranho, ela, que sempre primou pela elegância, estava, digamos assim, matrona. Acabou de ter bebê, continua linda e ainda pode aproveitar o vestidinho para desfilar em escola de samba carioca ou customizar o padrão para uniformes de goleiro.


Vestindo algo entre um estandarte das Festas do Divino e uma colcha de noiva camponesa celebrando a colheita, a ex-rainha do Botox Nicole Kidman conseguiu inovar. Foi o primeiro Oscar em que estava realmente estranha, com o cabelo tão desenxavido quanto as melenas do marido.

Mas aí chegou a beleza da mulher brasileira. Camila foi de princesa dos trópicos, linda ao lado de seu Matthew.

Hugh Jackman não dançou nem quis ser o mestre de cerimônias novamente, mas antes de surgir no palco, ficou ao lado de sua senhora, que deve usar as plumas para não ser arranhada pelas garras de Wolverine. A prova de que casar-se com homem mais jovem (uns dez anos, creio) rejuvenesce as mulheres, mas não ensina bom gosto.

Ainda no quesito "ele é ator, mas eu apareço também", a mulher de Mark Ruffalo usou... isso! Indescritível.
Já a mulher se casa com um coroa e envelhece com dignidade, como é o caso de Anette Benning, da turma que não recorre ao Botox, ao lado de Warren Beatty.
O rei da noite, plácido, com sua mulher, a italiana Livia, que também gosta do coque despencando.

2. As lindinhas

A barrigudinha Natalie ia ganhar mesmo por sua interpretação no melhor estilo novela das 8, como bem definiu Eduardo Graça. Mas ela é a All American Girl da vez, mesmo sendo israelense. O brinco de puxador de cortina é interessante. O cabelinho, não.


Tudo bem que Hilary Swank é dublê do Matt Damon quando se veste de homem, mas é uma boa atriz, embora não tenha um padrão de beleza hollywoodiano. Apostou no modelo plumas e paetês. Deu nisso.
Halle Berry é sempre uma graça mesmo quando parece que seu vestido saiu de um papel de presente amassado.
Amy Adams sempre está linda. Apostou num adereço da mesma cor que um colar sensacional usado em outra premiação, anos atrás.

Vem cá, não tinha ninguém pra passar a barra do vestido de Gwyneth Paltrow?

Reese Witherspoon tascou esmeraldas nas orelhas, um cabelinho década de 60 e um vestido sóbrio.

Sandra Bullock, forte candidata ao título de Botocuda, toda trabalhada no vermelho.


Ecologicamente incorreta, Sharon Stone, vestida de Cisne Negro.

Provando que rainhas dificilmente perdem a majestade, Dame Helen Mirren.


3. O horror, o horror

Cate Blanchett catou um modelito que juntasse a armadura de Joanna D'Arc com margaridinhas em um campo de lavanda.


Marisa Tomei foi de repolho roxo.


A Florence, sem The Machine, vestida de cortina de filme de bang-bang.
Mila Kunis, tão gracinha, com um vestidinho lavanda feito de cortinado de bebê em filme de bruxa - ou festinha de criança.

Michelle Williams, alçada à categoria de divindade por ser mãe da filha do Heath Ledger, sempre desenxavida.

Ele é inglês, ele é comediante, ele casou com a Kate Perry e pode se vestir igual a roqueiro. Grande vitorioso no quesito o mais mal vestido da noite.

A pior barba é a de Christian Bale, ao lado de um Mark Walbergh barbadinho, mas limpinho.

Julia Ormond de Southern Belle/sereia. Isso cai mal em todo mundo.

Oprah, de Leão de Judah. O decote é lindo, mas talvez não para tanta comissão de frente...
O indefectível modelito de bailarininha, com o comprimento que desfavorece qualquer mulher. Mesmo que seja a menina de "True Grit" fazendo carinha de garotinha debutando.
Melissa Leo guarda toda a sensibilidade para suas interpretações. Pegou um daqueles panos que a gente que as avós nos passaram como herança e que jamais sairão do armário, transformou em chemisier. Perfeito para uma macarronada na casa da avó que lhe entregou o "corte" de tecido.



4. E... finalmente....



... o discurso do Rei.

26.2.11

Os livros e o cinema - Para ler na Rede

As imagens que saltam das páginas
Sex, 18 de Fevereiro de 2011 23:16


No milênio passado, quando eu era uma adolescente metida a intelectual, aguardando minha mãe comprar entradas para Romeu e Julieta, de Franco Zefirelli, ouvi a conversa animada de três garotas que acabavam de sair do cinema. Enquanto uma suspirava pela beleza do ator que fazia o Romeu, outra enxugava as lágrimas. A terceira, que devia ter a mesma idade que eu, em torno de 13 anos, revelava às amigas, olhos brilhando: “Sabem que saiu o livro?”.

Ver o filme e reler a peça foi minha primeira providência, ao voltar do Bruni Ipanema, naquela tarde. O encantamento com a versão de Zefirelli da mais triste história de amor entre dois adolescentes me levou a experimentar uma leitura diferente, a que compara o texto às imagens, percebendo cada um como obras separadas. “Preferi o livro!” é a conclusão triunfal da maioria dos que vão ao cinema conferir as encenações inspiradas pela literatura. De minha parte, sou bastante tolerante – gosto de imaginá-las independentes.

bravuraindomita-livroE nesses dias pré-entrega do Oscar, não faltam histórias originais que invadem as livrarias, buscando reproduzir o sucesso dos filmes em cartaz. As comparações são inevitáveis. Quem assistir a Bravura Indômita, dos irmãos Coen, observará a fidelidade ao divertido romance de Charles Portis, lançado aqui pela Objetiva (R$ 29,90), incluindo a narrativa em primeira pessoa da saga da jovem que quer vingar o assassinato do pai. Indicado ao prêmio de roteiro adaptado, assinado pelos dois diretores, tem um fortíssimo concorrente na adaptação de Aaron Sorkin para Bilionários por Acaso (Intrínseca, R$ 29,90), de Ben Mezrich. O filme de David Fincher, A Rede Social, resolve com eficiência as situações narradas no livro, que oscila entre o relato jornalístico e a prosa em estilo quase ficcional. Já O Efeito Facebook (Intrínseca, R$39,90), de David Kirkpatrick, traz a história oficial da criação da rede, com depoimentos colhidos entre muitos dos que participaram de sua fundação, entre eles Mark Zuckenberg.

Se o leitor busca veracidade, melhor ater-se aos documentos reunidos em O Discurso do Rei (José Olympio, R$ 29,90) para abordar o relacionamento entre o monarca britânico George VI e Lionel Logue, o terapeuta australiano que o curou da gagueira. Os diários de Logue foram entregues aos produtores do filme por seu neto, Mark Logue, co-autor do livro com o jornalista Peter Conradi. Neste caso, livro e filme são dois produtos completamente diferentes, já que o primeiro se atém ao registro dos fatos, enquanto o segundo segue uma linha dramatúrgica nem sempre fiel à história – incluindo aí a forma íntima de Logue dirigir-se ao aristocrata.

O registro histórico também está em A Última Estação (Record, R$ 49), de Jay Parisi, que chegou às livrarias brasileiras em 2009. Dois anos depois, entra em cartaz o filme de Michael Hoffman, que mostra os conturbados últimos dias de vida de Lev Tolstói. Na tela, o escritor é vivido por brilhantemente por Christopher Plummer, indicado ao Oscar de ator coadjuvante. Interpretando a mulher de Tolstói, Sofia, Helen Mirren é candidata ao Oscar de melhor atriz. Em livro ou em filme, A Última Estação pode ser um bom aperitivo para a degustação de magníficas criações de Tosltói, entre elas Anna Karenina, A Morte de Ivan Ilitch ou Sonata a Kreutzer.

Para encerrar o giro cinematográfico-literário, quase um ano após a premiação do Oscar de Filme Estrangeiro de 2010, sai agora no Brasil O Segredo dos Seus Olhos (Suma das Letras, R$ 29,90), do argentino Eduardo Sacheri. O romance, que entremeia histórias de amor com investigações policiais, traça um contundente panorama de seu país ao longo de diferentes momentos políticos – uma característica da literatura e do cinema argentino contemporâneos de diferentes momentos políticos – uma característica da literatura e do cinema argentino contemporâneos.

23.2.11

That's Entertainment!


Houve tempo em que eu assistia a 200 filmes por ano, não perdia nenhum indicado a Oscar. Mudou a vida, o tempo, a idade. Tudo começa a se parecer muito com o já conhecido.
E os filmes deste ano, como os do ano passado e os dos anos anteriores, não chegaram a me entusiasmar. (Tá, ano passado teve Bastardos Inglórios, então, retiro o que disse).
Nem vi todos, porque agora, a Academia resolveu indicar dez filmes, provavelmente para vender melhor os produtos da indústria. Assisti a Bravura indômita, A rede social, O discurso do rei, Cisne negro e A origem. Nenhum me entusiasmou. Todos entretenimento.
Mas isso é porque eu já não consigo ver graça em

1) o arrojo da linguagem nerd;
2) a genialidade da mente industrial;
3) o freudianismo barato de um filme de autor caretíssimo;
4) um filme que mais parece peça de teatro, quadrado o suficiente para emoldurar as brilhantes interpretações dos protagonistas;
5) uma releitura de um "clássico" rasteiro.

Esclarecendo minha rabugice, A Origem é direcionado ao público masculino moderninho, que cultua histórias em quadrinho com o mesmo fervor devotado aos beatniks e à Erva do Diabo, de Carlos Castañeda. (Li HQs, sofregamente, na infância e juventude, adoro Hal Foster - um superdesenhista -, tenho um bocado de coleções de clássicos do gênero, mas, na boa... eu cresci; ah, tá, gosto de alguns beatniks pacas, como Burroughs).
A Rede Social é um filme sobre business, uma velha tradição do cinema americano, que também tratou disso na literatura com vigor. Sem o mesmo charme de personagens como Tucker,de Francis Ford Coppola, ou Sammy, de O que faz Sammy Correr?, de Budd Schulberg, o criador do Facebook mostrado pelo filme tem a mesma obsessão por fama, inovação e dinheiro que qualquer inovador que se lança no mundo dos negócios. A diferença é que esses meninos são muito jovens e, à diferença de Howard Hughes, não eram os homens mais ricos do mundo na adolescência porque ganharam uma baita herança. O filme é muito bem resolvido, com um início em ritmo acelerado - tinha que se mostrar moderninho, para tratar do raciocínio veloz de um geniozinho -, mas depois cai num andamento tradicional para provar que os canalhas já nascem sem caráter.
O Discurso do Rei vem na medida para premiar seu (ótimos) elenco. O rei que precisa se livrar dos traumas de infância e da criação esnobe, graças à interferência de um súdito anticonvencional, australiano, sem estirpe ou formação tradicional... e ... não parece aqueles filmes de adolescentes americanas que liberam as inglesinhas caretas dos internatos britânicos? Ou Harry Potter, que rompe com as tradições ao enfrentar inimigos sem temer as consequências? O filme é bom, os atores, ótimos. E só.
E então, os irmãos Coen se arriscar a recontar uma história de cowboy. Para evitar comparações com a montagem anterior, de Henry Hathaway, abriram o livro de Charles Portis e saíram filmando. O produto é simpático, divertido, bem realizado. Nada que eles não tenham feito antes.
E, por fim, o grandioso Cisne Negro, com seus delírios oníricos na medida para a intérprete ganhar o Oscar. Angústia, inveja, busca da perfeição, mãe biruta e castradora, filha maluca e obsessiva, câmera correndo junto ao pescoço da protagonista, pontuando seu tormento, seus temores. Previsível, moralista, junção de clichês... Bem, mas eu fui a única pessoa a ver isso no filme, que arrebata admiradores ardorosos (inclusive os que acreditam que ali está retratada a psiquê feminina ... li isso de uma mulher; desculpem, minha mente é mais madura do que aquela pobreza infantiloide)ou detratores que o odiaram pelo tédio. Até que me diverti durante a projeção, já que estava bem acompanhada de um amigo que fez piada o filme inteiro. Mas achei uma bobeira só.

E encerro aqui os desabafos de alguém à procura de novas linguagens. Ou de apenas uma boa história bem contada (algo que, convenhamos, pelo menos três dos filmes acima, conseguem)

22.2.11

http://www.youtube.com/watch?v=UqRmGHocCcg

19.2.11

Eu queria mesmo era ser artista plástica, sabem?
Comunicar-me pelo traço, pela cor, pela arrumação de objetos.
Como minha aptidão pelo desenho é extremamente limitada, para não dizer ingênua, tenho que me contentar em admirar quem consegue se expressar pela criação ou reprodução das sensações.
Por isso, gosto tanto de fotos, pinturas, penduricalhos para casa, impressões sobre sóis levantes ou poentes, pontilhados que se transformam em figuras, pingos que chovem dores e angústias sobre telas.
A Web abre diversos "cadernos" de adolescentes. Descobri o Tumblr. com minha filha - que faz lá suas colagens com aquela doçura dos jovens.
Mas eu também quero editar imagens de outros, que tocam minha alma vez por outra.
E criei o "Anotações Cariocas", que vai ter link junto a outras pegadas. Sou uma andarilha da Web.

14.2.11

Grammy 2011

O que é o Grammy? Como uma celebração dos mais aclamados profissionais do show bizz consegue ser tão ... falsa? Nada empolga! É pior do que a entrega do Oscar em chatice. Vale pela bizarrice dos modelitos, claro.
Mas até aí perde do Oscar, que tem como reis da cafonalha, geralmente, os roqueiros - notórios pela deselegância com a exceção do Sting.
De resto, tem música mal interpretada. E perguntas que não querem calar, tais como por que a vetusta Barbra Streisand mostrou que não tem mais voz em "Evergreen"? Por que Kris Kristofferson cada vez mais é um Jeff Bridges mal acabado (ou melhor, por que Jeff Bridges resolveu virar o Kris Kristofferson de hoje em dia)?

Por que Mick Jagger se assemelha cada vez mais ao cruzamento de uma lagartixa saltitante de terno do tempo dos Everly Brothers com uma tartaruga? Por que Mick Jagger decidiu cantar "Everybody Needs Somebody", homenageando (mal) os Blues Brothers?




Mas para mostrar que não só os coroas podem envelhecer mal, sempre tem a nova safra do pop, que já é estranha pela própria natureza forjada dos que almejam os holofotes da midia a qualquer preço, exceto o da qualidade musical - algo que os doidões de outrora já haviam provado que tinham, no tempo em que reinavam nos hit parades.

Teve de tudo. Kate Perry variando de anjo (Eduardo Dusek fez isso aqui num festival da Globo, há pelo menos 25 anos) a pin up de anúncio de pirulito. Ou seja, uma estética desfile da Victoria's Secret.






Como sempre, Lady Gaga tentou ser a detentora do trofeu Bjork de originalidade brega. Mas a competição era pesada. Chegou numa liteira em forma de ovo e usou uma roupa que mescla os figurinos de "Os 300 de Esparta" com "Gladiador" e "Os Três Mosqueteiros". Óculos escuros, claro, a máscara oficial dos blueseiros que não agüentam as luzes por conta dos psicotrópicos, e como complemento que atrapalha a plateia, um chapeuzinho de abas imensas.







O problema da Gaga é que a competição era duríssima. Todo mundo procurava se vestir o mais ridiculamente possível. Parecia uma festa de Haloween (no Carnaval, a gente enverga menos paramentos) de gente feia. Porque tava todo mundo feio. E a Rihanna, que a cada meia hora surgia no palco, fez por merecer seu lugar

Chegou assim, simplesinha, com este vestidinho que eu juro, conheço numa versão semelhante, mas menos insinuante, que vi num show da Elza Soares. O da Elza era todo transparente dos dois lados, só cobria partes na frente e atrás. Enfim, um modelito ... feio?


Para subir ao palco, ela viu esta flamejante criação em passarela, arrebatando-a antes que a Helena Boham-Carter pegasse pra vestir na entrega do Oscar. Porque o vestido é muito interessante - em palco, claro. E segue uma concepção timburtiana de releitura das feiticeiras contemporâneas. (É esquisito, mas eu até gostei. Fica lindo em mulher de dois metros de altura, magrinha. A Rihanna pode).





O que a Rihanna nem qualquer um com o mínimo de bom gosto poderia vestir era este uniforme de super-heroína, desenhado pra que ela parecesse gostosona. Tudo bem, ela é bonita e jovem, atributos que lhe permitem tornar-se cantora, mesmo que a voz e a interpretação de nada ajudem. Será que Rihanna desaparecerá no limbo pop como as divas da disco music (que pelo menos sabiam cantar)?

Mas a competição continuava difícil, com a rapper Nicki Minaj fantasiada de Don King Presta Tributo à África Ancestral, tornando o coleguinha will.i.am um paradigma da sobriedade em vestimenta.

O ápice do contraste entre a Bela e a Fera foi a apresentação de Cee-Loo como um Garibaldo à solta na Marquês de Sapucaí estilizado, entre um monte de marionetes, e Gwyneth Paltrow, interpretando Michelle Pfeiffer em "Susan e os Baker Boys". Cee-Loo tem uma voz fantástica e Gwyneth canta melhor que Rihanna.



A outra aparição da bonitona Sra Coldplay foi no papel de lindinha, amiga da Beyoncé. Ambas com vestidinhos (ou shortinhos) curtinhos ...



... como a J.Lo...



... ou a Eva Langorria.

Aliás, acho que descobri por que tanta atriz de cinema se casa com músico. Só pra sobressair a beleza no meio de tanto milionário maltrapilho. Por isso, a rainha do Botox, Nicole Kidman (que, convenhamos, está bem melhor depois que parou de aplicar as injeções, voltando a ser lindona), faz questão de acompanhar o marido, cantor country, e tirar foto com o Baz Lurhman, fazendo um trio bonitinho.



6.2.11


A sociedade do espetáculo que entronizou o culto à juventude eterna criou um filhote indesejado - o da imaturidade perene. A imensa dificuldade que é enfrentar a velhice atualmente leva boa parte das pessoas a se refugiarem, inconscientemente, em comportamentos adolescentes.
A super-exposição através da Internet obriga todos a se mostrarem intensamente felizes. Isso me lembra um ou dois filmes a que assisti em que as protagonistas eram mulheres eternamente bem-humoradas, procurando rir de qualquer aspecto da vida. Um era Happy-Go-Lucky, do Mike Leigh, outro um telefilme imbecil. A alegria sofrida das duas personagens - porque elas buscavam felicidade em TUDO - faz com que as duas se mostrem vazias, obtusas, patéticas.
Agora, a gente tem que estar celebrando a vida o tempo todo. Mais importante que aproveitar o momento é mostrar ao mundo inteiro que:
1) estávamos naquele lugar
2) em boa companhia
3) nos divertimos um bocado
4) como somos interessantes.

Realmente estou cansada da autopromoção, uma arte que jamais apreciei ou dominei. Adultos que vibram intensamente e precisam de atenção pública o tempo todo, me parecem adolescentes mal-resolvidos. Só temos importância através do olhar do outro? Precisamos abrir nossas vidas para obter reconhecimento profissional? Coitados dos escritores, uma tribo que sempre viveu entocada. Hoje, eles são obrigados a explicar cada parágrafo que escrevem, como se fossem atores que participam do lançamento de filme. A apreciação do artista é confundida com o estilo de vida que adotam. Estou lendo a biografia de Keith Richards. O que emerge das páginas não é o doidão anárquico, mas um profissional extremamente dedicado a seu ofício, a razão de sua existência. É como lembrar de Lord Byron, Percy Shelley, Rimbaud e Verlaine. A obra que deixaram foi infinitamente maior e mais significativa do que as atitudes desvairadas ao longo de suas curtas vidas.

Nada contra a nova ordem da perfeição plástica, da tecnologia que prolonga e melhora as condições de vida. Mas um pouco de dignidade e discrição não fazem mal a ninguém.