7.12.17

A economia doméstica

Anos 70: milagre econômico, todo mundo investia em ações, incluindo meus cautelosos pais, que sempre reservaram um dinheirinho pra poupança. Na metade da década, meu pai quarentão perde o emprego e não consegue se recolocar em publicidade, virando redator de jornal - que ele gostou muito mais do que ser publicitário, embora o salário fosse um terço do que percebia antes. Sensação de descrença no país do futuro.
Anos 80: Sucessivos planos econômicos, filas de desempregados virando esquina em busca de vagas nas mais diferentes colocações. O desemprego volta a meu lar na figura do então marido. Eu trabalho em jornal. Sensação de descrença no país do presente.
Anos 90: Plano Collor estropia as reservas da família. Perco o emprego depois de dez anos no Globo. Entro no projeto Odara: quiosque na Praia de Rio das Ostras. Fim do casamento, volto para jornal, acabo fazendo assessoria de imprensa. Sensação de piloto automático ligado para pagar as contas e tocar a vida.
Anos 2000: Anúncios de contratação surgem nas vitrines das casas comerciais. Viro pessoa jurídica, trabalho como frila. Sensação inacreditável de júbilo com o crescimento da economia e saída do país do mapa da fome.
Anos 2010: Aos 51 anos, sou contratada para um trabalho com carteira assinada! Aos 55, retomo a vida de frila quando perco o emprego. Somem os cartazes de contratação nas vitrines das lojas. Empregos temporários são oferecidos para os jovens da família. Sensação de descrença na vida.