27.5.15

Gripe.

O bom da gripe: só vim a saber do acidente com Angélica e família no day after, sem ter assistido a qualquer notícia em TV.
O ruim da gripe: dor nos olhos, dentes, ouvidos, garganta, corpo em geral, total falta de ânimo diante da vida e a capacidade de assustar a todos com uma voz tristonha, anasalada, chorosa. 
(Reajo quase como homem, quando doente. Antes de chamar o tabelião para distribuir meus males - dívida não é bem, né? -, relaciono em bilhetes tudo o que meus filhos precisam saber da nossa vida financeira, caso eu sucumba à moléstia. Encarno uma personagem trágica, Margueritte Gautier, prostrada sobre um sofá, pilhas de lenços de papel, água e vitamina C à volta. Minha família, nem bola. Quando são eles os doentes, só verifico temperatura, administro remédios e alimento. Amanhã, se tudo der certo, acaba o drama. Senão, por favor, alguém peça um sacerdote para ministrar a unção dos enfermos...)

22.5.15

O buraco negro da elegância


Jane Fonda, quem diria, dividiu com Catherine Deneuve o troféu Até as Divas Erram! La Fonda, a mulher que ensinou o mundo a lutar contra a natureza, jogando-se nas academias de ginástica, compensa a magreza atual com roupas exuberantes. Fica meio como passarinho emplumado, a cabeça sem combinar com o corpo, o rosto sem combinar com ela própria. Em 2014, a diva do passado da vez era a esplendorosa Sophia Loren. Deneuve e Fonda, que já tiveram o mesmo ex-marido, Roger Vadin, mostraram afinidade, também, na escolha de cores. O efeito foi apavorante. Quase matou Michael Caine, coitado, com um olhar absolutamente catatônico, posando para as fotos. 






Há quase cinquenta anos, ele era mais animado ao lado da jovem Jane, no intervalo das filmagens de "Hurry Sundown".

Para recordar... o vestido da Deneuve...


Jane Fonda, Harvey Keitel, Rachel Weiz e Michael Caine, o elenco do filme "Youth", em trajes menos formais.



Errei em minhas previsões. Marion Cottillard vestiu uma roupinha bem convencional e bonitinha.



 Cannes foi invadida por lindas modelos, todas com roupas bonitas. Cara Delevigne, que agora virou atriz, ainda aposta no marketing de viver de cara amarrada. Talvez por causa desse trágico vestidinho branco, com uma cauda que já saiu de moda.


Já Michelle Rodriguez, que pinçou modelos bem bregas e vulgares para desfilar por Cannes, no fim, fez bonito: um branquinho simples e chique.


Eva Langoria defendeu com ardor o posto de maja desnuda latina, com estranhas transparências recobrindo suas formas.


Uma Thurman optou pelo branco acetinado simplesinho.


E Diane Kruger, que sempre primou pelo  bom gosto, tirou esta semana em Cannes para apresentar seu lado cafona. Entre os destaques, o minivestido estreladinho, o buraco negro da elegância. 



Falta pouco pra aposentar o smoking, pensa Lambert Wilson, mestre de cerimônias do Festival, à vontade na Croisette.


17.5.15

O glamour morreu

Em Cannes, há diversas formas de chamar a atenção da imprensa. A mais corriqueira é despir-se ou vestir algo bem inusitado. Fora isso, sempre vale uma declaração polêmica a ser desmentida depois. A talentosíssima, consequente e elegante Cate Blanchett resolveu dizer que teve diversos relacionamentos com mulheres num dia para desmentir no outro, falando que a esta altura da evolução não há sentido em se preocupar com a preferência sexual de qualquer um. Concordo em gênero, número e grau, mas discordo veementemente do que La Blanchett decidiu usar para passear pela Croisette. A transparência e os babados, realmente, são atrozes, parecendo figurino de filme de ficção científica assinado por Gaultier.  À noite, ela envergou vestido de grávida, com estampa que necessita de óculos 3D para ser decifrada, sob camadas de dobras na parte de trás.





A harmonia que Woody Allen imprime a seu elenco inexiste deste lado da tela. Não podiam ser mais diferentes as fatiotas de Emma Stone, fantasiada de noiva do Drácula, e Parker Posey, de americana madura  em férias na Riviera. Woody Allen foi de Woody Allen mesmo.


À noite, Parker Posey foi de Tributo clean a Carmem Miranda.


Natalie Portman, diurna, de Cisne Negro desconjuntado.



 No tapete vermelho, mais alegrinha com um belo saião godê, de estampa desfocada.


O pretinho acetinado totalmente dispensável de Charlize Theron, candidatando-se ao troféu Até as Divas Erram. Uma celebração do encontro das damas vitorianas com os índios norte-americanos, em luto pela perda de seus territórios. 


O vestido-combinação de Sophie Marceau até ficou charmoso com as aplicações.


O mesmo não se pode dizer da rosa aplicada no vestidinho de Diane Kruger.


Rooney Mara de noiva caipira.


A almodovariana Rossy de Palma encarnando Maria Alcina.


Salma Hayek quis mostrar os novos seios. 


Sienna Miller numa homenagem  a Eloi Machado, eterno concorrente dos concursos de fantasias do Hotel Glória, que sempre ganhava o prêmio de originalidade masculina por composições intituladas "O vendedor de pipas", "Domingo na praça" ou coisa que o valha.


Apesar dos esforços de tantas estrelas de cinema, ninguém há de bater a russa Elena Lenina, que alia trajes pavorosos com esculturas capilares de péssimo gosto. Imagino que ela esteja proibida de entrar nas salas de projeção. 


15.5.15

Eh, Cannes...

Em moda e na vida, tudo é tendência. Aquilo tudo que a gente achou estranho no casamento da Preta Gil, em fendas, no Met Gala, em fantasias, e em Cannes, ontem, no negligée da Lupita, é tendência...
Cannes continua bombando em estranheza e haja esquisitice à mostra.

Saindo na frente na disputa do troféu Até as Divas Erram, Julianne Moore, com um elmo rubro sob o vestido aveludado que prima pelo esquerdismo: um ombro coberto na canhota, uma fenda aberta à esquerda. A carapaça de jacaré pintada de vermelho não melhorava  a bagunça visual.



Fortíssima concorrente na mesma categoria é Catherine Deneuve. Como todas as atrizes francesas, ela resolveu prestigiar um estilista conterrâneo. E envergou essa loucura em rosa e negro de Jean-Paul Gaultier. Uma roupa que não fica bem em absolutamente ninguém, como prova a jovem modelo que usou o modelito nas passarelas.


 Mais maldade do que convencerem La Deneuve a vestir esse equívoco foi publicaram foto dela dando tchauzinho hoje e há 40 anos. Isso não se faz.


Durante o dia, a ex-musa fez mais bonito, com uma blusa modernosa.


Salma Hayak, aquela para quem os anos não passam jamais, homenageou as raízes fantasiada de espanhola. Mas ficou bonitinha.


De dia, a baixinha (também, só tem homem grande ao lado dela) vestiu umas rosas. O carioca Vincent Cassel foi de francês rico à beira-mar, o diretor Matteo Garrone vestiu-se de dono de boteco e John C. Reilley de Dirk Bogard em Morte em Veneza




A chinesa Fan Bing Bing apostou nas flores. Na primeira noite, foi comedida. Dois dias depois, pegou um monte de tule, juntou umas flores compradas na Casa Turuna e saiu de Rainha da Primavera de peça escolar. 







Já Vian Zhang preparou a fatiota para o Met Gala, que tinha a China como tema. Não pôde ir, carregou tudo pra Cannes. Mas em vez de estamparia chinesa, preferiu  algo que não faria feio num bom chitão brasileiro. 


Ainda na linha negligée, Isabella Rosselini preferiu um modelo bem confortável.


À noite, manteve o confort look, mas com uma capa linda, chiquérrima. 


Seguindo a estética pelada-Beyoncé, Michele Rodriguez.


Charmosa, Sophie Marceau  numa peça bem interessante, vestido com a parte superior em camisa que se decompõe em pareô.  


Só Charlize Theron fica linda, mesmo toda trabalhada no amarelo ovo. Agora, a moça sai de casa como uma deusa, de vestido de cauda, belíssima, e o Sean Penn nem se deu ao trabalho de botar uma gravata... Pelo menos, foi de sapatos. 


E só Charlize teve aplomb suficiente para não ser obliterada no tapete vermelho pela esfuziante presença da celebridade russa Elena Lenina, que optou por um look rendado desnudo e uma escultura capilar bastante conveniente para sentar-se numa plateia de cinema. 
Para complementar a fantasia de Anjo Caído, umas asinhas, claro. Pior, impossível. Claro que só até ela aparecer com o próximo modelito bizarro. 




The day that music died

A gente sabe que envelheceu quando a trilha sonora da vida vai silenciando. Vi B.B. King no Canecão, dez dias depois do nascimento doArtur, mal acreditando que deixaria meu bebê em casa, com meus pais, para ouvir blues. Um show delicioso, com um público muito aquém dos músicos. Eu olhava para as caretas do B.B. King e achava que ele fazia os mesmos esgares que meu filhote - que dormiu a noite toda, sem sentir a menor saudade de mim. No inconsciente dos bebês, ele sabia que ouvir e ver B.B. King faz bem à alma de qualquer um. 
Nunca mais nos encontramos. Mas ele permaneceu inoculado em mim, que transmiti essa felicidade de conhecer um som cristalino e inebriante a meus guris. Valeu, Riley!!!