19.8.05

Exclusivo para maiores de 40


Existe coisa mais irritante do que esta mania brasileira de chamar tudo o que é admirado pelo diminutivo? Não falo de nomes de pessoas, o que denota carinho. Mas eu odeio o jeito como se chama comida de "comidinha", vestido de "vestidinho".
Lógico que tudo depende do tom. É a forma infantilizada que me incomoda. Igual a quem vive falando com "vozinha de neném". "Fufufu", "tchuco-tchuco", "bibi", "nhenheco". AIIII!!!! Nem com meus filhos pequeninos eu falava assim - o que me rendia repreensões de todas as mães e pais que tratavam seus filhotes com mil "puques-puques" e a admiração dos mesmos e dos outros pelo excelente vocabulário empregado por minha prole (o que não quer dizer que algum tenha se tornado um aluno brilhante; só aprenderam a se expressar bem).
Minha amiga Solange é que definiu esta maneira falsamente ingênua de falar como "Voz Tilibra" - olha o merchandising!!!! Houve uma campanha dos cadernos Tilibra que trazia uma moçoila relatando o quanto o produto a acompanhara na vida, desde a escola. Vai contando tudo com a vozinha de garotinha até dizer que entrou pra faculdade, conheceu o Fulano, que, entre outras coisas a aconselhou a deixar aquele tom ridículo de voz que usava antes. Acaba o comercial e a personagem adota um tom mais adulto e, naturalmente, sem o falsete característico das velhas menininhas.
Aí, a gente bota num programa moderninho qualquer da MTV ou do Multishow em que uma estilista, ou seja, uma moça com cabelo desgrenhado, sapatos atrozes e um vestidinho de chita qualquer que custa uma fortuna numa confecçãozinha, digo, numa lojinha escondidinha do bairro chique de São Paulo ou do Rio, vai sugerir um novo visual para outra guria que se traja de com um figurino clássico para encenar "A Volta dos Mortos-Vivos 20". Então, a estilista descabelada combina um blazer roxo "super sério" (ah, sim, o "super" é superlativo que se gruda em qualquer palavra, intensificando seja lá o for) com uma saia laranja e umas sandalinhas azuis de salto alto, não se esquecendo de jogar acessórios indispensáveis, como quatro ou cinco broches de flor em cores berrantes, para complementar a fantasia de espantalho com a qual a cliente pretende se apresentar numa entrevista de emprego. Reconheço: a moda mudou e que essas peças kitsch fazem sucesso desde os anos 60, o glamour imposto pelos então chamados costureiros, como Givenchy, Chanel e Pierre Balmain dificilmente voltará, mas o que me apoquenta profundamente, mais do que o carnaval estilístico no trajar, é chamar tudo de "super" ou de "inho". E gente de mais de 30 anos falando com voz de boboca, agindo como adolescente com medo de virar adulto. Parece que esse grupo é descendente dos "tatibitati", uma forma anacrônica de classificar a fala das criancinhas, bastante empregada por jovens vendedoras de lojas de roupa ("Oiêê, meu nome é Juliana, e o seeeeu???? Nooossa, a saia balonê ficou a sua caaara") Talvez pensem que estejam soando como Marilyn Monroe interpretando a vizinha gostosona do "Pecado Mora ao Lado", mas correm o risco de ficar igual a surfista geriátrico, sempre com aquela voz arrastada, imortalizada pelo Evandro Mesquita, cheia de "éééaaaaahhhh" ao fim de cada palavra ou frase. Há que lembrar também que tanto Marilyn quanto Evandro encarnavam personagens que se mesclaram às personalidades de ambos, atendendo a demandas mercadológicas (sim, estou particularmente ranzinza hoje!).
Isto posto, confesso que adoro sapatos verdes, jamais penteio os cabelos, já usei boina, paletós masculinos, chapéus, gravatas e tudo que há de ridículo para vestir, mas sempre com uma voz firme. E daqui a pouco mais de um mês fecho os 45 minutos do meu primeiro tempo neste planeta ... então... posso ser rabugenta mesmo.

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