1.8.06

Praticamente uma Holanda

O Brasil, evoluidíssima nação no que tange a direitos trabalhistas, pode até não reconhecer a profissão de prostituta, porém garantiu o cadastramento dos "profissionais de sexo" na Classificação Brasileira de Ocupações - que, dentro do mesmo espírito liberal, deveria incluir também a ocupação "dondoca".
E para ser mais ridículo ainda, já que ocupação não é emprego de ninguém, embora a relação esteja no site do Ministério do Trabalho e Emprego (ó, coisa mais atroz, esta mania brasileira de inventar nomes politicamente corretos e patéticos, quando pretendem esclarecer o óbvio e jamais deixar prevalecer o bom senso lingüístico), vem a descrição da atividade exercida por (sic) Profissional do sexo - Garota de programa , Garoto de programa , Meretriz , Messalina , Michê , Mulher da vida , Prostituta , Puta , Quenga , Rapariga , Trabalhador do sexo , Transexual (profissionais do sexo) , Travesti (profissionais do sexo): Batalham programas sexuais em locais privados, vias públicas e garimpos; atendem e acompanham clientes homens e mulheres, de orientações sexuais diversas; administram orçamentos individuais e familiares; promovem a organização da categoria. Realizam ações educativas no campo da sexualidade; propagandeiam os serviços prestados. As atividades são exercidas seguindo normas e procedimentos que minimizam as vulnerabilidades da profissão.
Entrando em cada um dos itens do menu, descobre-se que entre as competências profissionais estão demonstrar capacidade de persuasão, de expressão gestual e de realizar fantasias eróticas; agir com honestidade; demonstrar paciência; planejar o futuro (?) , demonstrar capacidade lúdica e ouvir atentamente (saber ouvir).
Quanto aos recursos de trabalho, que em algumas profissões, como a de jornalista são cadeira, scanner,internet e mapa urbano , os profissionais de sexo têm "guarda-roupa de batalha", gel lubrificante, preservativo masculino ou feminino, cartões de visita, papel higiênico e lenços umidecidos (sic).
Preconceitos à parte, enquanto um jornalista tem que demonstrar competência em conhecimento do idioma, um profissional do sexo tem que demonstrar capacidade de expressão gestual? Por mais que a gente tenha boa vontade com a associação de apoio aos profissionais do sexo que respondeu ao questionário, incluir a "ocupação" ao lado de categorias profissionais regulamentadas é uma vergonha. Outro vexame é termos uma atividade marginal que lista como instrumento de ofício papel higiênico. Pior que tudo é termos um Ministério do Trabalho que lista "ocupações". E que reconhece que o mercado informal de trabalho é maior do que o formal.
Se querem dar respeitabilidade ao comércio dos corpos, que regulamentem a atividade, ora! Incluir numa relação, definindo atribuições vagas e falsas (planejamento de futuro, que balela), não garante aposentadoria para ninguém. E para cada celebrada Bruna Surfistinha há milhares de mulheres desconhecidas, pobres, precocemente envelhecidas, exploradas por cafetões, "batalhando" nas calçadas próximas a hotéis decadentes.

7 comentários:

Anônimo disse...

Já tem algum tempo que leio seu blog e gosto muito do que vc escreve.
No começo achei que esse texto ia descambar pro reacionário. Depois vi o q quis dizer. Realmente, ao invés de criar cartilhas sobre a profissão o governo deveria tentar coloca-lás dentro da legalidade para que não ficassem expostos a tantos riscos.
Parabéns!

Olga de Mello disse...

Oi, Kamilla,
apareça sempre. Vou visitar você também!
Beijo!

Anônimo disse...

Olá, Olga

Conheci seu blog através de uma amiga que temos em comum aqui em Brasília, a Marcinha Vale. Ela nos mandou um texto seu e o endereço. Desde então não parei mais de ler e até me animei e fiz o meu blog (não tão bom quanto o seu). Tive o prazer de colocar nele um link para o seu, se vc deixar . . . Se quiser ver, o endereço é http://panoramicas.zip.net/index.html

Um abraço e continuo lendo.
Caique

Jôka P. disse...

Fico todo pimpão de ter uma amiga tão inteligente, coerente, justa e talentosa.
:)
Bjs!
Jôka P.

Olga de Mello disse...

Caique,
Puxa, obrigada por me linkar. Vou lá visitar você, sim. Apareça sempre e dê seus pitacos aqui!
Márcia é mais que amiga. É minha madrinha de casamento e madrinha de minha filhota. É uma irmã que o mundo me deu.
Adoro conhecer os amigos dela!
Beijo grande

Olga de Mello disse...

Jôka,
Vc é que me deixa toda pimpona!
Quisera ter a mesma leveza sua para registrar o mundo!
Beijo!

Jôka P. disse...

A minha leveza é só virtual.
Já na balança é outro papo.
:)