16.8.13

A invisibilidade dos adultos do século passado

O elevador está lotado, dois homens de 20 e poucos anos se postam próximos à porta. Chego a meu andar. Tenho que me esgueirar entre ambos para alcançar a saída. Nenhum faz menção de me dar passagem.
Puxo o portão da escola, mas não consigo chegar à calçada. Preciso aguardar a entrada de três adolescentes, todos mais altos que eu, e de tantos outros, gente que chegou ao planeta mais de trinta anos depois de mim e que ignora minha existência.
Tem sido assim há muito tempo. Não se abre espaço nas estreitas calçadinhas de Botafogo para a adultos que ainda não entraram na categoria "idosa", (mal) amparada por leis capengas.
No metrô, meu filho mais velho se levanta para dar lugar a uma mulher, que o elogia Estranhei. Ela diz que dificilmente alguém jovem age assim, hoje em dia.
Falar alto é uma característica brasileira que assusta quem vive há muito fora do País. Serve também como identificador de grupos ou famílias de viajantes no exterior. O alarido acompanha os brasileiros e vem aumentando, desafiando os decibéis suportáveis pelo ouvido humano a cada ano.
O afã de rejeitarmos a natureza, recusando o envelhecimento previsto por nossos DNAs, valorizou de tal forma a pureza da alma juvenil que nos esquecemos de passar às novas gerações algumas noções de convivência. Gritar o tempo todo, como se estivéssemos em estádios, tornou-se traço de jovialidade, de descontração. O uso e abuso de palavrões para pontuar, advertir, expressar admiração ou adjetivar situações e sentimentos propagou-se entre todas as faixas etárias.
É imperativo usar o celular - do despertar ao adormecer. Dar atenção a quem está a seu lado, no entanto, é circunstancial. Se houver algo mais interessante a verificar no celular, deixa-se o interlocutor falando sozinho, claro. Porque não existe mais a regra básica da cortesia. O formalismo deu lugar a um total descaso com o mundo ao redor. Como bebês, estamos prontos a exigir e a aproveitar o que surgir para nosso prazer puro e simples.
O problema é que a gente cresce. E sente que vai se tornando invisível para esses novos espécimes, fortes, grandes e com antolhos permanentemente acionados para não se contaminarem pelos intocáveis - mendigos, feios, doentes e velhos.
Confundir cortesia com hipocrisia é preguiça de educar, papel das famílias e das escolas também.

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