9.3.08

Para Maria, Vanúzia, Leda, Cilene, Fátima

Um dia após a fanfarra habitual pelo 8 de março, os jornais falam do crescimento econômico feminino, de como aumentaram os casamentos em que as mulheres são mais velhas e ganham mais que os maridos, o quanto elas batalham e buscam o reconhecimento social -sempre com a piadinha de que ainda usam batom e fazem tudo em cima dos saltos altos.
Este ano, o debate foi ampliado com passeatas pró-aborto e pelas pesquisas científicas em embriões, temas que atingem não apenas as mulheres, mas que a própria fisiologia da gestação torna afeitos às mentes femininas. Debate, aliás, bem mais conseqüente e importante, por envolver bioética e princípios filosóficos do que a eterna questão sobre mulheres que trabalham e "abandonam" os filhos por sua carreira profissional.
Hobsbaum disse que a grande revolução do século XX não foi tecnológica, mas a feminina. Uma revolução que proporcionou ganhos trabalhistas notáveis, benefícios para diferentes grupos sociais, não apenas a mulheres e crianças. Além de licenças-maternidades, o reconhecimento dos direitos de companheiros do mesmo sexo dificilmente teria respaldo legal antes das conquistas femininas. Socialmente, os homens ganharam com um movimento favorável à sensibilidade masculina, antes embotada ou reservada apenas aos artistas.
Ainda assim, feminismo é um termo malcompreendido e empregado pejorativamente, embora seja prática de quem sequer o reconhece como adjetivo. Feminista é aquela mulher que sai da cidade-dormitório às 5 da manhã, depois de ter deixado os filhos na casa da vizinha, chega no trabalho às 8h, retorna para casa à noite, faz o jantar da família inteira e não dorme, apaga por algumas horas até recomeçar tudo no dia seguinte. No sábado, ela arruma a casa, lava a roupa da família toda e no domingo ainda serve uma feijoada pra vizinhança. Essa mulher não tem aspirações profissionais, nem drenagem linfática, nem sofre pressão de homens invejosos de seu poder. São essas mulheres, que passam por constrangimentos em trens superlotados, que trabalham sem perder essa estranha mania de ter fé na vida, que os detratores do feminismo esqueceram. Mulheres sem as quais outras mulheres, de classe média, que têm como discutir ideologicamente o feminismo, jamais podem dispensar. Mulheres que ainda não descobriram que elas são, sim, o símbolo da igualdade e força que as sociedades podem almejar e devem exaltar.

2 comentários:

Jôka P. disse...

Arrasou, bee !

Ricardo C. disse...

Linkei, viu?
Beijos