22.9.06

No Valor, hoje


Paraty, agora muito mais iluminada
Divulgar a literatura brasileira no mercado internacional, criando uma atividade comercialmente interessante para Paraty. Foi o que levou o casal Liz Calder e Louis Baum a desenvolver a idéia de movimentar a bela cidadezinha do Sul fluminense com uma festival literário nos moldes dos que se promovem todos os anos em Hay-on-Wye, no País de Gales; em Edimburgo, na Escócia, ou em Mântua, na Itália. Sem ligar para as críticas quanto à distância de Paraty do Rio de Janeiro (248 km) ou de São Paulo (300 km), nem em relação ao notório desinteresse dos brasileiros por literatura, a inglesa Liz conseguiu trazer escritores do mundo inteiro, como Salman Rushdie, Ian McEwan, Toni Morrison, Eric Hobsbawn e Paul Auster, para o que viria a se tornar o mais simpático evento literário abaixo do Equador.
Uma das fundadoras da editora Bloomsbury, Liz Calder apostou no charme da pequena cidade de 33 mil habitantes no litoral fluminense como garantia do sucesso da Feira Literária Internacional de Parati (Flip). Fascinada pelo Brasil, ela já o era desde a década de 1960, quando morou em São Paulo com o primeiro marido e os filhos pequenos. Desde 1990, quando conheceu Paraty a convite do velejador Amyr Klink, ela e Louis passam três meses por ano na cidade. As temporadas de descanso acabaram. Há quatro anos eles dedicam parte de seus dias em Paraty aos preparativos para receber os escritores que vêm participar da Flip.
A organização, que envolve, em média, cerca de 600 moradores da cidade, é uma das chaves para criar a atmosfera de harmonia e intimidade entre público e escritores durante a feira, que têm atraído 12 mil visitantes à cidadezinha fundada no fim do século XVII. A beleza natural da região, celebrada pela qualidade da cachaça local, as ruas com calçamento em pé-de-moleque e o casario preservado do centro histórico são fatores determinantes para o sucesso da Flip, afirma Liz. Mesmo lotada, a cidade suporta bem a chegada de multidões que dão aos escritores tratamento de pop star. O encantamento não é prejudicado sequer pelas freqüentes chuvas, que já alagaram as ruas do centro histórico enquanto a feira se achava em pleno movimento.
Da primeira feira participaram 27 escritores. Na última, foram 38, número que deverá ser mantido, pois a estrutura de Paraty não comporta um evento maior. "Acho que chegamos ao tamanho ideal. Mais do que isso, acaba com o clima de intimidade. Para receber mais escritores seria necessário montar uma feira em locais maiores, como Ouro Preto, por exemplo", sugere Liz, satisfeita com os resultados depois de quatro anos de Flip.
"O processo é gradual, é lento, mas já há um impacto internacional. Escritores, editores e jornalistas que visitam Paraty divulgam a riqueza literária do Brasil, aumentando o interesse no exterior por traduzir autores brasileiros em outros idiomas. Na esfera brasileira, não podemos esquecer das atividades paralelas aos debates, como as oficinas de literatura, que vêm revelando novos talentos, e a Flipinha, a programação infantil, que visa a formação de novos leitores", destaca Liz.
(Olga de Mello, para o Valor, do Rio)

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