28.1.05

Depois das férias

Devo ter cara de rica ou de otária. De otário, todo brasileiro tem mesmo. Afinal, o Contran ou seja lá qual for o nome atual do Detran Federal decidiu que a partir de março temos que fazer cursinho de direção defensiva para renovar carteira de motorista. E eu tenho que renovar a minha até maio.Já haviam inventado, pelo menos aqui no Rio, o exame médico pago. Dizem que é tão severo quanto o exame de visão que o Detran exigia antes. A gente olha umas coisas e diz que não enxerga nada. O médico carimba: APTO PARA DIRIGIR USANDO LENTES CORRETIVAS. Acabou.

Parece que o exame médico segue a mesma linha, me disse uma colega que renovou a carteira em dezembro.Eu já fiz o mais virtual dos exames de admissão em trabalho, uns bons cinco meses depois de estar efetivamente trabalhando para o governo estadual. O médico perguntou minha idade, meu peso e minha altura. Até aí, tudo bem. Mas quando ele perguntou se por acaso eu sabia qual era minha pressão arterial, achei abuso. Ele foi obrigado a pegar o aparelho de pressão e verificar quanto era a minha. Aí, se empolgou e resolveu auscultar coração e pulmão, testar reflexos, apertar meu estômago, essas coisas. Quando contei isso aos colegas, caíram na minha pele. Ninguém tinha sido auscultado ou ao menos olhado pelo médico. Mas certamente eles haviam chutado quanto tinham de pressão arterial...

É delicioso começar o ano sabendo que haverá mais uma boa despesa para o motorista. Já chegou meu IPTU – aumentou. O material escolar é de enlouquecer, mas tenho feito pesquisa entre os amigos que têm filhos de séries mais adiantadas e angariado livros. IPVA ... bem, isso é um problema menor que o monte de multas que preciso pagar. Multas salgadas, todas na estrada, por excesso de velocidade. Quase todas no mesmo trecho, na entrada para Búzios, na Rodovia Amaral Peixoto, onde repentinamente temos que reduzir a velocidade de 100 quilômetros para 50. Nunca dá muito certo. No meu caso, sempre dá errado.

Bem, esses são os dissabores de todos nós ao iniciar o ano da graça de 2005. Pior que isso é ser alvo de diversos pedintes que olham para mim e enxergam alguém de posses. Outro dia, eu ia parando numa vaga, apresentei o talão do vaga certa pro guardador que me explicou que ali era vaga de 2 horas. Mas como eu ia apenas sacar dinheiro no caixa eletrônico, era só deixar “o cafezinho, minha tia”. Arranquei, furiosa, com o carro. Se alguém do Detran escandinavo que se instalou nesta cidade me visse, certamente, me convidaria para aulas de gentileza ao volante. Ora, meu carro, se é que a gente ainda pode chamar o veículo de automóvel, tem 13 anos, eu estava vindo da praia com cinco moleques imprensados nos bancos. Por que cargas d’água eu iria cair no golpe do “cafezinho”? Só se eu gostasse de ser chamada de tia daquele malandro.

Hoje, conversando com uma amiga em frente ao Edifício Avenida Central, somos abordadas por um rapaz. Discurso típico do vigarista: “Caras jovens, desculpe-me interromper a conversa interessantíssima, já vi que o assunto é de alto nível e que vocês são pessoas muito cultas”... A sorte é que a Cíntia não tem meus pruridos e deu um corte rápido no chato, que, provavelmente, queria nos pedir dinheiro. Fiz eco à negativa de Cíntia e voltamos ao nosso papo realmente interessante sobre cinema dinamarquês moderno.

Este azedume todo tem sua razão de ser. Por duas semanas, fui dona de minha vida. Acordava cedo ... apenas para ir à praia cedinho. Enfiava a garotada no carro e encontrava amigos na praia. À tarde, com os adolescentes, cineminha, comprinhas, filmes no DVD ou na TV, estirada ao chão, ainda de maiô, cabelo salgado. O apartamento tinha dunas de areia, briga pra ver quem tomava banho primeiro, umas 300 crianças entrando e saindo de casa todos os dias, gente que eu nem sabia direito quem era indo dormir lá, gatas enlouquecidas, festa de aniversário, depois de uma ceia de Natal muito agradável e um reveillon divertido na Lagoa. Peguei um bronzeado de gente feliz, não senti nem dor-de-cabeça nessa quinzena em que o aborrecimento era desprezível porque no dia seguinte tinha mar gelado que ia esquentando por volta das 11 da manhã, biscoito Globo com mate, céu azul, água verdinha, pegar jacaré com a pirralhada.

Como é bom estar de férias no Rio de Janeiro!!!!!

Multiply, 18/01/2005

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