29.7.05

Da calçada





Sair de casa, olhar para o lado e me deparar com o morro do Corcovado, mesmo encoberto por nuvens num dia de sol é o melhor de viver em Botafogo!
De toda a obra do Paul Auster, o que mais me encanta são dois filmes que foram roteirizadospor ele, que deu uma força na direção de Wayne Wang - "Cortina de Fumaça" e "Sem Fôlego". Ambos têm narrativa naturalista e agradável sobre as figuras que habitam o Brooklyn. O protagonista, Auggie, vivido pelo Harvey Keitel, gerencia uma tabacaria e diariamente vai à calçada em frente, sempre no mesmo horário, para fotografar a loja, rua, carros e passantes. Chovendo, nevando ou fazendo sol, ele se posta no mesmo ponto e fotografa a rua, arquivando tudo num álbum. Aparentemente, as fotos são iguais, mas é numa delas que o personagem de William Hurt, um escritor viúvo, percebe sua mulher.
Nesses tempos de registros instantâneos, em que a memória visual parece mais importante do que vivenciar um instante, eu gosto de, todos os dias, ao sair de casa, fotografar mentalmente o Corcovado, aquele morro coberto de vegetação que a gente consegue divisar entre prédios feios.
O morro permanece igual, mas a cada dia traz sensações diferentes e sua beleza injeta o ânimo necessário ao meu dia. Se estivessem fixados em fotos, as impressões poderiam me mostrar aspectos invisíveis à velocidade do tempo. O perigo estaria em deixar de viver para observar a vida da calçada.

3 comentários:

Anônimo disse...

Já morei aos pés do Corcovado, hoje moro perto do mar, e como você que jamais se cansa de observar a montanha, sinto-me abençoada por, a cada saída minha, mesmo que para ir ao banco ou ao supermercado, ao cruzar a esquina de Joaquim Nabuco com Av. Copacabana, bastar-me olhar para o lado, e lá está ele, o mar que tanto amo. Sigo meu caminho perguntado, por que terei recebido da vida tamanha graça?

Olga de Mello disse...

É exatamente o que sinto, Sonia, que sou uma bem-aventurada por ter este cenário cinematográfico me tomando os olhos a cada instante.

Anônimo disse...

Bem que os blogs podiam ter a opção de voltar retornar e editar o que se comentou. Eu, a pior digitadora do mundo... lá está um "comentado", ao invés de "comentando".