21.2.06

Sem preconceito


Adoro ir ao cinema sozinha, à tarde, em dia de semana. Principalmente para ver filme "mulherzinha", como a nova versão de "Orgulho e Preconceito", que não tem absolutamente nada de notável. Estava dividida entre ele e "Match Point", do Woody Allen. Acabei me decidindo pelo da mocinha menos chata. Tá, a Scarlet Johanssen é boa atriz, mas tem uma cara chata. Eu implico mesmo. Passei anos odiando a Meryl Streep, depois, voltei a amá-la. Isso me afastou de muitos filmes do James Woods também. Agora, já consigo olhá-lo. Meu atual objeto de repulsa é o Nicholas Cage. Mas com ele implico desde "Birdie".
Então, entrei no clima pré-vitoriano, mesmo sabendo da história de cor e salteado. Li a primeira vez quando era menina e me revoltei com a passividade daquelas moças que não tinham outro meio de vida que não fosse o casamento. Absolutamente ridículo, imaginava eu, que mulheres de determinadas classes sociais não podiam trabalhar para ganhar a vida. O trabalho era reservado aos pobres. O romance de Elizabeth Bennet e o detestável Mr. Darcy era impensável para mim. Redescobri Jane Austen na pós-adolescência e me encantei por todas as histórias sobre mocinhas inteligentes à procura de príncipes encantados, desdenhando de casamentos por conveniência e sempre topando com um canalha ou outro. Voltei a reler quando vi a série da BBC (que está sendo reprisada no Telecine, mais uma vez) e, mais tarde, quando li "Bridget Jones", uma adaptação da história original.
Esta foi a versão mais depressiva da novela de Austen. A família Bennet é mostrada sem o menor glamour. Não é apenas a mãe (Brenda Blethyn, sempre divina) que parece inconveniente, mas todos, incluindo o pai, um Donald Sutherland totalmente baixo-astral. E as casas não são imaculadamente limpas, só as dos aristocratas. É mais patente a diferença das "castas". A mocinha atrevidinha de Kiera Knightley está linda e aparentemente tem a idade da personagem. Já o Mr Darcy consegue ser o mais feioso e rude do mundo, sem o menor charme mesmo. Aquele personagem fácil de ser interpretado, igual ao da mãe. Qualquer um consegue dar o tom caricato da matriarca casamenteira, assim como deve ser fácil baixar as pálpebras e falar em tons monocórdios.
Dava gosto era ver a sessão: só tinha mulher na platéia. E dois senhores, certamente arrastados pelas velhinhas que os acompanhavam.

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