21.5.06

São Sebastião, rogai por nós.

Durmo tarde desde criancinha. Meus filhos também são assim. Trocamos dias por madrugadas e chego à época da vida em que dormir é cada vez menos necessário. Sinal de velhice, embora velhos durmam muito, cochilem muito, como gatos.
Adormecer e acordar na madrugada, perder o sono, descompromissada com a manhã seguinte é uma delícia. Mas despertar por causa de bombardeio no morro - o que tem acontecido há alguns sábados, sabe-se lá por quê - só reforça a impressão que teima em negar a verdade: viver no Rio de Janeiro é cada vez mais uma falta de opção de recomeçar a existência em outras plagas. Detesto esta sensação de desencanto que o cotidiano carioca provoca, que a sobrevivência nesta Pátria nos traz. Minha terra, o que foi feito de ti?
Quando meu pai morreu, fomos enterrá-lo num dia ensolarado de junho, céu azul anil esgazeado, sem uma nuvem, temperatura agradável, depois de registrar o óbito no cartório ao lado do clube do Fluminense, o time que ele amava. Eu olhava pela janela do carro e me consolava, pensando que naquele momento, então, Papai estava a salvo de assaltos e da violência urbana. Isso foi há quinze anos. Quando minha mãe morreu, há quase cinco anos, meu alívio era por não precisar mais me angustiar com ela, tão desprotegida em meio a este caos. Isso é lá coisa que acalente a dor da separação?
Insisto tanto em persistir no meu canto e não tenho como lutar para mantê-lo livre de todo o mal.
Ajuda, São Sebastião, ajuda! E chame São Jorge, São Francisco, Ogum, Oxóssi também, Santa Clara pra clarear nossos caminhos, Vinícius de Moraes para inspirar amor em corações ressentidos, Rubem Braga, Fernando Sabino, CDA, gente de fora que amou esta cidade, Tom, que tanto cantou esse verde, esse sol, esse mar... Que um exército amoroso circunde a muy honrada e bela São Sebastião, que a inunde com carinho, com uma doçura que mate tanta corrupção, cobiça, ignorância e desesperança.

3h42m da manhã, insône desde as 2h32m, quando começou o bombardeio - durou uns 20 minutos, talvez.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não há santo que dê jeito se as autoridades não cooperam.