13.7.06

Da Continente Multicultural


Link indireto: Na home page da edição de julho, é preciso entrar em Literatura e chegar à matéria "A Atualidade de Shakespeare".
O site só traz um trecho, que segue abaixo. O resto, nas bancas especializadas.

Edição Nº67- Julho de 2006

LITERATURA
A atualidade de Shakespeare
Por que o gênio inglês continua intrigando, inspirando e gerando bons lucros para quem o vende?
Por Olga de Mello

Em 2002, a escritora britânica, J.K. Rowling, criadora da saga infanto-juvenil Harry Potter, tornou-se a pessoa que recebeu a maior quantidade de dinheiro em direitos autorais no mundo – algo em torno de U$ 300 milhões, não apenas por seus livros, mas pelo lançamento do primeiro filme baseado nas aventuras do bruxinho. É de outra inglesa, a falecida Dame Agatha Christie, “mãe” de detetives de raciocínio agudo como Hercule Poirot e Miss Marple, o título de escritor de ficção que mais vendeu no planeta. Suas 78 novelas policiais tiveram 2 bilhões de exemplares publicados em 44 idiomas, o que garante a seus herdeiros quase U$ 4 milhões anuais apenas em royalties. Somas de encher os olhos dos leitores de best sellers, mas que não impressionam os admiradores do autor indiscutivelmente mais celebrado no mundo. Um levantamento da Revista Forbes, em 2004, estimou que herdeiros de William Shakespeare, caso existissem, teriam direito a uma renda anual mínima de U$ 15 milhões em royalties, calculando-se apenas um dólar por exemplar vendido e sem computar a quantidade adquirida por bibliotecas e escolas. Afinal, somente em território americano, naquele ano, haviam sido vendidos 657 mil títulos de Shakespeare. Um sucesso póstumo que dificilmente os crimes “cometidos” por Dame Agatha ou o universo mágico concebido por Rowling merecerão. Traduzido em 119 línguas, incluindo a linguagem de sinais e em Klingon – o idioma de alienígenas da série de televisão Jornada nas Estrelas –, o inglês William Shakespeare é o dramaturgo com o maior número de peças levadas para o cinema – mais de 350 versões fiéis ou baseadas em suas criações. Segundo o crítico Harold Bloom, Hamlet é a figura mais citada no Ocidente, superado apenas por Jesus Cristo. Bloom declara abertamente sua admiração pelo poeta que, além de criar palavras novas e expressões na língua inglesa, modificou a estrutura da dramaturgia ocidental e, de acordo com o crítico, inventou o que hoje consideramos a personalidade humana, dando relevância ao monólogo interior dos personagens, às reflexões e às emoções. Mesmo quem não compartilha da mesma devoção que Bloom devota a Shakespeare não pode negar sua popularidade. São incontáveis as montagens amadoras e profissionais de suas peças, em adaptações modernizadas ou tentando manter fidelidade à estrutura elizabetana. Por que um poeta morto há exatos 390 anos, que deixou uma obra de 154 sonetos e 37 peças teatrais completas, continua interessando a leitores de um século que mal têm tempo para assistir a encenações de seus dramas? “Shakespeare entusiasma porque fala de amor, de ódio, de paixões, de inveja, ciúme, do medo, da morte, do eterno, de tudo, enfim, que compõe o imaginário humano”, acredita Adriana Falcão, que acaba de escrever uma novela recriando a comédia Sonhos de uma Noite de Verão, que integra a coleção Devorando Shakespeare, da Editora Objetiva. O primeiro volume, já lançado, é Trabalhos de Amor Perdidos, recontado em prosa pelo cineasta Jorge Furtado, um apaixonado por Shakespeare, que transpôs para a Nova York de hoje as aventuras de quatro homens que, no original, decidem isolar-se do mundo para dedicar-se aos estudos durante três anos, mas têm os planos frustrados ao conhecerem e se apaixonarem por quatro jovens. Adriana levou a ação de Sonhos de uma Noite de Verão para o carnaval de Salvador. No terceiro volume da série, que deve ser lançado no segundo semestre deste ano, Luís Fernando Veríssimo situará a trama de Noite de Reis em um salão de cabeleireiro em Paris, usando um papagaio como narrador, revela a gerente editorial da Objetiva, Isa Pessoa, idealizadora da coleção. A única exigência aos escritores foi que trabalhassem em cima de comédias, com algum “desrespeito criativo”, o que seria impossível se as recriações se calcassem em dramas, acha Isa. “A comédia permite a brincadeira sem ofender os puristas”, diz Isa Pessoa. Apesar da proposta de total liberdade para desrespeitar criativamente a obra do inglês, o convite deixou Adriana Falcão ressabiada. Seu conhecimento de Shakespeare era o de quem já havia assistido a algumas peças, lido alguns poemas, mas não tinha a menor pretensão de se apresentar como uma especialista na criação literária do Bardo. Animou-se com a idéia de juntar deuses gregos e orixás do candomblé em dúvida quanto à existência de vida terrena, brincando com elementos como o tempo, a sorte, as coincidências e o destino. “Sonho é uma peça alegre, que fala de amor, traição, ciúme, farsa, fantasia. As trocas de casais enamorados se encaixam perfeitamente nos relacionamentos fugazes estabelecidos no carnaval. Os amores de carnaval, são atualmente uma constante entre jovens que ‘ficam’, que namoram apenas durante uma festa, duram pouco e não deixam marcas profundas nos amantes. Parece muito com os feitiços que são lançados sobre os personagens do Sonho de uma Noite de Verão” , diz Adriana. “Shakespeare tinha a capacidade de divertir, compondo comédias com diálogos ferinos que são verdadeiros duelos verbais, enquanto busca a reflexão quanto a sentimentos humanos que nos angustiam. Se alguém quer falar em ambição, lembra-se de MacBeth, se pensar na ausência da figura paterna, recorda-se de Hamlet. Ciúme e inveja estão em Otelo. E nas comédias ele mostrava toda a sua irreverência, criando trocadilhos maliciosos, brincando com amigos e inimigos, citando-os em situações corriqueiras. Hoje, tudo que ele escreveu parece ser encarado – e encenado – como se fosse um texto sagrado, o que tira um pouco da espontaneidade das situações”, acredita Jorge Furtado. (Leia mais na edição nº 67 da Revista Continente Multicultural. Já nas bancas)

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