30.4.07

Nojo

O primeiro caso de pedofilia do qual ouvi falar foi em minha família. Numa época em que meninas se casavam com adultos, no início do século XX, minha tia-avó despertou paixão em um rapaz de 18 anos. O detalhe é que a menina tinha apenas quatro anos de idade e teve que ser alfabetizada para escrever cartas ao noivo, que esperaria até que ela entrasse na puberdade para se casarem. Aos 9 anos, minha tia-avó rebelou-se e rompeu o noivado. Casou-se com outro homem, quando já era praticamente considerada uma solteirona, aos 16 anos. Não sei que fim levou o ex-noivo, que ficou de coração partido.
Até hoje, em diversos lugares do planeta, jovens que mal entram na puberdade são levadas a casamentos com homens mais velhos. Os jovens gregos e romanos tinham relacionamentos sexuais com adultos, prática condenada pela maioria das sociedades contemporânea. Em "A vida sexual dos selvagens", o antropólogo Bronislaw Malinowski contava que nas Ilhas Trobriand, no Pacífico Sul, em 1915-18, a curiosidade sexual infantil não era reprimida, porém era mantida entre as crianças. Ou seja, adultos não se relacionavam com crianças.
Encaro a pedofilia como uma aberração perpetrada por gente mal resolvida. Hoje, me deparei com cenas pavorosas no Orkut, entre adultos e duas meninas pequenas, uma aparentando em torno de três anos, outra menorzinha, um pouco mais do que um bebê. As imagens são nojentas, repugnantes, inacreditáveis.
Tão inacreditáveis que minha primeira reação foi pensar que era uma montagem. Mas mesmo a montagem já seria revoltante. A grita foi geral, a página saiu do ar, mas acho difícil prenderem os tarados.
Esta semana, uma amiga ficou indignada ao ver fotografias de divulgação da Playboy em que uma das BBBs retratadas pela revista autografava exemplares para meninos aparentando 13 anos. É a glorificação do erótico, algo a que nos acostumamos com as pornochanchadas liberadas pela ditadura.
Há pouco tempo, uma menina de dois anos chegou em casa contando à mãe que a vizinha assistia a um filme onde homens e mulheres estavam nus, gritando muito. A vizinha era encarregada de cuidar da menina para a mãe, faxineira, poder trabalhar. Confrontada pelos pais da criança, ela não negou que pegara um filme pornográfico na locadora, mas que não via nenhum mal em assisti-lo ao lado de várias crianças, entre elas seu filho de 9 anos.
São algumas das facetas de um país sem educação, em que a fronteira que separa o justificável da permissividadee é muito tênue. Pedofilia, como estupro, é sempre um crime sem qualquer justificativa.

2 comentários:

Kristal disse...

Eca ! Mas porque razão vocês ficam recebendo essas fotos e passando adiante ?!

Olga de Mello disse...

Não, na verdade, houve uma revolta generalizada com o conteúdo das fotos. Quem me avisou, estava preocupado com meus filhos, se o material caísse sob os olhos deles. Minha filha já havia recebido e tinha ficado super mal. Quando recebi, imediatamente informei à administração do Orkut.
Eca é pouco, Kristal!