19.11.07

O insondável raciocínio da burocracia

Alguém inventou e tem gente acreditando que o Brasil é um país informatizado, com uma população alfabetizada, capaz de se orientar perfeitamente pelas searas da Internet.
A Rede Estadual de Educação do Rio exige que seus alunos agora façam a pré-matrícula pela Internet. Naturalmente, esses alunos dispõem de computadores e, mais que isso, de pais totalmente familiarizados com a utilização das máquinas. Semana passada, uma vizinha de Vanúzia, minha empregada, enviou cópias de documentos e uma relação de escolas onde gostaria que seu filho estudasse. Entrei no site da Secretaria de Educação, preenchi um formulário, demorei uns bons dez minutos até compreender como faria a escolha das escolas, e gravei a ficha de inscrição em um CD para que ela imprimisse em uma lan house. A Secretaria, logicamente, acredita que não apenas sua clientela tenha computadores e conhecimentos para operá-los, mas também impressoras.
Agora, leio que as autoridades de Educação estão preocupadas porque os formulários têm chegado com somente uma escolha de colégio, em vez de cinco, conforme as claríssimas instruções - que não existem (o site traz a ficha, a gente se vira pra descobrir o que fazer com ela e como montar a relação de escolas).
Em vez de imaginar que estamos no Primeiro Mundo, não seria mais prático as escolas reservarem um computador e um funcionário para inscrever seus alunos em outras unidades? Ou manter um convênio com lan houses para cumprir a tal exigência? Ou melhor que isso, perceber que não adianta tanta sofisticação para facilitar os registros se não formamos pessoal habilitado para completá-los.

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Uma grande amiga é professora do Município do Rio de Janeiro, mas há pelo menos 10 anos ela trabalha em Niterói, numa permuta com outro profissional daquela cidade que quer trabalhar aqui. Um processo comum no sistema de ensino das duas cidades. Há cerca de dois meses, a pessoa com quem ela permutava a vaga se aposentou e outra colega se ofereceu para substituí-la. Foi quando minha amiga descobriu, então, que desde 2003 a Secretaria de Administração carioca proibiu as permutas, mas que tudo poderia ser resolvido desde que peregrinasse entre diversos órgãos para obter a tal substituição.
No início de novembro, ela foi notificada de que precisava imediatamente apresentar-se em uma escola de um subúrbio carioca. Seus alunos, em Niterói, ficariam, então, sem aulas, mas ... e daí? Afinal, o ano letivo está acabando mesmo, há pouco conteúdo a ser passado, daqui a pouquinho começam as provas finais e recuperação...
Aqui no Rio, ela também não tem o que fazer já que ... não há conteúdo a ser ensinado nos últimos dez dias letivos nem turma necessitando de seus serviços. Por que, então, não deixaram que ela terminasse o ano em Niterói para, no início de 2008, alocá-la em outro colégio com turmas novas?
Há mais mistérios entre o céu e a terra do que imagina nossa vã burocracia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Minha tia é professora primária há "trocentos" anos e conta cada uma que parece mentira. Nosso governo - e não apenas o de agora - é muito sem noção.

Sonia Sant'Anna disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sonia Sant'Anna disse...

Aqui fingimos que somos Primeiro Mundo. A maioria das coisas hoje deve ser resolvida pela Internet. Não é só a população de baixa renda que não tem como fazê-lo. Há muita gente de idade que jamais chegou perto de um computador.