17.6.08

Guerra

O Rio de Janeiro ganhou novos atores no grande palco da violência urbana. Além de policiais corruptos, gangsters (milicianos fazem parte de gangues, não?), mafiosos (os bicheiros, embora não tenham mais tanto poder, são quase uma máfia) e traficantes, agora tem o Exército pegando bandidos e entregando para facções inimigas. Ou seja, o Exército brasileiro, de cuja utilidade no momento contemporâneo ainda não me convenci, agora faz papel de Polícia e Justiça, no melhor estilo Capitão Nascimento?
Nem me atrevo a comentar o episódio pavoroso com algumas pessoas de minha convivência, que aplaudirão, certamente, o papel de Poncio Pilatos que o tal pelotão exerceu no Morro da Providência. Dirão que os jovens mortos tiveram o que procuraram. Avalizarão a institucionalização da violência por uma corporação que não tem poder de policiar, apenas é dotada de armamento provavelmente inferior ao do tráfico.
Aliás, vivendo e aprendendo, eu não sabia que além de ser responsável pelo controle das armas no País, o Exército também é fabricante de armamento. Ou seja, nossa pacífica nação também ganha dinheiro manchado de sangue. Não estou falando de espingarda para matar onça no mato, não. Estou falando de metralhadora, que não é arma para defesa pessoal. Enfim, como diz um primo meu, militar reformado, soldado não pode policiar nada, porque ele é treinado para matar o inimigo.
Não é absurdo ainda mantermos uma corporação que oficialmente se prepara para assassinar pessoas em caso de uma improvável guerra? Sou descendente de militares pelos dois lados da família de minha mãe, porém tenho a mais sólida convicção a respeito do quão inócuas são as Forças Armadas, que poderiam aprimorar suas funções de apoio social, como quando levam atendimento médico às populações ribeirinhas do Amazonas.
Como disse o Ivson, na Coleguinhas, esse horrível caso na Providência deve calar a burguesia que tanto queria o Exército policiando a cidade.
Uma retificação a posteriori: estou comentanto aqui em cima a história oficial. A versão que os soldados deram. A desfaçatez com que se pode utilizar um argumento desses: "deixamos os caras num morro, onde eles podem ter sido vítimas de inimigos". A probabilidade de os rapazes terem sido mortos pelos militares é imensa. E injustificável, assim como as diferentes versões que surgem para a morte deles. A emenda parece ter sido bem pior que o soneto.
Em tempo, continuo contrária à presença do Exército na vida civil. Com ou sem este incidente.

3 comentários:

Eduardo Graca disse...

Esta história está pessimamente contada. Leia hoje o Jânio de Freitas - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1706200811.htm - vale...
beijos

Anônimo disse...

Concordo, com o Ivson. Esse é o maior exemplo de que as Forças Armadas não podem atuar na segurança pública.

Olga de Mello disse...

Deixa eu fazer um mea culpa. Estou comentando a história oficial, ok? Porque ela, por si só, já é absurda.
Vou retificar o post.