30.7.08

Mulher de letras






"Anos depois da guerra, depois dos casamentos, dos filhos, dos divórcios, dos livros, ele veio a Paris com a mulher. Telefonara-lhe. Ela reconhecera-o logo pela voz. Ele dissera: queria só ouvir a sua voz. Ela dissera: sou eu, bom dia. Ele estava intimidado, tinha medo como dantes. A sua voz tremia de repente. E com o tremor, de repente, ela voltara a encontrar a pronúncia da China. Ele sabia que ela tinha começado a escrever livros, soubera-o pela mãe dela que voltara a ver em Saigon. E depois dissera-lho. Dissera-lhe que era como dantes, que ainda a amava, que nunca poderia deixar de a amar, que a amaria até a morte."
O Amante - Marguerite Duras)

A seqüência de fotos prova que todo mundo já foi bonito um dia, incluindo Marguerite Duras. Tive paixão por O Amante, tanto que dei de presente para meio Rio de Janeiro. E Duras era velhíssima e feiíssima quando o livro foi lançado. Já havia lido dela Moderato Cantabile e Uma barreira contra o Pacífico. Mas me apaixonei pelo Amante e por sua versão redux, O Amante da China do Norte.
Parecia-me espantoso que aquela velhota feiosa, sem resquícios de beleza do passado tivesse vivido amores arrebatadores.
Morreu aos 82 anos, com pele marcada pelo tempo - e por inseparáveis cigarros. Escreveu marcante e belamente.

Um comentário:

Milena Magalhães disse...

Olga, gosto muito deste livro! Mas li apenas este e mais nada dela... E, sim, ela era feia...rs.

Um abraço.