2.9.08

No escurinho do cinema


Sou, literalmente, filha da Geração Macunaíma, a precursora da Geração Paissandu, que freqüentava a Cinemateca do MAM e a da ABI.
Tenho quase a idade do Paissandu. Estou fora de forma como a sala.
No Paissandu eu assisti ao Ano Passado em Marienbad, que só fui entender ao chegar em casa e ler A Invenção de Morel. Também revi Morangos Silvestres e a alguns filmes chatérrimos, como um policial francês com três horas de duração, poucos diálogos, pouca ação e apenas um assassinato, desvendado por mim e Eduardo Graça na primeira meia hora de filme.
Também era lá que o Município escolhia para mandar as professoras no Dia do Mestre. Eu fui junto, cobrir o evento. Aproveitei para assistir a um filme (francês, claro) bem interessante sobre uma professora que largava um relacionamento chato que só e saía fugindo das responsabilidades da vida, pegando trens e se hospedando em albergues à beira-mar no norte da França. Não me lembro do nome, mas levei uma bronca do chefe por estar no cinema em vez de retornar correndo para a redação e rumar para mais umas duas materinhas no mesmo dia. Porque repórter de geral não pode aproveitar a vida, só correr do pelourinho...
Os últimos filmes que assisti no Payssandu foram comédias deliciosas. Um do Kevin Smith, creio que aquele em que Silent Bob e Jay vão a Hollywood, e O Barato de Grace.
Lembro-me quando abriram aquela sala com fumódromo, que tinha igual no finado Cinema I. Eu não conseguia assistir a filme algum lá, não permitia a concentração.
Eu queria que voltassem o Ricamar, o Riviera, o Cinema I e o Cinema II, com os nomes de artistas de cinema de antigamente nas poltronas. Era bom sentar-se no colo de Gary Cooper.

Um epitáfio do Paissandu necessita de uma foto de Acossado, claro.
Estas recordações foram inspiradas por minha amiga, irmã e fada madrinha, Eveli Ficher, com quem assisti ao Barato de Grace, ao sair de uma visita ao Eduardo, então hospitalizado, anos atrás. Um cineminha que marcou o início da independência de uma das mais caras amizades que Edu - meu companheiro de grandes jornadas cinematográficas, como os filmes assinados por Kevin Smith e trashs absolutamente imperdoáveis, entre eles o cult Lenda Urbana 2 - consolidou para mim.

3 comentários:

Eduardo Graca disse...

LENDA URBANA! L-E-N-D-A U-R-B-A-N-A! Ai que meda! Adorei o texto e as citações. Saudades.

Jôka P. disse...

Olga, com certeza o cinema que mais frequentei na juventude foi o Ricamar, que era do lado da minha casa. Em seguida o Roxy e o Paris-Palace, na Prado Jr., que virou Cinema 1. Não me lembro de já ter ido ao Paissandú, era meio assim fora de mão. E passava filmes cabeça demais pro meu gostinho trash.

Quanto aos filmes franceses, adoro, acho que são como pizza e sexo - mesmo quando são ruins ou péssimos, sempre valem à pena.

Essa situação da personagem que larga tudo e vai "se dépayser" (mudar de ares, cair fora) é típica e super recorrente nos filmes franceses.
As atrizes francesas fazem muitos filmes em que fogem de Paris, partem para o campo ou para a praia, para o Marrocos, para um chateau nos confins da Lituânia... No entanto elas só atingem verdadeiramente o estrelato, só viram verdadeiras Catherines deneuves ou Miou-Mious quando levantam as saias, arriam leurs petites culottes e exibem orgulhosamente "la chatte poillue".
Isso é de lei. Big Close up.
Aí sim, vem a consagração definitiva.

Miguel Andrade disse...

Só temos os multiplex... Com suas terríveis obviedades...