18.3.09

Eu, tijucana


Eu não sei por que a Tijuca recebeu tal nome, que significa água suja em tupi. Parece que isso se referia mesmo era à lagoa de Jacarepaguá, lá na Barra. Coisas dos índios que perderam as terras pros homens brancos.

Este post se deve aos comentários do Ricardo, Mônica e Jôka, abaixo, quanto ao eu ser ou não tijucana.

Bem, não sou. Nasci em Santa Teresa, dali saí com um dia de vida para Ipanema, onde vivi por 26 anos até me mudar para... a Tijuca! Minha permanência foi brevíssima. Diziam que ali era Rio Comprido - na Barão de Itapagibe, encosta do Turano. No IPTU, à época, era Tijuca, único local em que um casal de classe média da Zona Sul conseguia financiamento para comprar apartamento. Não cheguei a completar um ano de Tijuca, passando o financiamento pra frente e vindo para Botafogo.

Não, eu não gostei da Tijuca de então. Era um bairro IMENSO, eu não conhecia ninguém e, principalmente, tudo saía muito caro, se comprássemos por lá, já que também não tínhamos a menor idéia dos pontos mais baratos.

Foi o único apartamento de primeira mão em que vivi. Pequeno, novinho, bonitinho. Paranóicos - era primeiro andar sobre um playground -, mandamos instalar grades de ferro. O serralheiro era um colega, jornalista, que decidira investir em uma "empresa própria", algo muito em voga naqueles tempos de Plano Cruzado. Na véspera de meu casamento, passei pelo apartamento, ao sair do jornal e encontro os serralheiros lavando o chão da cozinha. Eu pensei que estivessem lavando o chão, mas estavam recolhendo a água, pois um deles deixara uma torneira aberta - acho que faltara luz e a bomba d'água não funcionava, uma coisa do gênero. Só não inundou o andar, mas sim o poço do elevador. O apartamento era todo acarpetado e eles tiveram que passar uma máquina para absorver a água toda. Tivemos mofo pelas paredes durante meses, mas éramos jovens e fumantes, então, não havia grandes problemas na vida.

A Tijuca era perto do Centro, a grande vantagem que encontramos. Mas era longe de nossas vidas pregressas. Como o condomínio era na encosta do morro, de onde desciam cabrinhas para o playground, havia uma horda de seguranças. Uma vez, esquecemos a chave dentro de casa, quando descemos para acompanhar os visitantes até a entrada do prédio. Tivemos que invadir pela área de serviço, que ainda não tinha esquadrias, tomando o cuidado de avisar aos seguranças antes, temendo sermos alvejados e confundidos com arrombadores. Foi nesse prédio que decidi jamais voltar a viver em edifício com playground. Uma festa na piscina, com churrasco e sambinha, começou às 10 da manhã e terminou por volta de 4 da madrugada, depois que chamamos a Polícia, já que os donos da festa não aceitavam reduzir os decibéis da algazarra. Foi lá também que descobri que cortinas japonesas são transparentes. Quando já havíamos vendido o apartamento, fomos dar uma voltinha pelas áreas comuns e percebemos que elas eram meramente decorativas, o que explicava os largos sorrisos que eu recebia dos porteiros e faxineiros à minha passagem quando os encontrava. A Tijuca é quente e eu andava numa fase de naturismo doméstico.

A Tijuca, para mim, era e continua sendo, um outro local, com costumes diferentes do canto onde sempre vivi. Hoje, tem o agravante da violência crescendo vexaminosamente. É o único bairro do Rio que tem morador com gentílico - tijucano. Botafoguense é torcedor do Botafogo, Flamenguista, do Flamengo. Só o tijucano é reconhecido por sua moradia. E, pesquisando na Internet, descubro que o bairro tem um brasão. Se outros, no Rio, têm, desconheço. Não aparecem as cores do brasão. Mas devem estar esmaecidas como o cuidado que as autoridades do município dispensam à Tijuca.

7 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Olga!
Tudo bem?
Estou trabalhando na divulgação do musical Avenida Q. Selecionei alguns blogs cariocas para conferir ao espetáculo grátis.Topas?
Se sim, me manda um email que te dou mais detalhes
flavia@franceschini.com.br
Valeu!
bjos

As Tertulías disse...

Oh postagem gostosa!!!!! Adorei!!!!!

Ah querida, antes que eu me esqueca: uma amiga minha está tendo aquele mesmo problema, os das letrinhas vermelhas... qual foi mesmo a solucao? Nao abrí-lo em Firefox?????

Olga de Mello disse...

Isso, abrir no Internet Explorer, Ricardo.
A memória da gente sempre pode ser bem afetuosa, né?
Beijo

Julio disse...

Não sei porque tijucano recebe essa atenção toda.

Talvez seja porque vive num limbo entre zona sul e subúrbio

AOS QUARENTA A MIL disse...

Adorei !!!! Bom Nasci em Botafogo, (praia de Botafogo, Maragato) porém minha avó também do Rio Comprido (Rua Campos da Paz) ficou comigo por um período da minha infância e adolecência, para minha mãe trabalhar e por ter estudado em algumas escolas do bairro , tenho vínculos e boas lembranças da Tijuca. Escolas marcam. Conheço uma meia dúzia de Tijucano que morreria se passasse por aqui, eles são muito passionais com o seu bairro. Beijos

Jôka P. disse...

Todo mundo sabe que chamar alguém de tijucano é um xingamento explícito e imperdoável.

Paçoca disse...

Os tijucanos que conheço tem um sonho Dourado de morar na Barra da Tijuca. Eles não se referem ao lugar que estão indo como Ipanema ou Leblon ou Copacabana, eles dizem que estão indo à Zona Sul. Pra mim tanto faz donde vem para onde vai uma pessoa, não pergunto você é tijucano? Pergunto até do signo,ou do time... bjs da paçoca