28.2.10

O amigo dos livros


O mundo sempre perde a graça quando pessoas como José Mindlin se vão.
Ando em fase de pouca escrita não-profissional, porém sua morte me traz aqui para recordar as duas vezes em que conversamos.
Na primeira, foi quando o conheci, no aniversário de Pedro Nava, década de 80. O Sabadoyle, os saraus de escritores na casa de Plínio Doyle, foi transferido pro Porcão de Ipanema. Austregésilo de Athayde à frente, Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Drummond de Andrade, a nata dos intelectuais brasileiros estava lá.
Mindlin me foi apresentado, então, como um industrial rico, amigo do grupo, que financiara uma publicação em homenagem a Nava. Não sei se guardei o folheto, em papel bom e amarelado, com um desenho de Nava na capa. Mindlin era uma simpatia, modesto, alegre. E ainda não se tornara a referência nacional em bibliofilia.
Vinte e alguns anos depois, entrevistei-o por telefone para para uma matéria sobre bibliofilia que saiu no Valor. Foi um doce, gentil, passou-me dicas para a matéria, insistiu que eu conhecesse sua biblioteca e o procurasse, quando estivesse em São Paulo.
Queria entrevistá-lo novamente para um projeto que estou desenvolvendo.
Não deu tempo.
A mim resta-me a certeza de que, um dia, fomos cúmplices, compartilhando o reconhecimento e a linguagem dos amantes.

Nenhum comentário: