3.3.10

O fim dos tempos

Em A Praga Escarlate, Jack London relata o fim da civilização, com boa parte da humanidade dizimada por uma doença incurável. Os mais fortes ou imunes ao vírus, sobrevivem. As perdas imediatas são a delicadeza, a arte, o refinamento e a linguagem. Tudo passa a ser mais bruto e imediato.
Acabo de saber que o Big Brother teve mais de 90 milhões de votantes. Libertário, o pleito permite a tripla ou quádrupla votação por cada teleleitor. Arrecada-se mais em paredões do Big Brother do que no Criança Esperança, já ouvi falar.
Enquanto isso, a chapa esquenta na Cidade de Deus, onde uma noite antes houve festa pelo aniversário da cidade, chove dentro dos vagões do Metrô (já houve até descarrilhamento; quantos acidentes deverão acontecer antes de trocarem a concessionária?), o Chile treme, a Justiça determina que carros de luxo devem ser devolvidos a suspeitos de tráfico para que não se deteriorem em depósitos publicos, candidatos a cargos políticos poderão concorrer a eleições mesmo com fichas criminais recheadas de ocorrências e pendências.
Dá para entender porque o povo prefere o teatrinho de grosserias explícitas, amplas e irrestritas à vida real. Não precisamos de epidemias para sobreviver grosseiramente diante da estupidez de uma nação inculta, rude, lutadora, que pode até vir a enriquecer, sem, no entanto, cultivar o espírito.

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