3.11.11

O que não entendo

Por que a pequena burguesia tem tanta revolta em relação ao Brasil de hoje?
Nossos aristocratas - banqueiros e industriais -, esses comemoram. Em silêncio, como convém à aristocracia.
Um novo bolsão de consumidores emergiu.
Há recuperação do poder de compra e empregos.
A aristocracia se congratula.
Mas os burguesinhos sofrem com a troca de mandatos.
Porque a corrupção continua igualzinha. Só surgiram novos corruptos.
Vez por outra, os aristocratas posam de chocados com a situação da nação.
Chocados com o número de mães solteiras, os casais gays, o consumo de drogas...
Chocados porque seus privilégios começaram a ser usufruídos por toda a sociedade.
Aí, promovem passeatas por aqui e por ali, protestando contra a desordem social.
Não sou das que vêem o Brasil com lentes rosadas. O País continua corrupto, injusto, desigual. Mas há uma pequena parcela da sociedade que não sofre mais com tanta mazela. Ascendeu socialmente.
Engraçado que ninguém sugere à burguesia que se trate no SUS, mas sim ao Lula. Engraçado que essa burguesia jamais se propôs a impedir o sucateamento da saúde ou da educação públicas.
Ninguém reclama do aumento dos intermediários na vida atual: administradoras de imóveis, recreadores em festas infantis, despachantes ou headhunters - "facilitadores" que se impõem no cotidiano.
Ninguém reclama das perdas de capacidades, da dependência dos facilitadores, do acomodamento que se torna subserviência tecnológica.
Vamos botar a mão na consciência e refletir o quanto gastamos com inutilidades antes de resmungar contra a perda do status. Porque só está havendo uma nova acomodação dos nossos papeis sociais. Tem mais gente se igualando economicamente. Tem pobre recuperando a dignidade que a moradia modesta e o trabalho humilde conferiam. É difícil comemorar isso?
Eu não entendo é a vontade férrea de cristalizar a desigualdade como se fosse um direito divino.

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