30.7.12

Digressões, diretamente do canteirão

Gosto de decoração. Um gosto que só surgiu depois que tive minha própria casa, já que meu quarto sempre foi co-propriedade de minha mãe, que chegou ao cúmulo de colar um poster do Chico Buarque no meu armário. Daí, talvez, venha minha percepção de Chico como um senhor que desperta fantasias eróticas em senhoras. Por mais que hoje eu seja uma senhora, para mim, Chico regula com o Niemeyer. Houve um tempo em que me apropriei de meu quarto, colando posters de artistas de cinema e astros do rock em todas as paredes possíveis. Depois, fiquei sóbria e limitei os recortes a um quadro de cortiça, elemento indispensável aos cafofos adolescentes de então.
Dos sites e blogs sobre decoração adoro os que mostram a casa das pessoas comuns, sem grandes artifícios ou projetos com assinatura de Phillip Starck. Meu amigo Ronny, arquiteto que atua no setor de interiores e faz projetos pra gente acima do meu parco cacife, me contou que está reformando um quarto ao módico preço de 300 mil reais. Caindo na real, gosto de blogs como o Dcoração, que mostra essas casas de quem vive contando os caraminguás. É tão legal que a autora hoje tem coluna em jornal popular.
No fim de semana, fui atrás de camas para meus pimpolhos, já que as deles se acabaram. E aí, encontrei caixotes "paletes", aqueles caixotes de transporte de frutas pra feira, que agora entraram na moda e custam... em torno de 400 reais!!!
Enquanto o Rio vive a fase de hipervalorização imobiliária, descobri um blog sobre apartamentos na Argentina. Não, não pretendo me mudar para Buenos Aires. O que me estarreceu foi perceber o empobrecimento demonstrado na decoração de cada casinha, sempre com móveis velhíssimos, adaptados ao momento. O blog é um encanto, as casas também. A ambientação tem muitos enfeites infantis, típicos da geração que hoje está com uns 35 anos, que "ousa" na imaturidade. Vintage é a palavra de ordem, marcando o constraste da sobriedade de móveis herdados da família com peças de origami. E há deliciosos jardins de inverno, cheios de plantas...
Claro que a gente sempre gosta de conhecer maisonettes de Paris, lounges de Nova York e casas apertadinhas em Londres, mostradas no maravilhoso The Selby, que vive no Brooklyn e percorre o mundo fotografando a casa de pessoas muitos interessantes. O desconjuntado que surge na Casa Chaucha também me fascina. Porque a casa da gente precisa de combinações nem sempre deliciosas. Precisa ser meio embolada, antiquada, contemporânea. Tudo junto e misturado.
E começa a quarta semana de trabalhos.
Na próxima, deve vir mais outro pintor. O seu Célio, o primeiro, que desapareceu, ligou no fim de semana pra dizer que a avó morreu, razão de seu sumiço. O atual, seu Jorge, é um doce, mas muito lento. Seu Flávio chega na próxima pra pegar a sala. E meu quarto deve iniciar a reconfiguração esta semana também. Ai, ai... tô mais desconjuntada que milongueiro porteño.

A casa ainda está mais ou menos assim. O amarelo das paredes deve ser substituído por um tom mais suave ao fim dos trabalhos. E Gal poderá passear tranquilamente entre as plantas, como gosta.

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