23.8.12

Inferno astral - 54º dia de purgatório

Racionalmente, não acredito em inferno astral. Mesmo assim, é bom culpar algo ou alguém pelos dissabores da vida. Meu inferno astral é de longa antecipação - e não tem nada a ver com a obra. Ele se impõe, mais de um mês antes de meu aniversário. Convenhamos que a contagem de tempo na época dos babilônios, de Zoroastro e de quem seja lá que começou com essa história de convencionar a trajetória de cada um pelos astros, proavelmente tinha apenas leves semelhanças com a que fazemos na atualidade. As pessoas viviam menos, dizem. Eram menores, também dizem (e é só subir uma escada construída há 200 anos para perceber que todo mundo tinha pés de gueixa. Eu, que calço 39, sofro numa casa colonial barroca brasileira). E o tempo custava a passar porque não existia TV, Internet, celular, carro, avião, cartão de ponto, eletricidade, música sertaneja, alta costura ou filtro solar. As pessoas trabalhavam para subsistir e manter o fausto de uma família parasitária que se alternava no poder com outros parasitas que tentavam tirá-los de lá à força.
Bem, meu inferno astral deu as caras semana passada, quando a porta de vidro do forno do fogão estilhaçou toda. Claro que pode trocar, claro que é difícil achar reposição.
Hoje, o inferno astral marca presença no momento em que fui vestir uma calça que mandei apertar na costureira. Era para apertar a cintura e os quadris. Mas a costureira gosta de calça skinny. E apertou as pernas. Tudo bem que é aquele tecido strech, que alarga mesmo. Mas não há a menor condição de eu andar por aí desfilando igual às moças do funk. Não tenho idade, corpo ou vontade pra isso.

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Rolou uma crise na pintura, que chega ao seu 54º dia. As interrupções de seu Flávio, que só trabalha três dias por semana estendem a obra até sabe-se Deus lá quando. Em festa de família, comentei que ele deixava a casa imunda. Meu primo foi tomar satisfações com ele, que se disse magoadíssimo. Tanta mágoa que mal dormiu à noite. Quando ele começou a recitar a triste ladainha de que só pegara o serviço porque minha tia insistira, que tinha muitas coisas a fazer, eu logo atalhei:   "Bom, vamos resolver essa situação, seu Flávio. Se o senhor está ofendido, pode fechar o dia de hoje. Eu lhe pago e tudo bem".Foi quando ele resolveu ficar, afirmando que não gosta de deixar serviço incompleto. Voltamos a ser cordiais e felizes.
Porque, na boa, mau humor em casa, basta o meu, né?

2 comentários:

Palavras Vagabundas disse...

Olga,
passei por aqui atrás de algumas informações sobre Mario Varga Llosa, gostei daqui!
Não vai te consolar, mas obra em casa com a gente dentro é a coisa mais punk que eu conheço, sorte!
abs
Jussara

Olga de Mello disse...

Jussara, que bom que vc veio aqui! Eu já passei muito pelo seu excelente blog. No momento, meu desejo é ler muito Vargas Llosa para esquecer a saga da pintura que não se acaba lá em casa...
bj