3.4.13

Uma fase

Jamais me jactei de ser exímia cozinheira. Ao contrário, sempre estive o mais distante possível da cozinha. Aprendi como se fazia macarrão ao sair da casa de meus pais - e juro, não tinha ideia mesmo! Minha mãe não sabia cozinhar, tínhamos Maria, uma verdadeira chef, com talento insuperável nas lides domésticas, jardinagem e na arrumação de meus longos cabelos de menina. Minha proximidade com panelas e fogão restringia-se aos fins de semana, quando esquentávamos o que Maria deixara pronto antes de sair de folga. Depois, vieram os congelados, que Maria, já como diarista, fazia, uma vez ao mês.
Não foi por causa da nova legislação sobre empregadas domésticas que decidi me aventurar na cozinha. Há alguns anos, cozinho basicamente três pratos: strogonoff, rosbife e risoto. Ano passado, ganhei um quilo de bacalhau e me arrisquei a cozinhá-lo, consultando todas as receitas possíveis na Internet. Deu certo. Este ano, repeti a receita (de cabeça!!!). Deu certíssimo novamente.
Acho que foi daí que peguei gosto, nesta Páscoa. Decidi enfrentar o fogão e tentar fazer um dos mistérios gloriosos da culinária: uma canja. Mistério porque jamais compreendi como água se torna alimento, em que momento aquilo toma consistência. Munida de várias receitas coletadas na Web, fui à luta e... deu certo outra vez!
Chegou no day after, eu, ansiosa pra começar a fazer um escondidinho. Nem consegui me reconhecer. Deu tudo certo, novamente.
Então, depois de enriquecer meu cardápio com dois novos pratos, tenho uma espécie de propósito pros próximos tempos. Tentar cozinhar, correr atrás de uma nova receita por noite, igual àquela moça amalucada que fazia um blog falando que cozinhara algo do livro da Julia Child. Ela pirou e virou ajudante de açougueiro em Nova York. Não tenho a menor pretensão em enlouquecer ou trabalhar em açougue.
Sentir que estava cumprindo uma tarefa aparentemente fácil, mas que para mim sempre foi motivo de angústia, me trouxe ânimo para ajudar a purgar umas tristezinhas que me acometeram nesses dias. O problema é o verão. Cozinhar no calor carioca é praticamente impossível. Até lá, a fase passa.


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