Principal estrela do cinema francês da atualidade, Juliette Binoche é dessas atrizes que ficam à vontade em qualquer papel, seja comédia rasgada, romântica ou drama. Divide seu espaço sem qualquer temor da concorrência em cena. Com seus olhares, sorrisos e explosivas gargalhadas, ela dificilmente deixa espaço para coadjuvantes no verborrágico, pausado e filosófico Acima das Nuvens, de Olivier Assayas. O domínio de cena - real -, no entanto, contrasta com o desencontro da personagem, uma atriz veterana, convidada a reencenar a peça que lhe deu fama, 25 anos antes. Apegada à personagem que interpretou na juventude, ela rejeita seu novo papel, o de uma empresária apaixonada por uma estagiária manipuladora.
Enquanto a atriz enfrenta um divórcio complicado, precisa se isolar no interior da
Suíça para estudar o texto da peça com sua assistente (Kristen Crepúsculo Stewart). É nos diálogos teatrais que as duas confrontam juventude/maturidade, cultura pop/erudição, vida pública e privada. O filme observa mais do que explica qualquer ato. Um dos grandes momentos de Binoche é quando ela fica relegada ao acompanhamento de uma situação sobre a qual não tem qualquer tipo de participação, envolvimento ou controle. Sua assistente e a estrelinha em ascensão que fará a estagiária no teatro estão sempre prontas a indicar à atriz que seu tempo já passou.
A composição cuidadosa que mistura os diálogos fictícios com os sentimentos das personagens é tão proposital que pode incomodar o espectador mais atento. Porém, através de metáforas óbvias, o enredo se fortalece, trazendo uma interessante abordagem para o tema - em voga, no cinema - da velhice nos tempos de culto à juventude. Sem tomar partido de qualquer personagem, o filme testemunha os momentos de transição
com a serenidade do sorriso de Juliette Binoche.
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