11.9.15

Em recente encontro de ex-colegas da redação do Globo, o Luis Erlanger comentou que aquela era a última geração do jornalismo romântico. Talvez. Acho que os meninos que entram agora pra carreira são ingênuos a ponto de pedirem abertamente, em rede social, telefone de assessor de imprensa de empresa. Não aprenderam a cavoucar, buscar endereço em lista telefônica (existe, sabia, gente, na Internet mesmo?), a telefonar pra empresa e a descobrir que faz o quê lá dentro. Talvez não achem estranho quando uma repórter entra numa coletiva e pergunta "quem é o prefeito aqui, hein?" (Eu vi isso acontecer. Marcello Alencar falou: "Sou eu, minha filha...").
O problema não é o despreparo das novas gerações, não. Esta é uma profissão que se aprende na prática. Observando as malandragens dos mais velhos, a forma de se aproximar, de seduzir o entrevistado, de conseguir a resposta, de desvendar o que se esconde.
Antes de começar na assessoria de comunicação (ex-assessoria de imprensa), é bom ralar numa Geral, fazer Polícia, transformar um bom buraco de rua em notícia. O bom repórter se forma aos poucos. Sabe a sabedoria dos velhos? Pois é, funciona muito em redação.
Eu tenho fé é na rapaziada. Mais inocente, mais temerosa, menos instruída, que lê "50 tons de cinza" como se fosse Henry Miller, que não tem a menor ideia de quem é Henry Miller, mas é capaz de escrever sobre as melhores dicas para usar um sapato com salto plataforma retos, agora chamados flat form. Mas na matéria inclue uma entrevista com uma drag queen, busque o primeiro salto plataforma, pesquise sobre a Viviane Westwood, vá à rua ver as velhinhas, todas com confortáveis sandalinhas Birkenstock adaptadas aos novos tempos, depois de mais de dois séculos de lançadas.
Não sei se isso é romantismo ou informação.
As demissões em massa acabam, exatamente, com alguém que tem uma vaga ideia do que seja uma sandália Birkenstock.

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